A Falta de Heróis
A vida e a obra de Salazar estão ainda obscurecidas pela chamada revolução dos cravos que ajudou a levar o país à esmoler situação em que se encontra.
E como revolução não se faz sem um bode expiatório, há que se inventar um “inimigo público”! Calhou a sorte a Salazar.
Salazar ainda está no limbo, porque “parece mal” enaltecer a sua obra, mesmo quando a televisão portuguesa fez uma consulta sobre os homens mais importantes do país, e... Salazar fica em primeiro lugar!
O homem pode ter tido muitos defeitos. Quem não tem? E até eu mesmo me indignei aquando da farsa que foi a fantasiosa e mentirosa eleição com Humberto Delgado como candidato, pior ainda quando vi desaparecerem alguns amigos, para saber que estavam atrás das grades só por serem do “contra”.
Mas nem tudo eram defeitos naquele homem, e uma das suas grandes virtudes foi ter defendido com mão de ferro – que aliás usava para tudo – o culto da história do seu país e dos seus heróis. Povo sem história é povo sem futuro.
E o famigerado vintecincobarraquatro veio destruir esse sentimento, esse orgulho nacional. Quis até pedir desculpa aos indianos pela rigidez com que Afonso de Albuquerque, um homem inigualável em administração e comportamento, tratara alguns naturais daquelas paragens, certamente os nossos inimigos muçulmanos, normalmente assaltantes, ladrões, etc. Usou a lei local, cortando mãos, em vez da lei portuguesa, já nessa altura benigna.
A juventude de hoje, e mesmo aqueles que estudaram dos anos 75 em diante, conhecerão esses nossos heróis, mesmo que alguns pertençam mais ao campo da lenda, como a D. Brites de Almeida e o mestre Afonso Domingues? Que foram exemplos de valentia e dignidade?
Egas Moniz que preferiu entregar-se, com sua família, a ver a sua palavra desonrada? Gonçalo Mendes que morreu a combater durante a conquista de Beja, com mais de oitenta anos, depois de com a sua espada abrir a cabeça do mouro inimigo?
Nuno Álvares Pereira, o condestável sóbrio e imbatível, a irrepreensível conduta do Infante D. Pedro, a valentia e abnegação de D. Duarte de Almeida, alferes mor de D. Duarte, que com ambas as mãos cortadas ainda segurou a bandeira com os dentes, o alcaide do castelo de Faria, Nuno Gonçalves, que preferiu morrer a vender-se ao inimigo, e tantos outros que nos ensinaram o que era a honra e a dignidade. Exemplos destes homens, e de muito outros como mais tarde Honório Pereira Barreto um guineense que foi Governador Geral da Guiné, e que batalhou mais pela sua terra do que os desinteressados ministros da Metrópole, não faltam.
Lembro ainda os marinheiros, de todos os tempos e mais recentemente, como já escrevi, aqueles que dominaram Tripoli, e os que derrotaram e acabaram com os revoltosos dos mares da China, Paiva Couceiro, a sua dignidade e valentia, o maior governante de Angola até aos dias de hoje, sim, de hoje, D. Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho, e também no Brasil como o mulato João Fernandes Vieira, o brasileiro André Vidal de Negreiros, o índio Francisco Camarão e o filho de escravos Henrique Dias, Salvador Correa de Sá, e uma infinidade de outros que, estando na nossa memória, nos envergonharia de os trair!
Que exemplos nos dão hoje para formarmos a mente dos nossos jovens? Os “heróis” do 25/4 que chafurdaram no poder, assassinaram ( como o Otelo, que depois de apoiar a ditadura passou a apoiar o comunismo), espatifaram a economia, ou mesmo os de agora, nos mais altos cargos, com os destinos do país nas mãos a encherem-se de dinheiro e regalias e a destruir os oitocentos e cinquenta anos de história?
Não há um líder a seguir, um exemplo a incentivar-nos. Não aparece um político e/ou governante com coragem, desassombro, ético, que arrume a casa. Parece que esta espécie se extinguiu!
Tudo hoje está no “io te do uma cosa a te, tu me dai uma cosa a me”! A troca de favores, o “empurra com a barriga”, e o povo a afundar.
Parece que só irá reagir quando estiver mesmo lá no fundo do poço.
Nessa altura talvez apareça Dom Sebastião, ou, para sermos mais modestos, o Zé do Telhado!
Se exemplos que vierem de cima forem como os das últimas décadas, a tendência é ir cada vez mais para baixo.
Faltam os heróis da ética, da valentia, do amor à pátria, da integridade.
Para terminar, excerto da carta que Mousinho de Albuquerque escreveu ao Príncipe Dom Luis Filipe:
"[...] ninguém como o Rei tem de se esquecer de si para pensar em todos, […] ninguém como ele tem que levar a abnegação ao maior extremo, ninguém como ele precisa de ser soldado na acepção mais lata e sublime desta palavra. […] o Rei é uma sentinela permanente que não tem folga. Enquanto vive tem o Rei de conservar os olhos sempre bem abertos, vendo tudo, olhando por todos. Nele reside o amparo dos desprotegidos, o descanso dos velhos, a esperança dos novos; dele fiam os ricos a sua fazenda, os pobres o seu pão e todos nós a honra do país em que nascemos, que é a honra de todos nós! Para semelhante posto só pode ir quem tenha alma de soldado!”
Nota: quem quiser ler a carta toda pode encontrar em:
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