sábado, 1 de maio de 2010


A IGNORÂNCIA (OU

 A GANÂNCIA?) É A

 FONTE DE TODOS OS

MALES



Há pouco mais de quatro anos escrevi uma crônica com este título. Nada mudou do que ali está, mas sempre há algo a acrescentar.
Não é de agora que se sente a Europa a agonizar. Está velha, gasta, e não consegue lutar contra a juventude e dinâmica de uma China, Coréia, Índia, nem com o Brasil apesar da sua altíssima corrupção, inépcia, sovietice disfarçada e de ter os juros mais altos do mundo.
Neste estado de saúde decrépito do Velho Mundo (?) acabamos de ver a Grécia entrar para uma UTI hospitalar, máscara de oxigênio, e todo o equipamento de manutenção da vida vegetativa que tanto se utiliza em doentes terminais, Portugal já hospitalizado, na fila para entrar também nos Tratamentos Intensivos, a Espanha na enfermaria, a Irlanda com “marca-passo” porque o coração esta a falhar, a Ucrânia, a Itália mais o imoral bilionário Berlusconi, e... o que mais audiante se verá!
Mas porque será que estes países não se agüentaram assim que entraram para a zona do Euro?
Resposta: indigestão de dinheiro “fácil”, muita ladroagem, incapacidade e aumento desmedido da máquina administrativa, salários e compensações astronômicas para os compadres e comadres, e tudo mais que um empresário normal não faria.
Então se um empresário não o faria, porque fazem os administradores públicos? Simples: porque não arriscam “o deles”, mas “o nosso”!
Pouco tempo faz que a estes países chegava um monte de dinheiro para promover o seu desenvolvimento, para os colocar ao nível do chamado primeiro mundo europeu: Alemanha, Inglaterra, etc.
Gastou-se que foi uma beleza. Portugal encheu o país de estradas, que se encheram de carros de luxo, fez a Expo, que custou uma fábula, e esqueceu-se de um só e simples detalhe: aquela mamata tinha prazo para acabar. E os governantes “esqueceram-se” que a “mamãe” Europa já tinha fechado a torneira da esmola.
E continuou a gastar-se. E continuou a gastar-se. Até que um dia a conta chegou, e dinheiro para a pagar... não há. Ignorância... ou ganância? Traição ao país, com certeza.
Sacrificam-se os aposentados, os menores, que os cima sobrenadam como a cortiça até em tsunamis.
Agora mais do que nunca vem à memória os tempos austeros, e por isso ditatoriais de Salazar. Vale ouvir a opinião de quem viveu, por dentro, essa época e os problemas que Portugal, pequenino, atravessou:

“Quinta-feira, 22 de Abril de 2010

MEMÓRIAS DE UM "PORTUGAL" QUE ERA RESPEITADO

Corria o ano da graça de 1962. A Embaixada de Portugal em Washington recebe pela mala diplomática um cheque de 3 milhões de dólares (em termos actuais algo parecido com € 50 milhões) com instruções para o encaminhar ao State Department para pagamento da primeira tranche do empréstimo feito pelos EUA a Portugal, ao abrigo do Plano Marshall.
O embaixador incumbiu-me – ao tempo era eu primeiro secretário da Embaixada – dessa missão.
Aberto o expediente, estabeleci contacto telefónico com a desk portuguesa, pedi para ser recebido e, solicitado, disse ao que ia. O colega americano ficou algo perturbado e, contra o costume, pediu tempo para responder. Recebeu-me nessa tarde, no final do expediente. Disse-me que certamente havia um mal entendido da parte do governo português. Nada havia ficado estabelecido quanto ao pagamento do empréstimo e não seria aquele o momento adequado para criar precedentes ou estabelecer doutrina na matéria. Aconselhou a devolver o cheque a Lisboa, sugerindo que o mesmo fosse depositado numa conta a abrir para o efeito num Banco português, até que algo fosse decidido sobre o destino a dar a tal dinheiro. De qualquer maneira, o dinheiro ficaria em Portugal. Não estava previsto o seu regresso aos EUA.
Transmiti imediatamente esta posição a Lisboa, pensando que a notícia seria bem recebida, sobretudo numa altura em que o Tesouro Português estava a braços com os custos da guerra em África. Pensei mal. A resposta veio imediata e chispava lume. Não posso garantir, a esta distância, a exactidão dos termos mas era algo do tipo: "Pague já e exija recibo". Voltei à desk e comuniquei a posição de Lisboa.
Lançada estava a confusão no Foggy Bottom: - Não havia precedentes, nunca ninguém tinha pago empréstimos do Plano Marshall; muitos consideravam que empréstimo, no caso, era mera descrição; nem o State Department, nem qualquer outro órgão federal, estava autorizado a receber verbas provenientes de amortizações deste tipo. O colega americano ainda balbuciou uma sugestão de alteração da posição de Lisboa mas fiz-lhe ver que não era alternativa a considerar. A decisão do governo português era irrevogável.
Reuniram-se então os cérebros da task force que estabelecia as práticas a seguir em casos sem precedentes e concluíram que o Secretário de Estado - ao tempo Dean Rusk - teria que pedir autorização ao Congresso para receber o pagamento português. E assim foi feito. Quando o pedido chegou ao Congresso atingiu implicitamente as mesas dos correspondentes dos meios de comunicação e fez manchete nos principais jornais. "Portugal, o país mais pequeno da Europa, faz questão de pagar o empréstimo do Plano Marshall"; "Salazar não quer ficar a dever ao tio Sam" e outros títulos do mesmo teor anunciavam aos leitores americanos que na Europa havia um país – Portugal – que respeitava os seus compromissos.
Anos mais tarde conheci o Dr. Aureliano Felismino, Director-Geral "perpétuo" da Contabilidade Pública durante o salazarismo (e autor de umas famosas circulares conhecidas, ao tempo, por "Ordenações Felismínicas" as quais produziam mais efeito do que os decretos do governo). Aproveitei para lhe perguntar por que razão fizemos tanta questão de pagar o empréstimo que mais ninguém pagou. Respondeu-me empertigado: - "Um país pequeno só tem uma maneira de se fazer respeitar – é nada dever a quem quer que seja".
Lembrei-me desta gente e destas máximas quando, há dias, vi na televisão o nosso Presidente da República a ser enxovalhado, pública e grosseiramente, pelo seu congénere checo a propósito de dívidas acumuladas.
Eu ainda me lembro de tais coisas, mas a grande maioria dos Portugueses, de hoje, nem esse consolo tem.

Estoril, 18 de Abril de 2010

Luís Soares de Oliveira”

Obrigado Embaixador Luis Soares de Oliveira por nos relembrar uma época em que se tinha orgulho de ser português.

Francisco G. de Amorim
01/05/10

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