segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016



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Destruições, Reconstruções, Confusões, Perseguições

Estamos cansados de saber que o terramoto foi uma tremenda calamidês. Mas deixemos o terramoto quietinho, sem tremuras e vamos ver outras calamidades.
Pouco depois de 1755, a seguir à fratricida confusão que foi a luta entre os dois irmãos – Pedro I/IV e Miguel – Liberais e Absolutistas, ninguém se entendia em Portugal, o que parece ficou nos genes da “terrinha” porque os que lá estão continuam a não se entenderem.
Católicos, maçons, anticlericais, um Estado podre e sem dinheiro, todos em consonância, entenderam, à imagem do que havia feito o senhor Sebastião, vulgo Marquês de Pombal, com os jesuítas, extinguir as ordens religiosas, por decreto assinado pelo Mata Frades – Joaquim António de Aguiar – em 1934, e usurparem todas as propriedades do país: mosteiros, conventos, igrejas, etc.
A seguir, o Estado, sempre o inútil Estado/governo, proprietário dessa imensa fortuna, vendeu essas propriedades, quase todas, a abastados senhores que, como é óbvio tinham apoiado o Pedrocas I. Vendeu por ninharia, até porque, como demorou a venda, entretanto houve muito “boa” gente que rapou bibliotecas, alfaias, paramentos, quadros, etc. Mesmo assim foi uma grande negociata.
Dois anos depois chega a Portugal um dos mais ilustres de todos os seus filhos adotivos, o grande Senhor Dom Fernando de Saxe Coburgo, para casar com a alegre viuvinha Maria da Glória, de 17 aninhos e pele clarinha. Um docinho!
Dom Fernando era um homem educado, culto, íntegro. Depois das primeiras, e merecidas núpcias, quis ir ver Portugal pelo interior. Além de esposo da Rainha, tinha-lhe sido conferido o título de Rei.
Não andou muito e começou a ver as entranhas do estranho país: e depara-se com o Mosteiro da Batalha, uma obra prima que começou a ser construída no século XIV e levou quase dois séculos para ficar concluída. Admirou-se o jovem rei, da majestade da obra, mais ainda ao ver uns pedreiros de picaretas nas mãos a derrubarem parte do mosteiro que o governo havia vendido! O governo anticristão, do Mosteiro da Batalha não queria que ficasse de pé mais do que a Igreja para “homenagear” a Dinastia de Avis! O resto, vendido a um pedreiro que estava a desmontar e retirar as pedras para as vender!
D. Fernando, ali mesmo, pagou ao “empreiteiro” quanto ele tinha desembolsado e, também do seu bolso mandou que começasse o restauro do momento.
Ainda é, hoje, um dos mais admiráveis monumentos de todo Portugal.

A majestosa beleza desta janela que o pedreiro não teve tempo de destruir!

Outra “brilhante” decisão daquele desastrado e covarde governo, mesmo antes da lei da Extinção das Ordens Religiosas, em 1833, o Estado, que já perseguira monges e frades, corre com os jerónimos de Belém, passa a mão no Mosteiro e entrega-o à Real Casa Pia de Lisboa, instituição de acolhimento de órfãos, mendigos, e desfavorecidos, que nalguns lugares faz obras de adaptação, como camaratas, destruindo partes originais ou muito antigas. Entretanto grande parte do seu valioso recheio leva o sumiço habitual, e que deve ter rendido algum dinheirinho a... quem?
Anos mais tarde, novamente é Dom Fernando que intervém, e em 1860 começam as obras de remodelação do Mosteiro com o levantamento e novo (?) desenho da fachada sul. É demolido o tanque do claustro, os tabiques das galerias e a cozinha do Mosteiro. Na mesma data fazem-se três (três!) projetos para a reconstrução do Mosteiro que não são aprovados. O último introduz já elementos neomanuelinos (antevisão de D. Manuel II... ad calendas?). Em 1863, é nomeado outro arquiteto que trabalha sob a alçada direta do Provedor da Casa Pia! Entre 1863 e 1865 reorganiza-se o andar superior do antigo dormitório e desenham-se novas janelas. A partir desta data novamente se troca de arquiteto que vai construir os torreões no extremo poente dos antigos dormitórios. Este, por sua vez, é substituído pelos cenógrafos italianos do teatro de S. Carlos (especialistas em manuelino!).
Entre 1867 e 1878 estes cenógrafos alteram profundamente o anexo e a fachada da igreja, dando ao monumento o aspecto que conhecemos hoje. Vão demolir a galilé (pórtico e entrada?) e a sala dos reis, construir os torreões do lado nascente do dormitório, a rosácea do coro alto e substituir a cobertura piramidal da torre sineira por uma cobertura mitrada. Tão bem estruturadas estavam estas obras que ao construir-se uma torre no corpo central do anexo do Mosteiro, que permitindo a infiltração de chuvas... desmoronou! Como a obra era dispendiosa, decidiu-se por uma obrinha mais modesta! A partir 1884, entra em campo outro engenheiro que em 1886 inicia o restauro do Claustro e da Sala do Capítulo, com a construção da respectiva abóbada. Em 1894, para celebrar a chegada de Vasco da Gama à Índia, finalmente terminam as 0bras de restauro!
E assim, o maravilhoso Mosteiro dos Jerónimos te4m mais pais que mães e um estilo manuelino... que se foi manuelizando com os anos!
Pelo belo país que Portugal é, e que, apesar de tantos cenógrafos e arquitetos e provedores, lá se vai equilibrando, o “monumento” mais gritante deve ser o Paço dos Duques de Bragança, em Guimarães.
Na fobia do Estado Novo de mostrar ao mundo os Oitocentos Anos da Independência do petit pays, mas o mais antigo do mundo em termos de fronteiras, para honrar o berço da nação, mandou reconstruir-se o Paço dos Duques de Bragança. Reconstruir é um eufemismo porque nunca, jamais, alguém viu como tinham sido esses Paços, e talvez a única referência que existia seria uma velha gravura onde se vêm umas miseráveis ruinas atrás de modestas casas.

Gravura de 1861

O “Paço”, um pedacinho à direita, ao alto o Castelo de Guimarães atrás da Igrejinha de São Miguel (onde D. Afonso Henriques terá sido batizado). À frente “o exército”!

Construído nos anos 1420-1422, pelo 1.º Duque de Bragança (filho ilegítimo de D. João I) para a sua amante. Diz a Internet, que “quando estivesse o rei com esta, já tinha uma residência luxuosa para os dois”. Aliás não consta que D. João I tenha andado metido com amantes depois que casou com Dona Filipa de Lencastre, porque esta senhora não admitia poucas vergonhas na corte! A menos que chamem o duque... de rei! Mas enfim.
No século XVI, com a saga dos Filipes, que receavam a concorrência, os duques mudam-se definitivamente para Vila Viçosa e o paço em Guimarães é abandonado, pilhado, destruído e virou uma ruina.
O “restauro” a que se procedeu é uma afronta ao que terá sido o paço original. Dá a sensação que só se aproveitaram algumas paredes e as duas janelas, góticas, que se vêm na gravura de 1861, e estão hoje na capela do paço.


De qualquer modo, visitar o Mosteiro da Batalha, o dos Jerónimos e o Paço dos Duques em Bragança, é programa a não perder quem vai visitar a “terrinha” e/ou vive lá e não conhece. Vale a pena.
Além disso há ótimos, e baratos, restaurantes em todos os lugares (não esquecer os pastéis de nata de Belém), da Batalha podem ir por Porto de Mós (que tem um castelo lindo) até Fátima, e à volta de Guimarães... hummmm, como se come bem lá no Norte.

14/02/2016



Um comentário:

  1. A última vez em que estive em Lisboa foi em 1972, a penúltima em 1965, quem não viu Lisboa não viu coisa boa, preciso um dia voltar à "terrinha"...

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