sábado, 1 de junho de 2013

 



 

Volta e meia encontro-me a pensar o que é a Fé! Já tenho escrito diversas vezes sobre este assunto sem nunca chegar a qualquer conclusão.
Como muitos bilhões de outros habitantes deste novo planeta, fui criado dentro de princípios éticos e numa religiosidade que, aceite desde a mais tenra idade, só nos começa a perturbar quando a razão questiona alguns posicionamentos e alguns princípios secundários que nos foram ensinados.
Muita gente, mesmo que tenha recebido ensino religioso, um dia, não encontrando respostas que satisfaçam os seus raciocínios, acabam por, mais ou menos confortavelmente, se declararem ateus.
Ateu não existe. É um eufemismo. Declarar-se ateu é procurar igualar-se ao Ser Supremo que criou e rege tudo o que conhecemos e desconhemos. È ser-se pretencioso, arrogante, querendo, como Adão, provar da árvore da sabedoria, e saber tudo!
Não adianta querer argumentar com teorias científicas, Bing Bang, etc., porque antes de tudo isso existia já quem o proporcionasse.
Descartes dizia que “a idéia de um Ser soberanamente perfeito e infinito é muito verdadeira”.
Mas a Bíblia que terá começado a ser escrita talvez 1500 anos antes de Cristo, mostra-nos Abraão como pai dos crentes, quando hoje se sabe que, se existiu, como Isaac et Jacob, nem monoteístas eram, mas como os primeiros homens sentiam a certeza de forças maiores e incontroláveis que lhes eram superiores, e por isso tinham que lhes fazer oferendas.
Hoje as religiões monoteístas concordam que há um só Deus, unico, quer Lhe chamem Adonai (יהוה), de Adon, o Senhor, Kyrios, Javé, Alá ou simplesmente Deus, God, Dieu, ou como no antigo hebreu e aramaico, simplesmente El, “O”.
Os judeus portugueses chamaram-Lhe Dio, e não Dio-s, para que não houvesse interpretações erróneas com a pluralidade de mais que um só Deus.
Guerrearam-se bestialmente os seguidores de um credo contra os de outro, cometeram-se as maiores barbaridades em nome do Senhor, camuflando interesses terrenos, e hoje assistimos a um espetáculo inesperado, a tremenda guerra, igualmente brutal, entre as diversas seitas do Islão.
E assim todos os que se dizem crentes de qualquer religião, e forem auto-suficientes para “garantirem” que a sua Fé é a única, a certa, e o “seu” Deus o único, passam boa parte da vida a pôr em causa, mesmo que só intimamente, alguns princípios que os homens escreveram, e que insistem em querer que se transformem em leis imutáveis.
No judaísmo a interpretação da Bíblia passou para o Talmud, e através do mundo há entre sábios rabinos divergências. No cristianismo, desde o I século depois de Cristo, os fiéis começaram a afastar-se uns dos outros, por interpretações individuais daqueles que se arrogavam o direito de “melhor”  compreenderem e aplicarem a palavra de Cristo. E nos vinte séculos que já se passaram criaram-se centenas ou talvez milhares de seitas. Quase todas por arrogância e ganância de alguns que se quizeram “apoderar da verdade”. No Islão, a mesma coisa, e se nos primeiros séculos se expandiu de forma extraordinária, mas com serenidade, a partir de certa altura houve uns “espertos” que resolveram dar à “sharia” uma interpretação terrorista. Jamais Maomé teve intenção de espalhar o Islão com o terror. “Sharia” é um combate, mas um combate de amor. Tal como São Paulo o disse:
“Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Agora me está reservado o prémio que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia.” Evangelizou 17 cidades, com a paz.
Qualquer um de nós, quando nos aproximamos do fim, e que “lutámos” a vida toda para criar a família, por vezes engolindo o que não queríamos para não abandonar a ética e a dignidade, combatemos as agruras da vida durante muitas décadas, a maioria das vezes sem descanso, vivemos a nossa “sharia”, mas reconhecendo no Outro a imagem do tal Deus que pode ser visto de diversas formas, mas que é o mesmo para todos.
Ninguém que se conheça jamais viu Abraão, Jacob ou Isaac, os que rodearam Cristo, escreveram os Evangelhos, mas nenhum de nós estava lá para ver e poder garantir a veracidade da Mensagem, aqueles que conheceram Maomé também jamais puderam garantir a verdade do Alcorão, porque foi escrito por uma só pessoa, sem testemunhos. E no entanto milhões ou bilhões de crentes por esse mundo fora acreditam ou querem sinceramente acreditar no que lhes ensinam. Porque o príncipio das tres religiões acaba por se basear na compreensão do “outro”.
Têm Fé.
Mas Fé implica Amor, mesmo que se mantenha a dificuldade de acreditar em tudo.
Fé tem que ser um ato de Amor ao próximo. Se não for isso pode chamar-se qualquer outra coisa, como associação, ou até ONG como disse o Papa Francisco.
Até um dos Apóstolos, Tomé, duvidou do aparecimento de Cristo.
É difícil cada um perceber como está a sua Fé. É verdade.
Mas há uma forma simples de medir a força dessa Fé: a dúvida.
Só a dúvida nos pode dar a certeza da Fé. Porque nos mostramos humildes, porque queremos aceitar os bons ensinamentos e o Amor ao próximo, mesmo que no fundo subsista qualquer dúvida sobre os escritos chamados sagrados.
Continuar, sempre, a duvidar, porque a certeza só a Deus pertence.
Mas jamais deixar de olhar nos olhos dos Outros, da mesma ou de outra religião, sobretudo aos dos mais pobre e sofredores.
 

01/06/2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário