1.- Origem do nome
Amorim
Amorim
é uma zona localizada no município de Póvoa
de Varzim, em Portugal, mas acredita-se que a família Amorim tenha surgido na
região espanhola de mesmo nome, na região da Galiza. Em Portugal, os primeiros
a terem esse sobrenome teriam sido habitantes da zona de Amorim. A teoria mais
aceita é que o nome Amorim seja de origem espanhola e que tenha chegado a
Portugal devido à história dos dois países que, diversas vezes, estiveram sob o
mesmo governo. Um dos registros ocorre durante o reinado de D. Joao I, quando o
galego Hilário de Amorim, senhor da Torre de Amorim, se fixou em Ponte de Lima.
Assim
como todas as famílias europeias antigas, a família Amorim também possui seu
brasão. Este é de cor vermelha e possui o desenho de cinco cabeças mouras
decapitadas, o que leva a conclusão de que a família Amorim esteve envolvida na
guerra de reconquista, na expulsão dos mouros da Península Ibérica.
Amorim
é uma antiga paróquia, que aparece pela primeira vez no século XI. É popular na
Póvoa de Varzim devido ao seu pão, caracteristicamente consumido a altas
temperaturas, logo após ser cozinhado - a Broa de Amorim.
Paróquia
muito antiga que se estendia até ao mar. O nome da Paróquia de Santiago de
Amorim aparece pela primeira vez em 1033. 0 Censual de Braga regista-a então
sob o titulo "De Santo Jacobi de Amorim". Note-se contudo que
Varzim era, desde a fundação do condado de Portugal, um vasto território feudal
com autonomia administrativa e militar, uma honra de cavaleiros, abarcando todo
o território desde a costa aos montes de Laundos e Terroso. Após o conflito dos
cavaleiros da Honra de Varzim com Sancho I de Portugal, boa parte do território
de Varzim é incorporado na Terra de Faria.
A
área é, contudo, habitada desde épocas pré-históricas, como evidenciam os topónimos
Leira da Antas (entre Terroso e Amorim) e Montinho, Amorim de Cima, que terão
origem na existência de mamoas ou antas pré-históricas.
2.- Mais um pouco
sobre FGA
A
pretexto de um mestrado em Estudos Portugueses e Brasileiros, Costa Carvalho,
66 anos, ensaísta e ex-director dos principais jornais diários do Porto, acaba
de publicar Aprendiz de Selvagem – O Brasil
na Vida e na Obra de Francisco Gomes de Amorim (Campo das Letras). São 747
páginas destinadas a resgatar a memória de um homem responsável por uma
torrencial produção literária com forte inspiração nos problemas da escravidão,
na emigração brasileira e no exotismo da selva amazónica.
Mas
se hoje alguém reconhece o nome deste escritor oitocentista, com quem o
romantismo português está em divida, e apenas pela quase inacessível e
monumental obra Memorias Biográficas de Almeida Garrett. Da glória do seu tempo
já pouco resta, apesar do imenso espólio revelado por Costa Carvalho e agora
disponível para outros estudos na Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim.
O que mais o surpreendeu ao descobrir a personalidade e a obra de Gomes de Amorim?
É
preciso dizer que todo este trabalho nasce graças a uma sugestão de Arnaldo
Saraiva, o meu orientador no primeiro mestrado de Estudos Portugueses e
Brasileiros, iniciado no ano lectivo de 1995/96. Na altura, eu pouco sabia
acerca de Gomes de Amorim, mas aceitei este desafio acima de tudo por se tratar
de uma figura obscura, que não me dizia nada. O que mais me surpreendeu, para
lá da sua vida de aventureiro, foi o facto de, tendo partido para o Brasil aos
10 anos, não seguir o percurso normal do emigrante que vai a procura da árvore
das patacas. Regressa nove anos depois, com uma apetência cultural que
considero única na literatura portuguesa. Quando parte, é quase analfabeto.
Quando regressa, inicia um percurso fantástico, sem nunca ter frequentado uma
escola.
Como é que foi possível essa transformação?
Há um momento decisivo, quando, em plena selva amazónica, descobre o poema Camões, de Almeida Garrett, juntamente com outros livros velhos, em casa de uma família indígena, dentro de um cesto com folhas de bananeira brava. Isto acontece em 1840, e Gomes de Amorim faz um esforç0 tremendo para ler o livro. Quando o consegue, é uma revelação,
e
passa a olhar para a Amazônia com um olhar feito de poesia. Cinco anos mais
tarde, ainda mal sabe escrever, mas dirige-se a Garrett por carta, pedindo-lhe
para ficar ao seu serviço. É uma carta horrível, cheia de erros de português. O
interessante e constatar que Garrett, apesar de não o conhecer de lado nenhum,
responde-lhe um ano depois, o que leva Gomes de Amorim a ver nessa resposta um
apelo a que regresse a Portugal. Esta e uma relação extraordinária, porque
acaba por ser esse rapaz, nascido em A-Ver-o-Mar, a acompanhar até a morte e a
fechar os olhos do grande Garrett.
Essa relação com Garrett é pelo menos invulgar e proporciona as Memórias Biográficas, que Gomes de Amorim tem o cuidado de não chamar biografia...
O
modo como tudo começa é que é fantástico. Depois da troca de correspondência,
em 7 de Julho de 1846, uma terça-feira, Gomes de Amorim apresenta-se em casa do
escritor. O criado João comunica a Garrett que está lá fora um rapaz vindo do
Brasil. Garrett recebe-o de imediato e, em 1852, a pedido de uma editora alemã,
nomeia-o seu biógrafo oficial. Porém, entre 1846 e 1849 quase não tiveram
contacto. Gomes de Amorim passa por vários ofícios, entre os quais o de
chapeleiro, e depois começa a escrever umas poesias patrióticas e republicanas.
Em Agosto de 1849, é-lhe promovido um jantar de homenagem, presidido por
Garrett. Nessa altura, restabelecem contacto, e a partir daí Gomes de Amorim é
de uma dedicação total ao escritor.
Garrett vê nele qualquer coisa de especial. Há um pormenor elucidativo: como recebia muita correspondência, Garrett, de tempo a tempos, deitava fora maços de cartas; mas guardou desde início as cartas boçais enviadas por Gomes de Amorim.
Mas essa relação não é o
objecto do seu estudo, que aponta claramente para outras latitudes. É curioso
que comece o livro com uma referência ao Evangelho Segundo Sao João, quando
escreve: «No principio era o preto.» No final diz que a «a carne fez-se verbo».
Pelo meio deixa claro que a relação com o negro, o problema da escravatura,
constitui um dos pilares da obra de Gomes de Amorim...
As palavras não têm memória, embora a memória seja feita de palavras. E as palavras de Gomes de Amorim circulam muito em torno da figura do negro. Essa foi uma luta que travou até ao fim da vida. Opôs-se a todo o gênero de escravatura e a qualquer atentado contra a vida e a existência do indivíduo que estava condenado a ser escravo no Ocidente, dito cristão e civilizado. Ao longo da sua vida, tem situações dolorosíssimas. Fica em estado de choque pelo modo como são tratados os negros no Amazonas. Talvez seja o único que, em meados do século XIX, ataca frontalmente todos os negreiros. Longe de ser apenas o biógrafo oficial de Almeida Garrett, Gomes de Amorim acaba por ser vítima dos seus dois grandes amores: o Brasil e Garrett. E vítima por
parte do Brasil porque foi votado a um completo esquecimento, ao ponto de nem sequer figurar no rol de escritores de temática amazónica; isto apesar de obras como O Cedro Vermelho, Ódio de Raça, Viagens no Interior do Brasil, Os Selvagens ou O Remorso Vivo. Quanto a Garrett, é sabido que a relação entre os dois ofuscou tudo o mais.
Quando é que Gomes de Amorim começa a escrever?
É preciso ter em consideração que ele possuía uma memória fabulosa. Ainda adolescente, já sabia de cor Os Lusíadas. Tratava-se de uma personagem que era uma autentica folha em branco. Era o verdadeiro selvagem. Antes de ser escritor, era um bom conversador. Nesse sentido, entra pela oralidade e só depois, a partir dos 30 anos, e que começa a escrever. O que espanta e como, tendo regressado do Brasil com apenas 19 anos, mantem viva a memória de tudo quanto viveu. 0 vocabulário utilizado para descrever a flora da Amazónia é de uma precisão fantástica. Lê-se aquilo e respira-se a selva brasileira, os seus mitos, as suas lendas...
Ficou por tratar um espolio muito vasto...
Sim, o que toma o estudo da sua obra muito difícil. Oscar Lopes, no Dicionário do Romantismo Português, diz que Gomes de Amorim é mais importante do que aquilo que se poderia pensar e que era importante alguém fazer um estudo que o tomasse mais legível. Este 1ivro poderá ser um contributo, mas há ainda muita coisa dispersa. Os problemas começam logo porque nunca foi um homem com dinheiro. Quando morreu, o seu espólio viajou por vários continentes. A maior parte da documentação ficou na posse do filho, que a tem disponibilizado aos investigadores. Agora foi tudo oferecido a Bib1ioteca Municipal da Póvoa de Varzim, onde passara a ser possível consultar todos os manuscritos, em que se incluem as suas memórias e as que escreveu sobre Alexandre Herculano e Latino Coelho. Há ainda poemas, correspondência, algumas dezenas de comédias inéditas, coleções de jornais, coleções de folhetins recortados dos jornais da época e infindáveis autógrafos...
Que conclusões é que tira desse espólio?
Ainda
agora, depois da publicação do livro, estão a aparecer novos documentos. Tenho
a esperança de que possam surgir mais achegas, mas no essencial o que ficará é
a imagem de Gomes de Amorim como uma figura preponderante do romantismo
português. A partir de 1858 e até a sua morte, em 1891, quase não sai de casa,
devido a um espasmo cerebral, mas continua a ser procurado anos a fio por toda
a gente, da literatura as artes plásticas. Uns vão apenas para conversar,
outros querem prestar-lhe homenagem, e um terceiro grupo vai claramente à
procura de opiniões e conselhos para o modo como devem desenvolver as suas
obras. Isto acontece com vários pintores da época, para quem era essencial
conhecer a opinião de Gomes de Amorim.
26/09/2024
Nenhum comentário:
Postar um comentário