Estão a comer os “Filhos da Puta”
Gerou-se
agora, por todo o lado a psicose de que o povo andava a comer “gato por lebre”!
Surgiu em França essa bronca, quando descobriram que a maioria das lasagnas e
outros produtos prontos, congelados, embalados, que indicavam levar como
ingrediente carne bovina, afinal essa carne era uma mistureba de animais,
sobretudo de cavalo, mas que levaria também cabra e ovelha. Enfim uma vigarice.
Não
que as carnes desses outros animais não seja comestível, e até saborosa, mas
informar uma coisa e vender outra é coisa de fi... da... coisa.
Na
África do Sul, onde quase não existe controle nos matadouros, desvendou-se
agora (?!) que a carne enlatada, especificada como bovina, tinha uma mistura
muito maior, de acordo com o que o dono do abatedouro ia comprando: elefante,
búfalo, gazela, zebra, burro, porco, cavalo, e, pasmem, carne bovina também.
Desde
há muitos anos o Brasil é exportador de carne de cavalo (só em 2012 de carne de
equídeos que inclui cavalo, jumento e mula foram 2.375,9 toneladas), e nunca
ninguém se queixou.
Não há dúvida que se o cão é o melhor amigo do homem, o cavalo
não lhe fica muito atrás, e o jumento, o mais humilde, o mais trabalhador, e o
que menos recebe de benefícios, são animais que, para a grande maioria das
pessoas repugna saber que aquele que tanto nos ajudou, termina em hamburguers,
lasagnas ou almôndegas!
Na China vão mais longe: comem cães e gatos, além daquela
imensidão de insectos que nos parecem repugnáveis, mas que acabam por ser o
melhor e mais barato alimento, riquissimo em proteínas.
Já lá dizia Lavoisier que “na natureza nada se perde, nada se
cria, tudo se transforma”! E assim há animais carnívoros, herbívoros,
insectivoros, frugívoros, detritívoros (aqueles que se nutrem ingerindo partes
mortas de outros seres, como urubus, hienas e determinados moluscos) e ainda há
os antropofagos, e os onívoros. Tudo é uma questão de fome e oportunidade,
senão vejamos:
O porco é um onívoro: o que
lhe derem ele traça, como os cães, gatos e ratos. Algumas espécies de macacos,
basicamente herbívoros ou frugívoros, quando se aproxima a época do
acasalamento traçam os animais que puderem!
E o homem? Ah! Esse
então nem se fala: come caranguejos que se alimentam de mééé..., come gato por
lebre (quantas vezes?), cães, holotúrias, porcos, galinhas (que adoram comer
baratas quando lhes passam ao alcance), jacaré (que tem consistência e sabe a
frango sem tempêro!), elefante, capim transformado em salada, e como se tem
visto, cavalo, mula, jumentinho, etc. Até ninhos de andorinhas! E se estiver
mesmo a morrer de fome, ao lado de um companheiro que se tenha finado... também
serve.
Mas o que haveria o
homem de fazer quando um cavalo está velho e não pode mais trabalhar? Abrir uma
cova imensa, chamar o bispo para benzer, e chorar de saudade? Aproveitar a
carne possível e alimentar a família ou vender para o negociante mais próximo?
O que faria você
que está a ler isto? Comia o cavalo ou enterrava, para o que seria necessária
uma grande cova?
Parece que a carne
de cavalo é mais clara que a bovina, mas esta também depende do que se alimenta,
e há raças que dão carne mais escura do que outras. E os cavalos de corrida,
que durante a sua vida foram submetidos a grandes esforços, o seu corpo obrigado
a melhor irrigar toda a musculação, têm uma carne bem rosada.
E eu fico pensando
no grande “Filho da Puta”, aquele cavalo inglês que ficou célebre por ter ganho
nove grande prêmios, imortalizado em tela pelo pintor John Frederick Herring
(1795-1865) por volta de 1820. A bem da verdade o que imortalizou o cavalo foi
o seu nome, hoje famoso, e tão famoso que o quadro valerá hoje à roda de £
1.000.000! Só pelo nome!
(Há pelo menos três versões sobre
a origem desse nome. A que parece mais plausível dá conta que o embaixador
português na Inglaterra*, à época, era apaixonado por turfe e também por uma
viúva que ele comia nas horas extras.(E
era somente embaixador, porque se fosse como o rei de Espanha, Juan Carlos, que
parece ter tido no seu cardápio mais de 1.500 mulheres que ele comeu. Esfomeado
o tal castelhano!) Pois bem, algum tempo
antes da pintura do quadro, o embaixador arrematou num leilão de potros uma
potranca a qual batizou de “Mrs. Barnett”, o nome da sua viúva. Mrs. Barnett (a
égua), cumpriu campanha discreta nas pistas inglesas, sofreu uma lesão e não pôde
mais correr. O intrépido português, então, deu-a de presente a um seu amigo da
corte, que era também criador de cavalos. Passaram-se mais de 12 meses e neste
período a viúva aplicou uma chifrada no pobre embaixador, mandando-se com um
oficial da armada, bem mais jovem. O embaixador, claro, não gostou da traição,
mas recolheu sua dor.
Num fim de semana, ele foi
convidado pela amigo criador para uma visita ao haras, visto que "Mrs.
Barnett" estava para parir. Efetivamente, “Mrs. Barnett”, a égua, pariu um
lindo potro e o embaixador foi levado a examiná-lo. Era de fato um belo
espécime. Como homenagem ao amigo, o Lorde inglês pediu que ele
batizasse o potro com um nome típico de Portugal. O Embaixador, ainda engasgado
com a perda de sua ex-amada, lascou-lhe o primeiro nome que lhe veio à mente ao
ver o potrinho de pé: filho de Mrs. Barnett, só podia se chamar Filho da Puta.
E foi assim que o ganhador do St. Leger de 1815 passou para a posteridade. Não
por ter sido um grande cavalo. Até que foi muito bom, mas sua pintura ganhou
centenas de milhares de reproduções e hoje enfeita paredes em todos os países
de língua latina. A gravura de Filho da Puta, em função de seu nome bizarro,
transformou-se no maior best seller do turfe mundial.)
Como
é evidente um bom cavalo deixa sempre descendentes. Por isso os franceses e,
quem sabe os ingleses, estão a comer os “Filhos da Puta”.
*
(O embaixador era Dom Domingos de Sousa Coutinho, o 1º Conde de Funchal,
solteiro, que morreu em Londres em 1833).
01/04/2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário