segunda-feira, 1 de abril de 2013





Estão a comer os “Filhos da Puta”


Gerou-se agora, por todo o lado a psicose de que o povo andava a comer “gato por lebre”! Surgiu em França essa bronca, quando descobriram que a maioria das lasagnas e outros produtos prontos, congelados, embalados, que indicavam levar como ingrediente carne bovina, afinal essa carne era uma mistureba de animais, sobretudo de cavalo, mas que levaria também cabra e ovelha. Enfim uma vigarice.
Não que as carnes desses outros animais não seja comestível, e até saborosa, mas informar uma coisa e vender outra é coisa de fi... da... coisa.
Na África do Sul, onde quase não existe controle nos matadouros, desvendou-se agora (?!) que a carne enlatada, especificada como bovina, tinha uma mistura muito maior, de acordo com o que o dono do abatedouro ia comprando: elefante, búfalo, gazela, zebra, burro, porco, cavalo, e, pasmem, carne bovina também.
Desde há muitos anos o Brasil é exportador de carne de cavalo (só em 2012 de carne de equídeos que inclui cavalo, jumento e mula foram 2.375,9 toneladas), e nunca ninguém se queixou.
Não há dúvida que se o cão é o melhor amigo do homem, o cavalo não lhe fica muito atrás, e o jumento, o mais humilde, o mais trabalhador, e o que menos recebe de benefícios, são animais que, para a grande maioria das pessoas repugna saber que aquele que tanto nos ajudou, termina em hamburguers, lasagnas ou almôndegas!
Na China vão mais longe: comem cães e gatos, além daquela imensidão de insectos que nos parecem repugnáveis, mas que acabam por ser o melhor e mais barato alimento, riquissimo em proteínas.
Já lá dizia Lavoisier que “na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”! E assim há animais carnívoros, herbívoros, insectivoros, frugívoros, detritívoros (aqueles que se nutrem ingerindo partes mortas de outros seres, como urubus, hienas e determinados moluscos) e ainda há os antropofagos, e os onívoros. Tudo é uma questão de fome e oportunidade, senão vejamos:
O porco é um onívoro: o que lhe derem ele traça, como os cães, gatos e ratos. Algumas espécies de macacos, basicamente herbívoros ou frugívoros, quando se aproxima a época do acasalamento traçam os animais que puderem!
E o homem? Ah! Esse então nem se fala: come caranguejos que se alimentam de mééé..., come gato por lebre (quantas vezes?), cães, holotúrias, porcos, galinhas (que adoram comer baratas quando lhes passam ao alcance), jacaré (que tem consistência e sabe a frango sem tempêro!), elefante, capim transformado em salada, e como se tem visto, cavalo, mula, jumentinho, etc. Até ninhos de andorinhas! E se estiver mesmo a morrer de fome, ao lado de um companheiro que se tenha finado... também serve.
Mas o que haveria o homem de fazer quando um cavalo está velho e não pode mais trabalhar? Abrir uma cova imensa, chamar o bispo para benzer, e chorar de saudade? Aproveitar a carne possível e alimentar a família ou vender para o negociante mais próximo?
O que faria você que está a ler isto? Comia o cavalo ou enterrava, para o que seria necessária uma grande cova?
Parece que a carne de cavalo é mais clara que a bovina, mas esta também depende do que se alimenta, e há raças que dão carne mais escura do que outras. E os cavalos de corrida, que durante a sua vida foram submetidos a grandes esforços, o seu corpo obrigado a melhor irrigar toda a musculação, têm uma carne bem rosada.
E eu fico pensando no grande “Filho da Puta”, aquele cavalo inglês que ficou célebre por ter ganho nove grande prêmios, imortalizado em tela pelo pintor John Frederick Herring (1795-1865) por volta de 1820. A bem da verdade o que imortalizou o cavalo foi o seu nome, hoje famoso, e tão famoso que o quadro valerá hoje à roda de £ 1.000.000! Só pelo nome!


(Há pelo menos três versões sobre a origem desse nome. A que parece mais plausível dá conta que o embaixador português na Inglaterra*, à época, era apaixonado por turfe e também por uma viúva que ele comia nas horas extras.(E era somente embaixador, porque se fosse como o rei de Espanha, Juan Carlos, que parece ter tido no seu cardápio mais de 1.500 mulheres que ele comeu. Esfomeado o tal castelhano!) Pois bem, algum tempo antes da pintura do quadro, o embaixador arrematou num leilão de potros uma potranca a qual batizou de “Mrs. Barnett”, o nome da sua viúva. Mrs. Barnett (a égua), cumpriu campanha discreta nas pistas inglesas, sofreu uma lesão e não pôde mais correr. O intrépido português, então, deu-a de presente a um seu amigo da corte, que era também criador de cavalos. Passaram-se mais de 12 meses e neste período a viúva aplicou uma chifrada no pobre embaixador, mandando-se com um oficial da armada, bem mais jovem. O embaixador, claro, não gostou da traição, mas recolheu sua dor.
Num fim de semana, ele foi convidado pela amigo criador para uma visita ao haras, visto que "Mrs. Barnett" estava para parir. Efetivamente, “Mrs. Barnett”, a égua, pariu um lindo potro e o embaixador foi levado a examiná-lo. Era de fato um belo espécime. Como homenagem ao amigo, o Lorde inglês pediu que ele batizasse o potro com um nome típico de Portugal. O Embaixador, ainda engasgado com a perda de sua ex-amada, lascou-lhe o primeiro nome que lhe veio à mente ao ver o potrinho de pé: filho de Mrs. Barnett, só podia se chamar Filho da Puta. E foi assim que o ganhador do St. Leger de 1815 passou para a posteridade. Não por ter sido um grande cavalo. Até que foi muito bom, mas sua pintura ganhou centenas de milhares de reproduções e hoje enfeita paredes em todos os países de língua latina. A gravura de Filho da Puta, em função de seu nome bizarro, transformou-se no maior best seller do turfe mundial.)

Como é evidente um bom cavalo deixa sempre descendentes. Por isso os franceses e, quem sabe os ingleses, estão a comer os “Filhos da Puta”.

* (O embaixador era Dom Domingos de Sousa Coutinho, o 1º Conde de Funchal, solteiro, que morreu em Londres em 1833).

01/04/2013



Nenhum comentário:

Postar um comentário