sábado, 14 de outubro de 2023

 Recordar para não esquecer!

BANCARROTA

 Vem bem a propósito, nesta altura dos catastróficos acontecimentos financeiros, que mais deviam chamar-se “vigarices a descoberto”, relembrar um pouco da história da banca, sobretudo da bancarrota.

Lá pelos antigamentes, tal como hoje, cada rei ou príncipe ou um big chefe qualquer, quando adquiria alguma importância, uma das primeiras atitudes que tomava era a emissão de moeda. Não precisamos voltar muito no tempo porque foi exatamente o mesmo que fez Dom João VI quando desembarcou no Brasil! Aqui a moeda era de papel, mas lá... era de ouro, moedas grandes e bonitas nos reinos ricos, outras menores, ou de prata e até de cobre. Pesos e ligas diferentes conforme as regiões e a seriedade do emitente, mais vigarice ou menos vigarice do fundidor ou de quem cunhava, ao ponto de terem proporcionado a Arquimedes o célebre passeio, todo peladão, pelas ruas de Siracusa gritando “Eureka”! Tinha acabado de descobrir como saber se os trabalhos em ouro encomendados pelo rei Hieron II, tinham a conveniente liga de ouro ou se o ourives estava empalmando algo a mais!

No “dantes”, os ourives desonestos “empalmavam” um quanto do ouro que lhes passava pelas mãos, enquanto que hoje se faz o mesmo, mas com outra sutileza: troca-se o chamado dinheiro bom por dinheiro ruim, como subprimes e outras vigarices.

Com o andar dos tempos e o aumento do comércio e das viagens de negociantes por essa Europa fora, carregando cada qual um tipo de moeda diferente, houve necessidade de arranjar “especialistas” que pudessem, com rapidez, apreciar o verdadeiro valor das diferentes moedas e trocá-las pelas correntes em seu país, a fim de permitir ao negociante fazer as suas compras.

Estes especialistas tinham uma autorização especial dos governos, dos duques ou doges, para esta atividade, e pressupunha-se que seriam pessoas da mais alta confiabilidade.

Assim como Arquimedes saiu do banho, nu, a gritar que tinha descoberto um método, infalível, de verificar o conteúdo de cada liga, os genoveses “descobriram” um jeito, no mínimo curioso, de apreciar o valor de cada moeda: uma pele de gado. Isso mesmo, uma pele de gado, curtida, e esticada, onde as moedas eram deixadas cair! Pelo som, ou vibração, ou... por qualquer outro método que os tais especialistas encontraram, num instante o valor da moeda bárbara estava determinado e o câmbio feito!

Aquela pele, esticada como a pele de um tambor, era chamada de banca, banca essa onde se trocava qualquer tipo de moeda.

Enquanto o banqueiro se comportasse com a ética e seriedade que deles eram esperadas, as bancas prosperavam. Mas se o banqueiro “metesse a mão na massa” dos clientes e se visse inadimplente, um emissário do governo se encarregava de, com um punhal, rasgar a pele, acabando com a banca. Era a BANCARROTA !

O banqueiro além de, certamente algum castigo – talvez confisco de bens ou prisão – ficava proibido de voltar a ter outra banca.

Imagine-se se tais leis, simples e eficientes se aplicassem ainda nos dias de hoje... quantos punhais teriam que ser afiados!

O primeiro grande “banco” internacional que fechou, não por inadimplência ou má conduta dos negócios, mas exatamente pelo contrário, foi a Ordem dos Templários. O rei Filipe, o Belo, de França, quase falido e com a maioria das suas joias penhoradas aos Templários, obrigou o papa Clemente V a acabar com a Ordem. Depois de um julgamento vergonhoso, os responsáveis pela famosa Ordem foram queimados vivos e o rei, malandro, recuperou os seus bens sem gastar um cêntimo. Bom, gastar sempre gastou, porque teve que dar ao papa uma, certamente confortável, fatia do que roubou: ofereceu-lhe os mosteiros, igrejas terras. Para ele, o rei, bastaram as joias e ouro que estavam empenhadas.

A grande diferença dos tempos: os Templários foram violentamente assaltados, espoliados, assassinados, apesar de sempre terem sido seriíssimos nas suas transações. Hoje os bancos entram em bancarrota, unicamente por culpa dos seus dirigentes, e quem paga o pato é o povo, com a moeda falsa que os governos hoje podem emitir quanta queiram, porque se trata unicamente de papel!

E tem mais, os gestores desses bancos rotos, sempre saem rindo à toa e com os bolsos cheios!

Aproveito para lembrar o GRANDE/BIG negócio que Portugal quer fazer com um novo aeroporto, que implica em nova ponte, nova linha férrea, etc., o que para um país miserável que está hoje todo eufórico com o turismo, mas não tem dinheiro para saúde, aposentadoria.

Mesmo que se atreva a lançar essa obra, será um crime imenso.

Mas esse governo português não está cheio de criminosos, corruptos e afins?

E o povo não vai vetar tamanha calamidade?

Por aqui as coisas vão de mal a pior. O Brasil decidiu financiar um oleoduto para a Argentina, a custo de bilhões dólares. 

 27 out. 08

Fastos & Nefastos

Ormuz, séc. XVI * Portugal séc. XXI

 Tempo houve em que os portugueses se batiam por ideais, com uma valentia e determinação, quando “tão poucos valiam muitos”, que mudavam os caminhos da história e do mundo.

Seria veleidade estar a referir os nomes mais conhecidos da história. Muitos há, muitos, felizmente, que deveriam servir de exemplo, melhor, estarem ainda hoje vivos.

 Fastos

 "Irritados os Persas da severidade com que escreveo huma carta o Capitão de Ormuz D. Luiz da Gama a hum General, se resolverão a vingar com as armas a injuria que supunhão lhe resultava, e como a Cidade de Ormuz se abastecia de agua, que lhe vinha do Comorão, tratarão os Persas (já nossos inimigos) de nos impedir o conduzi-la para aquella Cidade. Executarão o seu intento, e em breves dias gemerão os nossos moradores sem o preciso alimento, molestia que offendia o brio Lusitano, pois contra a reverencia da nossa Fortaleza, e de todo o Estado, se atreverão huns barbaros a impedir-lhe a agua e a trazer a guerra aos Portuguezes, de quem recebião Leys. Tratarão pois os nossos de castigar o seu orgulho e vaidade. Foy o primeiro que os buscou o Capitão Fernão da Silva, mas não respondeu a fortuna ao seu valor, porque ao tempo em que se começou a batalha, ou por desgraça ou por descuido, prendeo o fogo no payol da polvora, e voarão navio, e Capitão salvando-se unicamente a gloria do seu nome e da valentia com que se houverão em todos os conflictos da Asia. Sentirão os nossos a perda não só pela falta de tão esforçado Capitão, mas tambem os Persas com este acaso se fizerão mais ousados, cobrindo os mares de Ormuz com 300 barcas que infestavão aos amigos do Estado. Chegou n'aquella occasião Nuno Alvares Pereira, e não querendo perder a gloria de vencer aos inimigos, não foy tardo em logo os cometter, e pelejar de modo que depois de algum tempo forão rotos e desbaratados, não escapando das 300 barcas mais do que humas poucas, que servirão para contar o lastimoso estrago que padecerão. Soubemos a grandeza da victoria não só dos inimigos, a quem destroçamos, pelejando mar, mas ainda do grande terror que mostrarão os seus Generaes e o seu Principe, o Sophi, que temendo a geral ruina das suas Costas e Cidades maritimas, escreveo huma Carta ao Visorey, em que se desculpava da guerra de que dava por Author ao Cam de Xiras. O Visorey D. Jeronymo de Azevedo recebeo a satisfacão do Persa, como que estimava não ter guerra com aquelle Monarcha, e se contentava com a gloria de o ver temeroso das armas do Estado, em tempo em que erão combatidas por tantos e tão poderosos inimigos, e devemos ao respeito de tão sinalada Victoria as atenções do mais poderoso Principe, e o commercio das mayores utilidades».

  Nefastos

 Com que tristeza se assiste hoje à passividade do povo português, prestes a naufragar, desconsiderado mundo fora, sentado no conforto d’alguma cadeira assistindo à Tv, vendo o ex-primeiro ministro, demissionário (!!!???) nomear para postos altos da governança a uma imensidão de comparsas do PS, e não se vê uma única pessoa sair à rua a reclamar contra tamanho descaramento!

Todos os dias aparecem pela Internet piadas do tal sócrates: que é ladrão, que não é engenheiro, que... isto, que... aquilo..., mas ninguém, NINGUÉM, levanta o traseiro da poltrona e vai para as ruas exigir a moralização e o restauro da dignidade dum país que já foi mundialmente respeitado.

(N.- em 2023: hoje não se chama sócrates, mas costa! As moscas são outras mas a m... é a mesma)

É sabido que acabaram impérios antigos e modernos, civilizações que se perderam no tempo e são hoje só curiosidade de arqueólogos, mas permitir, no conforto/desconforto de cada um e de todos, que o governo, aliás des-governo, arraste o país para a bancarrota, para a miséria, é uma demonstração de covardia que não se coaduna com a nossa história, com a dos nossos antepassados.

Milhares, ou milhões, não perdem um capítulo das novelas brasileiras, mas clamam contra o acordo ortográfico, como se isso denegrisse o país.

Milhares ou milhões não aceitam trabalho porque a Segurança Social lhes garante, sem incômodos, o mínimo de sobrevivência.

Milhares ou milhões que fazem falta para o desenvolvimento da agricultura, não querem mais trabalhar no campo. Entretanto há montanhas de imigrantes que se podiam aproveitar para esse fim. Mas quem toma decisões? Ninguém.

E onde está a juventude que sempre foi destemida, descomprometida e valente?

Será que ainda há jovens em Portugal ou está tudo velho, acomodado, vendo o barco afundar sem se incomodar a vestir o colete de salvação?

Sou português de nascença, africano de coração e brasileiro de adoção.

Mas ver tanto relaxamento, passividade e covardia num povo que foi destemido, dói.

Muito.


05/04/2011

 

 

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