segunda-feira, 4 de abril de 2016



Primeiro... Eu!


Para quem não conhece bem a história, aliás histórias recentes do Brasil, aqui vão algumas.
Comecemos pelo futebol.
Em 1976 a companhia de tabacos J. Reynolds lançou uma campanha para dinamizar as vendas de mais um “fumo cancerígeno”, o Vila Rica. Contratado para ser o garoto propaganda foi o então muito conhecido (e ótimo) futebolista, Gerson. A mensagem era simples:
Por que pagar mais caro se o Vila me dá tudo aquilo que eu quero de um bom cigarro? Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também, leve Vila Rica!”
Brincando com essa publicidade a verdade é que toda a gente sabia já, de há muito, que era preciso levar vantagem SEMPRE. Da constante repetição desta frase publicitária, nasceu aquilo que ficou conhecido como a Lei de Gerson: Levar vantagem em tudo, o que, como se está bem a ver, a grossa maioria da politicada levou tão a sério que hoje o Brasil está semifalido. Econômica e politicamente. E se não 100%, aí uns 99,99% dos brasileiros consideram que “levar vantagem”, só trouxa é que não leva: na “conversa” com o guarda de trânsito, com os falsificadores de cartas de condução – aos milhares, todo o ano, no Brasil – mais uma graninha para que a repartição pública despache logo o pedido de qualquer documento, o preenchimento de cargos “convidados”, e mais acima, sem falar no PT e nos políticos, até por estas bandas existem muitos juízes metidos em venda de sentenças. E por aí vai o Levar Vantagem!
Historinha simples mas bem endémica! Mais ou menos, porque o “vírus” já está por toda a parte!
Podemos aqui recordar mais uma frase de Confúcio: “Não te preocupes por não teres emprego, mas tem antes o cuidado de te tornares capaz de o ter; não te preocupes por não seres conhecido, mas tem antes tem o cuidado de te tornares digno de o ser.”
Mas não se fica por aqui o “Levar Vantagem”.  Há formas sofisticadas de levar TODA a vantagem.
Em 2005 faleceu um grande músico, sambista, Bezerra da Silva, que cantava um sambinha, que muito tem ajudado a “turma do andar de cima”, e que se chama “Meu pirão primeiro”.


Ouçam bem a música enquanto acompanham o cantor com a letra que aqui vai, e por fim iremos aos finalmentes, para ver como o Levar Vantagem e O Meu Pirão Primeiro, dominam o comportamento da infâmia e, por exemplo dos (ir)responsáveis, da coletânea.

Meu Pirão Primeiro 

Farinha pouca,
Meu pirão primeiro.
Este é um velho ditado,
Do tempo do cativeiro.

E a chica assim dizia,
Na hora de preparar.
Pro pirão ficar gostoso,
Tem que saber temperar.

Eu falei pra você,

Se a farinha é pouca,
Meu pirão primeiro
Este é um velho ditado,
Do tempo do cativeiro.

Olha que o pirão da tia Chica
Todos queriam comer
Porque era preparado
No azeite de dendê

Tô dizendo a você!

Se a farinha é pouca,
Meu pirão primeiro.
Este é um velho ditado,
Do tempo do cativeiro.

Olha que preto velho Benedito,
Dizia pra tia Inês.
Quem comer o pirão da Chica,
Fica sem comer um mês.

Eu falei pra você,

Se a farinha é pouca,
Meu pirão primeiro.
Este é um velho ditado,
Do tempo do cativeiro

Com o país à beira da falência técnica, sobretudo o Estado do Rio de Janeiro, cuja folha de pagamento dos funcionários, conforme é público, é igual a 110% do total da arrecadação... o governador tem que andar a mendigar empréstimos e a adiar o pagamento dos salários! Habituado a contar com o ovo no c... da galinha petrolífera, agora que o petróleo foi por água abaixo, os royalties estão na base da amargura.
Até há pouco o Estado do Rio vivia dando risada com sobra de grana e agora...
Nunca ouviram a fábula da Cigarra e da Formiga!
Mas há muitos gersons em posição de super mando: entre eles destaca-se o judiciário! Pelo segundo mês consecutivo, o tribunal emite uma ordem – sentença? – mandando que o governo lhes pague integralmente na data estabelecida, mesmo que os restantes funcionários tenham que esperar... meses.
Coisa a que eles chamam, eufemisticamente, de Justiça!
Isto não chega a ser infâmia. A palavra mais apropriada seria ESCULHAMBAÇÃO! Já ouvi dizer que se chama de democracia. Dos Três Poderes! Pudera.
O total desprezo pelo Outro.
Deviam mudar a bandeira do Brasil. Para isso atrevo uma solução alternativa:
1.- substituir as estrelas, todas, por moedas de ouro;
2.- tirar a “Ordem e Progresso” e escrever “MEU PRIRÃO PRIMEIRO”, mandando hastear esta nova versão, em tamanho gigante, em todo o lugar.
E mais uma vez uma “lembrança” da Velha China, com este poema, a propósito, de Lao Tsé:
Favor e desfavor geram angustia.
Honras geram dissabores para o ego.
Por que é que favor e desfavor geram dissabores?
Porque quem espera favor paira na incerteza,
Sem saber se o receberá.
Quem recebe favor também paira na incerteza:
Não sabe se o conservará.
Por isto causam dissabor
Tanto o favor como o desfavor.
Por que é que as honras geram dissabor?
Todo dissabor nasce do fato
De alguém ser um ego.
E não é possível contentar o ego.
Se eu pudesse libertar-me do ego,
Não haveria mais dissabores.
Por isto:
Quem se mantém liberto de favores e desfavores
Liberta-se da idolatria do ego
Só pode possuir o Reino
Quem está disposto a servir desinteressado,
A esse se pode confiar o Reino.

Também se atribui a Lao Tsé esta verdade, fria e cortante como aço: Quanto maior o número de leis, tanto maior o número de ladrões.” 

Resumo: “É difícil viver com as pessoas porque calar é muito difícil.” (
Nietzsche)


03/04/2016

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