O Mistério da Tinta Azul
Lá
pelas bandas onde fui nascido, os indígenas daquela terra usam umas frases que,
sendo clássicas, usadas desde tempos imemoriais, que hoje nos fazem rir, e
gramaticalmente, soltas, não fazem qualquer sentido, como por exemplo o “ele há coisas...!”
Mas
a verdade é que quando menos se espera nos deparamos com situações de tal forma
insólitas que, regredindo ao berço natalício sou obrigado a exclamar, repetidas
vezes até, o tal ele há coisas...
E
há mesmo. Vou contar-vos o Mistério da Tinta Azul, a que se levantou já um
pouco do véu que encobria a razão da sua existência, sem porém, todavia, contudo
ter deixado revelar a origem de tal caso.
Começando
pelo começo ou pelo princípio, há uns dias começaram a aparecer na roupa que vestia
umas pequenas manchas de tinta azul, sem que eu tivesse mexido em tintas, nem
andasse na fase das pinturas e/ou retratos, até porque estava sobretudo na fase
de uma fraqueza que mal me podia aguentar em pé mesmo sem pinceis nem mesmo só
com as ideias pictóricas. (Felizmente essa fase passou, e já fiz alguns
riscos... pouca coisa).
O
problema era descobrir de onde vinham essas manchas.
A
minha mulher, com aquele instinto feminino que aos homens parece estar vedado,
foi dizendo que eram de tinta de caneta.
Para
quem usa, nos dias de hoje só esferográficas – o tempo das canetas tinteiro já
passou, e que ainda me lembro que as que nos eram dadas para ir para escola
eram baratas – nada de Mont Blanc, Parker ou similar - às vezes eu chegava a casa com a camisa...
azul! O depósito da tinta tinha estourado.
Discutindo
o assunto em concílio familiar, conclui-se que necessitávamos de ajuda de
especialistas para investigarem e, se, descobrirem o insólito.
E
assim se fez.
Deixei-me
de cerimónias e escrevi, não na Internet mas no Etéreo...net, primeiro, a Conan
Doyle, Sir, pedindo-lhe que explicasse o assunto ao grande Sherlock
Holmes, que ele certamente encontraria uma explicação.
Não tardou a que recebesse uma mensagem do famoso detetive
dizendo que após discutir o assunto com o seu colaborador Dr. Watson,
possivelmente encontraria qualquer resposta em alguma flor, dada a exuberância
dos trópicos, mas para confirmação eu deveria enviar-lhe uma série de flores,
que ele descreveu, para análise.
Sugeriu que eu verificasse se não seriam resíduos, pingos,
de sorvete de açaí ou da tinta de alguns calamares.
Não sr. Sherclok Holms, há anos que não como “chocos em su
tinta”, mas fico-lhe agradecido porque gosto muito do açaí gelado, que fazia
dias que não comia, e o açaí é cor quase preta. E tudo isto bem antes das
manchas de tinta terem começado a aparecer.
De qualquer modo fiquei lisonjeado pela rapidez com que os
senhores Conan Doyle, sir, e Sherlock Holmes saíram do seu eterno sossego, para
colaboram com um mísero e já gasto terráqueo, pelo que logo lhes enviei os meus
profundos agradecimentos.
Face a este insucesso restou a grande Agatha Christie, a maior vendedora de livros deste planeta,
que do mesmo modo, sem querer ficar atrás do seu admirado percursor, já Sir,
Conan Doyle, no meio dos seus imensos trabalhos – os seus livros, já venderam
mais de 4 bilhões de exemplares! – mandou dizer-me que tinha entregue o assunto
a Hercule Poirot, que pediu mais detalhes do Mistério, quando ainda chegou a
dizer que iria convocar a Miss Jane Marple para o ajudar, porque o assunto
parecia circunscrever-se a um ambiente familiar.
Miss Marple fez uma rápida análise
sobre os habitantes desta casa e não demorou a suspeitar de uma bolsa que
costumo usar pendurada no pescoço onde guardo óculos e uma caneta, que ela, com
sua perspicácia descobriu numa aquarela minha feita há mais de 20 anos!
Feita
uma inspeção à dita bolsa constatou-se que estava cheia de tinta... azul.
Oh! Mistério! Quem pôs ali a tinta? A caneta, esferográfica estava seca, não suja e a escrever, os óculos não usam tinta e estavam limpos e secos, mas quando decidi lavar a bolsa, de lá saiu uma quase infindável quantidade de tinta misturada na água da lavagem.
Mas,
Miss Marple, como foi a tinta ali parar?
Aí Miss Marple engasgou e, claramente disse que já não era assunto que pudesse
analisar e não fazia a menor ideia.
O
mesmo aqui em casa. Muitas opiniões ouvidas, todas inconsistentes não levaram a
qualquer solução.
Que
a tinta estava na bolsa, estava, mas como foi lá parar nem os grandes detetives
da história foram capazes de saber.
Lavou-se,
muito bem, a bolsa, ficou um dia pendurada ao sol, voltou a estar em uso,
pendurada no meu pescoço, mas ficou o segredo ou a incógnita, do modo como a
tinta tinha entrado na bolsa.
Realmente “ele há coisas”!
31/08/23
Francisco,
ResponderExcluirTecido e côr da tal bolsa de amuletos?
É para eu transmitir ao grande investigador Olho Vivo, de quem sou amigo, e a quem coloquei a questão.
Abraço
APM
Coisas dis diabos! Abraço. Melhor saúde.
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