sábado, 20 de janeiro de 2018

Cartão de idoso

Idoso! Qual será a definição, correta, de IDOSO? Há muitos anos, 40, pelo menos, no Brasil idoso era todo aquele/a que atingisse 60 anos.
Em 1970 a esperança de vida ao nascer, no Brasil era de 59 anos, México 61 e EUA 71, portanto foi uma decisão normal considerar-se idoso um velhinho de 60 anos.
Mas hoje esses valores estão muito alterados: Brasil 75, México, 77 e EUA 79, mas qualquer um continua a ser idoso aos 60.
A pensar que eu com mais de 60 recomecei vida nova, numa cidade nova, e me sentia...novo! Aos 70 mandaram-me para casa, aposentado, o que muito me chocou porque me sentia capaz de ficar a trabalhar mais uns quantos anos, e em casa nada tinha o que fazer.
Lá me desenvencilhei, e ainda por aqui estou!
Hoje faço parte de um grupo que representa 0,16% dos 208 milhões de habitantes neste país.
Têm algumas vantagens os idosos: ônibus de graça, renovação da carteira de condução de graça, filas especiais nos estabelecimentos, hospitais, etc., mas, para falar verdade, não sei se preferia ter menos meio século em cima destas costelas. Talvez não. O mundo não merece que eu fique aqui penando mais uma “porrada” de tempo, não esquecendo o que dizia o famoso Barão de Itararé (de quem vou escrever um dia): “O mundo é redondo mas está a ficar muito chato.”
Agora inventaram mais uma facilidade para os idosos: vagas de estacionamento para os carros.
Para isso o tal idoso tem que se deslocar a uma repartição da Prefeitura, enfrentar uma qualquer fila, preencher a papelada, mostrar documento de identidade, de contribuinte, comprovante de residência, documentos do carro, aliás viatura, e não sei se licença de caça, atestado de bons antecedentes e sanitário, e carteirinha de sócio de algum clube ou de escola de samba. Fácinho!
Mas enfim, depois disso, espera NOVENTA DIAS que lhe deem o documento comprobatório e... finalmente pode sair por aí e parar nas vagas da Prefeitura... que não paga. Boa.
O mais caricato desse documento é que ele só é válido por 5 anos! Será que a Prefeitura acha que o idoso vai regredir no tempo e cinco anos passados ele volta a ser jovem? Ou que por ser idoso vai bater a bota nos entretantos e já não precisa do documento? Ou é só para chatear o cada vez mais idoso?
Burocracia é isso. Muita papelada, os serviços públicos sempre desconfiados que o zé pagante o quer vigarizar, e os funcionários, se facilitarem arriscam-se a perder o tacho, porque o trabalho pode diminuir.
Querer vigarizar o Estado, todos querem, porque é isso que lhes ensinam presidentes, deputados, governadores, prefeitos e tudo o mais, o que o enche de razão. Só eles a vigarizarem a res publica, e nós, idosos não! Há qualquer coisa de errado em tudo isto.
Há algumas vantagens extra de se ser idoso. Por exemplo pode ameaçar algum idiota de lhe dar um tapa na cara. Se ele reagir estará ferrado. Vão dizer que bateu num velhinho, e como ninguém acreditará que foi o dito idoso que o ameaçou, este vira herói. Jogo um quanto perigoso, mas quem não arrisca...
Pode dizer uma graça, simpática, a uma funcionária do supermercado sem que o acusem de “atentado sexual” hoje muito em voga, e que está a atingir os idosos que há vinte anos meteram a mão na bunda duma boazuda, ou pior, como aquela que apresentou queixa formal contra um “titio” que há quinze anos tinha olhado despudoradamente para dentro do decote dela! Essa foi a que eu mais gostei.
A dita queixosa, exibia-se toda gostosa com um generoso decote, mostrando o que QUERIA, e quando o indivíduo demorou mais do que o tempo que ela considerou razoável para a inspeção, aí passou a considerar “quase crime sexual”, mas só quinze anos depois.
Hoje exibir o departamento de leitaria, muitas vezes de plástico, é normal. Mas atenção, machos famintos: não olhem. Primeiro porque pode ser crime, e depois porque em boa quantidade de casos é tudo silicone, não vale a pena.
Na praia, idoso pode esbandalhar-se à vontade. Vê tudo. Bundas divididas ao meio, sem que muitas vezes se veja a linha das Tordesilhas (de cá é meu de lá é teu). Imagino, ao ver estes “tratados”, o quanto terá sido difícil aos portugueses e espanhóis decidirem qual o pedaço deles.

Tordesilhas bem definidas!

Também fico a pensar no papa Alexandre VI que decidiu dividir o mundo em duas partes. Será que ele não ficou com um pedacinho? Olha quem! Ele que teve inúmeras amantes que lhe deram só - os que se conhecem – oito filhos, se por acaso houvesse este tipo de documento para... assinar!
Peitorais então, siliconados ou não, lembram grandes explorações leiteiras, e se estão bem expostos, cada um tire as conclusões que quiser.
Na praia não há crime. Só não pode ir à praia com mulher ciumenta. Vai implicar com o marido cada vez que ele puser os óculos para melhor apreciar a paisagem. Sem eles, o pobre idoso, vê tudo desfocado, e nem consegue distinguir macho de fêmea.
E se conseguir... encolhe os ombros, procura nos fundos da memória algum acontecimento digno, na ocasião, de festa (aquela que ele esqueceu de contar à esposa amante) e volta irritado para casa porque nem dessa se lembra já.
Mas se tiver o tal Cartão... pelo menos estacionou de graça.
Isto... se voltar a encontrar o carro que deixou estacionado, porque no Rio de Janeiro, só na cidade, roubam-se 150 – cento e cinquenta – carros por dia! Não é exagero não. São números oficiais da Polícia.
E muita sorte terão os idosos porque, já meio podres, devem estar mais livres de outra praga que, já agora, nada custa informar: no Estado do Rio são registrados 503 estupros por mês.
Deviam voltar a utilizar antigas jurisprudências condenatórias, como esta:
SENTENÇA  JUDICIAL DATADA  DE 1833 PROVÍNCIA DE SERGIPE
O adjunto de promotor público, representando contra o cabra Manoel             ....    Duda, porque no dia 11 do mês de Nossa Senhora Sant'Ana quando a mulher do Xico Bento ia para a fonte, já perto dela, o supracitado cabra que estava    em uma moita de mato, sahiu dela  de supetão e fez proposta a dita mulher, por quem queria para coisa que  não se pode trazer a lume, e como ela  se recusasse, o dito cabra abrafolou-se  dela, deitou-a no chão, deixando as  encomendas della de fora e ao Deus dará. Elle não conseguiu matrimonio porque ella gritou e veio em amparo della Nocreto Correia e Norberto Barbosa, que prenderam o cujo em flagrante. Dizem as leis que duas testemunhas que assistam a qualquer naufrágio  do sucesso faz prova.
CONSIDERO:
QUE o cabra Manoel Duda agrediu a mulher de Xico Bento para conxambrar com ela e fazer chumbregancias, coisas que marido della competia   conxambrar, porque  casados pelo regime  da Santa Igreja Cathólica Romana;
QUE o cabra Manoel Duda é um suplicante deboxado que nunca soube respeitar  as famílias de suas vizinhas, tanto que quiz também fazer conxambranças com a Quitéria e  Clarinha, moças donzellas; QUE Manoel  Duda é um sujeito perigoso e que não tiver uma cousa que  atenue a perigança dele, amanhan está metendo medo  até nos homens.
CONDENO:
O cabra Manuel Duda, pelo malefício que fez à mulher do Xico Bento, a ser CAPADO, capadura que deverá ser feita a MACETE. A execução desta pena deverá ser feita na cadeia desta Villa.
Nomeio carrasco o carcereiro.
Cumpra-se  e  apregue-se   editais nos lugares  públicos.
Manoel Fernandes dos Santos
Juiz de Direito da Vila de Porto da Falha, Sergipe, 15 de Outubro de 1833.

Fonte:       Instituto  Histórico de  Alagoas

Final de 2017

Jan/2018

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