segunda-feira, 14 de dezembro de 2015




Turismo no Rio de Janeiro
Igrejas e Capelas

Seria interessante saber, à chegada, o que vêm procurar ao Rio de Janeiro os turistas, e à saída perguntar-lhes o que realmente viram, o que mais apreciaram, o que mais lhes desagradou, etc.
No que mais se fala serão as praias com as garotas muito bem despidas, garotos sarados, a vista do entorno da cidade, o Corcovado e o Pão de Açúcar, sem esquecer a gloriosa caipirinha!
Talvez alguns ouçam falar num senhor Sá que fundou a cidade, o que deve ser raro, e alguns franceses poderão querer saber de onde foram expulsos!
Outros com menos sorte talvez tenham recuperado algo que lhes levaram num assalto, ou nada!
O Rio não tem história antiga como Roma, Paris, Londres ou Lisboa, mas há muita coisa de interesse, como por exemplo porque se chamam cariocas aos que aqui nasceram ou vivem, porque há uma praia que se diz do flamengo, e muitas outras coisas.
É bom lembrar que em Roma Brutus apunhalou o seu chefe, Júlio César, mas aqui é muito mais variado, porque os políticos se apunhalam, diariamente, todos, um aos outros. Um Carnaval contínuo.
Bem imagino que a maioria dos que vão a Paris não estarão interessados em saber quem e como a cidade se fundou! Nem os que vão às outras cidades. Isso é coisa de curioso, e ser curioso ensina bastante!
Para cristãos ou ateus há no Rio muitas igrejas com história, algumas delas com magníficos interiores.
Em Roma é “obrigatório” visitar a Basílica de São Pedro, no Vaticano, em Paris a Catedral de Notre Dame, em Londres Saint Paul e em Lisboa, o Mosteiro dos Jerónimos e a Sé. Pelo menos.
Nestes textos só se falará das igrejas que “começaram” a sua vida nos séculos XVI e XVII. Quase todas começaram por humilíssimas ermidas, erguidas com devoção, alguns paus e barro batido, que ao longo dos anos foram sendo melhoradas.
Há, felizmente algumas, poucas, exceções: uma pequenina ermida ou capela, do orago de São Gonçalo do Amarante, que persiste nas formas originais desde 1625, no lugar então denominado Pirapitingui, em Jacarepaguá, mandada construir por Gonçalo Correia de Sá, filho do governador do Rio de Janeiro, nas terras de sesmaria de seu pai, Salvador Correio de Sá, o Velho, hoje dentro de uma fazenda no Camorim. É uma relíquia, que esteve em riscos de se perder, mas foi restaurada sem alterar a traça original.


Outra pequena capela que tem história curiosa, construida no topo de um inselberg, tem uma vista surpreendente sobre a baixada de Jacarepaguá, a Barra da Tijuca e ao longe, como que a emoldurar tudo isso, para poente, o Parque Estadual da Pedra Branca (que merece uma visita) e a nascente o Parque Nacional da Tijuca (outra visita, mas... com cautelas extra!).
Reza a história, ou a lenda, baseada no que escreveu Amadeu de Beaurepaire Rohan, em seu livro a respeito do santuário de Jacarepaguá:
O escravo de um abastado fazendeiro da localidade, à hora de recolher o gado que pastoreava, notou a falta de um animal. Procurara-o já por toda a parte sem resultado satisfatório. Certo de que quando regressasse à fazenda seria severamente castigado, era justa a sua grande aflição. Desesperado e cansado já de tanto buscar o animal nos lugares mais afastados e nas grotas mais profundas, fez então uma prece à Virgem para que o ajudasse no transe amargurado em que se via.
Passados alguns minutos apenas, eis que o aflito escravo divisa no alto do morro, como uma aparição sobrenatural, esplendente de luz, uma senhora ricamente vestida de azul e branco, tendo à cabeça uma coroa, e que lhe acenava com o braço convidando-o a que fosse até ela.
Refeito da estupefação, o escravo tomou a direção indicada; em lá chegando verificou contristado que a Senhora havia desaparecido. Em seu lugar, porém, estava a rês tresmalhada.
Sabedor do ocorrido, o fazendeiro teria mandado levantar a ermida naquele sítio, para perpetuar a lembrança do impressionante acontecimento.
No entanto, Frei Agostinho de Santa Maria, no livro “Santuário Mariano”, datado de 1723, também citado por Amadeu de Beaurepaire Rohan, traz luz ao assunto, manifestando-se de outra forma sobre a razão da construção do templo, que deve ter ocorrido durante o ano de 1664. Diz o velho escritor sacro o seguinte: “Fundou esta casa naquele alegre e notável sítio o padre Manuel de Araújo. Este devoto clérigo era devotíssimo da Mãe de Deus e bem podia ser que de Lisboa levasse esta imagem para o Rio de Janeiro, e que na viagem lhe fizesse alguns milagres por cuja causa lhe dedicaria aquele santuário naquele tão notável sítio ao qual a Senhora enobrece com muitas e notáveis maravilhas”.
Como não se ignora, PENA é sinônimo de penha, elevação de pedra, penedo. E, tendo vindo de Portugal para aqui a imagem, trazida pelo padre Manuel de Araújo, nada mais justo que esse sacerdote erigisse no alto do penhasco a capela dedicada à Virgem tendo possivelmente no pensamento a suntuosa igreja sob o mesmo título que se levanta na cidade portuguesa de Leiria. 
Esta história talvez seja mais... consistente, mas a anterior é muito mais bonita e a que toda a gente prefere!



Por hoje, e para terminar, “a cereja do bolo”: a mais antiga capela, capelinha, que mantem o traçado original, apesar de ter sido várias vezes restaurada, é a Capela de Nossa Senhora da Cabeça. Trata-se de um dos mais antigos templos religiosos da cidade que manteve sua configuração original. A capela de Nossa Senhora da Cabeça está hoje situada nos terrenos da Casa Maternal Mello Mattos, na Rua Faro 80, na encosta do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, envolta pela mata remanescente da Floresta da Tijuca.
Quando foi construída ficava dentro dos terrenos do antigo Engenho d´El Rey, que se estendia por toda a área entre a lagoa e as encostas do Corcovado, desde a Gávea até o Humaitá, com sede na área onde hoje está o Jardim Botânico. Construída a meia encosta da serra da Carioca, às margens de um riacho que também tomou o nome de Cabeça.
Junto a este riacho tinha construído o Governador António Salema (governou o Rio de Janeiro entre 1576 e 1577) um Engenho, junto à Lagoa de Socopenapã, atual Lagoa Rodrigo de Freitas, que ficou conhecido como o Engenho d’El-Rei, e que lhe terá custado três mil cruzados! Em 1603 o novo Governador, Martim Correia de Sá, o primeiro e quase único governador nascido nesta cidade, mandou restaurar o Engenho que se encontrava abandonado, e perto do mesmo levantou a Capela de Nossa Senhora da Cabeça.

 


Um pouco mais tarde Quanto ao Engenho um provedor de Fazenda aconselhou o soberano a desfazer-se do mesmo que “não valeria nem quinhentos cruzados. O conselho foi seguido e vendeu-se a Diogo de Amorim Soares que está na origem da família Rodrigo de Freitas que acabou “roubando” à lagoa o nome de Socopenapã (o barulho dos socós – uma ave pernalta que descansa em uma só perna) para ficar conhecida, até hoje, por Lagoa Rodrigo de Freitas.

N.- Convenhamos: Socopenapã era um nome muito mais bonito!

Até janeiro, só vou apresentar mais um texto, antes do Natal. A seguir uma paradinha!

14/12/2015


Um comentário:

  1. Muito bonitas essas antigas capelas cariocas, estão também no meu blog em http://literaturaeriodejaneiro.blogspot.com.br/2015/08/qual-igreja-mais-antiga-do-rio-de.html
    Rio não é só samba, praia e futebol.

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