terça-feira, 10 de outubro de 2017

Soltas e misturadas

2017 - Luis Fernando Veríssimo.  O grande escritor e jornalista escreveu um dia esta frase lapidar:
O ateísmo é aborrecido como um mundo sem loiras!
Sensacional. Como tudo que ele escreve.

1968 - Capucine. Há uns 50 anos um milionário português deu uma baita festança em Portugal, convidando ilustres, políticos, ricaços, artistas e gente do cinema. Muita festa, muita música e uma das convidadas era a lindíssima modelo e atriz Capucine, com quarenta aninhos e no auge da sua glória (e olha que “glória”!)


Às tantas um dos convidados convidou-a para dançar. Aquela mulher lindona atraía qualquer um, e o parceiro estava já naquele ponto de animação que alguns bons copos permitem. Par na pista, o “macho” começou a “aconchegar-se” cada vez mais, e ela, tanquila, diz-lhe:
- “Je dois vous prevenir, monsieur, que je n’aime pas les hommes, je n’aime que les femmes”.
E ele:
- “Oh! Tal como eu! Eu também só gosto de mulheres!”
Foi um sucesso para quem ouviu e viu que ele não a largou. Terá sido um dos pontos altos da festa.

213 dC - In Hoc Signo Vinces
Ainda em Portugal se ensina (ou ensinava?) que o 1° Rei, Afonso Henriques, tinha ganho a batalha de Ourique, que ninguém sabe se houve ou se é papo de historiador puxa-saco, porque teria avistado no céu uma cruz e esta frase “In Hoc Signo Vinces”. Isto em 1139!
Ourique serve, a partir daí, de argumento político para justificar a independência de Portugal. A bandeira de Afonso Henriques não era mais do que um fundo branco com duas linhas azuis cruzadas (igual á atual bandeira da Finlândia), mas diz-se que, tendo vencido em Ourique cinco reis mouros e visto os sinais de cristo, Afonso Henriques adota como brasão de armas de Portugal cinco escudetes (cada qual com cinco besantes), representando as Cinco Chagas de Cristo e os cinco reis mouros (teoricamente?) vencidos na batalha.
(Alguma coisa aconteceu, onde, como e quando é que prevalece misteriosamente na lenda!)



O mais estranho é que a primeira referência conhecida ao milagre ligado a esta batalha é do século XIV.
Já, em 312 d.C., pouco antes da batalha contra Marcus Aurelius Valerius Maxentius Augustus, um usurpador do trono imperial romano, o Imperador Constantino, ao olhar o sol, viu uma cruz luminosa acima deste, e com ela as letras gregas (X)  e (P),  as duas primeiras letras do nome de Cristo. Segundo a lenda, Constantino adotou como lema, essa frase grega "εν τούτ νίκα" (em grego, que foi traduzida para latim in hoc signo vinces), e o Rei de Portugal foi na carona!
Camões, na sua obra maestra, sempre procurando enaltecer os feitos dos portugueses, não podia deixar de se referir a esta “batalha” e lembrar a origem dos escudetes que ainda hoje a bandeira ostenta:  

Vós, tenro e novo ramo florescente
De uma árvore, de Cristo mais amada
Que nenhuma nascida no Ocidente,
Cesárea ou Cristianíssima chamada
(Vede-o no vosso escudo, que presente
Vos amostra a vitória já passada,
Na qual vos deu por armas e deixou
As que Ele pera si na Cruz tomou)

Os escudetes continuam a ter, cada um cinco besantes. Há quem os represente em onze. Gostos. Besante, de Bizâncio, moeda trazida do oriente. Afonso Henriques ao incluir os besantes dentro dos escudetes quis mostrar que era já rei e assim poderia emitir moeda própria.

1958 - Leonor. Quando a conheci, na Cuca, em Luanda, Leonor era a secretária do diretor geral. Teria uns 30 anos. Inteligente, culta, um físico que captava e causava inveja a outras colegas e tremores de emocionais desejos aos homens! Alta, corpo cheio com precisão, o peito de volume igualmente atraente, bem alinhado para a frente, andava com estudado bamboleio, por onde passasse deixava estúpidos suspiros nos infelizes! Infelizmente, em criança tivera varíola, que lhe deixou alguns resquícios, o que não impedia que fosse uma mulher muito atraente.
Naquele tempo, apesar de passado já século e meio desde a chegada da família Real ao Brasil, parece que nos escritórios da Cuca só haveria uma máquina de escrever, visto que era a Leonor que “batia” os relatórios do Diretor Geral, e até os corrigia porque o tal diretor, ótima pessoa, mas bastante fraco diretor era certamente também fraco redator.
Chegou a minha vez de precisar datilografar um relatório para a Administração (em Lisboa!) com um estudo sobre a implantação duma fábrica de rações; procurei uma máquina para isso, mas só a Leonor detinha tal preciosidade!
Sempre sorridente e prestável, datilografou tudo num instante, e quando mo devolveu constatei que se tinha dado ao “luxo” de alterar algumas frases minhas. Não gostei, e fui dizer-lhe que mesmo que ela não gostasse da minha escrita, ela era minha e eu não deixava que a alterassem. Acatou muito bem, não se perturbou e corrigiu tudo.
Os escritórios da Companhia, estavam num armazém que teria uns 15 ou 20 metros de comprimento e uma meia dúzia de largura, onde mais tarde passou a ser lugar onde pernoitavam os caminhões da distribuição. O diretor geral tinha a sua sala numa ponta, a da secretária ao lado, e eu uma mesa na ponta oposta.
Um dia a Leonor saiu da sua salinha, atravessa a galpão dos “manga de alpaca” e vem me pedir se a levava a casa, porque se estava a sentir mal. Disse logo que sim, avisei que voltaria ainda antes do almoço. Estava mesmo com febre e ficou uns dias em casa.
Mas a turma dos babosos machos, ao verem-me sair com a Leonor, fofocaram logo que entre nós haveria alguma “coisa”. Pobres invejosos!
Nunca houve nada, a não ser uma amizade simpática que crescia à medida que melhor nos íamos conhecendo dentro da companhia. Sempre a respeitei e tive também como um dos meus melhores amigos um seu irmão, o meu querido e saudoso Bartolomeu.
Soube mais tarde, já eu não estava na Cuca, que ela havia casado com um colega. E sei que tiveram um filho, mas nunca mais os vi.

1960 – Jornal “A Comarca de Arganil”. Era relativamente grande a colónia de arganilenses em Luanda. Um deles, que bem conheci, era dono da famosa Cervejaria Suiça, “ali” no Largo Serpa Pinto (hoje Largo Amilcar Cabral) e muito amigo do homem das Relações Públicas da Cuca, o famoso e de longa e profunda saudade, o Renato Lima. Creio que o jornal de Arganil, “A Comarca de Arganil” já com meio século de existência, pertencia, em todo, ou em parte aos irmãos Castanheira Nunes. O Vitor, da cervejaria em Luanda e o irmão diretor do jornal lá no “puto”.

O jornal tinha em Luanda bastantes assinantes e um dia vieram da terrinha, o “patrão” Castanheira Nunes e o diretor “oficial”, um padre, cujo nome esqueci. (Para ser diretor de jornal era necessário ter um curso superior! Então o dono geria e o padre assinava!).
Calhou nessa altura eu ter que me deslocar (de carro, no robusto Jeep Station da Cuca) a Porto Amboim e Novo Redondo (hoje Sumbe), e o Renato diz-me que estavam em Luanda os diretores do jornal, irmãos do Vitor, etc. que gostariam muito de dar uma volta pelo “mato”.
Igual a este, pintado de amarela e com “Cuca” nas portas!

O Vitor, homem grande, aí uns cento e uns quilos, o Renato, baixo com outros tantos, o irmão portuga de robusta estatura... mais modesta, o padre mais ou menos como eu, e o ajudante da carrinha, indispensável para viajar por Angola, angolano alto e forte, mas não gordo, perfazíamos seis passageiros a encaixar naquele Jeep que não era exatamente um Cadillac.
Entrou tudo, bem encostados uns nos outros e lá vamos. Seguimos por dentro do Parque da Quissama onde se viram alguns animais e, bem mais adiante, deitada no meio da estrada (estrada? Picada e olha lá!) uma bela onça (ou leopardo) gozava o sol e a tranquilidade da tarde. O padre que seguia no banco da frente (no meio o ajudante e eu a conduzir) ficou animadíssimo. Com a aproximação do carro o animal calmamente se levantou, saiu da estrada e sumiu no mato. O padre pensou que o resto do caminho seria uma verdadeira aventura de zoológico. Enganou-se. Até chegarmos a Porto Amboim, carregados de pó do caminho, nada mais vimos!
O Renato já tinha avisado pelo telefone, ao nosso agente, que chegaríamos nesse dia e queríamos um jantar digno de reis, melhor, de imperadores. O que ali não faltava eram lagostas e gambas de fazer inveja a qualquer restaurante de 50 estrelas Michelin! Uma maravilha!
E os quartos do hotel, reservados.
O restaurante dava frente para o largo principal e as traseiras para uma rua mixuruca onde, do outro lado, ficavam os quartos do “palace”. Todos com porta para a rua, e um só banheiro, com a mesma serventia. A rua!
A primeira coisa que todos quisemos fazer foi tomar um banho e livrarmo-nos dos quilos de poeira no corpo. Mas havia que esperar uns pelos outros. O nosso querido Renato, mais a sua respeitável barriga, despiu-se no quarto, envolveu-se com uma toalha que não lhe tapava quase nada e postou-se à porta do banheiro. Pouca gente passava nessa rua, mas os poucos que tiveram o privilégio de ver tão caricata quanto simpática figura ainda hoje devem estar a rir!
E o jantar foi de nababos!
Gostaria de encontrar entre os meus muitos papeis o jornal onde depois os visitantes contaram esse passeio!
Lembro que escreveram que o condutor (era eu) corria muito e todos iam com o credo na boca! Não sei em que boca, pois os três passageiros do banco de trás, bem encaixados e apertados, foram quase todo o caminho a dormir e... a ressonar em tom bem audível.

*          *          *

O tempo não espera por ninguém.
Ontem é história.
Amanhã é um mistério.
O hoje é uma dádiva, por isso é chamado de presente.


10/10/2017

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