quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016



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Destruições, Reconstruções, Confusões, Perseguições

Já falámos do Terramoto de 1755. Destruiu um monte de coisas, montanhas de coisas, igrejas, palácios, o famoso e misterioso cais do terreiro do Paço, em Lisboa não só em Lisboa como em muitas outras localidades.
Portugal, rico, com o ouro do Brasil, de repente ficou pobre. Correram ajudas de outros países, principalmente da Alemanha e não dos nossos tão antigos quanto estimados aliados britânicos.
Uma das igrejas que sofreu grande destruição foi a Sé de Lisboa. A Sé, monumento histórico, começada a erguer (?) segundo consta em cima duma mesquita, no tempo de Afonso Henriques, logo após a conquista de Lisboa, no século XII, foi sempre sofrendo (ou beneficiando?) alterações, modificações, confusões, pelo menos até ao século XVIII. E continuou.
Começou a ser levantada a partir de 1147 em estilo românico e terminou nas primeiras décadas do século XIII. O projeto é semelhante à da Sé de Coimbra, já que seu primeiro arquiteto foi Mestre Roberto, que trabalhou na construção da Sé de Coimbra, na de Lisboa e do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra.
Entre os séculos XIII e XIV foi construído o claustro em estilo gótico no reinado de D. Dinis.  Seu sucessor, Afonso IV, modificou a parte traseira da igreja românica, ordenando a construção de uma cabeceira para ser utilizada como panteão familiar. A vontade do rei está expressa no seu testamento, datado de 1345, no qual diz que ".... Porem D. Affonso IV. pella graça de Deus Rey de Portugal, e do Algarve, .... e querendo mais acrescentar em esta obra para Deus ser louvado, e para me dar el galardom nossa santa gloria do Paraizo.... "
Apesar da proibição medieval de laicos serem enterrados na capela-mor, foi aberta uma exceção para D. Afonso, pelo seu desempenho heróico na Batalha do Salado (1340). A nova cabeceira começou a ser construída na primeira metade do século XIV, mas as obras só terminaram nos inícios do século XV, durante o reinado de D. João I. No século XIV, Lisboa e a Sé foram afetadas por vários terramotos. Um, muito forte, no início do século XV causou modificações nas obras. As torres terminavam em pináculos e a torre sobre o cruzeiro tinha três andares, como se vê na gravura a seguir.

A Sé no século XVI – à esquerda a Igreja de Santo António... de Lisboa

Ao longo dos séculos a Sé foi decorada com vários monumentos e altares, a maioria dos quais se perdeu ou encontra-se hoje dispersa em outros imóveis. A capela-mor abrigava o túmulo com as relíquias de São Vicente, que foi decorado por volta de 1470 com um grande retábulo pintado - os Painéis de São Vicente de Fora - de autoria atribuída a Nuno Gonçalves, pintor régio de Afonso V. Os painéis foram retirados em 1614 e encontram-se hoje no Museu Nacional de Arte Antiga.
Em meados do século XVII foi construída uma sacristia em estilo maneirista junto à fachada sul da Sé. No século XVIII a capela-mor gótica foi alterada em forma barroca. O grande Terramoto de 1755 destruiu a Capela do Santíssimo, a torre sul e a decoração da capela-mor, incluindo os túmulos reais, e o claustro. A torre- lanterna ruiu parcialmente e destruiu parte da abóbada de pedra da nave, que foi reconstruída em madeira.

A Sé após o Terramoto de 1755, por Jacques Philippe Le Bas (1757).
À esquerda a Igreja de Santo António, também em ruinas

Nas décadas seguintes a Sé passou por reformas e uma campanha de redecoração. Assim, entre 1761 e 1785 foi reconstruída a Capela do Santíssimo. Entre 1769 e 1771, grandes obras de restauro da torre sul da fachada, construção da cobertura de madeira da nave e remodelação da capela-mor, pintura da abóbada e decoração. As naves foram revestidas com decoração de madeira pintada e a nova cobertura de madeira da nave central foi dotada de óculos que permitiam a entrada de luz.

Antes de 1902

Grande parte das adições da era barroca foram retiradas a partir de uma grande campanha de restauro que ocorreu na primeira metade do século XX, cujo objetivo foi devolver à Sé algo de sua aparência medieval.  Nos primeiros anos de Novecentos, Augusto Fuschini pretendeu reinventar uma catedral medieval, com laivos de fantasia neogótica (como o projeto para a nova cabeceira) e neoclássica (com as grandes colunas para a entrada principal, cujos restos repousam ainda no claustro). A sua morte, em 1911, veio determinar o abandono do projeto.
Em 1911 (bastante horrível!)

Em 1911, o projeto de restauro foi retomado e modificado e passou a privilegiar as estruturas medievais ainda existentes. Foi reconstruída abóbada da nave central, a fachada foi restaurada e refeita e muito aumentada a rosácea, além de muitas outras alterações que deram ao edifício a aparência neorromânica que tem hojeApós novas reformas, como a nova rosácea, a Sé foi reinaugurada em 1940, numa grande solenidade no dia 05 de Maio de 1940.

A Sé, hoje, o eléctrico “28” e a Igreja de Santo António

Enfim, uma grande mistureba de estilos, e a “garantia” dum monumento do século XII !

(Continuam as destruições... fora da Sé)
02/02/2016




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