O Brasil já é um país sério ?
Nr. 2
Compreender o Brasil ou, talvez melhor, entender o
Brasil, é assunto para profundos estudos de psiquiatria, onde se encontra uma
área que se chama demência.
Eu, pelo menos, desisti de o analisar e/ou tentar
entender, porque os contrastes são de tal forma profundos que, só isso, nos
leva a perder o rumo.
Mas, com um pouco de boa vontade, e muito atrevimento,
creio que a primeira afirmação que se pode fazer para «entender» este país, é a inguinorança
generalizada!
Tem cientistas, médicos, escritores, poetas,
engenheiros, atores, arquitetos, juristas, jornalistas, etc. de altissima
classe, que podem equiparar-se com os melhores que esta Gaia já produziu, mas,
todos esses, somados, não representam mais do que uma ínfima minoria no meio
dos duzentos e tantos milhões deste povo.
Também tem bandidos e assassinos, aos milhares
(inclui-se aqui o grupo armado MST, PT e outros) que, se pudessem ter sido
levados para a guerra da Síria já há muito tinham acabado com os tais terroristas.
Em corrupção ganhamos qualquer copa do mundo. O
futebol é que não está lá essas coisas.
Mas ao recuarmos alguns anos, não muitos, vamos
encontrar frases e opiniões que podem dar uma ajudinha a quem pouco mais sabe
do Brasil, além de que foi o Cabral que aqui chegou, que parece estar situado algures na Amércia (se do Sul ou do Norte é a
mesma coisa), que teve celebridades como o Pelé, tem mulatas lindonas (em
Angola também! E até teve a Miss Mundo), como ia dizendo, aliás escrevendo,
recuando uns anos temos definições geniais.
Uma delas que já fez parte de um texto publicado, e
aqui é dito à boca cheia, é que o Brasil
não é um país sério. É triste e lamentável, mas... não é mesmo.
Começou com a «descoberta» de algo que estava já
descoberto, portanto com uma mentira.
Mentirinha, porque isso não teve grande influência
para o que se seguiu.
Ainda estava nestas Terras, com Cabral & Cia.,
Mestre João Faras ou João Emeneslau, conhecido como Mestre João, que escreveu ao quase todo poderoso e venturoso rei Manuel,
o primo, dizendo-lhe que a carta de Pero Vaz de Caminha, que seguia junto com a
dele, apesar de magnificamente escrita e tantas vezes já descrita, era uma peça
de teatro, quase um silogismo, porquanto:
“Quanto Senhor, ao
sítio desta terra, mande Vossa Alteza trazer um mapa-mundi que tem Pero Vaz
Bisagudo e poderá ver Vossa Alteza o sítio desta terra; mas naquele mapa-mundi não
certifica se esta terra é habitada ou não; é mapa antigo e ali
achará Vossa Alteza escrita também a Mina.
Terra esta que se chamou Ilha de Vera Cruz, Terra dos Papagaios, e Terra
de Santa Cruz, e acabou com um nome semi árabe, do pau bresili!
Com intenção pejorativa, depreciativa, continua-se, nos dias de hoje a dar-lhe
o nome de Pindorama, quando era, ao que dizem alguns estudiosos, como os índios
do litoral a ela se referiam, significando “terra das palmeiras”. Dom Francisco
de Aquino Correia que foi arcebispo de Cuiabá, poeta, membro da Academia de
Letras, imortal que morreu em 1956, escreveu:
Minha terra é Pindorama
De palmares sempre em flores.
Quem a viu e não a ama,
Não tem alma nem Amor.
Em boa hora o arcebispo entregou a alma ao Redentor e os ossos à terra, e
não assistiu a toda a pindoramice em que se tem transformado esta “Ilha de Vera
Cruz”.
Outro episódio da sua história, muito interessante é do tempo da França
Antártica.
Um grande herói dos mares, sujeito com história tipo herói Dartagnan,
Nicolas Durand de Villegagnon, no seu curriculum consta o rapto de Maria
Stuart, que foi rainha da Escócia. Em 1548 a Escócia estava em guerra civil,
católicos e anglicanos, Maria com 5 anos de idade em riscos de ser levada a
Inglaterra e forçada a casar com Henrique VII, sua mãe Marie de Guise
escondeu-a, pediu socorro a França, e lá foi Villegagnon “raptá-la’ e salvar.
Do currículo ainda consta ter vencido uma batalha naval contra os ingleses. Em
1554, Henrique II, rei França, católico, ordena uma expedição sigilosa ao
Brasil, sabendo que a Baía da Guanabara não estava ocupada pelos portugueses. E
lá vem o Nicolas, instala-se na Praia do Flamengo, depois na encosta do Outeiro
da Glória e acaba por se fortificar na Ilha de Sergipe, hoje conhecida como
Ilha de Villegagnon.
Mas a sorte não lhe corria bem. Os franceses eram de pouco trabalhar, quem
construiu o forte foram sobretudo os índios tamoios. Depois o que eles queriam
mesmo eram as índias, que ali
andavam entre eles moças bem novinhas e gentis, com cabelos mui pretos e
compridos pelas costas e suas vergonhas tão altas e tão saradinhas e tão limpas
das cabeleiras que de as nós muito bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha.
Os Jeans Pierres, como os portugueses noutras
partes desta Pindorama, não aguentavam! Moças assim gentis e tão saradinhas não
havia na Europa! Juntavam-se, e se os obrigavam a casar fugiam com as gatinhas
para o interior, e o Almirante Villegagnon via-se sem gente. Pediu ao rei que
lhe mandasse uns 4 ou 5.000 homens para começarem a ocupar o interior. Solução:
em França cataram a banditagem que estava nas prisões, ladrões, assassinos, o
que houvesse, e vieram 300 homens e 3 mulheres, comandados por pastores calvinistas.
O choque com católicos foi evidente e os calvinistas não gostaram da terra e
foram logo de volta. Imaginem: três mulheres no meio de trezentos facínoras, o
sossego que deveria ser! Villegagnon ainda mandou fuzilar uns quantos, enforcar
outros, mas chateado com a situação regressou a França.
Teve sorte porque logo a seguir chegou ao Rio de
Janeiro Mem de Sá, e Estácio de Sá correu com quase todos, exceção feita aos
que se submeteram e aos que se embrenharam no mato com as suas gentis moças.
Durou doze conturbados anos a “gloriosa” França
Antártica!
Mas a briga com os franceses durou até ao século
XX, sem falar já na GRANDE Guerra Das Lagostas em que os beligerantes não deram
um único tiro. A questão que sobreviveu foi a definição da fronteira que
separava a Guiana Francesa do Brasil, cuja defesa em Haia foi feita pelo gaúcho
dr. Joaquim Caetano da Silva, que acabou dando causa ao
Brasil.
Em 1816 chega ao Brasil o botânico Auguste de Saint-Hilaire, acompanhando
a missão extraordinária do duque de Luxemburgo, que tinha por objetivo resolver
o conflito quanto à posse da Guiana. Naturalista, botânico interessou-se
pela exuberância do país tropical e aqui esteve seis anos. Coletou 30.000
amostras de plantas que estão no Herbário do Muséum Nationale d’Histoire
Naturelle, em Paris.
Um dos bichinhos que ele estudou foi a formiga saúva, aliás as formigas
saúvas de que há, só, 40 espécies diferentes, entre todas as outras mais de
2.000 espécies de formigas. A saúva é uma formiga cortadeira, e eu que o diga,
porque está sempre comendo algumas das plantas mais bonitas que me atrevo a
plantar no meu jardim. Saint-Hilaire, um cientista, face a essa enorme
quantidade de cortadeiras e ao estrago que elas faziam, e fazem, teve uma frase
sublime:
“Ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba
com o Brasil!”
Mal podia imaginar o sábio, que as saúvas aqui continuam e quem está a
acabar com o Brasil não são as formigas, mas os “tubarões” da política. O que
os milhões de saúvas rapam durante um ano... os políticos fazem isso com uma
canetada, em poucos segundos. E em dinheiro vivo.
Como era um indivíduo bem educado, não deixou escrito, como Darwin, que
por aqui isto era um mundo novo de sedução e horrores:
escravatura brutal, sujeira, desconforto, em paralelo com uma paisagem
exuberante.
Simpático, esse Auguste de Saint-Hilaire.
João Capistrano Honório de Abreu, mais conhecido sem o primeiro e o
terceiro nome, cearense arretado, foi um grande historiador sobretudo do
período colonial, faleceu no Rio em 1927.
Conhecedor das torpezas que parece não terem fim entre os colarinhos
brancos (sujos, mesmo de branco) propôs um dia “que substituíssem todos os capítulos da Constituição por um artigo
único:
“Todo o brasileiro fica obrigado a ter vergonha
na cara”!
Infelizmente essa profunda e ética alteração da Carta Magna (magna ou ínfima?)
nunca foi seguida, e está, constantemente, a ser deturpada para garantir que a
vergonha seja, não só aceite, mas declarada legal... aos olhos deles e de boa
(ou ruim) parte da justiça que os acoberta, e desgraçada aos olhos do povo.
Um século mais tarde, o grande político que foi Ulisses Guimarães, talvez
o maior político do século XX do Brasil, um dos pilares da nova Constituição de
1988, no seu discurso da promulgação dessa nova Carta, como base duma nova era deixou
bem claro:
“Não roubar, não deixar roubar, pôr na cadeia
quem rouba.
Eis o primeiro mandamento da moral pública.”
Pobre Ulisses Guimarães! Lutou durante meio século para democratizar o
país, para arrumar “a casa”, para levantar o nome do Brasil, queria um “país
sério”, morre num desastre de helicóptero, nunca apareceu o seu corpo, e os que
ficaram, atrelados ao seu partido, mas jamais aos seus ideais, o PMDB, não
conseguem outra coisa que não seja a desmoralização da política e a
roubalheira.
Talvez por isso, com vergonha, o corpo de Ulisses Guimarães, caído no
mar, tivesse preferido ficar escondido lá no fundo, do que enfrentar o
descalabro daqueles que se dizem seus seguidores!
15 de Novembro.
Implantação da República.
Piora sensivelmente a política e a economia no Brasil. O assalto à res publica é imparável, e o
desentendimento entre os que se alcandoraram a “chefes”, impressionante.
Assume o “velho marechal” Deodoro da Fonseca, monarquista convicto é o
seu primeiro Presidente. Segundo reza, era “um chato, vaidoso, irascível,
incandescente, incompetente, etc.” Para governar um “novo” país, de fato não
podia ser pior. Mas não deixou de se logo auto promover a generalíssimo!
Nomeava, destituía, nomeou os quinze juízes para o Supremo Tribunal, tudo
amigalhaço, enfim, desmoralizou a república.
O jornalista Eduardo Prado, advogado,
jornalista e escritor brasileiro, membro fundador da Academia Brasileira de
Letras e um dos mais importantes analistas da vida política do Brasil escreveu
sobre esse período:
“Aquilo já não é
militarismo, nem ditadura, nem república.
O nome daquilo é
carnaval.”
E como por aqui em se plantando, tudo dá, o Brasil foi
andando, aos trancos e barrancos, misturando revoluções com ditaduras (Getúlio
Vargas, que, com um tiro no peito, saiu
da vida para entrar na história), jamais democracia, até que assume Jânio
Quadros, convencido que com a sua vassoura ia resolver os problemas acumulados
em quase século e meio de independência. “Forças
terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou infamam”, para fazer
chorar o povo, mas não pegou! Quis mais poder, jogou com o Congresso e...
perdeu! O vice, João Goulart, tinha ido passear à China, para não perturbar o
“chefe”. Estava longe quando Jânio foi rejeitado, e deveria logo assumir. O
Exército não o queria nem pintado, mas acabou por ter que o engolir.
João Goulart, o
Jango, estancieiro (fazendeiro) rico, lá das pampas do Rio Grande do Sul, bon vivant, já duas vezes
vice-Presidente, sem fazer absolutamente nada, todos os anos ia a Paris consultar
o cardiologista, deixava-se por lá ficar meses, com mulher e filhos. Chegou até
a comprar um carro em Paris para passear por França. Vice-Presidente do Brasil!
Assume, não
assume... assumiu, e logo começou a mostrar-se o pior indivíduo para aquele
pesado cargo. Um milionário e latifundiário, decidiu que era bonito apoiar os
socialistas. Começou a baderna.
As Forças Armadas
que não chupavam o tal Jango, decidiram pôr cobro ao descalabro.
E vai daí uma
revolução para o destituírem.
Foi uma anedota, a
revolução. Nem um tiro, nem qualquer coordenação entre os vários Comandos
Militares. Um deles chegou ao Rio, as populações viram passar a tropa, diziam
até adeus com lencinhos coloridos, mas não faziam ideia do que estava
acontecendo.
Uma vez no Rio de
Janeiro não sabia o que devia ser feito a seguir. O Brasil estava sem comando
porque Jango se mandou lá para o latifúndio dele.
O General Olímpio
Mourão Filho, que comandava a 4ª Região Militar, vitorioso (!), foi perguntado
sobre a razão da sua precipitada ação. Respondeu:
“Em matéria de
política sou uma vaca fardada.
Se, de acordo com a
minha consciência estou certo, quem quiser que me siga.”
E assim o Brasil
entrou na Ditadura Militar. Durou 24 anos.
Veio a seguir a tal
democracia, com presidentes eleitos pela inguinorança:
- Sarney, porque
deixaram morrer Tancredo Neves, que prestes a bater a bota, ainda conseguiu
forças para dizer “Eu não merecia isto”!
E o dono, grã-duque do Maranhão foi um desastre.
- Seguiu-se Collor,
corrido por indecente, estúpida e má figura.
- Assume Itamar, que
gostava de andar com garotas sem calcinha.
- Chega Fernando
Henrique com o plano Real que acaba a inflação, mas que moscambilhou a economia
para se reeleger.
- Finalmente o país
é aberto ao saque total e descarado: entro o PT.
Até hoje. E parece
que cada vez pior, ainda com a perspectiva de voltar a ter o PT “lá de novo”, a
rapar os últimos bilhões que novos impostos farão surgir de qualquer parte e
voltarem a sumir nos bolsos de...
De quem mesmo?
A justiça é lenta.
Lenta até à conveniência. Perdão, conivência.
Não. A Nossa Senhora
Aparecida já disse que está cansada de milagres e não vai interferir na
política.
Também não venham
chorar que a culpa é dos portugueses:
Nossos antepassados
não são responsáveis por nossos atos,
nem pelo que somos.
14/11/2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário