Natal! Uma trilogia de meditações
Muçulmanos
"Ele é Deus e não há
outro deus senão Ele, que conhece o invisível e o visível. Ele é o Clemente, o
Misericordioso!
Que Deus seja louvado acima dos que os homens lhe associam!
Alcorão,
sura 59.
No princípio Deus criou o céu e
terra... e o Espírito de Deus movia-se sobre as águas.
Ele é o Senhor dos exércitos. Adonai (meu Amo, meu Senhor)
Gênesis, Samuel e Livro dos
Reis.
Hebreus e árabes, todos são oriundos
da mesma grande família semita, que sempre habitou o “retângulo” que vai de
Alexandretta (hoje Iskenderun na Turquia) à entrada do Suez, até Aden, corre a
costa de Hadramaut, margina os golfos de Omã e Pérsico, segue pelas planícies
do Tigre e do Eufrates e termina nos contrafortes do planalto arménio.
Todas as línguas daquela
região têm também uma origem comum: aramaica, hebraica, arábica, assíria,
babilónica, fenícia e siríaca.
O árabe vivendo há milénios
naquele retângulo árido, com raros lugares chamados oásis, não tinha, nem tem
lugares onde se possa isolar, a não ser mesmo no meio do deserto. E isso desde sempre
este foi a opção dos que queriam meditar, para depois voltarem como novos
profetas.
Na sua história, segundo T. E.
Lawrence, conseguem-se encontrar mais de quatorze mil profetas, daí talvez
Mohamed ser considerado pelo Alcorão como o único profeta!
Ele vive entre areia e um
céu límpido cheio de miríades de estrelas. Um mundo onde não parece haver
fronteiras e onde as discussões filosóficas, tão caras aos ocidentais, não lhes
dizem nada.
Sobre a areia escaldante
durante o dia e o frio de um céu maravilhoso durante a noite, a base comum de
todos os credos semitas, vencedores ou perdedores, é a idéia sempre presente da
inutilidade do mundo.
Deus era para ele não um ser
antropomórfico, nem tangível, nem moral, nem ético, nem preocupado com o mundo
ou com ele, não natural, mas sendo o “ovo”
– o princípio - de toda a atividade, com
a natureza e a matéria apenas como um vidro que O reflete.
O beduino não pode olhar
para Deus; mas tem a certeza de fazer parte desse Deus.
Na Arábia, que envolvia todo
o citado território, não havia, nem há, montanhas cobertas de florestas, lindos
riachos margeados por flores, ou quedas de água para um glorioso e refrescante
banho. Nada dessas idílicas paisagens faziam ou fazem parte do seu duro viver.
Não tinham com que distrair
o seu pensamento e imaginação; viviam concentrados na vida da mesma árida
rotina, e sua falta de espírito público fez com que suas excelentes qualidades
particulares se tornassem fúteis.
Até ao surgimento do Profeta
Mohamed que consegue estabelecer as leis religiosas, quase todas baseadas no
Antigo e Novo Testamentos, mas adaptadas ao pensamento e à simplicidade do povo
árabe.
Nada de grandes discussões,
o que assim mesmo não impediu que rapidamente surgissem profundas divergências
no seio daqueles que dizem seguir o Islão.
Os kharijitas, ortodoxos radicais; os matajalitas, também
chamados livres-pensadores; e os murjitas, uma seita que pregava a peregrinação.
Mas a divisão principal é dos xiitas e dos sunitas, sendo que as suas
divergências prendem-se principalmente com questões cerimoniais, detalhes com a
legislação e de datas de festas religiosas. Os xiitas predominam no Irã e no
Iémen, enquanto que o resto do mundo é sunita, com os radicais salafitas. Os
alauitas, diferentes entre Síria e Marrocos, os alevitas, e ainda outra seita
importante, a dos sufistas, místicos que produziram várias ordens de dervixes.(
Dervixe refere-se a sufista que está às portas da iluminação).
E a Jihad, no começo
entendida como combate espiritual aos vizinhos para os fazerem cumprir a
vontade de Deus expressa no Corão, à medida que os muçulmanos foram tendo mais
inimigos, o sentido de jihad atingiu até a loucura dos dias de hoje. Por
exemplo, a luta de Mahatma Gandhi, o satyagraha,
pela independência da Índia é chamada uma jihad no árabe padrão moderno; a
terminologia é aplicada também para a luta em prol da liberação das mulheres.
Hoje a jihad tem a cara da
Al Qaeda, supostamente criada para lutar contra a influência americana, mas
hoje exportada com uma violência doentia para o Sudão, Iemen e Mali, entre
outros, e para a Europa e Estados Unidos.
No fundo a separação em
diversas seitas, a partir do ensinamento original, quer no Islão, no judaismo
ou no cristianismo tem sempre a mesma fonte, o mesmo objetivo: o poder. Só o
poder.
Não, os muçulmanos não festejam o Natal, mas um considerável
número deles, leva para casa árvores que enfeita, junta a família, e alguns
aproveitam para dar presentes.
Não festejam o nascimento do
Deus Menino, mas desta maneira consideram o Natal simbolicamente como o nascimento de Jesus, filho de Maria, o maior
profeta do Islão (descontando Mohamed), comemorado no dia 6 de Janeiro de cada
ano, tido como dia dos Reis Magos no ocidente. De qualquer forma a festa é bonita,
permite reunir a família, e seria desagradável ficar de fora.
Até porque mesmo alguns
raros muçulmanos que trabalham em empresas com larguissima maioria de cristãos,
não deixa de participar na festa com os colegas.
Pena é que não o façam os
tais fundamentalistas, os que teimam e lutam e matam para impor a sharia, a
burka, e que fomentam o ódio contra o ocidente. Podiam, nem que fosse numa
pequena trégua, considerar qualquer pessoa como um ser humano, seu irmão.
Essa trégua poderia ser no
Natal.
Salam aleikum!
Dez/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário