quinta-feira, 5 de maio de 2022

 

Dois Livros

Tão diferentes e tão interessantes


Há cerca de dois meses, estando em Portugal, foram-me oferecidos dois livros de grande qualidade, além daqueles a que já me referi, do grande jornalista/poeta/escritor e amigo Ricardo de Saavedra.

No regresso a casa vinha de tal forma cansado que levei alguns dias primeiro que baixasse a poeira da cabeça para começar… a soletrar! Finalmente recuperei e fui lendo tudo cada vez com mais interesse e mais tristeza por ver que não tardava a ficar sem esse prazer. Os bons livros terminam rápido!


Arquitetura, Política e Representação

Começo por mencionar o livro “Três Embaixadas Portuguesas”, porque se refere aos irmãos Rebelo de Andrade (Carlos e Guilherme), primos direitos do meu pai, que eu conheci muito bem (o que não admira, já estou com 90 anos!) que me foi oferecido por uma das netas do Carlos, sobrinha querida.

O autor é arquiteto, doutorado, professor da Faculdade de Arquitetura do Porto, Dr. Luis Soares Carneiro, e o livro editado por Almedina.

Não sou arquiteto e, apesar de me ter sensibilizado a oferta, fiquei na dúvida se teria folego para ler “aquilo” tudo!

Como gosto de ler qualquer livro, bom, desde a primeira página, após o Prefácio e a Introdução, não o larguei mais, e além de me ir “encontrando” com os primos, ainda lá vi o Dr. Armindo Monteiro que também conheci (fui muito amigos de dois dos seus filhos), o que deu para misturar uma brilhante descrição das arquiteturas ali descritas, como escreveu, e muito bem, com a politiquice que sempre existiu em Portugal, hoje, infelizmente mais acerbada com a força destruidora das esquerdas.

Das Três Embaixadas só conheço o “Palácio” do Rio - aqui vivo desde 1975 – onde estive em 1976/77 com o então Consul Geral e depois Embaixador e grande amigo António Pinto da França, bem mais tarde lá jantei, era já o consul com status de embaixador, António Tanger, e, há pouco mais de três anos acompanhando a nossa hóspede, Embaixatriz Sofia Pinto da França, almoçamos com o Embaixador Jaime Leitão. Sempre encantado com aquele interior grandioso.

Como bem diz, aquela casa é um palácio, imensamente admirado por todos, e a nova área da Chancelaria para os serviços burocráticos, onde tive que ir também renovar o passaporte, é notável. Muito bem arquitetada, em nada interfere com o “palácio”, com a solução de ter o teto a fornecer toda a iluminação necessária.

Na arquitetura, tenho um filho e uma nora, mais dedicados a interiores, e os velhos primos de quem me lembro muito bem, assim como dos descendentes do Guilherme, alguns quais foram muito chegados. Filhos do Guilherme e Carlos já todos descansam. Bem mais velhos do que eu.

A leitura do livro foi um prazer, penetrar nas tramas e nas vaidades de cada um, esquecendo o objetivo principal que é o serviço ao país, o que parece ser cada vez mais evidente.

Imagino a habilidade do Guilherme, espírito muito vivo e alegre (como me lembro dele) para aguentar toda a luta que teve.

Parabéns pelo livro. Muito interessante, para um público restrito, mas uma boa página da nossa história.

Prof. Luis Soares Carneiro, aceite os meus cumprimentos.

N.- Quem estiver interessado, pela Internet custa só 12,00. Em Portugal.



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Depois de tanta obra e tanta politicada, vamo-nos sentar numa daquelas poltronas Luis XV e apreciar o que há de melhor no campo da enologia. Leiam bem o que vem a seguir.

Vinho, Qualidade e Elegância

O outro livro, também oferecido por uma já célebre jornalista, escritora, dinamizadora do enoturismo e, como se na Internet, colabora frequentemente com várias publicações, é membro de júri de diversos concursos de vinho e gastronomia nacionais e internacionais, e é autora de livros, entre os quais «Memórias do Vinho» e «Guia do Enoturismo em Portugal», este último premiado o melhor do mundo nos Gourmand Awards. Foi condecorada pela Ordem Soberana dos Cavaleiros de Santo Urbano e São Vicente e é membro da prestigiada Confraria do Vinho do Porto. Em 2009, lançou o seu site www.mariajoaodealmeida.com, uma referência nas áreas dos vinhos, gastronomia e turismo, e a VinhoTV, o primeiro canal on-line dedicado ao vinho na web. É ainda formadora de cursos de prova de vinhos e editora da revista Escanção.

Enfim uma sobrinha mais célebre do que o presidente dos EUA. Merecido.

Há muitas obras de arte bibliográficas magnificamente ilustradas, como a Bíblia dos Jerónimos (sete volumes, sec. XV), o livro do Beato de Liébana (sec. XII), O Martirológico de Usuardo (c. 1400) e até o Theriaka e Alexispharmaka de Nicandro (sec. X), mas não há nenhum que se compare com o presente que recebi. Capa de madeira, rótulo em bronze, ótima impressão, fotos de fazer roer as unhas, e o estilo da escrita direto, técnico, impecável que nos leva a procurar saborear aquelas “pomadas” via holografia espiritual!

E assim tive que escrever à autora:

Tenho a comunicar-lhe, hoje, 24 de Abril, véspera da catástrofe que aconteceu em 1974, o seguinte:

Não há o direito de escrever e, sobretudo publicar, um livro como o 

“100 GRANDES VINHOS DE PORTUGAL

 a que eu chamo “100 VINHOS MUITO PORREIROS” !!!

É um desaforo a quem vive com o fundo dos bolsos mais secos do que garrafa vazia.

Fica-se deslumbrado, agoniado, irritado, chateado e, como é evidente, admirado. E, vá lá, invejoso e frustrado!

O palato é enganado em 100 páginas, magnificamente descritas e outras tantas com imagens que só servem para quem, como eu, longe desse eflúvios divinos está longe física e financeiramente.

A edição é sublime, lindíssima, uma obra de arte. Mas ler e deixar o cérebro seguir as batonnages e as maloláticas, para se enganar no fim com o paladar estruturado, o final longo e persistente, o aveludado, o complexo e evolvente, etc., são um castigo para quem a seguir tem que sujeitar ao vinhozinho corrente, apesar de honesto, mas onde não persiste coisa alguma, nem é aveludado nem persistente!
E o prazer de ler e apreciar a beleza das imagens deixa uma sensação de frustração que nem a hipótese de ganhar a loteria poderia resolver.

Moral da história, vê-se como Portugal tem crescido em qualidade e quantidade, que há mais enólogos do que vinhas, dezenas, centenas de jovens e antigos produtores, alguns que fazem a festa com o “Gran Vin” num 1 hectare de vinha, outro que só produz o melhor nos anos “bãos” mas não enche mais do 27 garrafas, e eu fico a pensar: “Aqueles gajos bebem bem, mas é só para eles”.

E ficam a ranger os dentes aqueles que, ou vivem longe e pior de finanças apertadas sem conseguirem nem chegar perto das preciosidades ali descritas.

Pior ainda no Brasil onde só de impostos o vinha para aqui entrar paga uns 30% de impostos, e os importadores, distribuidores, vendedores, e retalhistas, que todos têm famílias para alimentar ( e devem comer muito bem) transformam estes desejados nectares em objetos como o Santo Graal: muito se fale nele, mas ninguém o encontra.

É como querer oferecer uma joia à garota que conquistou seu coração - e o resto - e não ter dinheiro para comprar o “Koh-í-noor” ! Muitas vezes nem para uma simples flor!

Quando acabei de ler o livro, lindo, uma obra de arte, estavam de parabéns a autora, o fotógrafo e a editora.

Maria João, muito, muito obrigado por esta joia bibliográfica. Vou até lamber as fotos! Talvez tenha lá umas gotinhas...


04/05/022


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