Natal
Época de meditar um pouco
É
sempre época de meditar. Saber quem somos e para onde vamos. E como.
Quantas
vezes nos perguntamos sobre o que andamos a fazer neste Mundo para ganhar o
“descanso eterno”? E não são só os cristãos ou indivíduos de outras religiões,
mas ateus também. Ninguém sabe.
Teilhard
de Chardin, deve ter sido o primeiro homem a compreender a evolução como obra
de Deus, e a dar uma explicação profunda e simples sobre o assunto.
Jesuíta,
foi mandado calar pelos “sábios” da Cúria do Vaticano, aquele antro que pouco
mais tem feito do que afastar bons cristãos e exibir opulência, o oposto do que
Cristo pregou!
Nesta
época do ano, quando é suposto que o Natal seja a festa da Família, parece ser
o momento mais indicado para que se medite um pouco sobre o que desconhecemos,
e continuaremos a desconhecer enquanto seres viventes, terráqueos. Assim mesmo
meditar faz bem.
Amar
a Deus e o próximo, não é apenas um ato de veneração ou misericórdia sobreposto
a nossas outras preocupações individuais. É a própria vida, vida na integridade
de suas aspirações, suas lutas e conquistas.
O
Deus transcendente e pessoal e o universo em evolução, formam dois centros de
atração de opostos, mas entram em conjunto para levantar a massa humana num
final único.
Teilhard
de Chardin, um profundo pensador, teólogo, paleontólogo, geólogo, enfim um dos
maiores sábios do século XX, um génio, deixou-nos uma quantidade de livros,
cada um talvez mais profundo que o outro, onde veio esclarecer um dos pontos de
maior discussão de toda a história religiosa.
Neste
texto algumas passagens dos seus pensamentos.
“A manifestação do Divino não
altera a ordem aparente das coisas como a consagração eucarística não modifica,
aos nossos alhos, as santas espécies.
Os
defensores da teologia natural explicavam a ordem do mundo através dum Deus
criador e ordenador, garante da harmonia universal. A partir do séc. XVII, cada
nova descoberta científica levava a fazer de Deus uma hipótese cada vez mais
inútil face a um mundo naturalmente coerente, racional e harmonioso, tornando a
“posição” divina supérflua, já que o cosmos apresentava sozinho o rótulo de
garantia.
A
fenomenologia de Teilhard apresenta, objetivamente, uma reintegração ulterior
da ideia de Deus – evolucionismo generalizado, que se aplica ao cosmos inteiro,
e evolucionismo espiritualista que nos mostra um crescer para a luz que ilumina
as consciências, cada vez mais claras e autônomas, evolucionismo convergindo
para uma maturação do mundo.
Isto
não implica nem impõe Deus, mas liberta uma crise existencial da qual Deus pode
ser a solução.
A
ciência já nos disse que o mundo, pelo menos o nosso, acabará um dia, porque já
se sabe que as estrelas têm o seu ciclo de vida evoluindo para uma espécie de
morte – matéria degenerada, ultradensa, etc. O fim do nosso sistema solar é uma
questão de mais uns milhões ou bilhões de anos.
Então
para quê qualquer esforço humano se ele já sabe que acabará num apocalipse qualquer?
Assim,
Deus, que a ciência quis exorcizar, reaparece, não mais na origem do cosmos,
mas no fim dele, através duma reação existencial, não científica, mas ditada
pela ciência. Este é o grande mérito de Teilhard, de ter colocado corretamente
o problema da relação entre a ciência e a fé em Deus, fazendo assim de Deus,
aos olhos dos homens do século XX, o “futuro absoluto”.
Se
se falar a um marxista ou ateu dum Deus Alfa, ele nem quer ouvir, mas se lhe
falar num Deus Ômega, mesmo que ele não seja partidário dessa opinião, vai
aceitar discutir o problema.
O
que Teilhard de Chardin nos quer com isto dizer, é que a humanidade ainda não
terminou a sua evolução, e que a cooperação científica, tal como começou a ser
praticada abriu perspectivas prodigiosas.
As
pesquisas geológicas de Teilhard fizeram-no descobrir experimentalmente a
realidade maravilhosa do tempo cósmico.
Tal
como a deriva dos continentes, extremamente lenta, nos mostra que a evolução do
homem vem sendo feita na mesma “velocidade”, ou lentidão.
África
e América do Sul estão se afastando a uma média de 2,5 centímetros por ano,
assim como a Itália está a entrar por baixo dos Alpes e o subcontinente indiano
dos Himalaias. Num milhão de anos “andaram” somente vinte e cinco quilómetros.
Para a pequenez humana, todos os continentes estão aparentemente parados, mas
há 250 milhões de anos o Rio de Janeiro estava encostado a Luanda!
Tudo
isto nos ajuda a questionar que se Deus, por acaso, nada tem a ver com o Big
Bang, Alguém teve, e se a Terra tem 4,5 bilhões de anos da existência, e o
homem só uns centos de milhares, devemos então pensar, na certeza de que um dia
o nosso Sol morrerá, e que tendo havido uma evolução desde o começo do Mundo, uma
evolução física, científica, o homem só aparece quando lhe é possível a vida.
Apareceu,
um homem bruto, que a certa altura começou a questionar-se sobre a finalidade
da sua vida, sem ter feito paralelos entre a evolução científica e a sua,
moral.
Pouco
ou nada se sabe sobre o aparecimento do homem “pensante”, mas sabemos que desde
há muitos milénios ele “sabe” que o mundo acabará num apocalipse!
Se
nos limitarmos aos pensamentos marxistas ou ateístas, que colocam os homens ao
mesmo nível dum vegetal, que nasce, cresce, vive e morre, sem qualquer
perspectiva no Além, então não vale a pena “inventarmos” por exemplo organismos
como as Nações Unidas, nem continuar a meditar sobre a nossa passagem na Terra.
Cada um que se vire por si mesmo, que roube, mate, etc.!
O
pensamento de Teilhard, ao afirmar que a
evolução biológica vai desembocar na liberdade humana, abriu uma porta que
consegue conciliar a evolução física, científica, com a evolução do pensamento,
do conhecimento, e se caminhamos todos para o mesmo fim, então lá, no
apocalipse final, Deus estará à nossa espera.
O
homem anda feito louco à procura de outro planeta para onde “emigrar”, sabendo somente,
por enquanto, que um dia, num instante, ele “emigra” para o Além.
Parece,
em função do tempo de vida útil do nosso Sol – segundo alguns pesquisadores
pouco mais de 1 bilhão de anos, porque depois vai aquecer brutalmente e a
seguir arrefecer – que a humanidade ainda tem pela frente muito tempo para que
todos, TODOS, se amem uns aos outros, que esqueçam guerras, roubos, crimes,
etc. para, finalmente poderem ver a Face de Deus, e, entretanto, amem o que nunca veremos duas vezes como
disse Alfred de Vigny. (1797-1863)
A
Terra vai continuar a evoluir até chegar ao tal inevitável fim. Para que todos
se olhem como irmãos, é triste pensar que isso vai demorar uns milhões ou
bilhões de anos, pressupondo-se que a humanidade evolua nesse sentido.
E
a seguir o que vai acontecer? Quando acabar a vida na Terra?
O
espírito de Deus, o Sophos, o Spiritus, vai soprar em um qualquer outro
planeta! Já deve ter soprado.
Para
que todos se reúnam com o Deus absoluto e infinito, parece que ainda terá tempo
para a humanidade viver em “humanidade”!
É
mentira, não têm. O que conta é o tempo cósmico. Sem relógio, nem princípio,
nem fim. Nem antes, nem depois, É sempre “agora”.
É
sempre hora de começar, e o Natal é o momento indicado para, ou começar ou para
nos aperfeiçoarmos.
Bom
Natal a todos, sobretudo àqueles que mais sofrem, por doença, guerra, abandono,
miséria e, sobretudo por falta da nossa compreensão e aceitação do Outro.
Por
falta da nossa humanidade.
Por
falta de um abraço amigo, sincero, caloroso, que aproveito para mandar a todos.
Aos
amigos e aos Outros.
Dez.
2015
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