O Vacinado
A desinformação, a minha Mãe e um
poste de iluminação
Belo título para um conto, que conta já muitos dias, e parece que
continua a não ter fim!
É evidente que a minha Mãe, que tanta falta me faz, porque continuamos a
ter uma parte de meninos que sente, SEMPRE, a falta da Mãe e do Pai, nada tem
que ver com o caso, mas... veremos.
Para melhor distinguir um episódio de outro vou dividir em Atos, ou
Actos, mas, infelizmente vou ter que deixar cair o pano quando... quando mesmo
? Deus solus scit.
1° Ato – Vacinas: Eu, mais a esposa amada: 1ª em 8 de Fev, 2ª em 3 Maio, ambas
da Zeneca de Oxford (o que muito ajudou a não perder o hábito de ler inglês) e
3ª em 20 de Setembro, da Pfizer. Tudo devidamente inscrito numa caderneta.
Perfeito. Pronto para enfrentar o sr. Covid!
2° Ato – Depois da 2ª vacina (ainda não se falava que iria haver uma 3ª)
procurei obter, pelas vias da modernidade, i.é, internet, uma espécie de
certidão, chamada Carteira de Vacinação Digital. Com os meus vastos
conhecimentos de computadores (comprei o primeiro há 37 anos!), comecei por
saber que tinha que abrir um site “GOV.BR” ou o “CONECTESUS.COM.BR” para
obter o QRCode. Aí começou a via sacra. Depois de muito batalhar chegava a um
ponto que dizia “Erro no CPF” (para quem não sabe, o CPF significa Cadastro de
Pessoa Física, com um número, é evidente). Ora o meu CPF existe há 47 anos
anos, sempre faço, no final do ano a Declaração de Imposto de Renda, e nunca
deu qualquer erro.
Pedi socorro à Joana, crac em mexer nessas confusões e logo apareceu a Carteira
digital da mamãe, e a minha... deu erro no CPF.
Quando fui receber a 3ª dose apresentei o problema no Posto de Saúde e
obtive a mais simples das respostas: “Escreva para a Ouvidoria do Ministério
da Saúde. Há muita gente a queixar-se do mesmo”.
Mas com mais de 50% da população brasileira já com as duas vacinas, mais
de 110 milhões de pessoas estão a requerer tal Carteira, e entra então o
3° Ato – O Ministério – reparem bem a superior instância da Saúde Pública –
mandam-me verificar, junto aos Correios se o CPF tem algum erro. Não tinha!
Telefonei para Brasília a informar e reclamar. “Dirija-se ao Posto de Saúde
onde foi vacinado e à ouvidoria do GAP 4.0”. Quando me disseram 4.0 logo me
veio à cabeça que seria o motor de algum Jaguar.
Fui ao Posto. Mandaram-me procurar alguém na sala 126. No Posto só tinha
salas até ao número 118!!!! Indo às profundezas das minhas meninges buscar um
pouco de tranquilidade e trancar a hipótese de saída de palavras menos
convenientes para insultar qualquer um, perguntei a uma médica que estava a
controlar a vacinação de mais jovens se sabia onde ficava a sala 126. Não fazia
ideia, mas perguntou-me o que queria. Expliquei. Amável disse-me “Deixe
estar. Nós vamos resolver isso aqui”. Maravilha. Viu que as vacinas estavam
todas digitalizadas, fotografou os documentos que passou para o meu celular,
mas... quando quis entrar no tal CONECTESUS, apareceu o recadinho filho de (não
digo de quem) “Erro no CPF”. Continuando com a sua
amabilidade, foi comigo à secretaria do Posto, onde a responsável simplesmente
disse que ali estava tudo correto, CPF, etc. No desespero perguntei se tinha
que escrever ao Papa. Indicou-me a Subsecretaria de Saúde, a tal GAP 4.0.
4° Ato - Lá vou eu à Secretaria
onde fui atendido por uma muito amável funcionária, que em quase uma hora de
tentar descobrir onde estava o problema, telefonou para Brasília, para o
Ministério, mandaram-na falar não sei com quem, teve acesso direto à Receita
Federal (dona dos CPFs todos) onde se certificou que o meu CPF estava certo,
mas conseguir a tal Carteira Digital... NADA!
Com o
carinho próprio deste povo, disse-me que ia discutir com o Ministério e depois
me ligava. Uns dias depois liga para mim e “o Ministério não me dá
resposta!”
Voltei ao
GAP 4.0, só não explodindo porque a funcionária era extremamente prestável e
interessada em resolver o problema. Fomos para a sala dela e de mais sies
funcionárias ver o que se conseguia no seu computador. NADA. Só que apareceu um
outro aviso “CPF BLOQUEADO. ERR0015575”.
Alto!
Agora sabemos onde está o erro. Na Receita Federal.
5° Ato – A caminho da Receita Federal. Fechado. Eram 15h00. Só atendem das 9 às
12 horas!
Voltei no dia seguinte, cedo. Chovia. O chão molhado e muita formiga
passeando debaixo dos nossos pés. Fila, pequena, chegou a minha vez. Atendido
na rua, através de uma janela.
“Qual o problema?” Era a
minha Mãe! Tinham perdido a minha querida Mãe lá nos computadores, e sem Mãe
ninguém consegue fazer nada. Retorqui: A minha Mãe está registrada na Receita
há mais de meio século e agora deixam-na fugir? Nem riram. “Tem que trazer
uma certidão de nascimento ou de casamento, comprovante de residência e cartão
de identidade.”
Meti-me no carro, corri a casa, pequei TUDO aquilo (lá estava o nome da
minha querida mãezinha) e corri de volta. Volta à janela, mostro a
documentação, e perguntam-me “Trouxe xerox?” É evidente que não, ninguém
me pediu isso! rrrrrrrrrrrrrrrrrr. Onde posso tirar as xerox? “Ali, na
primeira rua”.
Andando o mais depressa que a minha juventude permitia, a pé, aí vou eu.
6° Ato – Em frente da janelinha da Receita tem uma pequena divisão no meio da rua
para os carros estacionarem dos dois lados. Tentei andar por ali. Eis se não
quando tropeço em algo que não se apercebia, entra-me um ferro de concreto
dentro da sandália, que a arranca do pé, e só não vou de cara ao chão porque
estava no meio de vários carros. Felizmente o que me aguentou tinha a mala
atrás, onde me agarrei.
O pé a sangrar, calcei a sandália e continuei a caminha das xerox...
coxeando e sangrando (pouco).
O que me fez tropeçar foram os resíduos de um poste de iluminação que para o tirarem dali, foi quebrado! Ficou uns 15 cms. acima do chão com dois ferros para os lados. Um crime...
Lugarzinho bom para enfiar o pé com
sandália!
Não era na primeira rua. Era na segunda.
Fiz os xerox, voltei à janela do inferno e mandaram para a porta ao
lado.
Enquanto aguardava que me atendessem, uma das formigas também filhas
de... tinha subido pela minha perna e mordeu-me na coxa. Na Receita Federal até
as formigas nos perturbam. Dia de sorte. E o pé a doer.
Aí perguntaram-me qual era problema. Mataram a minha Mãe, ou a deixaram
fugir do computador! Preenchi um papel com nome da Mãe – ainda perguntei se
queriam também do Pai e dos avós; não, não era necessário, e disseram que uns 7
dias depois tudo ficaria arrumado.
Estou, com o pé ferido, o ânimo desesperado, à espera do sétimo dia. E
mais um pequeno derrame no braço.
Depois irá começar a nova fase: obter um Passaporte Internacional de
vacinação que o Ministério da Saúde informa que ainda não existe!
Já requeri visto de residência para me mudar para o Congo.
Finalmente chegou, hoje o sétimo dia e encontraram já a minha Mãe!
Desbloqueado!!!
05/11/2021
Que saga danada! O que vale é a simpatia natural da maioria daa pessoas. As melhoras
ResponderExcluirIsto aconteceu-lhe mesmo? Puxa, tem sete vidas como os gatos e uns nervos de aço!!!! É caso para virar biruta ou assassino 😁😁
ResponderExcluirMuitos anos no lombo
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