segunda-feira, 10 de dezembro de 2012



Natal! Uma trilogia de meditações

Muçulmanos


"Ele é Deus e não há outro deus senão Ele, que conhece o invisível e o visível. Ele é o Clemente, o Misericordioso!
Que Deus seja louvado acima dos que os homens lhe associam!
Alcorão, sura 59.
No princípio Deus criou o céu e terra... e o Espírito de Deus movia-se sobre as águas.
Ele é o  Senhor dos exércitos. Adonai (meu Amo, meu Senhor)
Gênesis, Samuel e Livro dos Reis.

Hebreus e árabes, todos são oriundos da mesma grande família semita, que sempre habitou o “retângulo” que vai de Alexandretta (hoje Iskenderun na Turquia) à entrada do Suez, até Aden, corre a costa de Hadramaut, margina os golfos de Omã e Pérsico, segue pelas planícies do Tigre e do Eufrates e termina nos contrafortes do planalto arménio.
Todas as línguas daquela região têm também uma origem comum: aramaica, hebraica, arábica, assíria, babilónica, fenícia e siríaca.
O árabe vivendo há milénios naquele retângulo árido, com raros lugares chamados oásis, não tinha, nem tem lugares onde se possa isolar, a não ser mesmo no meio do deserto. E isso desde sempre este foi a opção dos que queriam meditar, para depois voltarem como novos profetas.
Na sua história, segundo T. E. Lawrence, conseguem-se encontrar mais de quatorze mil profetas, daí talvez Mohamed ser considerado pelo Alcorão como o único profeta!
Ele vive entre areia e um céu límpido cheio de miríades de estrelas. Um mundo onde não parece haver fronteiras e onde as discussões filosóficas, tão caras aos ocidentais, não lhes dizem nada.
Sobre a areia escaldante durante o dia e o frio de um céu maravilhoso durante a noite, a base comum de todos os credos semitas, vencedores ou perdedores, é a idéia sempre presente da inutilidade do mundo.
Deus era para ele não um ser antropomórfico, nem tangível, nem moral, nem ético, nem preocupado com o mundo ou com ele, não natural, mas sendo o  “ovo” – o princípio -  de toda a atividade, com a natureza e a matéria apenas como um vidro que O reflete.
O beduino não pode olhar para Deus; mas tem a certeza de fazer parte desse Deus.
Na Arábia, que envolvia todo o citado território, não havia, nem há, montanhas cobertas de florestas, lindos riachos margeados por flores, ou quedas de água para um glorioso e refrescante banho. Nada dessas idílicas paisagens faziam ou fazem parte do seu duro viver.
Não tinham com que distrair o seu pensamento e imaginação; viviam concentrados na vida da mesma árida rotina, e sua falta de espírito público fez com que suas excelentes qualidades particulares se tornassem fúteis.
Até ao surgimento do Profeta Mohamed que consegue estabelecer as leis religiosas, quase todas baseadas no Antigo e Novo Testamentos, mas adaptadas ao pensamento e à simplicidade do povo árabe.
Nada de grandes discussões, o que assim mesmo não impediu que rapidamente surgissem profundas divergências no seio daqueles que dizem seguir o Islão.
Os kharijitas, ortodoxos radicais; os matajalitas, também chamados livres-pensadores; e os murjitas, uma seita que pregava a peregrinação. Mas a divisão principal é dos xiitas e dos sunitas, sendo que as suas divergências prendem-se principalmente com questões cerimoniais, detalhes com a legislação e de datas de festas religiosas. Os xiitas predominam no Irã e no Iémen, enquanto que o resto do mundo é sunita, com os radicais salafitas. Os alauitas, diferentes entre Síria e Marrocos, os alevitas, e ainda outra seita importante, a dos sufistas, místicos que produziram várias ordens de dervixes.( Dervixe refere-se a sufista que está às portas da iluminação).
E a Jihad, no começo entendida como combate espiritual aos vizinhos para os fazerem cumprir a vontade de Deus expressa no Corão, à medida que os muçulmanos foram tendo mais inimigos, o sentido de jihad atingiu até a loucura dos dias de hoje. Por exemplo, a luta de Mahatma Gandhi, o satyagraha, pela independência da Índia é chamada uma jihad no árabe padrão moderno; a terminologia é aplicada também para a luta em prol da liberação das mulheres.
Hoje a jihad tem a cara da Al Qaeda, supostamente criada para lutar contra a influência americana, mas hoje exportada com uma violência doentia para o Sudão, Iemen e Mali, entre outros, e para a Europa e Estados Unidos.
No fundo a separação em diversas seitas, a partir do ensinamento original, quer no Islão, no judaismo ou no cristianismo tem sempre a mesma fonte, o mesmo objetivo: o poder. Só o poder.
Não, os muçulmanos não festejam o Natal, mas um considerável número deles, leva para casa árvores que enfeita, junta a família, e alguns aproveitam para dar presentes.
Não festejam o nascimento do Deus Menino, mas desta maneira consideram o  Natal simbolicamente como o nascimento de Jesus, filho de Maria, o maior profeta do Islão (descontando Mohamed), comemorado no dia 6 de Janeiro de cada ano, tido como dia dos Reis Magos no ocidente. De qualquer forma a festa é bonita, permite reunir a família, e seria desagradável ficar de fora.
Até porque mesmo alguns raros muçulmanos que trabalham em empresas com larguissima maioria de cristãos, não deixa de participar na festa com os colegas.
Pena é que não o façam os tais fundamentalistas, os que teimam e lutam e matam para impor a sharia, a burka, e que fomentam o ódio contra o ocidente. Podiam, nem que fosse numa pequena trégua, considerar qualquer pessoa como um ser humano, seu irmão.
Essa trégua poderia ser no Natal.

Salam aleikum!

Dez/2012

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