O
REINO DE BENGUELA
PROVISÃO DADA POR D. FELIPE II, DATADA DE 14
DE FEVEREIRO DE 1615, MANDANDO SEPARAR O REINO DE BENGUELA DO GOVERNO DE
ANGOLA, FORMANDO ASSIM UM NOVO GOVERNO
Eu
El-Rei faço Saber aos que esta Provisão virem, que sendo eu informado quanto
convém ao serviço de Deus e meu, pôr-se em ordem a conquista das Provincias do
Reino, que chamam de Bengula, que corre com a costa de Angola, assim pela
salvação das almas dos id´latras, que as habitão, entre os quais desejo muito
que se prante a Fé Catholíca, conforme a minha particular obrigação, como por
os proveitos que dos fructos d'aquellas terras podem resultar á minha Fazenda,
e ás de meus vassalos desta Coroa, que tanto tem trabalhado no descobrimento
delas:
E vendo como seria mui dificultoso efeituar-se
e sustentar-se esta conquista, não estando separado do Governo de Angola, por o
que a experiência tem mostrado do pouco que poderão cobrar nela os que o
tiverão a seu cargo, a respeito do muito que sempre tiverão que fazer no
comercio e quietação dos sovas mais visinhos a Loanda:
E considerando, por todos estes respeitos, e
outros muitos, de muita importância, que me são mui presentes, em que também o é
dever de prevenir aos rebeldes e piratas herejes, que poderão introduzir nas
gentes sem luz das ditas Províncias a preversidade da sua deita, não tendo ela
quem lhe ensine a verdade da Religião Cristã, quanto importa que, sem nenhuma dilação, e com todo o calor
se assista a negócio de tanta qualidade e tão digno da grandeza da minha Corôa,
e do animo com que eu queria que sempre se acudisse a semelhantes empresas:
De meu
poder Real e absoluto, me praz, e hei por bem, de separar, como de feito separo
por esta presente Provisão, a Capitahia, Conquista e Governo das Provincias do
dito Reino de Benguela, e de todas as mais terras que jazem até ao Cabo da Bôa
Esperança, do de Angola, de cujo distrito até agora eram, na forma em que o
Senhor Rei Dom Henrique, meu Thio, que haja Glória, separou do Governo de S.
Thomé o dito Reino de Angola - e por ela as erijo e ao dito Reino, em novo
Governo, para que de hoje em diante tenham separada jurisdição e Governador,
que conquiste, e sustente em paz, quietação e justiça, aos povoadores, assim
destas partes que áquelas forem viver, como aos naturaes delas – a qual e assim
aos mais Ministros necessários, para viverem em forma, política e ordenadamente,
conforme as Minhas Leis, lhes mandei nomear, por minhas Patentes, das
qualidades que convém, para se poder delas fiar a erecção e conservação do dito
Governo.
E mando ao Governador de Angola, que ora é, e
ao depois fôr, que em nenhumas das cousas tocantes á jurisdição do dito Governo
do Reino de Benguela, e mais terras nesta declaradas, não vão, nem usem da que
até agora tiverão nele, desde o dia do traslado desta minha Provisão autentica
se lhe presentar diante: porque assim é minha mercê.
A qual se registará nos Livros da Contadoria
e Camara de Loanda, e nas mais daquela Conquista, onde pertencer, e neste Reino
nos de minha Fazenda e Chancelaria e nos demais meus Tribunais, para que venha
à notícia de todos a erecção deste Governo – e originalmente se entregará na
Torre do Tombo, para nela se conservar e saber em todo o tempo os fundamentos
que tive na dita erecção – para o que tudo valerá como carta começada em meu
nome, por mim assinada, e passada por minha Chacelaria, posto que para seu
efeito haja de durar mais um ano, sem embargo das Ordenações que o contrário
dispoem.
Pedro Varela a fez, em Lisboa, a 14 de
Fevereiro de 1615. Christovão Soares a fez escrever. –
Rei.
(Também publicada na Colleção Chronologica da Legislação
Portugueza, de José Justina de Andrade e Silva, 2° tomo, anos de 1615 a 1619)
Nota.- Não durou muito este “Reino”. As fabulosas
riquezas de cobre em Sumbe-Ambela – um pouco a sul de Benguela – com que Manuel
Cerveira Pereira sonhava, e levou o rei a separar os dois “reinos, revelou-se
um total fracasso. A seguir à sua morte ficou como governador Lopo Soares
Lasso, que em 1633, numa tentativa de dar guerra ao soba Ngola Njimbu, de
Caconda, que tinha mandado avisar o governador que não havia razão para este lhe
fazer guerra, que ele, soba, não queria; mas Lopo Lasso foi penetrando nas suas
terras e sofreu uma derrota total. Salvou-se um único homem, angolano, que
levou a triste nova ao governador de Angola.
A pequena guarnição que ficou em Benguela,
morria de fome. Nem comida, nem armas para se defenderem.
Durou pouco este “promissor” reino. O cobre
apareceu, séculos depois, mas não em Sumbe-Ambela!
Mas, um dia, quando ali cheguei, em Agosto de
1954, Benguela era um lugar único no mundo. Como já tantas vezes tenho dito, e
não canso, era a única cidade do mundo onde não havia brancos, nem pretos nem
mulatos! Só gente. E gente boa, alegre, acolhedora.
E lá vinham as brisas da Praia Morena... etc.
Saudades que não passam!
08/03/2013
Sim, saudades que não passam... Sílvia
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