O
Cruzeiro das Laranjeiras
O Palácio do
Farrobo, hoje conhecido como Palácio das Laranjeiras fica na quinta do mesmo
nome onde, desde 1905 se instalou, em Lisboa, o Jardim Zoológico.
Inicialmente
conhecida por Quinta de Santo António, pertencia no final do século XVII a
Manuel da Silva Colaço, vendida em 1760 a Luis da Silva Bivar, a seguir a
Francisco António de Azevedo Coutinho e em 1779, por 24 contos de Reis, passou
a Luis Ribeiro Quintela, herdando-a, em 1802, seu sobrinho Joaquim Pedro
Saldanha, depois 1° Barão de Quintela.
O 2° Barão de
Quintela e 1° Conde de Farrobo, também de nome Joaquim Pedro Saldanha, nascido
em Lisboa em 1801, cedo recebeu a enorme fortuna de seu pai, que havia
construído já o palácio. Este embelezou as construções e a quinta, ao ponto de
instalar iluminação a gás, vinte anos antes de isso ser feito na capital!
Mandou vir leões,
tigres e uma porção de outros animais que guardava em jaulas, fazendo nascer
assim o Jardim Zoológico.
Morre na sua
quinta em 1869 e nesse ano ela é vendida a António Augusto Carvalho Monteiro, o
“Monteiro dos Milhões” (também por 25
contos de Reis, e que depois de a vender cinco anos mais tarde compra a Quinta
da Regaleira em Sintra). O novo proprietário, espanhol, Duque de Abrantes y
Liñares mandou restaurar o palácio e outras dependências, e logo a seguir, em
1877, é seu dono José Pereira Soares que a esta, junta outras quintas
contíguas. Em 1903 compra tudo o Conde Burnay, e em 1905 cede os jardins das
Quintas das Laranjeiras e a das Águas à Câmara de Lisboa para aí se instalar o
Jardim Zoológico.
Muita história
existe sobre a famosa Quinta das Laranjeiras e o Palácio Farrobo.
Vamos a uma. Mais
tarde, outra.
No «Boletim da Real da Associação dos Arquitetos Civis
e Arqueologos Portugueses », publicou em 1904 o saudoso investigador Sousa
Viterbo, uma interessante notícia acerca do Cruzeiro das Laranjeiras.
Descreve-o, como todos nós ainda
o vimos, no extremo da quinta
que foi do Conde Farrobo, junto
às grades que a separam da Estrada de Benfica “próximo ao Chafariz
Convalescença”.
Erigia-se então sobre dois degraus de pedra lioz
«tendo o primeiro 1m,55 de comprimento e o segundo 1 metro, sendo a altura de
cada 0m,18». A base da coluna tem 0m,41 de altura por 0m,455 de lado.
É uma robusta cruz floreteada de calcáreo branco,
assente sobre um capitel gótico. O fuste, de mármore, mede 1m,255.
Numa das faces da cruz está a imagem mutilada de
Cristo, e na face oposta, sobre uma pequena mísula, a da Virgem com o Menino.
Diz-nos Viterbo que este cruzeiro, durante a sua longa
existência de mais de quatro séculos, terá sofrido alguns reparos e
modificações. De facto, além de outros vestígios, nota-se que o Crucifixo está
ali embutido e fixado com parafusos de metal.
Em volta do capitel corre uma inscrição de caracteres
góticos minúsculos, lida com algumas incorreções por Gabriel Pereira, sobre um
calco de gesso, para a notícia de Viterbo.
Diz assim:
:PEDREANS MORADOR
AQUI MADOU FAZER
ESTE CRUZ
A HÕRA
DE ĐS I
DE SCA M
(Nota o Deus, em DS, tem um traço por cima do D e não
a meio, mas o teclado não o comporta)
É, pois, este cruzeiro, como diz o citado escritor,
“devido como tantos outros à piedade de um indivíduo que o mandou construir, ou
por algum acto expiatório, ou por simples devoção, obedecendo ao sentimento
religioso da época”.
Quanto ao aspecto paleográfico há apenas a notar a
falta do o que, em expoente, completaria a abreviatura da palavra cruzeiro. As
abreviaturas das palavras Deus e Santa são correntes.
Certo dia foi apeado, e não mais o viram os que passam
pela estreita e tristonha estrada de Benfica.
Não está porém perdido, antes foi parar a mãos que o
conservam e respeitam, Por morte da Senhora Condessa de Burnay, última
proprietária da Quinta das Laranjeiras, ficou o velho cruzeiro; havia já tempos
recolhido nas arrecadações do palácio, pertencendo a sua neta Dona Teresa,
filha do falecido Conde de Mafra, e casada com o meu parente e amigo Eduardo
Valdez Pinto da Cunha, pessoa do mais alto espírito, que o trouxe para sua
casa, o antigo palácio dos Marqueses de Valença, ao Campo Grande, e
cuidadosamente o ergueu numa das ruas do jardim, onde, embora sem os degraus,
que já não foram encontrados, está ao abrigo de possíveis mutilações.
J. M. Cordeiro de
Sousa
Lumiar, Quinta de Nossa Senhora do Carmo, em 27 de
Janeiro de 1943
Depois de bem
limpo!
O Cruzeiro das Laranjeiras, actualmente
localizado no pátio do Palácio do Conde de Vimioso, ao Campo Grande, foi
mandado erguer, possivelmente na 2ª metade do séc. XV, por Pedro Eanes, morador
em Lisboa, no extremo da Quinta das Laranjeiras à Estrada de Benfica, facto que
esteve na origem do seu nome. A transferência do local ocorreu após o cruzeiro
ter sido desmontado para restauro, em 1914, e posteriormente recolocado nos
terrenos do já referido palácio. Classificado como Monumento Nacional, trata-se
de uma peça gótica, que foi objecto de várias transformações ao nível da base e
do fuste. Assente num soco quadrangular escalonado emerge uma coluna lisa
desprovida de base, coroada por capitel de cesto, decorado com elementos
vegetalistas e encimado por ábaco circular com inscrição gótica, que atesta a
acção mecenática de Pedro Eanes. Acima do capitel desenvolve-se uma cruz
latina, cujos braços terminam em flor-de-lis, apresentando numa face a imagem
de Cristo Crucificado e na face oposta à da Virgem com o Menino, ambas
esculpidas em relevo.
29/09/15
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