Do Brasil por
Francisco G. de Amorim
Não há
mais o que dizer sobre o Papa Francisco. Desde o primeiro momento ele arrasta
multidões e ainda ninguém o viu que não estivesse a sorrir ou mesmo a rir às
gargalhadas. Nada nele é falso. Tudo é a verdade e a simplicidade. Lindo.
Os
jovens que vieram ao Rio receberam-no com a mesma alegria contagiante, linda de
se ver, mais ainda nesta época quando todo o mundo atravessa genocídios de guerra,
de fome, de ostentação e de total desprezo pelo Outro.
O Papa
falou de tudo isso, mas o que mais marcou a todos foi o seu sorriso
extraordinário, a sua simplicidade, a sua humildade, e a grande mensagem: “Ide,
abraçai o Outro, falai-lhe de Jesus e da sua bondade e simplicidade.”
Mais de
três milhões de pessoas se juntaram em Copacabana para o ver e ouvir. Um
espetáculo para jamais esquecer. E via-se nas suas caras como estavam a receber
a bela mensagem.
Talvez
tenha começado agora a nascer o futuro do Brasil, porque não tarda estes
jovens, que são a esperança, comecem a aplicar esta doutrina, simples, de
verdade.
É
evidente que as chamadas “altas autoridades” não ouvem nada disto. Não são
surdos. São bandidos.
Mas
não percamos esta vigorosa esperança que o Para soube incutir nos espírito de
quem o quis ouvir.
Paralelamente
vêm as desgraças costumeiras e contumazes! A arrogância e inépcia das tais “altas
autoridades”.
Basta
ler estes dois pequenos artigos para chorar de tristeza, e, infelizmente nos
lembrarmos de De Gaulle!
Algazarra do Bem
Por Zuenir Ventura (O Globo,
27/07/2013)
Além dos
milagres já anunciados - fazer os brasileiros se apaixonarem por um argentino
e, mais, um argentino humilde, alguém conhece outro? - o Papa Francisco está
promovendo um espetáculo ao qual nem as nossas mais famosas festas pagãs, o carnaval
e o futebol, nem o réveillon, que é meio profano, meio religioso, se equiparam
em fervor e alegria natural (sem o estímulo etílico). Levar 500 mil pessoas às
areias encharcadas de Copacabana num dia e, no seguinte, o dobro disso para assistirem
a demoradas cerimónias religiosas debaixo de uma chuva cortante e sob um frio desconhecido,
que parece ter sido trazido na mochila dos peregrinos noruegueses é um feito
inédito. Ele atribuiu à força da fé essas multidões molhadas para vê-lo,
ouvi-lo e, quando possível, tocá-lo. De fato, tirar as pessoas de casa ou dos
alojamentos para enfrentar um trânsito caótico que não poupou nem o Sumo
Pontífice na chegada, suportar pane do metro e falta de ônibus, entrar em filas
intermináveis para obter senhas, acordar de madrugada, aguentar enfim estoicamente
a indesculpável desorganização
de um evento
previsto há meses, só mesmo por milagre. Bote fé nisso!
"Sempre ouvi dizer que os cariocas não gostam do
frio e da chuva, mas vocês estão mostrando que a fé é mais forte que o frio e a
chuva”;
ele discursou ontem na comunidade de Manguinhos.
Por modéstia,
não acrescentou que, tanto quanto a fé, há o seu carisma e incrível capacidade
de mobilizar as massas, empolgá-las e seduzi-las com palavras e gestos, graça e
humor. E a resistência física? Enquanto o acompanhava pela TV a Missa da
Acolhida em Copacabana, que demorou até a noite, tive que levantar para ir ao
banheiro umas duas vezes, e ele lá, após um dia exaustivo, ouvindo e falando,
falando e ouvindo durante horas, sem tomar um copo d'água e, pior, sem poder
dizer: "Um instantinho que vou lá dentro e volto já." Representante
de Deus na Terra, ele com certeza não está submetido às necessidades terrenas
de reles pecadores como eu.
Outro destaque.
Nesse espetáculo em que Francisco é o protagonista, há um ator ao mesmo
tempo personagem
e plateia: os peregrinos daqui e de fora. Temia-se que essa invasão de forasteiros
da Jornada Mundial da Juventude tumultuasse o Rio, o que levou muita gente a
sair da cidade.
Eu mesmo pensei em fazer isso.
Pois esses
jovens barulhentos e vibrantes, cantando e pulando pelas ruas, em vez de
tumulto,
promoveram uma pacífica
algazarra do bem.
ENSINANDO A REZAR
A presidente Dilma
Rousseff tenta pegar carona com a visita do papa ao mostrar o governo petista
como protagonista de uma cruzada global contra a miséria
Daniel Pereira (Revista VEJA)
O ex-presidente Lula já quis dar lições
aos Estados Unidos sobre o funcionamento do capitalismo.
A presidente Dilma Rousseff, em
visita à Alemanha, também usou um tom professoral para tutorar a
primeira-ministra Angela Merkel
sobre como tirar a Europa da crise económica.
Em bom português, esses acessos
de empáfia vazia que beiram a insanidade são chamados de tentativas de "ensinar o pai-nosso ao
vigário". Por pouco, mas só por pouco mesmo, o papa Francisco
se livrou de voltar para o
Vaticano com uma lista de lições de casa passadas por sua anfitriã no Brasil.
Dilma não ensinou o papa a rezar, mas não escapou do ridículo ao propor a
Francisco, como se ele fosse um reles diretor de ONG, uma parceria em que o
papel dele seria espalhar pelo mundo as "experiências brasileiras de
combate à miséria". O santo padre, pelo menos, conseguiu disfarçar seu
constrangimento. Logo ele, um jesuíta, ordem lendária por espalhar pelos quatro
cantos do mundo os ensinamentos de Cristo, convocado para pregar o petismo
eleitoreiro. Ainda bem para o Brasil que ninguém lembrou que o petista José
Graziano, diretor-geral da FAO, órgão das Nações Unidas para assuntos de
alimentação, já espalha essas "experiências brasileiras" mundo afora -
a última foi aconselhar os miseráveis famintos a comer gafanhoto, formiga e outros
insetos. É uma vergonha para
Brasil. E para a FAO, que, nos
anos 60, quando privada das geniais ideias petistas, teve de se contentar em,
com a ajuda do agrónomo americano Norman Borlaug, fazer a "revolução
verde", que
salvou a vida de l bilhão de
famintos.
Mas o que é isso em comparação
com um bom prato de alta gastronomia insetívora preparado pelo chef Graziano, não
é mesmo?
28/07/2013