Turismo no Rio de Janeiro
Igrejas e Capelas
Seria
interessante saber, à chegada, o que vêm procurar ao Rio de Janeiro os
turistas, e à saída perguntar-lhes o que realmente viram, o que mais
apreciaram, o que mais lhes desagradou, etc.
No
que mais se fala serão as praias com as garotas muito bem despidas, garotos
sarados, a vista do entorno da cidade, o Corcovado e o Pão de Açúcar, sem
esquecer a gloriosa caipirinha!
Talvez
alguns ouçam falar num senhor Sá que fundou a cidade, o que deve ser raro, e
alguns franceses poderão querer saber de onde foram expulsos!
Outros
com menos sorte talvez tenham recuperado algo que lhes levaram num assalto, ou
nada!
O Rio não tem história
antiga como Roma, Paris, Londres ou Lisboa, mas há muita coisa de interesse,
como por exemplo porque se chamam cariocas aos que aqui nasceram ou vivem,
porque há uma praia que se diz do flamengo, e muitas outras coisas.
É bom lembrar que em
Roma Brutus apunhalou o seu chefe, Júlio César, mas aqui é muito mais variado,
porque os políticos se apunhalam, diariamente, todos, um aos outros. Um
Carnaval contínuo.
Bem imagino que a
maioria dos que vão a Paris não estarão interessados em saber quem e como a
cidade se fundou! Nem os que vão às outras cidades. Isso é coisa de curioso, e
ser curioso ensina bastante!
Para cristãos ou
ateus há no Rio muitas igrejas com história, algumas delas com magníficos
interiores.
Em Roma é
“obrigatório” visitar a Basílica de São Pedro, no Vaticano, em Paris a Catedral
de Notre Dame, em Londres Saint Paul e em Lisboa, o Mosteiro dos Jerónimos e a
Sé. Pelo menos.
Nestes textos só se
falará das igrejas que “começaram” a sua vida nos séculos XVI e XVII. Quase todas
começaram por humilíssimas ermidas, erguidas com devoção, alguns paus e barro
batido, que ao longo dos anos foram sendo melhoradas.
Há, felizmente
algumas, poucas, exceções: uma pequenina ermida ou capela, do orago de São
Gonçalo do Amarante, que persiste nas formas originais desde 1625, no lugar
então denominado Pirapitingui, em Jacarepaguá, mandada construir por Gonçalo
Correia de Sá, filho do governador do Rio de Janeiro, nas terras de sesmaria de
seu pai, Salvador Correio de Sá, o Velho, hoje dentro de uma fazenda no Camorim.
É uma relíquia, que esteve em riscos de se perder, mas foi restaurada sem
alterar a traça original.
Outra
pequena capela que tem história curiosa, construida no topo de um inselberg, tem uma vista surpreendente sobre a
baixada de Jacarepaguá, a Barra da Tijuca e ao longe, como que a emoldurar tudo
isso, para poente, o Parque Estadual da Pedra Branca (que merece uma visita) e
a nascente o Parque Nacional da Tijuca (outra visita, mas... com cautelas
extra!).
Reza a história, ou a lenda, baseada
no que escreveu Amadeu de Beaurepaire Rohan, em seu livro a respeito do
santuário de Jacarepaguá:
O escravo de um abastado fazendeiro da localidade, à hora
de recolher o gado que pastoreava, notou a falta de um animal. Procurara-o já
por toda a parte sem resultado satisfatório. Certo de que quando regressasse à
fazenda seria severamente castigado, era justa a sua grande aflição.
Desesperado e cansado já de tanto buscar o animal nos lugares mais afastados e
nas grotas mais profundas, fez então uma prece à Virgem para que o ajudasse no
transe amargurado em que se via.
Passados alguns minutos apenas, eis que o aflito escravo
divisa no alto do morro, como uma aparição sobrenatural, esplendente de luz,
uma senhora ricamente vestida de azul e branco, tendo à cabeça uma coroa, e que
lhe acenava com o braço convidando-o a que fosse até ela.
Refeito da estupefação, o escravo tomou a direção
indicada; em lá chegando verificou contristado que a Senhora havia
desaparecido. Em seu lugar, porém, estava a rês tresmalhada.
Sabedor do ocorrido, o fazendeiro teria mandado levantar
a ermida naquele sítio, para perpetuar a lembrança do impressionante
acontecimento.
No entanto, Frei Agostinho de Santa Maria, no livro “Santuário Mariano”,
datado de 1723, também citado por Amadeu de Beaurepaire Rohan, traz luz ao
assunto, manifestando-se de outra forma sobre a razão da construção do templo,
que deve ter ocorrido durante o ano de 1664. Diz o velho escritor sacro o
seguinte: “Fundou esta casa naquele
alegre e notável sítio o padre Manuel de Araújo. Este devoto clérigo era
devotíssimo da Mãe de Deus e bem podia ser que de Lisboa levasse esta imagem
para o Rio de Janeiro, e que na viagem lhe fizesse alguns milagres por cuja
causa lhe dedicaria aquele santuário naquele tão notável sítio ao qual a
Senhora enobrece com muitas e notáveis maravilhas”.
Como não se ignora,
PENA é sinônimo de penha, elevação de pedra, penedo. E, tendo vindo de Portugal
para aqui a imagem, trazida pelo padre Manuel de Araújo, nada mais justo que
esse sacerdote erigisse no alto do penhasco a capela dedicada à Virgem tendo
possivelmente no pensamento a suntuosa igreja sob o mesmo título que se levanta
na cidade portuguesa de Leiria.
Esta
história talvez seja mais... consistente, mas a anterior é muito mais bonita e
a que toda a gente prefere!
Por hoje, e para terminar, “a
cereja do bolo”: a mais antiga capela, capelinha, que mantem o traçado
original, apesar de ter sido várias vezes restaurada, é a Capela de Nossa
Senhora da Cabeça. Trata-se de um dos mais antigos
templos religiosos da cidade que manteve sua configuração original. A capela de
Nossa Senhora da Cabeça está hoje situada nos terrenos da Casa Maternal Mello
Mattos, na Rua Faro 80, na encosta do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro,
envolta pela mata remanescente da Floresta da Tijuca.
Quando foi construída ficava
dentro dos terrenos do antigo Engenho d´El Rey, que se estendia por toda a área
entre a lagoa e as encostas do Corcovado, desde a Gávea até o Humaitá, com sede
na área onde hoje está o Jardim Botânico. Construída a meia encosta da serra da
Carioca, às margens de um riacho que também tomou o nome de Cabeça.
Junto a este riacho tinha
construído o Governador António Salema (governou o Rio de Janeiro entre 1576 e
1577) um Engenho, junto à Lagoa de Socopenapã, atual Lagoa Rodrigo de Freitas,
que ficou conhecido como o Engenho d’El-Rei, e que lhe terá custado três mil
cruzados! Em 1603 o novo Governador, Martim Correia de Sá, o primeiro e quase
único governador nascido nesta cidade, mandou restaurar o Engenho que se
encontrava abandonado, e perto do mesmo levantou a Capela de Nossa Senhora da
Cabeça.
Um
pouco mais tarde Quanto ao Engenho um provedor de Fazenda aconselhou o soberano
a desfazer-se do mesmo que “não valeria nem quinhentos cruzados. O conselho foi
seguido e vendeu-se a Diogo de Amorim Soares que está na origem da família
Rodrigo de Freitas que acabou “roubando” à lagoa o nome de Socopenapã (o
barulho dos socós – uma ave pernalta que descansa em uma só perna) para ficar
conhecida, até hoje, por Lagoa Rodrigo de Freitas.
N.-
Convenhamos: Socopenapã era um nome muito mais bonito!
Até
janeiro, só vou apresentar mais um texto, antes do Natal. A seguir uma
paradinha!
14/12/2015
Muito bonitas essas antigas capelas cariocas, estão também no meu blog em http://literaturaeriodejaneiro.blogspot.com.br/2015/08/qual-igreja-mais-antiga-do-rio-de.html
ResponderExcluirRio não é só samba, praia e futebol.