Algumas leituras – 4
DONCÔVI
Os Iberos
(um
apontamento)
Se pensarmos que na Península Ibérica pré-romana havia
talvez uns cem povos, ou diferentes etnias, cada uma, ou quase, com sua língua
própria, também não nos custa muito tentar aprender um pouco da língua
tradicional do minêro, de Minas Gerais, uai!
Para quem é “peninsular” e/ou goste de genealogia, é
agradável saber de onde se veio, quem são os antepassados, tal como diz o
minêro: DONCÔVI, i.é, “Donde é que eu vim”!
Essa conversa do “puro sangue”, “sangue azul” e outras
invenções é coisa “pra boi dormir”. Nós, todos, todos, somos uma mistureba
danada, mais ainda se acreditarmos que o nosso antepassado comum apareceu
“assim”, como num estalar de dedos, lá no Vale do Rift, em África.
Depois foram-se descolorando uns, escurecendo ou
mantendo o colorido outros, mas... somos todos farinha do mesmo saco.
O que se sabe sobre os primeiros habitantes da
Península Ibérica é muito pouco. Nem se pode afirmar a origem da palavra, que
tanto pode ter sido tomada do Reino da Ibéria, algures lá para o sul da atual
Geórgia, como do rio Ibris (que, segundo Estrabão se terá chamado Oleum Flumen,
com os romanos). De qualquer modo os autores que nos deixaram alguma coisa
escrita, sobretudo os gregos, copiados mais tarde por romanos, dizem que a
Ibéria se situava entre os rios Ródano, em França e o Ebro, hoje na Espanha. O
resto era a barbárie
Não admira que, segundo Adolf Schulten”, os lígures tivessem
constituído a população mais antiga da Península Ibérica, “historicamente
comprovada”, e indícios arqueológicos e pesquisas etnográficas relativamente
recentes sugerem que os lígures estejam
ligados aos lusitanos, possivelmente por partilharem uma origem comum. Tal teoria
é aceita por estudiosos, como Adriano Vasco Rodrigues, que a defende na sua
obra "Os Lusitanos". Quem sabe?
Quando se começa a ter notícias dos lígures, aí por
volta do século XVI a.C. (1580 a.C.) estavam eles no sul da Gália, e o seu
território ia desde a base dos Alpes até ao rio Ródano. E a Ibéria, para o lado
do Ocidente ia até ao mesmo Ródano. Portanto eram vizinhos... e porque não o
mesmo povo?
A arqueologia vai dando passos e descobrindo o que a
história não conservou, e mostrando que não eram tão selvagens como os
antiguinhos pensavam.
Há documentos incríveis, como as pinturas das Grutas
de Altamira que terão, talvez, 32.000 anos, há uma oliveira em Portugal que tem
3.500 anos e continua a dar boa azeitona, e já se encontraram na província de
Málaga, restos humanos, de Neandertais com mais de 40.000 anos, mas o que se
conhece sobre a vida dos povos, aos poucos é que se vai desvendando.
Segundo uma teoria, os Iberos eram os habitantes originais da Europa
Ocidental – pouco provável porque, certamente de algum lado para ali foram os
criadores da grande cultura megalítica que teve início em Portugal. Segundo
outra teoria, os Iberos são de origem Ibéria Caucasiana, provavelmente tendo
cruzado todo o Magrebe e depois o Mediterrâneo. As mais antigas
manifestações de ordem religiosa remontam aos deuses do médio oriente,
sobretudo Baal, o principal deus fenício, adorado por praticamente todos os
povos da região semítica, do mesmo modo em Cartago, o que ajuda a crer que foi de
onde saiu grande parte dos povos que formaram os iberos. Além de Baal, Melkart
e Astarte deuses “importados” do Oriente.
Os iberos não foram um povo, mas um complexo de povos,
dada a sua diversidade e variedade.
Comecemos por falar um pouco dos mais antigos – conhecidos
– que tudo parece indicar tenham vindo do médio oriente.
Sabemos por exemplo que na região onde hoje está Andorra
havia uns povos que se chamavam olositanos, castellanos e ceretanos, e seriam
mais ou menos os mesmos. Nem os primeiros, nem os segundos têm algo a ver com
os lusitanos nem com os atuais castelhanos, mas já se falava, há 2.500 anos que
os presuntos ceretanos eram famosos e se vendiam até na Grécia!
Não se precipitem porque vamos “comer” outros presuntos
famosos da Cantábria!
Também se sabe que terão sido os gregos que levaram a cultura
da vinha para a Península há cerca de 4.000 anos e que as oliveiras terão ido
de Cartago há mais tempo do que isso.
Os primeiros escritos sobre eles, de que sobraram uns
escassos apontamentos, consideravam a Ibéria unicamente a área voltada para o
Mediterrâneo, e começaram por se interessar sobretudo pelos Tartessos, que terá
sido o primeiro estado organizado na Península. Não só porque foram
maioritariamente colonizados pelos gregos, por ser rica em ouro e prata e pela
admiração que lhes causava a longevidade dos seus reis! Ocupavam uma área que
seria hoje metade do Algarve além das províncias de Cadiz, Sevilha, Córdoba e
Granada. Há mais de 2.700 anos já tinham escrita própria, mas de que nos ficaram
só algumas estelas, ainda hoje sem tradução.
Duas outras zonas mediterrâneas foram colonizadas –
ocupadas – uma por Cartago, e uma outra por influência direta dos fenícios.
Eram os iberos os senhores da parte sul e leste da
Península, sendo que durante muito tempo a Meseta Central esteve quase
desocupada. No sul os tartessos, os túrdulos e os turdetanos, os bastetanos e
bástulos, e ainda os oretanos.
Subindo pela costa oriental encontravam-se o que
chamam os iberos propriamente ditos: contestanos, edetanos, ilergavones,
cesetanos, layetanos, indigetes e ausetanos, e mais um monte de outros pequenos
povos como os “artistas” do presunto, ao lado dos arenosios e andosinos! No
lado do Atlântico eram os cônios, cinetes e saefes.
Há quem afirme que a costa atlântica foi começada a
colonizar antes ou ao mesmo tempo que a mediterrânea. Mas ninguém consegue
unanimidade nas suas afirmações.
Segundo Herodoto os primeiros helenos a empreenderem
viagens marítimas longas foram os gregos foceus (de Foceia, na costa de Turquia
quando, quando por volta de 500 a.C. foram corridos da Lídia pelos exércitos de
Ciro). Não havia naus; eram embarcações de cinquenta remos. Chegaram a
Tartessos, onde conquistaram a amizade do rei Argantônios, que reinou oitenta
anos e viveu cento e vinte. Tal a amizade, que o rei os convidou a deixarem a Jónia
para ali se instalarem. Daí possivelmente a primeira, grande, colônia grega, na
Península.
Os iberos falavam uma língua, com muitas variantes,
mas de raiz mais ou menos comum que seria um substrato do que se falava no II
milénio a.C.
Eram agricultores, outros mais ganadeiros, tinham os
seus chefes e elites, guerreavam muito, sobretudo quando escasseavam os
alimentos de um grupo e tinham que ir buscá-lo a outro.
Trabalhavam muito bem a metalurgia, bronze, e os
instrumentos encontrados, como espadas, punhais, tripés, caldeirões, etc.
atestam a sua perícia.
Muito antes das Guerras Púnicas, já os helenos, como
todos, não sabiam quem teriam sido os primeiros povoadores na Sicília, a quem
chamaram de ciclopes e lestrigones, seres lendários. Mas no séc. V a.C. ali encontraram,
povos iberos, que Tucídides relata que os Lígures, igualmente um povo que parece ter saído
dos iberos, teriam expulsado uma outra tribo ibérica, os sicanos, das margens
do rio Sicano, do nordeste da Península Ibérica. Por causa deles a ilha foi
chamada de Sicânia, tendo sido antes conhecida como Trinácria, nome que lhe
provinha de Tri Acra, três cabos!
Turdetanos
e os turdulos eram tartessos, ibéricos
Em meados do século III a.C., os cartagineses, depois
de terem perdido a hegemonia do Mediterrâneo, perdendo a Sicília e a Sardenha,
querendo vingar-se de Roma, mas não tendo como fazê-lo pelo mar, decidiram que
o caminho era por terra.
Invadem a Ibéria, onde fundam algumas cidades como
Cartagena, lutam e submetem alguns povos, muitos dos quais acabam nas fileiras
de guerra para chegarem a Roma.
Amilcar Barca, o primeiro a começar esse avanço,
depois dos primeiros sucessos, morre afogado ao atravessar o rio Júcar. Quem
sabe se alguma linda serrana o
distraiu, como cantou Luis de Góngora em
1603:
En los pinares del Júcar
vi bailar a unas serranas,
al son del agua en las piedras
y al son del viento en las ramas...
¡Qué bien bailan las serranas,
qué bien bailan!
vi bailar a unas serranas,
al son del agua en las piedras
y al son del viento en las ramas...
¡Qué bien bailan las serranas,
qué bien bailan!
As Ilhas Baleares não tinham nenhuma relação com os
iberos e antes da chegada dos romanos só as duas maiores ilhas estariam
habitadas, desde uns 3.000 anos a.C., época a que chamaram pretalayótica!
Agricultores, umas cabras, ovelhas e poucas vacas, mas
uns costumes curiosos. Hábeis, excelentes atiradores com a funda serviam como
mercenários nas guerras entre gregos e cartagineses, e viviam, no século V a.C.
em covas. Os mortos despedaçavam-nos com facas de madeira, depois colocavam os
pedaços dentro de um vaso e cobriam-no com pedras. Tinham vinhas, mas gastavam
o “dinheiro” todo a comprar vinho e escravas, e um costume nupcial muito louco,
sobre a desfloração da noiva: enquanto se celebrava a boda, os amigos e
familiares se “uniam” com a dita “gatinha” por ordem de idade, até que,
FINALMENTE, chegava a vez do marido!
No próximo texto continuaremos com os celtas e suas
misturas.
01/05/2018
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