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Destruições, Reconstruções, Confusões,
Perseguições
Estamos
cansados de saber que o terramoto foi uma tremenda calamidês. Mas deixemos o
terramoto quietinho, sem tremuras e vamos ver outras calamidades.
Pouco
depois de 1755, a seguir à fratricida confusão que foi a luta entre os dois
irmãos – Pedro I/IV e Miguel – Liberais e Absolutistas, ninguém se entendia em
Portugal, o que parece ficou nos genes da “terrinha” porque os que lá estão
continuam a não se entenderem.
Católicos,
maçons, anticlericais, um Estado podre e sem dinheiro, todos em consonância, entenderam,
à imagem do que havia feito o senhor Sebastião, vulgo Marquês de Pombal, com os
jesuítas, extinguir as ordens religiosas, por decreto assinado pelo Mata Frades – Joaquim António de Aguiar
– em 1934, e usurparem todas as propriedades do país: mosteiros, conventos,
igrejas, etc.
A
seguir, o Estado, sempre o inútil Estado/governo, proprietário dessa imensa
fortuna, vendeu essas propriedades, quase todas, a abastados senhores que, como
é óbvio tinham apoiado o Pedrocas I. Vendeu por ninharia, até porque, como
demorou a venda, entretanto houve muito “boa” gente que rapou bibliotecas,
alfaias, paramentos, quadros, etc. Mesmo assim foi uma grande negociata.
Dois
anos depois chega a Portugal um dos mais ilustres de todos os seus filhos
adotivos, o grande Senhor Dom Fernando de Saxe Coburgo, para casar com a alegre
viuvinha Maria da Glória, de 17 aninhos e pele clarinha. Um docinho!
Dom
Fernando era um homem educado, culto, íntegro. Depois das primeiras, e
merecidas núpcias, quis ir ver Portugal pelo interior. Além de esposo da Rainha,
tinha-lhe sido conferido o título de Rei.
Não
andou muito e começou a ver as entranhas do estranho país: e depara-se com o
Mosteiro da Batalha, uma obra prima que começou a ser construída no século XIV
e levou quase dois séculos para ficar concluída. Admirou-se o jovem rei, da
majestade da obra, mais ainda ao ver uns pedreiros de picaretas nas mãos a
derrubarem parte do mosteiro que o governo havia vendido! O governo
anticristão, do Mosteiro da Batalha não queria que ficasse de pé mais do que a
Igreja para “homenagear” a Dinastia de Avis! O resto, vendido a um pedreiro que
estava a desmontar e retirar as pedras para as vender!
D.
Fernando, ali mesmo, pagou ao “empreiteiro” quanto ele tinha desembolsado e,
também do seu bolso mandou que começasse o restauro do momento.
Ainda
é, hoje, um dos mais admiráveis monumentos de todo Portugal.
A majestosa beleza desta janela que
o pedreiro não teve tempo de destruir!
Outra
“brilhante” decisão daquele desastrado e covarde governo, mesmo antes da lei da
Extinção das Ordens Religiosas, em
1833, o Estado, que já perseguira monges e frades, corre com os jerónimos de
Belém, passa a mão no Mosteiro e entrega-o à Real Casa Pia de Lisboa,
instituição de acolhimento de órfãos, mendigos, e desfavorecidos, que nalguns
lugares faz obras de adaptação, como camaratas, destruindo partes originais ou
muito antigas. Entretanto grande parte do seu valioso recheio leva o sumiço
habitual, e que deve ter rendido algum dinheirinho a... quem?
Anos mais tarde, novamente é
Dom Fernando que intervém, e em 1860 começam as obras de remodelação do
Mosteiro com o levantamento e novo (?) desenho da fachada sul. É demolido o
tanque do claustro, os tabiques das galerias e a cozinha do Mosteiro. Na mesma
data fazem-se três (três!) projetos para a reconstrução do Mosteiro que não
são aprovados. O último introduz já elementos neomanuelinos (antevisão de D.
Manuel II... ad calendas?). Em 1863, é nomeado outro arquiteto que trabalha sob
a alçada direta do Provedor da Casa Pia! Entre 1863 e 1865 reorganiza-se o
andar superior do antigo dormitório e desenham-se novas janelas. A partir desta
data novamente se troca de arquiteto que vai construir os torreões no extremo
poente dos antigos dormitórios. Este, por sua vez, é substituído pelos
cenógrafos italianos do teatro de S. Carlos (especialistas em manuelino!).
Entre 1867 e 1878 estes
cenógrafos alteram profundamente o anexo e a fachada da igreja, dando ao
monumento o aspecto que conhecemos hoje. Vão demolir a galilé (pórtico e
entrada?) e a sala dos reis, construir os torreões do lado nascente do dormitório,
a rosácea do coro alto e substituir a cobertura piramidal da torre sineira por
uma cobertura mitrada. Tão bem estruturadas estavam estas obras que ao
construir-se uma torre no corpo central do anexo do Mosteiro, que permitindo a
infiltração de chuvas... desmoronou! Como a obra era dispendiosa, decidiu-se
por uma obrinha mais modesta! A partir 1884, entra em campo outro engenheiro
que em 1886 inicia o restauro do Claustro e da Sala do Capítulo, com a
construção da respectiva abóbada. Em 1894, para celebrar a chegada de Vasco da
Gama à Índia, finalmente terminam as 0bras de restauro!
E assim, o maravilhoso Mosteiro
dos Jerónimos te4m mais pais que mães e um estilo manuelino... que se foi
manuelizando com os anos!
Pelo belo país que Portugal é,
e que, apesar de tantos cenógrafos e arquitetos e provedores, lá se vai
equilibrando, o “monumento” mais gritante deve ser o Paço dos Duques de
Bragança, em Guimarães.
Na fobia do Estado Novo de
mostrar ao mundo os Oitocentos Anos da Independência do petit pays, mas
o mais antigo do mundo em termos de fronteiras, para honrar o berço da nação,
mandou reconstruir-se o Paço dos Duques de Bragança. Reconstruir é um eufemismo
porque nunca, jamais, alguém viu como tinham sido esses Paços, e talvez a única
referência que existia seria uma velha gravura onde se vêm umas miseráveis
ruinas atrás de modestas casas.
Gravura
de 1861
O
“Paço”, um pedacinho à direita, ao alto o Castelo de Guimarães atrás da Igrejinha
de São Miguel (onde D. Afonso Henriques terá sido batizado). À frente “o
exército”!
Construído
nos anos 1420-1422, pelo 1.º Duque de Bragança (filho ilegítimo de D. João I) para a sua amante. Diz a Internet, que
“quando estivesse o rei com esta, já tinha uma residência luxuosa para os dois”.
Aliás não consta que D. João I tenha andado metido com amantes depois que casou
com Dona Filipa de Lencastre, porque esta senhora não admitia poucas vergonhas
na corte! A menos que chamem o duque... de
rei! Mas enfim.
No século XVI, com a saga dos Filipes, que
receavam a concorrência, os duques mudam-se definitivamente para Vila Viçosa e
o paço em Guimarães é abandonado, pilhado, destruído e virou uma ruina.
O “restauro” a que se procedeu é uma afronta ao
que terá sido o paço original. Dá a sensação que só se aproveitaram algumas
paredes e as duas janelas, góticas, que se vêm na gravura de 1861, e estão hoje
na capela do paço.
De qualquer modo, visitar o Mosteiro da
Batalha, o dos Jerónimos e o Paço dos Duques em Bragança, é programa a não
perder quem vai visitar a “terrinha” e/ou vive lá e não conhece. Vale a pena.
Além disso há ótimos, e baratos, restaurantes
em todos os lugares (não esquecer os pastéis de nata de Belém), da Batalha
podem ir por Porto de Mós (que tem um castelo lindo) até Fátima, e à volta de
Guimarães... hummmm, como se come bem lá no Norte.
14/02/2016
A última vez em que estive em Lisboa foi em 1972, a penúltima em 1965, quem não viu Lisboa não viu coisa boa, preciso um dia voltar à "terrinha"...
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