segunda-feira, 5 de outubro de 2015




O Cruzeiro das Laranjeiras


O Palácio do Farrobo, hoje conhecido como Palácio das Laranjeiras fica na quinta do mesmo nome onde, desde 1905 se instalou, em Lisboa, o Jardim Zoológico.
Inicialmente conhecida por Quinta de Santo António, pertencia no final do século XVII a Manuel da Silva Colaço, vendida em 1760 a Luis da Silva Bivar, a seguir a Francisco António de Azevedo Coutinho e em 1779, por 24 contos de Reis, passou a Luis Ribeiro Quintela, herdando-a, em 1802, seu sobrinho Joaquim Pedro Saldanha, depois 1° Barão de Quintela.
O 2° Barão de Quintela e 1° Conde de Farrobo, também de nome Joaquim Pedro Saldanha, nascido em Lisboa em 1801, cedo recebeu a enorme fortuna de seu pai, que havia construído já o palácio. Este embelezou as construções e a quinta, ao ponto de instalar iluminação a gás, vinte anos antes de isso ser feito na capital!
Mandou vir leões, tigres e uma porção de outros animais que guardava em jaulas, fazendo nascer assim o Jardim Zoológico.
Morre na sua quinta em 1869 e nesse ano ela é vendida a António Augusto Carvalho Monteiro, o “Monteiro dos Milhões” (também por 25 contos de Reis, e que depois de a vender cinco anos mais tarde compra a Quinta da Regaleira em Sintra). O novo proprietário, espanhol, Duque de Abrantes y Liñares mandou restaurar o palácio e outras dependências, e logo a seguir, em 1877, é seu dono José Pereira Soares que a esta, junta outras quintas contíguas. Em 1903 compra tudo o Conde Burnay, e em 1905 cede os jardins das Quintas das Laranjeiras e a das Águas à Câmara de Lisboa para aí se instalar o Jardim Zoológico.
Muita história existe sobre a famosa Quinta das Laranjeiras e o Palácio Farrobo.
Vamos a uma. Mais tarde, outra.

No «Boletim da Real da Associação dos Arquitetos Civis e Arqueologos Portugueses », publicou em 1904 o saudoso investigador Sousa Viterbo, uma interessante notícia acerca do Cruzeiro das Laranjeiras.
Descreve-o, como todos nós ainda o vimos, no extremo da quinta que foi do Conde Farrobo, junto às grades que a separam da Estrada de Benfica “próximo ao Chafariz Convalescença”.
Erigia-se então sobre dois degraus de pedra lioz «tendo o primeiro 1m,55 de comprimento e o segundo 1 metro, sendo a altura de cada 0m,18». A base da coluna tem 0m,41 de altura por 0m,455 de lado.
É uma robusta cruz floreteada de calcáreo branco, assente sobre um capitel gótico. O fuste, de mármore, mede 1m,255.

Numa das faces da cruz está a imagem mutilada de Cristo, e na face oposta, sobre uma pequena mísula, a da Virgem com o Menino.
Diz-nos Viterbo que este cruzeiro, durante a sua longa existência de mais de quatro séculos, terá sofrido alguns reparos e modificações. De facto, além de outros vestígios, nota-se que o Crucifixo está ali embutido e fixado com parafusos de metal.
Em volta do capitel corre uma inscrição de caracteres góticos minúsculos, lida com algumas incorreções por Gabriel Pereira, sobre um calco de gesso, para a notícia de Viterbo.
Diz assim:
:PEDREANS  MORADOR  AQUI  MADOU  FAZER  ESTE  CRUZ
A  HÕRA  DE  ĐS  I  DE  SCA  M

(Nota o Deus, em DS, tem um traço por cima do D e não a meio, mas o teclado não o comporta)
É, pois, este cruzeiro, como diz o citado escritor, “devido como tantos outros à piedade de um indivíduo que o mandou construir, ou por algum acto expiatório, ou por simples devoção, obedecendo ao sentimento religioso da época”.
Quanto ao aspecto paleográfico há apenas a notar a falta do o que, em expoente, completaria a abreviatura da palavra cruzeiro. As abreviaturas das palavras Deus e Santa são correntes.
Certo dia foi apeado, e não mais o viram os que passam pela estreita e tristonha estrada de Benfica.
Não está porém perdido, antes foi parar a mãos que o conservam e respeitam, Por morte da Senhora Condessa de Burnay, última proprietária da Quinta das Laranjeiras, ficou o velho cruzeiro; havia já tempos recolhido nas arrecadações do palácio, pertencendo a sua neta Dona Teresa, filha do falecido Conde de Mafra, e casada com o meu parente e amigo Eduardo Valdez Pinto da Cunha, pessoa do mais alto espírito, que o trouxe para sua casa, o antigo palácio dos Marqueses de Valença, ao Campo Grande, e cuidadosamente o ergueu numa das ruas do jardim, onde, embora sem os degraus, que já não foram encontrados, está ao abrigo de possíveis mutilações.

J. M. Cordeiro de Sousa

Lumiar, Quinta de Nossa Senhora do Carmo, em 27 de Janeiro de 1943
 
Depois de bem limpo!

O Cruzeiro das Laranjeiras, actualmente localizado no pátio do Palácio do Conde de Vimioso, ao Campo Grande, foi mandado erguer, possivelmente na 2ª metade do séc. XV, por Pedro Eanes, morador em Lisboa, no extremo da Quinta das Laranjeiras à Estrada de Benfica, facto que esteve na origem do seu nome. A transferência do local ocorreu após o cruzeiro ter sido desmontado para restauro, em 1914, e posteriormente recolocado nos terrenos do já referido palácio. Classificado como Monumento Nacional, trata-se de uma peça gótica, que foi objecto de várias transformações ao nível da base e do fuste. Assente num soco quadrangular escalonado emerge uma coluna lisa desprovida de base, coroada por capitel de cesto, decorado com elementos vegetalistas e encimado por ábaco circular com inscrição gótica, que atesta a acção mecenática de Pedro Eanes. Acima do capitel desenvolve-se uma cruz latina, cujos braços terminam em flor-de-lis, apresentando numa face a imagem de Cristo Crucificado e na face oposta à da Virgem com o Menino, ambas esculpidas em relevo.


29/09/15

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