Um elevador transformado em ferraduras
Da
Revista OLISIPO de Outubro - 1943
O Diário Ilustrado, jornal da velha
Lisboa, datado de 10 de Abril de 1896, entre muitas notícias, como uma “de um
tal sr. Décio que dizia: “só os cretinos
podem afrontar o génio poético do se, Guerra Junqueiro”, também relata
largamente o lançamento da ponte do ascensor da Biblioteca, que teve lugar dois
dias antes, obra da extinta Empresa Industrial Portuguesa dirigida então pelos
eng. Baerleim, Lacombe e Rolim Júnior, na qual trabalhou Raul Mesnier de
Ponsard e Stuart Mac-Nair, que é hoje missionário evangélico no Brasil, e onde
também exerceram enorme actividade três homens ainda de grande nomeada no
círculo metalúrgico nacional: Lambert Dargent e os já falecidos Manuel Cardoso
e Silvério Vieira que mais tarde uniram os esforços na firma Cardoso, Dargent
& Cia., de que são atualmente sucessores José Marques Cardoso, Tomás de
Azevedo e Silva, eng. Martinho, João Matos e Manuel Hipólito, sob a firma L.
Dargent, Ltda.
A
ponte do elevador, que há poucos anos ainda cruzava a Calçada de S. Francisco,
tinha dezesseis metros e foi corrida, desde o jardim do Visconde de Coruche até
à coluna do ascensor. «O hábil assentador, sr. António Silvério Vieira, - dizia
o Diário Illustrado - com os seus operários a postos, podendo transmitir
do cimo da torre, por meio de porta-voz, para os guinchos, as suas ordens,
colocou à boca do porta-voz, ao cimo das torres, para maior confiança, o mestre
Joaquim Silvério Ferreira, seu irmão, duplamente irmão pelo sangue e pelo
merecimento”. Estava-se então em 8 de Abril de 1896.
O
objectivo do Dr. Aires de Campos, animador da iniciativa e seu financiador, não
teve o êxito de ordem material que se esperava. O elevador sempre deu pouco. Em
1915 foi doado à Câmara, que poucos anos decorridos, acabou com a exploração.
Os portões do Largo de S. Julião e do da Biblioteca (ambos com o N.º 13)
foram encerrados.
Calçada
de São Francisco ainda sem os famosos elétricos “28”
O
óxido de ferro começou então, qual sarampelo, a atacar a coluna e a ponte do
elevador, e, já quando o mal
alastrava em demasia, a Câmara resolveu desmontá-las. Da primeira destas
tentativas já fizemos referência no Diário de Notícias, de 14 de Outubro
de 1937, ao relatar o convite feito pelo construtor José Maria Simões Júnior ao
técnico montador António Silvério Vieira para dirigir a desmontagem. Era tarde
demais. A avançada velhice já lhe tinha feito estragos tão grandes que a
empresa era-lhe impossível. A Câmara Municipal pôs então o ascensor em praça em
Dezembro de 1926, e a união de Sucatas, Lda, ou mais popularmente, o Nobre
das Sucatas, rematara-o por cinco mil escudos, desmontagem de sua conta e
com isenção de licenças camarárias. Na Imprensa, porém, houve quem se
insurgisse contra o desaparecimento do elevador, pelo que a arrematação foi
invalidada. Passados tempos, contudo, aa Câmara tornou a pô-lo em hasta pública
e, como ninguém aparecesse para licitar, o ascensor foi a leilão pela terceira
vez, tendo sido novamente arrematado pela União de Sucatas, Lda, mas, então, só
por 1.209$00, ficando, todavia, pertença da C.M. L. a cadeira e o maquinismo.
Ainda
não há muito vimos num dos armazéns do Nobre a lápida de bronze, com o
brasão da cidade, que esteve afixada à entrada do elevador, desde que o antigo
proprietário o doara à Câmara:
Um
belo dia, porém, entrou na União das Sucatas um ferrador de Bucelas – o Artur
Felisberto – que viu no ferro todos os requisitos para o poder transformar em
ferraduras. Associou à compra um ferreiro da localidade, Manuel Maurício, hoje
já falecido, e o velho ascensor da Biblioteca desceu então – desceu pela última
vez – desceu ingloriamente à categoria de ferraduras das alimárias que
calcorreiam os povoados dos vales pingues dos rios Trancão e Arranhó *.
* O rio Trancão nasce em Póvoa da
Galega e entra no Tejo perto de Sacavém, e o Arranhó... devia ter existido
entre Arruda dos Vinhos, Bucelas e Arranhó!
Vale
a pena, a quem se interessar, ver o blog de onde se tiraram as seguintes informações complementares (http://historiaschistoria.blogspot.com.br);
Da autoria de Raoul
Mesnier este elevador vertical, foi inaugurado em 12 de Janeiro de 1897, fazia
a ligação do Largo de São Julião ao Largo da Biblioteca Pública. Também chamado
popularmente de elevador de São Julião ou da Biblioteca, a sua estrutura viria
a ser utilizada mais tarde para o elevador do Carmo. Constituído por duas
torres verticais, nas quais funcionavam duas cabines coordenadas entre si que
subiam na vertical, vencendo um desnível de 30 metros, funcionando por contrapeso
de água. Cada cabine tinha capacidade para 25
pessoas e ascensorista a bordo para o comandar. Até ao primeiro pavimento, do
qual saía um viaduto à altura de 20 metros sobre a Calçada de São Francisco até
à propriedade do visconde de Coruche, terminando no Largo da Biblioteca.
Pertencendo à então fundada Empresa
do Elevador do Município à Biblioteca. Este elevador foi fabricado por
operários portugueses e a sua armação foi conduzida por António Silvério. No
seu todo o elevador erguia-se a uma altura de 40 metros. Foi edificado num
pátio no Largo de São Julião, no prédio do senhor José Street. O acesso ao
pátio fazia-se por um corredor de 3 metros de largura por 22 metros de
comprimento. O pátio tinha a forma de trapézio, nele assentavam fortes vigas de
ferro pelas quais se moviam as cabines do elevador. A construção do elevador
Município – Biblioteca, foi financiada pelo Dr. João Maria Ayres de Campos. O
público entrava pelo n.º 13, do Largo de São Julião, que atualmente é o Restaurante
Solar Pombalino, e saía também no n.º 13 do Largo da Biblioteca (atual Largo da
Academia Nacional de Belas-Artes), sendo necessário percorrer um passadiço
metálico sobre a Calçada de São Francisco. Este elevador ficou ligado à
intentona de 28 de Janeiro de 1908, conhecida como "Golpe do Elevador da
Biblioteca", em que conspiravam carbonários, republicanos e dissidentes
progressistas. Foram presos António José de Almeida, Afonso Costa, Álvaro Poppe
e mais suspeitos, num total de noventa e três conspiradores. Em meados de 1908
os preços deste elevador eram de 20 réis para subidas e descidas, incluindo o
transporte de bicicletas. O elevador de São Julião encerrou em 1915, sendo
substituído pelo carro elétrico da Rua da Conceição – Calçada de São Francisco
ao Camões.
Entrava-se pelo Largo de São
Julião, hoje Prado Município, atravessava por cima a Calçada de São Francisco e
tinha uma passarela para o Largo da Biblioteca, hoje Largo da Academia Nacional
das Belas Artes.
27
set. 15
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