Recordar para não esquecer!
BANCARROTA
Vem bem a propósito, nesta altura dos catastróficos acontecimentos
financeiros, que mais deviam chamar-se “vigarices a descoberto”, relembrar um
pouco da história da banca, sobretudo da bancarrota.
Lá pelos antigamentes, tal como hoje, cada rei ou príncipe ou um big
chefe qualquer, quando adquiria alguma importância, uma das primeiras atitudes
que tomava era a emissão de moeda. Não precisamos voltar muito no tempo porque
foi exatamente o mesmo que fez Dom João VI quando desembarcou no Brasil! Aqui a
moeda era de papel, mas lá... era de ouro, moedas grandes e bonitas nos reinos
ricos, outras menores, ou de prata e até de cobre. Pesos e ligas diferentes
conforme as regiões e a seriedade do emitente, mais vigarice ou menos vigarice
do fundidor ou de quem cunhava, ao ponto de terem proporcionado a Arquimedes o
célebre passeio, todo peladão, pelas ruas de Siracusa gritando “Eureka”! Tinha
acabado de descobrir como saber se os trabalhos em ouro encomendados pelo rei
Hieron II, tinham a conveniente liga de ouro ou se o ourives estava empalmando
algo a mais!
No “dantes”, os ourives desonestos “empalmavam” um quanto do ouro que
lhes passava pelas mãos, enquanto que hoje se faz o mesmo, mas com outra
sutileza: troca-se o chamado dinheiro bom por dinheiro ruim, como subprimes e
outras vigarices.
Com o andar dos tempos e o aumento do comércio e das viagens de
negociantes por essa Europa fora, carregando cada qual um tipo de moeda
diferente, houve necessidade de arranjar “especialistas” que pudessem, com
rapidez, apreciar o verdadeiro valor das diferentes moedas e trocá-las pelas
correntes em seu país, a fim de permitir ao negociante fazer as suas compras.
Estes especialistas tinham uma autorização especial dos governos, dos
duques ou doges, para esta atividade, e pressupunha-se que seriam pessoas da
mais alta confiabilidade.
Assim como Arquimedes saiu do banho, nu, a gritar que tinha descoberto
um método, infalível, de verificar o conteúdo de cada liga, os genoveses
“descobriram” um jeito, no mínimo curioso, de apreciar o valor de cada moeda:
uma pele de gado. Isso mesmo, uma pele de gado, curtida, e esticada, onde as
moedas eram deixadas cair! Pelo som, ou vibração, ou... por qualquer outro
método que os tais especialistas encontraram, num instante o valor da moeda
bárbara estava determinado e o câmbio feito!
Aquela pele, esticada como a pele de um tambor, era chamada de banca,
banca essa onde se trocava qualquer tipo de moeda.
Enquanto o banqueiro se comportasse com a ética e seriedade que deles
eram esperadas, as bancas prosperavam. Mas se o banqueiro “metesse a mão na
massa” dos clientes e se visse inadimplente, um emissário do governo se
encarregava de, com um punhal, rasgar a pele, acabando com a banca. Era a
BANCARROTA !
O banqueiro além de, certamente algum castigo – talvez confisco de bens
ou prisão – ficava proibido de voltar a ter outra banca.
Imagine-se se tais leis, simples e eficientes se aplicassem ainda nos
dias de hoje... quantos punhais teriam que ser afiados!
O primeiro grande “banco” internacional que fechou, não por
inadimplência ou má conduta dos negócios, mas exatamente pelo contrário, foi a
Ordem dos Templários. O rei Filipe, o Belo, de França, quase falido e com a
maioria das suas joias penhoradas aos Templários, obrigou o papa Clemente V a acabar
com a Ordem. Depois de um julgamento vergonhoso, os responsáveis pela famosa
Ordem foram queimados vivos e o rei, malandro, recuperou os seus bens sem
gastar um cêntimo. Bom, gastar sempre gastou, porque teve que dar ao papa uma,
certamente confortável, fatia do que roubou: ofereceu-lhe os mosteiros, igrejas
terras. Para ele, o rei, bastaram as joias e ouro que estavam empenhadas.
A grande diferença dos tempos: os Templários foram violentamente
assaltados, espoliados, assassinados, apesar de sempre terem sido seriíssimos
nas suas transações. Hoje os bancos entram em bancarrota, unicamente por culpa
dos seus dirigentes, e quem paga o pato é o povo, com a moeda falsa que os
governos hoje podem emitir quanta queiram, porque se trata unicamente de papel!
E tem mais, os gestores desses bancos rotos, sempre saem rindo à toa e
com os bolsos cheios!
Aproveito para lembrar o GRANDE/BIG negócio que Portugal quer fazer com
um novo aeroporto, que implica em nova ponte, nova linha férrea, etc., o que
para um país miserável que está hoje todo eufórico com o turismo, mas não tem
dinheiro para saúde, aposentadoria.
Mesmo que se atreva a lançar essa obra, será um crime imenso.
Mas esse governo português não está cheio de criminosos, corruptos e
afins?
E o povo não vai vetar tamanha calamidade?
Por aqui as coisas vão de mal a pior. O Brasil decidiu financiar um oleoduto
para a Argentina, a custo de bilhões dólares.
27 out. 08
Fastos & Nefastos
Ormuz, séc. XVI * Portugal séc. XXI
Tempo houve em que os portugueses se batiam por ideais, com uma valentia
e determinação, quando “tão poucos valiam muitos”, que mudavam os caminhos da
história e do mundo.
Seria veleidade estar a referir os nomes mais conhecidos da história.
Muitos há, muitos, felizmente, que deveriam servir de exemplo, melhor, estarem
ainda hoje vivos.
Fastos
"Irritados os Persas da severidade com que escreveo huma carta o
Capitão de Ormuz D. Luiz da Gama a hum General, se resolverão a vingar com as
armas a injuria que supunhão lhe resultava, e como a Cidade de Ormuz se
abastecia de agua, que lhe vinha do Comorão, tratarão os Persas (já nossos
inimigos) de nos impedir o conduzi-la para aquella Cidade. Executarão o seu
intento, e em breves dias gemerão os nossos moradores sem o preciso alimento,
molestia que offendia o brio Lusitano, pois contra a reverencia da nossa
Fortaleza, e de todo o Estado, se atreverão huns barbaros a impedir-lhe a agua
e a trazer a guerra aos Portuguezes, de quem recebião Leys. Tratarão pois os
nossos de castigar o seu orgulho e vaidade. Foy o primeiro que os buscou o
Capitão Fernão da Silva, mas não respondeu a fortuna ao seu valor, porque ao
tempo em que se começou a batalha, ou por desgraça ou por descuido, prendeo o
fogo no payol da polvora, e voarão navio, e Capitão salvando-se unicamente a
gloria do seu nome e da valentia com que se houverão em todos os conflictos da
Asia. Sentirão os nossos a perda não só pela falta de tão esforçado Capitão,
mas tambem os Persas com este acaso se fizerão mais ousados, cobrindo os mares
de Ormuz com 300 barcas que infestavão aos amigos do Estado. Chegou n'aquella
occasião Nuno Alvares Pereira, e não querendo perder a gloria de vencer aos
inimigos, não foy tardo em logo os cometter, e pelejar de modo que depois de
algum tempo forão rotos e desbaratados, não escapando das 300 barcas mais do
que humas poucas, que servirão para contar o lastimoso estrago que padecerão.
Soubemos a grandeza da victoria não só dos inimigos, a quem destroçamos,
pelejando mar, mas ainda do grande terror que mostrarão os seus Generaes e o
seu Principe, o Sophi, que temendo a geral ruina das suas Costas e Cidades
maritimas, escreveo huma Carta ao Visorey, em que se desculpava da guerra de
que dava por Author ao Cam de Xiras. O Visorey D. Jeronymo de Azevedo recebeo a
satisfacão do Persa, como que estimava não ter guerra com aquelle Monarcha, e
se contentava com a gloria de o ver temeroso das armas do Estado, em tempo em
que erão combatidas por tantos e tão poderosos inimigos, e devemos ao respeito
de tão sinalada Victoria as atenções do mais poderoso Principe, e o commercio
das mayores utilidades».
Nefastos
Com que tristeza se assiste hoje à passividade do povo português, prestes
a naufragar, desconsiderado mundo fora, sentado no conforto d’alguma cadeira
assistindo à Tv, vendo o ex-primeiro ministro, demissionário (!!!???) nomear
para postos altos da governança a uma imensidão de comparsas do PS, e não se vê
uma única pessoa sair à rua a reclamar contra tamanho descaramento!
Todos os dias aparecem pela Internet piadas do tal sócrates: que é
ladrão, que não é engenheiro, que... isto, que... aquilo..., mas ninguém,
NINGUÉM, levanta o traseiro da poltrona e vai para as ruas exigir a moralização
e o restauro da dignidade dum país que já foi mundialmente respeitado.
(N.- em 2023: hoje não se chama sócrates, mas costa! As moscas são outras
mas a m... é a mesma)
É sabido que acabaram impérios antigos e modernos, civilizações que se
perderam no tempo e são hoje só curiosidade de arqueólogos, mas permitir, no
conforto/desconforto de cada um e de todos, que o governo, aliás des-governo,
arraste o país para a bancarrota, para a miséria, é uma demonstração de
covardia que não se coaduna com a nossa história, com a dos nossos
antepassados.
Milhares, ou milhões, não perdem um capítulo das novelas brasileiras, mas
clamam contra o acordo ortográfico, como se isso denegrisse o país.
Milhares ou milhões não aceitam trabalho porque a Segurança Social lhes
garante, sem incômodos, o mínimo de sobrevivência.
Milhares ou milhões que fazem falta para o desenvolvimento da
agricultura, não querem mais trabalhar no campo. Entretanto há montanhas de
imigrantes que se podiam aproveitar para esse fim. Mas quem toma decisões?
Ninguém.
E onde está a juventude que sempre foi destemida, descomprometida e
valente?
Será que ainda há jovens em Portugal ou está tudo velho, acomodado, vendo
o barco afundar sem se incomodar a vestir o colete de salvação?
Sou português de nascença, africano de coração e brasileiro de adoção.
Mas ver tanto relaxamento, passividade e covardia num povo que foi
destemido, dói.
Muito.
05/04/2011