Livros
Breves comentários
Comentar um livro que se leu nada tem a
ver com a “augusta” crítica literária, somente permitida a “augustos”
linguistas ou renomados prosadores.
Mas pode ser que a opinião de leigos
facilite a escolha de algum livro ou evite a compra de outros menos apreciados.
Vamos nesta.
Há talvez um ano, sempre curioso por
história dos mais antigos, desta vez os astecas, comprei um livro, “best-seller
mundial”, cerca de 800 páginas, com o título “AZTECA” e subtítulo “La
vida, el amor desesperado y el martírio de los tempos de la Conquista – Uma
real y desgarradora historia Azteca”. 3ª Edicion
Este pomposo título, 800 páginas de história
real, e já na 3ª edição, cheirava a maravilha, comprei.
Não foi necessário ler nem 100 páginas para
começar a perceber que o ”bestseller” se devia a uma história de autêntica e
nojenta pornografia!
Começa por descrever um pouco da viva no
tempo imediatamente pós conquista, com algum interesse, e de repente entra no
“best-seller”: o filho de um azteca de classe média, adolescente, aprendeu com
o pai a pescar num lago perto de Tenochtitlán, hoje
a cidade do México, e dali poderia tirar o seu sustento.
Após as primeiras pescarias,
para onde ia sozinho, e levando consigo algo para comer ao meio dia, a sua
irmã, mais velha um ano, passou a levar-lhe a comida.
E aqui começa a pornografia.
A irmã na segunda ou terceira vez que lhe leva o almoço, despe-se toda em
frente do irmão, começa a excitá-lo, passando-lhes as mãos nas “partes
pudendas”, e convence-o a ter relações sexuais com ela, tão habituada a ver os
seus pais a fazerem isso que, queria porque queria, também fazer o mesmo.
Da primeira vez ambos concluíram
que tinha sido muito bom! E previram continuar.
Nos dias que se foram sucedendo,
sempre ela no comando, ensaiando métodos e posições diferentes, o relato dos
encontros foram baixando de nível, até ao insuportável.
Não era o que eu esperava
dum livro sobre história dos astecas! Saltei dez páginas para diante, à espera
de encontrar a “real história”. Continuava a “pouca vergonha” com detalhes de
cabaré de 8ª categoria.
Mais vinte páginas para
diante: o mesmo.
Moral da história: não era exatamente
o que me interessava e nem gostaria de dar o livro para alguém o ler. Arranquei
e guardei a capa e queimei todas as tais oitocentas e tantas páginas. O pouco
que já sabia dos astecas não avançou nada. Só a irritação de saber que um livro
de linguagem – castelhana – tão reles tinha sido um best-seller!
Mal empregado dinheiro e tempo
perdido. Mesmo só para quem “gosta” de temas porcos.
* * *
Há dias recebi de presente
um outro livro. Só fala de Angola. Escrito por alguém que nasceu em Otchinjau,
lá bem no sul, em 1933, e durante a vida percorreu todo o território, de
Cabinda ao Cunene e de Benguela a Teixeira de Sousa, hoje Luau.
Todas as regiões ali são descritas
com muito entusiasmo, muita graça e vigor, foram por mim também visitadas,
sempre em trabalho, o que me fez “recuar e viajar no tempo” e voltar a percorrer
aquela terra de que tantos sofrem de saudade.
Ironia no que respeita aos
governos e “importantes” administrativos, a incompreensão para com os valores
humanos e a falta de diálogo, tudo escrito com muita leveza, pode não chegar a
ser um best-seller, mas para quem gosta, e sobretudo para quem conheceu bem
aquela terra é um livro que muito recomendo.
Algumas passagens, como... “Naquele tempo, no Otchinjau, não havia uma
igreja, nem padre, que pudesse ensinar as inocentes crianças e olhar pelos
vivos e pecadores, ou pelos mortos, já sem pecado, todos em busca do paraíso
perdido...”, ou “...o velho Ford,
modelo T4, chamado de pontapé, ou de calça arregaçada... pegando à primeira de
manivela... enfim, aquilo era uma máquina, caramba! Só queria que a vissem!... levam-nos
bem para dentro do “mato”.
Só tem um probleminha:
quando se acaba de ler fica-se meio triste. Quer-se mais!
“CHUVA TOMBA CAPIM – (Eteya-ua-soke)”, escrito por António José Figueiredo, “Tosé”, sem indicação
de editora, impresso por AGL -Artes Gráficas de Lisboa (351-213421376), em Maio
de 2016.
Este senhor, que não tive a
sorte de conhecer, é sogro, de um dos filhos do meu amigo de Luanda, José
Azevedo Mendes.
Aquela era uma grande terra,
mas quando lembramos de quantos amigos ali tínhamos, parece-nos pequena!
Livro para quem quiser
viajar por Angola, sentadão em casa a beber um copo.
* * *
Comentar outro livro que há
pouco tempo também me mandaram, escrito por um consagrado jornalista e
escritor, com inúmeros prémios no seu curriculum, cheira mesmo a atrevimento.
Mas como imagino que muitos
dos que vêem este blog não o devem ter lido, não custa muito afrontar o
ridículo, e pedir ao autor que me perdoe a ousadia.
“UM JANTAR DE ESCRITORES – seleção de textos e notas
epicuristas”, de José Viale Moutinho,
(Colares Editora) é uma delícia de se ler. Uma repescagem de escritos
gastronómicos dos mais conhecidos autores portugueses de todos os séculos, como
Eça, Garrett, Júlio Dinis, Camilo, Wenceslau de Morais, até Fernando Pessoa, e bem
mais, além do prazer da escrita, é uma bela oportunidade para quem sofre de
fastio, e uma terrível inveja, pelo menos da minha parte, o não poder reunir
com bastante assiduidade os amigos para compartilharmos a alegria dum daqueles petiscos
tão bem temperados e regados com... Colares tinto!
Como todo o bom gastrónomo,
o autor sabe muito bem que a comida, e sobretudo a bebida, quando em boa
companhia se aprecia sensivelmente melhor e, além disso, vai situando o leitor
com um rápido curriculum dos consagrados escritores.
Passagens como estas: de
Camilo “A minha desgraça está nos
apetites glutões, delicadíssimos, que se limitam às subtilezas do bacalhau e do
caldo verde. Um perfeito sibarita, não lhe parece?”, ou esta outra do
Eça... “Nada de ideias! Deixem-me
saborear esta bacalhoada, em perfeita inocência de espírito, como no tempo do
senhor D. João V, antes da democracia e da crítica!”, além estarem muito
bem temperadas no livro, há que confessar, deixam-nos água na boa.
Reparem com cuidado na capa
do livro e tentem dar nomes a todos os personagens ali tão bem representados à
volta duma farta ceia!
Livro para quem quer boa
literatura e... boas patuscadas. Para ler duas vezes... seguidas!
* * *
Outro livro ainda,
acabadinho de chegar, e ser lido, é um tipo diferenciado de dicionário, onde o
autor “especula” com as palavras, conseguindo com essas “especulações” dar-nos
um vivo retrato da sua personalidade, do seu pensamento.
São cerca de 300 verbetes,
escolhidos com cuidado, para com eles poder deixar-nos uma mensagem de bom
senso, de ética, hoje em dia cada vez mais raro, enquanto nos leva num passeio
pelos quase inúmeros “matizes’ que as palavras nos podem proporcionar.
Um livro diferente, fruto do
vasto conhecimento de quem já tem mais de quarenta livros publicados.
Obrigado Inácio Rebelo de
Andrade pelo interessante, e recreativo trabalho “COMO JOGAR COM AS PALAVRAS (Especulações vocabulares) de A a Z”.
Eu que, por vezes, gosto de
ver “formigas na Outra Banda”, só não
concordo que o autor tenha limitado as desavenças de Deus com Caim quando matou
Abel, porque a seguir deve ter tido infinita misericórdia para com Sete, que
Adão gerou tinha cento e trinta anos, e que seria, como seu pai, o patriarca”
de todos os humanos! É também consensual, na Bíblia, que Adão, com Eva (?), continuou
a ter filhas e filhos e ainda viveu mais oitocentos anos. Se assim foi, quem
será o nosso super vovô?
Enfim, “especulações” da
Bíblia!
* * *
Para quem tem livros
comprados há bem mais de meio século –lidos na ocasião - saboreia uma outra vez
as “novidades” com a releitura de muitos desses antigos, com que estou a ocupar
a maioria de todo o tempo ocioso de que disponho, como por exemplo com a “MEMÓRIA
sobre LOURENÇO MARQUES” – do Visconde de Paiva Manso – de 1870, ou os OPÚSCULOS
de Herculano (alguns são bem chatos!), melhor ainda a “CRONICA GERAL DE ESPANHA
DE 1344”.
E volto a encontrar
passagens sobre as quais há sempre assunto para me ir entretendo a escrever!
Com a minha provecta idade o
que mais poderia fazer?
18/03/2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário