segunda-feira, 28 de setembro de 2015



Um elevador transformado em ferraduras



Da Revista OLISIPO de Outubro - 1943
O Diário Ilustrado, jornal da velha Lisboa, datado de 10 de Abril de 1896, entre muitas notícias, como uma “de um tal sr. Décio que dizia: “só os cretinos podem afrontar o génio poético do se, Guerra Junqueiro”, também relata largamente o lançamento da ponte do ascensor da Biblioteca, que teve lugar dois dias antes, obra da extinta Empresa Industrial Portuguesa dirigida então pelos eng. Baerleim, Lacombe e Rolim Júnior, na qual trabalhou Raul Mesnier de Ponsard e Stuart Mac-Nair, que é hoje missionário evangélico no Brasil, e onde também exerceram enorme acti­vidade três homens ainda de grande nomeada no círculo metalúrgico nacional: Lambert Dargent e os já falecidos Manuel Cardoso e Silvério Vieira que mais tarde uniram os esforços na firma Cardoso, Dargent & Cia., de que são atualmente sucessores José Marques Cardoso, Tomás de Azevedo e Silva, eng. Martinho, João Matos e Manuel Hipólito, sob a firma L. Dargent, Ltda.
A ponte do elevador, que há poucos anos ainda cruzava a Calçada de S. Francisco, tinha dezesseis metros e foi corrida, desde o jardim do Visconde de Coruche até à coluna do ascensor. «O hábil assentador, sr. António Silvério Vieira, - dizia o Diário Illustrado - com os seus operários a postos, podendo transmitir do cimo da torre, por meio de porta-voz, para os guinchos, as suas ordens, colocou à boca do porta-voz, ao cimo das torres, para maior confiança, o mestre Joaquim Silvério Ferreira, seu irmão, duplamente irmão pelo sangue e pelo merecimento”. Estava-se então em 8 de Abril de 1896.
O objectivo do Dr. Aires de Campos, animador da iniciativa e seu financiador, não teve o êxito de ordem material que se esperava. O elevador sempre deu pouco. Em 1915 foi doado à Câmara, que poucos anos decorridos, acabou com a exploração. Os portões do Largo de S. Julião e do da Biblioteca (ambos com o N.º 13) foram encerrados.


Calçada de São Francisco ainda sem os famosos elétricos “28

O óxido de ferro começou então, qual sarampelo, a atacar a coluna e a ponte do elevador, e, já quando o mal alastrava em demasia, a Câmara resolveu desmon­tá-las. Da primeira destas tentativas já fizemos referência no Diário de Notícias, de 14 de Outubro de 1937, ao relatar o convite feito pelo construtor José Maria Simões Júnior ao técnico montador António Silvério Vieira para dirigir a desmon­tagem. Era tarde demais. A avançada velhice já lhe tinha feito estragos tão grandes que a empresa era-lhe impossível. A Câmara Municipal pôs então o ascensor em praça em Dezembro de 1926, e a união de Sucatas, Lda, ou mais popularmente, o Nobre das Sucatas, rematara-o por cinco mil escudos, desmontagem de sua conta e com isenção de licenças camarárias. Na Imprensa, porém, houve quem se insurgisse contra o desaparecimento do elevador, pelo que a arrematação foi invalidada. Passados tempos, contudo, aa Câmara tornou a pô-lo em hasta pública e, como ninguém aparecesse para licitar, o ascensor foi a leilão pela terceira vez, tendo sido novamente arrematado pela União de Sucatas, Lda, mas, então, só por 1.209$00, ficando, todavia, pertença da C.M. L. a cadeira e o maquinismo.
Ainda não há muito vimos num dos armazéns do Nobre a lápida de bronze, com o brasão da cidade, que esteve afixada à entrada do elevador, desde que o antigo proprietário o doara à Câmara:



Um belo dia, porém, entrou na União das Sucatas um ferrador de Bucelas – o Artur Felisberto – que viu no ferro todos os requisitos para o poder transformar em ferraduras. Associou à compra um ferreiro da localidade, Manuel Maurício, hoje já falecido, e o velho ascensor da Biblioteca desceu então – desceu pela última vez – desceu ingloriamente à categoria de ferraduras das alimárias que calcorreiam os povoados dos vales pingues dos rios Trancão e Arranhó *.
* O rio Trancão nasce em Póvoa da Galega e entra no Tejo perto de Sacavém, e o Arranhó... devia ter existido entre Arruda dos Vinhos, Bucelas e Arranhó!

Vale a pena, a quem se interessar, ver o blog de onde se tiraram as seguintes informações complementares (http://historiaschistoria.blogspot.com.br);

Da autoria de Raoul Mesnier este elevador vertical, foi inaugurado em 12 de Janeiro de 1897, fazia a ligação do Largo de São Julião ao Largo da Biblioteca Pública. Também chamado popularmente de elevador de São Julião ou da Biblioteca, a sua estrutura viria a ser utilizada mais tarde para o elevador do Carmo. Constituído por duas torres verticais, nas quais funcionavam duas cabines coordenadas entre si que subiam na vertical, vencendo um desnível de 30 metros, funcionando por contrapeso de água. Cada cabine tinha capacidade para 25 pessoas e ascensorista a bordo para o comandar. Até ao primeiro pavimento, do qual saía um viaduto à altura de 20 metros sobre a Calçada de São Francisco até à propriedade do visconde de Coruche, terminando no Largo da Biblioteca. Pertencendo à então fundada Empresa do Elevador do Município à Biblioteca. Este elevador foi fabricado por operários portugueses e a sua armação foi conduzida por António Silvério. No seu todo o elevador erguia-se a uma altura de 40 metros. Foi edificado num pátio no Largo de São Julião, no prédio do senhor José Street. O acesso ao pátio fazia-se por um corredor de 3 metros de largura por 22 metros de comprimento. O pátio tinha a forma de trapézio, nele assentavam fortes vigas de ferro pelas quais se moviam as cabines do elevador. A construção do elevador Município – Biblioteca, foi financiada pelo Dr. João Maria Ayres de Campos. O público entrava pelo n.º 13, do Largo de São Julião, que atualmente é o Restaurante Solar Pombalino, e saía também no n.º 13 do Largo da Biblioteca (atual Largo da Academia Nacional de Belas-Artes), sendo necessário percorrer um passadiço metálico sobre a Calçada de São Francisco. Este elevador ficou ligado à intentona de 28 de Janeiro de 1908, conhecida como "Golpe do Elevador da Biblioteca", em que conspiravam carbonários, republicanos e dissidentes progressistas. Foram presos António José de Almeida, Afonso Costa, Álvaro Poppe e mais suspeitos, num total de noventa e três conspiradores. Em meados de 1908 os preços deste elevador eram de 20 réis para subidas e descidas, incluindo o transporte de bicicletas. O elevador de São Julião encerrou em 1915, sendo substituído pelo carro elétrico da Rua da Conceição – Calçada de São Francisco ao Camões.
Entrava-se pelo Largo de São Julião, hoje Prado Município, atravessava por cima a Calçada de São Francisco e tinha uma passarela para o Largo da Biblioteca, hoje Largo da Academia Nacional das Belas Artes.

27 set. 15


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