(1)
Destruições, Reconstruções, Confusões,
Perseguições
Já
falámos do Terramoto de 1755. Destruiu um monte de coisas, montanhas de coisas,
igrejas, palácios, o famoso e misterioso cais do terreiro do Paço, em Lisboa não
só em Lisboa como em muitas outras localidades.
Portugal,
rico, com o ouro do Brasil, de repente ficou pobre. Correram ajudas de outros
países, principalmente da Alemanha e não dos nossos tão antigos quanto
estimados aliados britânicos.
Uma
das igrejas que sofreu grande destruição foi a Sé de Lisboa. A Sé, monumento
histórico, começada a erguer (?) segundo consta em cima duma mesquita, no tempo
de Afonso Henriques, logo após a conquista de Lisboa, no século XII, foi sempre
sofrendo (ou beneficiando?) alterações, modificações, confusões, pelo menos até
ao século XVIII. E continuou.
Começou a ser levantada a partir de 1147 em estilo
românico e terminou nas primeiras décadas do século XIII. O projeto é semelhante à da Sé de
Coimbra, já que seu primeiro
arquiteto foi Mestre Roberto, que trabalhou na construção da Sé de Coimbra, na de
Lisboa e do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra.
Entre os séculos XIII e XIV foi construído o claustro
em estilo gótico no reinado de D. Dinis. Seu
sucessor, Afonso IV, modificou a parte traseira da igreja românica, ordenando a
construção de uma cabeceira para
ser utilizada como panteão familiar. A vontade do rei está expressa no seu
testamento, datado de 1345, no qual diz que ".... Porem D. Affonso IV. pella graça de
Deus Rey de Portugal, e do Algarve, .... e querendo mais acrescentar em esta
obra para Deus ser louvado, e para me dar el galardom nossa santa gloria do
Paraizo.... "
Apesar da proibição medieval de laicos
serem enterrados na capela-mor, foi aberta uma exceção para D. Afonso, pelo seu
desempenho heróico na Batalha do Salado (1340). A nova cabeceira
começou a ser construída na primeira metade do século XIV, mas as obras só
terminaram nos inícios do século XV, durante o reinado de D. João I. No
século XIV, Lisboa e a Sé foram afetadas por vários terramotos. Um, muito
forte, no início do século XV causou modificações nas obras. As torres
terminavam em pináculos e a torre sobre o cruzeiro tinha três andares, como se
vê na gravura a seguir.
A Sé no século XVI – à esquerda a
Igreja de Santo António... de Lisboa
Ao longo dos séculos a Sé foi decorada com
vários monumentos e altares, a maioria dos quais se perdeu ou encontra-se hoje
dispersa em outros imóveis. A capela-mor abrigava o túmulo com as relíquias de
São Vicente, que foi decorado por volta de 1470 com um grande retábulo pintado
- os Painéis de São Vicente de Fora -
de autoria atribuída a Nuno Gonçalves, pintor régio de Afonso V. Os
painéis foram retirados em 1614 e encontram-se hoje no Museu Nacional de
Arte Antiga.
Em meados do século XVII foi construída uma
sacristia em estilo maneirista junto à fachada sul da Sé. No século
XVIII a capela-mor gótica foi alterada em forma barroca. O grande Terramoto de 1755 destruiu a Capela do Santíssimo, a
torre sul e a decoração da capela-mor, incluindo os túmulos reais, e o
claustro. A torre- lanterna ruiu parcialmente e destruiu parte da abóbada de pedra da nave,
que foi reconstruída em madeira.
A Sé após o
Terramoto de 1755, por Jacques Philippe Le Bas (1757).
À esquerda
a Igreja de Santo António, também em ruinas
Nas décadas
seguintes a Sé passou por reformas e uma campanha de redecoração. Assim, entre
1761 e 1785 foi reconstruída a Capela do Santíssimo. Entre 1769 e 1771, grandes
obras de restauro da torre sul da fachada, construção da cobertura de madeira
da nave e remodelação da capela-mor, pintura da abóbada e decoração. As naves
foram revestidas com decoração de madeira pintada e a nova cobertura de
madeira da nave central foi dotada de óculos que permitiam a entrada de luz.
Antes de 1902
Grande parte das adições da era barroca foram
retiradas a partir de uma grande campanha de restauro que ocorreu na primeira
metade do século XX, cujo objetivo foi devolver à Sé algo de sua aparência
medieval. Nos primeiros anos de Novecentos, Augusto Fuschini
pretendeu reinventar uma catedral medieval, com laivos de fantasia neogótica
(como o projeto para a nova cabeceira) e neoclássica (com as grandes colunas
para a entrada principal, cujos restos repousam ainda no claustro). A sua
morte, em 1911, veio determinar o abandono do projeto.
Em 1911 (bastante horrível!)
Em 1911, o projeto de restauro foi retomado e
modificado e passou a privilegiar as estruturas medievais ainda existentes. Foi reconstruída abóbada da nave central, a fachada foi
restaurada e refeita e muito aumentada a rosácea, além de muitas outras
alterações que deram ao edifício a aparência neorromânica que tem hoje. Após novas reformas, como a nova
rosácea, a Sé foi reinaugurada em 1940, numa grande solenidade no dia 05 de
Maio de 1940.
A Sé, hoje, o eléctrico “28” e a
Igreja de Santo António
Enfim, uma grande mistureba de estilos, e a “garantia”
dum monumento do século XII !
(Continuam as
destruições... fora da Sé)
02/02/2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário