FÉ
Volta
e meia encontro-me a pensar o que é a Fé! Já tenho escrito diversas vezes sobre
este assunto sem nunca chegar a qualquer conclusão.
Como
muitos bilhões de outros habitantes deste novo planeta, fui criado dentro de
princípios éticos e numa religiosidade que, aceite desde a mais tenra idade, só
nos começa a perturbar quando a razão questiona alguns posicionamentos e alguns
princípios secundários que nos foram ensinados.
Muita
gente, mesmo que tenha recebido ensino religioso, um dia, não encontrando
respostas que satisfaçam os seus raciocínios, acabam por, mais ou menos
confortavelmente, se declararem ateus.
Ateu
não existe. É um eufemismo. Declarar-se ateu é procurar igualar-se ao Ser
Supremo que criou e rege tudo o que conhecemos e desconhemos. È ser-se
pretencioso, arrogante, querendo, como Adão, provar da árvore da sabedoria, e
saber tudo!
Não
adianta querer argumentar com teorias científicas, Bing Bang, etc., porque
antes de tudo isso existia já quem o proporcionasse.
Descartes
dizia que “a idéia de um Ser soberanamente perfeito e infinito é muito
verdadeira”.
Mas
a Bíblia que terá começado a ser escrita talvez 1500 anos antes de Cristo,
mostra-nos Abraão como pai dos crentes, quando hoje se sabe que, se existiu, como Isaac et Jacob, nem monoteístas eram, mas como os primeiros homens sentiam a certeza
de forças maiores e incontroláveis que lhes eram superiores, e por isso tinham
que lhes fazer oferendas.
Hoje
as religiões monoteístas concordam que há um só Deus, unico, quer Lhe chamem Adonai (יהוה), de Adon, o
Senhor, Kyrios, Javé, Alá ou simplesmente Deus,
God, Dieu, ou como no antigo hebreu e aramaico, simplesmente El, “O”.
Os judeus portugueses chamaram-Lhe Dio, e não Dio-s, para que não houvesse interpretações erróneas com a
pluralidade de mais que um só Deus.
Guerrearam-se bestialmente os seguidores de um credo
contra os de outro, cometeram-se as maiores barbaridades em nome do Senhor,
camuflando interesses terrenos, e hoje assistimos a um espetáculo inesperado, a
tremenda guerra, igualmente brutal, entre as diversas seitas do Islão.
E assim todos os que se dizem crentes de qualquer
religião, e forem auto-suficientes para “garantirem” que a sua Fé é a única, a
certa, e o “seu” Deus o único, passam boa parte da vida a pôr em causa, mesmo
que só intimamente, alguns princípios que os homens escreveram, e que insistem
em querer que se transformem em leis imutáveis.
No judaísmo a interpretação da Bíblia passou para o
Talmud, e através do mundo há entre sábios rabinos divergências. No
cristianismo, desde o I século depois de Cristo, os fiéis começaram a
afastar-se uns dos outros, por interpretações individuais daqueles que se
arrogavam o direito de “melhor”
compreenderem e aplicarem a palavra de Cristo. E nos vinte séculos que
já se passaram criaram-se centenas ou talvez milhares de seitas. Quase todas
por arrogância e ganância de alguns que se quizeram “apoderar da verdade”. No
Islão, a mesma coisa, e se nos primeiros séculos se expandiu de forma
extraordinária, mas com serenidade, a partir de certa altura houve uns
“espertos” que resolveram dar à “sharia” uma interpretação terrorista. Jamais
Maomé teve intenção de espalhar o Islão com o terror. “Sharia” é um combate,
mas um combate de amor. Tal como São Paulo o disse:
“Combati
o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Agora me está reservado o prémio
que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia.” Evangelizou 17 cidades, com a
paz.
Qualquer
um de nós, quando nos aproximamos do fim, e que “lutámos” a vida toda para
criar a família, por vezes engolindo o que não queríamos para não abandonar a
ética e a dignidade, combatemos as agruras da vida durante muitas décadas, a
maioria das vezes sem descanso, vivemos a nossa “sharia”, mas reconhecendo no
Outro a imagem do tal Deus que pode ser visto de diversas formas, mas que é o
mesmo para todos.
Ninguém
que se conheça jamais viu Abraão, Jacob ou Isaac, os que rodearam Cristo,
escreveram os Evangelhos, mas nenhum de nós estava lá para ver e poder garantir
a veracidade da Mensagem, aqueles que conheceram Maomé também jamais puderam
garantir a verdade do Alcorão, porque foi escrito por uma só pessoa, sem
testemunhos. E no entanto milhões ou bilhões de crentes por esse mundo fora
acreditam ou querem sinceramente acreditar no que lhes ensinam. Porque o
príncipio das tres religiões acaba por se basear na compreensão do “outro”.
Têm
Fé.
Mas Fé
implica Amor, mesmo que se mantenha a dificuldade de acreditar em tudo.
Fé tem
que ser um ato de Amor ao próximo. Se não for isso pode chamar-se qualquer
outra coisa, como associação, ou até ONG como disse o Papa Francisco.
Até um
dos Apóstolos, Tomé, duvidou do aparecimento de Cristo.
É
difícil cada um perceber como está a sua Fé. É verdade.
Mas há
uma forma simples de medir a força dessa Fé: a dúvida.
Só a
dúvida nos pode dar a certeza da Fé. Porque nos mostramos humildes, porque
queremos aceitar os bons ensinamentos e o Amor ao próximo, mesmo que no fundo
subsista qualquer dúvida sobre os escritos chamados sagrados.
Continuar,
sempre, a duvidar, porque a certeza só a Deus pertence.
Mas
jamais deixar de olhar nos olhos dos Outros, da mesma ou de outra religião, sobretudo
aos dos mais pobre e sofredores.
01/06/2013
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