Lembrando
Manuel Bandeira,
Alboácem ibne Ali Almaçudi
e até do Imperador Dom Pedro II - *
Andei anos a pensar
Ir embora pra Pasárgada.
Lá tinha no rei um amigo,
Que me dava lindas mulheres,
Até para dormir comigo.
Belo sonho acalentei.
Agora já não tem rei,
Os palácios destroçados,
Os hotéis todos fechados,
Os habitantes exilados,
Só restos amontoados.
Pensei então em Omã,
Naquela mulher linda,
Amiga da minha irmã.
Telefonei-lhe, atendeu,
Disse o nome, Sherazade!
Mostrou grande ansiedade
Em viver minha amizade.
Imaginem, Sherazade,
Tanta história para contar,
Mais de mil pra me agradar.
Diz que só conta ao deitar.
Irei sim se houver luar,
Onde eu possa respirar,
Tanto amor que há pra dar!
Logo, já estava em Omã,
Cheguei bem cedo, de manhã,
À minha espera só ela,
Linda, do sheik irmã.
Sherazade me abraçou
E logo ali me cativou.
Uma porção de criados,
Automóveis enfeitados,
Aguardavam, estacionados,
Todos muito alinhados.
Pró palácio me levou.
Lindo, bem decorado,
Muito quadro pendurado,
Com histórias do velho Estado.
Veio até antiga dama
Que fez questão de mostrar
Que o quadro mais bonito
Era o do Vasco da Gama.
Quando a questão eu lhe puz
Ela me confirmou
Que há mesmo muito tempo,
O tinham trazido de Ormuz.
Chega a noite, Sherazade,
Ela, uma beldade,
Uma ninfa, uma naiade.
Agarra na minha mão
Com muita suavidade,
Leva-me pra uma alcova
Com linda decoração,
Pressentindo de antemão
Viver longa felicidade.
Depois de me acarinhar
Logo começa a contar
Mil histórias para amar.
Deixou-me sem respirar!
Mas eu que estava a gostar,
Nem me atrevi a falar.
Fiquei com ela nos braços,
Em apertados abraços,
Até o sol nascer.
Olhei-a bem, queria ver
Se não estaria a sonhar.
Foram contos sempre lindos
Amores quase que infindos.
Nenhum se podia queixar.
Tarde já, quando acordei,
Olhei em volta, aturdido.
Estava muito confundido.
E devagar realizei
Que aquele tempo vivido
Foi só o tempo que sonhei.
*
Bandeira, fez-me sonhar;
Almaçudi, contou as histórias;
D. Pedro II traduziu do primeiro original.
06/2022
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