segunda-feira, 2 de abril de 2018




Portugal
Um “rolé” - 3

Para falar verdade este “rolé” foi muito incompleto!
Três semanas em Portugal não foram, nem serão nunca, suficientes para cumprir qualquer programa que, aqui no desterro, levo anos a programar.
Sempre penso ir visitar ou revisitar amigos, localidades, sítios arqueológicos, passar uns dias no Alentejo, etc. e, raro consigo realizar esses sonhos.
Como desta vez. Num corre-corre nem houve tempo para sonhar.
Limitei-me a ir ao Porto e Póvoa de Varzim para onde sou atraído pelo outro Francisco Gomes de Amorim, o poeta, assim mesmo fui num dia à tarde e regressei a Lisboa 24 horas depois, graças aos comboios Lisboa-Porto que são muito confortáveis e baratos. Sobretudo para velhinhos!
Abracei no Porto três bons, muito bons, amigos e na Póvoa almoçámos, com dois outros amigos da Câmara e da Biblioteca num novo restaurante dentro da Fortaleza, que foi toda renovada e está uma beleza.

Olhem como está bonita por dentro. E por fora.

Bem sei que a Póvoa é um pouco longe de Lisboa, mas vale muito uma estadia por lá. Tem o que ver, praias lindas, comida... melhor nem falar nisso, e até casino! Imaginem que tem também uma avenida com o meu nome!!! Vale a pena visitar: a Fortaleza, as praias, o sítio do Terroso onde viveram há mais de 2.000 anos os nossos antepassados, que pertenciam ao povo veter antes de aí chegarem os túrdulos e bem antes dos suevos, godos e romanos! Conviveram com celtas/galácticos!
Desculpem, mas história é história.
E ainda podem por ali respirar, além do saudável ar do mar, a presença de Eça de Queiroz que lá nasceu, Garrett e muitos outros... como o meu biso FGA.
Uma frustração foi não ter conseguido encontrar-me com um colega de curso e muito amigo que, mesmo não estando de perfeita saúde, meteu-se no carro, andou mais de 200 quilómetros para nos vermos e... o “idiota” telefone celular não tocou para me dizer onde ele estava. Lá na Póvoa, quase ao meu lado e não nos vimos!
Também não consegui encaixar uma ida ao Algarve para estar com um outro colega – do mesmo nosso curso, que terminou há bem mais de sessenta anos com 25 finalistas e só sobram 3 em condições de saúde, mesmo precárias, mas ainda com a cabeça a funcionar... aos trancos e barrancos. Um velho amigo, angolano de gema, sobre quem escrevi no meu livro “Contos Peregrinos”, e que acabara de fazer 97 anos, e ainda uma grande amiga, como irmã, que não pôde ir a Lisboa porque a neta quebrou um pé!
Ocupei muitas horas a programar o “rolé” total, que deveria incluir um dia em Almodôvar, no Baixo Alentejo, para visitar o Museu da Escrita onde se encontram estelas com escrita cônia ou tartéssica (de outros antepassados do sul da Península Ibérica), ainda indecifráveis, com 2.500 a 2.700 anos.
  
Para quem gosta de história, e esta é história do povo português, é um prato cheio, como ainda a Estação Arqueológica Mesas do Castelinho, resíduos duma cidade fortificada com a mesma idade das estelas. Dos cônios, antepassados dos meus amigos algarvios!
Visitar, e admirar estas peças e locais transporta-nos para épocas longínquas, mas que são parte da nossa cultura!
O rolé incluiria ainda uma passagem por Évora, que continua, dentro das muralhas, a ser a cidade mais bonita de Portugal, e que tem uma gastronomia que faz inveja aos deuses e aos grandes chefs franceses que, por uma nota preta nos apresentam uma pétala cor de rosa com três pingos de um molho esquisito junto a 15 gramas duma carne disfarçada.
Programava uma ida ao Fialho, que conheço há mais de setenta anos, comer uma sopinha de beldroegas e um ensopado de borrego ou carne de porco à alentejana, mas... fiquei só com a água na boca!
A gente põe e Deus dispõe.
Nem sequer consegui ir comer os maravilhosos salmonetes grelhados para o que um amigo me tinha convidado. E tão perto de Lisboa. Ali, em Setúbal!
Mas trouxe da Europa três livros interessantíssimos (para mim) um em cada língua, para não perder o treino, e de que irei falar um pouco mais pradiantemente. Ainda não os li, com vagar, para os absorver bem. Dei só uma espiada:
 - Em tempos de Inocência – Um Diário da Guiné-Bissau, de António Pinto da França, um grande amigo que já nos deixou. Uma delícia de leitura.
- Los pueblos prerromanos da la Península Ibérica, de Manuel Salinas de Frias. Muito interessante.
- Through the Brazilian Wilderness, de Theodore Roosevelt. Como ele viu o Brasil, a Amazônia, em 1913-14.
Já comecei a fazer projetos para a próxima ida (!?!?!?), para o que têm que se conjugar dois fatores da maior relevância: o milagre de uma gorda loteria que permita satisfazer as despesas e ainda que sobre algum, e a composição do físico que, pelo contrário, já entrou, há anos, na fase de pré-decomposição.
Mas isto não impede sonhar.
“O sono é a imagem da morte, os sonhos são a imagem da vida. Cada um sonha como vive. Os sonhos são uma pintura muda, em que a imaginação, a portas fechadas e às escuras, retrata a vida e a alma de cada um, com as cores da sua ação, dos seus propósitos e desejos”. Pe. António Vieira
Mas a todos estes projetos/sonhos se interpõe, sempre, o sacramento da amizade, da família, que se concretiza com a palavra confraternizar! E a esse sacramente custa muito faltar.

02/04/18

3 comentários:

  1. Lendo suas bem traçadas linhas, vontade de retornar a Portugal e percorrer todo esse roteiro que você descreve!

    ResponderExcluir
  2. Prezado Francisco Amorim,
    É verdade, sonhar faz bem, nos traz desejos e esperanças, nos enche de perspectivas de vida. E quando alguém nos atiça com iguarias culturais e alimentícias, a vontade de revive-las nos faz esquecer , por momentos, as marcas do tempo que trazemos nas costas!

    ResponderExcluir
  3. Vamos ter que programar uma ida ao Algarve...e estou cá pensando com meus botões, todos os "Franciscos " da família são poetas ??? 😉

    ResponderExcluir