Primeiro... Eu!
Para quem não conhece
bem a história, aliás histórias recentes do Brasil, aqui vão algumas.
Comecemos
pelo futebol.
Em
1976 a companhia de tabacos J. Reynolds lançou uma campanha para dinamizar as
vendas de mais um “fumo cancerígeno”, o Vila Rica. Contratado para ser o garoto
propaganda foi o então muito conhecido (e ótimo) futebolista, Gerson. A
mensagem era simples:
“Por que pagar mais caro se o Vila me dá tudo aquilo que eu
quero de um bom cigarro? Gosto de levar
vantagem em tudo, certo? Leve
vantagem você também, leve Vila Rica!”
Brincando com essa publicidade a verdade é que
toda a gente sabia já, de há muito, que era preciso levar vantagem SEMPRE. Da
constante repetição desta frase publicitária, nasceu aquilo que ficou conhecido
como a Lei de Gerson: Levar vantagem em
tudo, o que, como
se está bem a ver, a grossa maioria da politicada levou tão a sério que hoje o
Brasil está semifalido. Econômica e politicamente. E se não 100%, aí uns 99,99%
dos brasileiros consideram que “levar vantagem”, só trouxa é que não leva: na
“conversa” com o guarda de trânsito, com os falsificadores de cartas de
condução – aos milhares, todo o ano, no Brasil – mais uma graninha para que a
repartição pública despache logo o pedido de qualquer documento, o
preenchimento de cargos “convidados”, e mais acima, sem falar no PT e nos
políticos, até por estas bandas existem muitos juízes metidos em venda de
sentenças. E por aí vai o Levar Vantagem!
Historinha
simples mas bem endémica! Mais ou menos, porque o “vírus” já está por toda a
parte!
Podemos
aqui recordar mais uma frase de Confúcio: “Não
te preocupes por não teres emprego, mas tem antes o cuidado de te tornares
capaz de o ter; não te preocupes por não seres conhecido, mas tem antes tem o
cuidado de te tornares digno de o ser.”
Mas
não se fica por aqui o “Levar Vantagem”. Há formas sofisticadas de levar TODA a
vantagem.
Em
2005 faleceu um grande músico, sambista, Bezerra da Silva, que cantava um
sambinha, que muito tem ajudado a “turma do andar de cima”, e que se chama “Meu pirão primeiro”.
Ouçam
bem a música enquanto acompanham o cantor com a letra que aqui vai, e por fim
iremos aos finalmentes, para ver como o Levar
Vantagem e O Meu Pirão Primeiro, dominam o comportamento da infâmia e, por
exemplo dos (ir)responsáveis, da coletânea.
Meu Pirão Primeiro
Farinha
pouca,
Meu
pirão primeiro.
Este
é um velho ditado,
Do
tempo do cativeiro.
E
a chica assim dizia,
Na
hora de preparar.
Pro
pirão ficar gostoso,
Tem
que saber temperar.
Eu
falei pra você,
Se
a farinha é pouca,
Meu
pirão primeiro
Este
é um velho ditado,
Do
tempo do cativeiro.
Olha
que o pirão da tia Chica
Todos
queriam comer
Porque
era preparado
No
azeite de dendê
Tô
dizendo a você!
Se
a farinha é pouca,
Meu
pirão primeiro.
Este
é um velho ditado,
Do
tempo do cativeiro.
Olha
que preto velho Benedito,
Dizia
pra tia Inês.
Quem
comer o pirão da Chica,
Fica
sem comer um mês.
Eu
falei pra você,
Se
a farinha é pouca,
Meu
pirão primeiro.
Este
é um velho ditado,
Do
tempo do cativeiro
Com
o país à beira da falência técnica, sobretudo o Estado do Rio de Janeiro, cuja folha
de pagamento dos funcionários, conforme é público, é igual a 110% do total da
arrecadação... o governador tem que andar a mendigar empréstimos e a adiar o
pagamento dos salários! Habituado a contar com o ovo no c... da galinha
petrolífera, agora que o petróleo foi por água abaixo, os royalties estão na
base da amargura.
Até
há pouco o Estado do Rio vivia dando risada com sobra de grana e agora...
Nunca
ouviram a fábula da Cigarra e da Formiga!
Mas
há muitos gersons em posição de super mando: entre eles destaca-se o
judiciário! Pelo segundo mês consecutivo, o tribunal emite uma ordem –
sentença? – mandando que o
governo lhes pague integralmente na data estabelecida, mesmo que os restantes
funcionários tenham que esperar... meses.
Coisa
a que eles chamam, eufemisticamente, de Justiça!
Isto
não chega a ser infâmia. A palavra mais apropriada seria ESCULHAMBAÇÃO! Já ouvi
dizer que se chama de democracia. Dos Três Poderes! Pudera.
O
total desprezo pelo Outro.
Deviam
mudar a bandeira do Brasil. Para isso atrevo uma solução alternativa:
1.-
substituir as estrelas, todas, por moedas de ouro;
2.-
tirar a “Ordem e Progresso” e escrever “MEU PRIRÃO PRIMEIRO”, mandando hastear
esta nova versão, em tamanho gigante, em todo o lugar.
E
mais uma vez uma “lembrança” da Velha China, com este poema, a propósito, de
Lao Tsé:
Favor e desfavor geram angustia.
Honras geram dissabores para o ego.
Por que é que favor e desfavor
geram dissabores?
Porque quem espera favor paira na
incerteza,
Sem saber se o receberá.
Quem recebe favor também paira na
incerteza:
Não sabe se o conservará.
Por isto causam dissabor
Tanto o favor como o desfavor.
Por que é que as honras geram
dissabor?
Todo dissabor nasce do fato
De alguém ser um ego.
E não é possível contentar o ego.
Se eu pudesse libertar-me do ego,
Não haveria mais dissabores.
Por isto:
Quem se mantém liberto de favores e
desfavores
Liberta-se da idolatria do ego
Só pode possuir o Reino
Quem está disposto a servir
desinteressado,
A esse se pode confiar o Reino.
Também se atribui a Lao
Tsé esta verdade, fria e cortante como aço: “Quanto maior o número
de leis, tanto maior o número de ladrões.”
Resumo: “É difícil viver com as pessoas porque calar é muito difícil.” (Nietzsche)
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