2017 - Luis Fernando Veríssimo. O grande escritor e jornalista escreveu um dia
esta frase lapidar:
O ateísmo é aborrecido como um
mundo sem loiras!
Sensacional.
Como tudo que ele escreve.
1968 - Capucine. Há uns 50 anos um milionário português
deu uma baita festança em Portugal, convidando ilustres, políticos, ricaços,
artistas e gente do cinema. Muita festa, muita música e uma das convidadas era
a lindíssima modelo e atriz Capucine, com quarenta aninhos e no auge da sua
glória (e olha que “glória”!)
Às
tantas um dos convidados convidou-a para dançar. Aquela mulher lindona atraía
qualquer um, e o parceiro estava já naquele ponto de animação que alguns bons
copos permitem. Par na pista, o “macho” começou a “aconchegar-se” cada vez mais,
e ela, tanquila, diz-lhe:
- “Je dois vous prevenir, monsieur, que
je n’aime pas les hommes, je n’aime que les femmes”.
E ele:
- “Oh!
Tal como eu! Eu também só gosto de mulheres!”
Foi um sucesso para quem ouviu e viu que
ele não a largou. Terá sido um dos pontos altos da festa.
213 dC - In
Hoc Signo Vinces
Ainda
em Portugal se ensina (ou ensinava?) que o 1° Rei, Afonso Henriques, tinha
ganho a batalha de Ourique, que ninguém sabe se houve ou se é papo de
historiador puxa-saco, porque teria avistado no céu uma cruz e esta frase “In Hoc Signo Vinces”. Isto em 1139!
Ourique serve, a
partir daí, de argumento político para justificar a independência de Portugal.
A bandeira de Afonso Henriques não era mais do que um fundo branco com duas
linhas azuis cruzadas (igual á atual bandeira da Finlândia), mas diz-se que,
tendo vencido em Ourique cinco reis mouros e visto os sinais de cristo, Afonso
Henriques adota como brasão de armas de Portugal cinco escudetes (cada qual com
cinco besantes), representando as Cinco Chagas de Cristo e os cinco reis
mouros (teoricamente?) vencidos na batalha.
(Alguma coisa
aconteceu, onde, como e quando é que prevalece misteriosamente na lenda!)
O mais estranho é
que a primeira referência conhecida ao milagre
ligado a esta batalha é do século XIV.
Já, em 312 d.C.,
pouco antes da batalha contra Marcus Aurelius Valerius
Maxentius Augustus, um usurpador do trono imperial romano, o Imperador Constantino, ao olhar o sol, viu uma cruz luminosa
acima deste, e com ela as letras gregas (X) e (P), as duas
primeiras letras do nome de Cristo. Segundo a lenda, Constantino adotou como
lema, essa frase grega "εν τούτῳ νίκα" (em grego,
que foi traduzida para latim in hoc signo vinces), e o Rei de Portugal
foi na carona!
Camões, na sua obra
maestra, sempre procurando enaltecer os feitos dos portugueses, não podia
deixar de se referir a esta “batalha” e lembrar a origem dos escudetes que
ainda hoje a bandeira ostenta:
Vós, tenro e novo ramo
florescente
De uma árvore, de Cristo mais
amada
Que nenhuma nascida no Ocidente,
Cesárea ou Cristianíssima
chamada
(Vede-o no vosso escudo, que
presente
Vos amostra a vitória já
passada,
Na qual vos deu por armas e
deixou
As que Ele pera si na Cruz
tomou)
Os
escudetes continuam a ter, cada um cinco besantes. Há quem os represente em
onze. Gostos. Besante, de Bizâncio, moeda trazida do oriente. Afonso Henriques
ao incluir os besantes dentro dos escudetes quis mostrar que era já rei e assim
poderia emitir moeda própria.
1958 - Leonor. Quando a conheci, na Cuca, em
Luanda, Leonor era a secretária do diretor geral. Teria uns 30 anos.
Inteligente, culta, um físico que captava e causava inveja a outras colegas e tremores
de emocionais desejos aos homens! Alta, corpo cheio com precisão, o peito de
volume igualmente atraente, bem alinhado para a frente, andava com estudado
bamboleio, por onde passasse deixava estúpidos suspiros nos infelizes! Infelizmente,
em criança tivera varíola, que lhe deixou alguns resquícios, o que não impedia
que fosse uma mulher muito atraente.
Naquele tempo, apesar
de passado já século e meio desde a chegada da família Real ao Brasil, parece
que nos escritórios da Cuca só haveria uma máquina de escrever, visto que era a
Leonor que “batia” os relatórios do Diretor Geral, e até os corrigia porque o
tal diretor, ótima pessoa, mas bastante fraco diretor era certamente também fraco
redator.
Chegou a minha vez
de precisar datilografar um relatório para a Administração (em Lisboa!) com um
estudo sobre a implantação duma fábrica de rações; procurei uma máquina para
isso, mas só a Leonor detinha tal preciosidade!
Sempre sorridente e
prestável, datilografou tudo num instante, e quando mo devolveu constatei que
se tinha dado ao “luxo” de alterar algumas frases minhas. Não gostei, e fui
dizer-lhe que mesmo que ela não gostasse da minha escrita, ela era minha e eu
não deixava que a alterassem. Acatou muito bem, não se perturbou e corrigiu
tudo.
Os escritórios da
Companhia, estavam num armazém que teria uns 15 ou 20 metros de comprimento e
uma meia dúzia de largura, onde mais tarde passou a ser lugar onde pernoitavam
os caminhões da distribuição. O diretor geral tinha a sua sala numa ponta, a da
secretária ao lado, e eu uma mesa na ponta oposta.
Um dia a Leonor saiu
da sua salinha, atravessa a galpão dos “manga de alpaca” e vem me pedir se a
levava a casa, porque se estava a sentir mal. Disse logo que sim, avisei que
voltaria ainda antes do almoço. Estava mesmo com febre e ficou uns dias em
casa.
Mas a turma dos
babosos machos, ao verem-me sair com a Leonor, fofocaram logo que entre nós haveria
alguma “coisa”. Pobres invejosos!
Nunca houve nada, a
não ser uma amizade simpática que crescia à medida que melhor nos íamos
conhecendo dentro da companhia. Sempre a respeitei e tive também como um dos meus
melhores amigos um seu irmão, o meu querido e saudoso Bartolomeu.
Soube mais tarde, já
eu não estava na Cuca, que ela havia casado com um colega. E sei que tiveram um
filho, mas nunca mais os vi.
1960 – Jornal “A Comarca de Arganil”. Era relativamente grande a colónia de
arganilenses em Luanda. Um deles, que bem conheci, era dono da famosa
Cervejaria Suiça, “ali” no Largo Serpa Pinto (hoje Largo Amilcar Cabral) e
muito amigo do homem das Relações Públicas da Cuca, o famoso e de longa e
profunda saudade, o Renato Lima. Creio que o jornal de Arganil, “A Comarca de
Arganil” já com meio século de existência, pertencia, em todo, ou em parte aos
irmãos Castanheira Nunes. O Vitor, da cervejaria em Luanda e o irmão diretor do
jornal lá no “puto”.
O jornal tinha em
Luanda bastantes assinantes e um dia vieram da terrinha, o “patrão” Castanheira
Nunes e o diretor “oficial”, um padre, cujo nome esqueci. (Para ser diretor de
jornal era necessário ter um curso superior! Então o dono geria e o padre
assinava!).
Calhou nessa altura
eu ter que me deslocar (de carro, no robusto Jeep Station da Cuca) a Porto
Amboim e Novo Redondo (hoje Sumbe), e o Renato diz-me que estavam em Luanda os
diretores do jornal, irmãos do Vitor, etc. que gostariam muito de dar uma volta
pelo “mato”.
O Vitor, homem
grande, aí uns cento e uns quilos, o Renato, baixo com outros tantos, o irmão
portuga de robusta estatura... mais modesta, o padre mais ou menos como eu, e o
ajudante da carrinha, indispensável para viajar por Angola, angolano alto e
forte, mas não gordo, perfazíamos seis passageiros a encaixar naquele Jeep que
não era exatamente um Cadillac.
Entrou tudo, bem
encostados uns nos outros e lá vamos. Seguimos por dentro do Parque da Quissama
onde se viram alguns animais e, bem mais adiante, deitada no meio da estrada
(estrada? Picada e olha lá!) uma bela onça (ou leopardo) gozava o sol e a
tranquilidade da tarde. O padre que seguia no banco da frente (no meio o
ajudante e eu a conduzir) ficou animadíssimo. Com a aproximação do carro o
animal calmamente se levantou, saiu da estrada e sumiu no mato. O padre pensou
que o resto do caminho seria uma verdadeira aventura de zoológico. Enganou-se.
Até chegarmos a Porto Amboim, carregados de pó do caminho, nada mais vimos!
O Renato já tinha
avisado pelo telefone, ao nosso agente, que chegaríamos nesse dia e queríamos
um jantar digno de reis, melhor, de imperadores. O que ali não faltava eram
lagostas e gambas de fazer inveja a qualquer restaurante de 50 estrelas
Michelin! Uma maravilha!
E os quartos do
hotel, reservados.
O restaurante dava
frente para o largo principal e as traseiras para uma rua mixuruca onde, do
outro lado, ficavam os quartos do “palace”. Todos com porta para a rua, e um só
banheiro, com a mesma serventia. A rua!
A primeira coisa que
todos quisemos fazer foi tomar um banho e livrarmo-nos dos quilos de poeira no
corpo. Mas havia que esperar uns pelos outros. O nosso querido Renato, mais a
sua respeitável barriga, despiu-se no quarto, envolveu-se com uma toalha que
não lhe tapava quase nada e postou-se à porta do banheiro. Pouca gente passava
nessa rua, mas os poucos que tiveram o privilégio de ver tão caricata quanto
simpática figura ainda hoje devem estar a rir!
E o jantar foi de
nababos!
Gostaria de encontrar
entre os meus muitos papeis o jornal onde depois os visitantes contaram esse
passeio!
Lembro que
escreveram que o condutor (era eu) corria muito e todos iam com o credo na boca!
Não sei em que boca, pois os três passageiros do banco de trás, bem encaixados
e apertados, foram quase todo o caminho a dormir e... a ressonar em tom bem
audível.
* * *
O tempo não espera por ninguém.
Ontem é história.
Amanhã é um mistério.
O hoje é uma dádiva, por isso é chamado de
presente.
10/10/2017
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