sábado, 30 de abril de 2016


Há cerca de um mês (final de Março) a SIC e outros orgãos de comunicação, em Portugal, escreveram e divulgaram na Tv uma matéria “malhando” na Casa do Gaiato, a Obra de Rua, que eu conheço bastante bem, e que defenderei sempre que achar oportuno.
Burrice do jornalista que fez a matéria porque mal informado, sentadão na sua cadeira de malidecência, irresponsável. Porque o jornalista não se foi informar? A resposta é simples: ou porque não é jornalista ou porque decidiu politizar o impolitizável!
É fácil ter uma caneta nas mãos e escrever sobre o que se desconhece, e, pior, ficar impune.
Um dos padres desta GRANDE obra, indignado, escreveu no magnífico jornal “O Gaiato”, que eu leio todos os meses com um prazer imenso, o texto abaixo que reproduzo, e vejam algumas fotos do que se passav, em Moçambique há 15 anos!!! E muito tem progredido .


Pontos nos ii
Padre Acílio – Casa do Gaiato de Setúbal

De vez em quando a comunicação social, por meio dos seus jornalistas, lembra-se de, confusamente, atacar a Casa do Gaiato e isto obriga-me a por os pontos nos ii.
As Casas do Gaiato nasceram da situação miserável dos pobres, na alma do Padre Américo e só se devem chamar assim, enquanto tiverem à sua cabeça, um padre pobre, isto é: que não ganhe nada, come à mesa com os rapazes, vista e calce do que lhe dão ou lhe entre­gam para dar aos pobres, vive na Casa do Gaiato com os rapazes e nela trabalha todos os dias e fins-de-semana, sem folgas e muitos anos a fio sem quaisquer férias.

Refeitório, para os 160 gaiatos mais os responsáveis - Moçambique

Dá a sua vida aos rapazes e aos pobres como qualquer pai zeloso, se entrega aos seus filhos, tantas vezes num silêncio doloroso que só Deus avalia.
É um homem pobre, sem carro, sem casa, sem família e sem amigos. É homem dos pobres na sequência de Jesus de Nazaré que não tinha uma pedra para reclinar a cabeça. Não tem reforma, nunca descontou, não tem idade para se jubilar e dá a sua vida até ao des­gaste final.            
Esta é a situação real dos padres da Casa do Gaiato que por isso se chamam Padres da Rua.
As Casas do Gaiato são igual­mente Obras que têm como mães de família. Senhoras Consagradas à vida de Jesus, não ritualmente, mas na realidade, nas vicissitudes diárias dos rapazes com a atenção e o desvelo de uma diligente mãe de família, como os padres da Casa do Gaiato. Sem Sábados nem Domingos e alguns anos sem férias nem retiros numa oferta contínua, heróica e silenciosa a gerações e gerações de rapazes.
Estas são parte das camisas acabadas de lavar.
E faltam aqui as calças, cuecas, pijamas, meias e agasalhos!

As Casas do Gaiato são institui­ções pobres, sem qualquer apoio do Estado, onde se aproveitam e promovem todos os valores e qua­lidades dos rapazes sem menospre­zar técnicos das diversas áreas da ciência educacional como psicólo­gos, pedopsiquiatras, neurologistas e outros, mas onde os rapazes são encaminhados, a viverem um auto­governo, como Obra de Rapazes, para Rapazes, pêlos Rapazes.
Uma instituição que não goze destas características não pode e não deve ser chamada de Casa do Gaiato. É uma mentira a reclamar para si este nobre nome.
Compete a quem de direito repor a verdade e não andar a mentir.
Se, por desgraça, alguma das actuais Casas do Gaiato da Obra do Padre Américo deixar de ser assim, já não é uma Casa do Gaiato, terá de ter outro nome como casa de rapazes, de crianças, de adolescen­tes, de famílias ou qualquer outro, nunca este célebre nome tão português e cristão que pertence à Obra da Rua e a mais ninguém.
As Casas do Gaiato, são essen­cialmente instrumentos apostóli­cos ao serviço do Evangelho e não meras casas de assistência, ainda que meritória.

Creche. Construida e sistentada pela Casa do Gaiato - Moçambique

Chegam onde os Bispos e os Padres não alcançam e fazem-no em Nome do Bispo e da Igreja Católica, por Amor de Deus, dos Rapazes e dos Pobres.
Não será insensatez da minha parte fazer este esclarecimento sobre um assunto que os nossos Leitores bem conhecem, mas que os media mais pesados e mais poderosos teimam em pôr em causa.
Os jornalistas destas empresas, pagos para escandalizar o povo, com meias verdades, nem de longe sonham a dureza da vida dos Padres das Casas do Gaiato; e então, de forma ambígua, dão notícias, pisando as regras mais elementares da lógica para con­fundir todos e vender o seu peixe que é quase sempre demolidor e raras vezes construtivo.
Já estou habituado, mas à essa pobre gente também quero dizer, com as devidas distâncias, como Paulo na 2a Carta aos Coríntios. No princípio e para levantar esta Casa, passei fome e frio. Nalguns Invernos enrolava-me num cober­tor para vencer a noite e conseguir o sono. Felizmente esta carência está hoje largamente ultrapassada e distribuímos muita roupa aos pobres.
Comprei, uma vez, um cinto para segurar as calças. Fiz cerca de um milhão de quilómetros numa motorizada, em duas lambretas e duas vespas e em motos emprestadas, de Inverno e de Verão à geada e à chuva.
Com a camioneta da Casa, carreguei, da Secil, toda a pedra oferecida para construir as nossas oficinas e as nossas escolas, que agora, também por virtude das mentiras e calúnias, estão fecha­das.
Enchi com os rapazes, à pá, milhares e milhares de sacos de cimento, no meio de muito pó dele, de tal modo que os encarre­gados da Secil, com pena de nós, ofereciam máscaras para tapar­mos a boca e o nariz.
Várias vezes caí nos motoci­clos, fazendo em certa ocasião um buraco numa perna e per­dendo os sentidos. Noutra altura a lambreta avariou em Lagos e não tendo dinheiro para reparação, fui pedi-lo ao pároco que me deu cama, mesa e pagou a dívida.
Ceifei arroz à mão, muitos anos, com os rapazes e debulhei-oaté altas horas dá noite para com o dinheiro dele pagar as dívidas feitas ao longo do ano.
Agarrei no tractor, lavrei, gra­dei, semeei, sachei e colhi vários alimentos ao longo dos anos.

Casas para viúvas que tudo perderam com uma catastrófica cheia

Se saí para o estrangeiro foi para o meio dos pobres de Angola, São Tomé e Moçambique, e, por lá, sempre trabalhei para os ajudar e não ser pesado a ninguém.
Por duas vezes, tive viagens e hotéis pagos, oferecidos para ir a Roma e à Terra Santa, e nunca tive tempo.
Não me devia gloriar, antes estar calado, mas essas pessoas sequiosas de atacar quem faz o bem, precisam de saber que uma Casa do Gaiato, é uma realidade séria com que não se deve brincar e muito necessária no tempo em que foi criada — e ainda hoje, com tanta miséria escondida e tão desoladora indiferença.
Se é preciso gloriar-me da minha fraqueja, gloriar-me-ei, mas Deus, que conhece os cora­ções, sabe que não minto.
A Ele peço perdão desta amos­tra, o resto é com Ele!
A vida dos Padres das Casas do Gaiato da Obra da Rua é toda ela, semelhante e nalguns muito mais heróica que a minha.

Quem achar de interesse, por favor, divulgue.
E o jornalista que faça mais e melhor! Ou então cale a boca.


29/04/2016

2 comentários:

  1. MUIT, MUITO BEM! JÁ MANDEI AO JOSÉ CRUZ DOS SANTOS, EDITOR E LIVREIRO. ED. MODO DE LER - Porto, Um abraço

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  2. ÓTIMO. COMO ALGUÉM OUSA CRITICAR UM TRABALHO MARAVILHOSO COMO ESTE DA CASA DO GAIATO !
    INFELICIDADE DO JORNALISTA !

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