segunda-feira, 27 de abril de 2020


GRANDE  PANDEMIA 
DEVASTADOR  PANDEMÓNIO

Brasil... país de riquezas infindas, praias, montanhas, florestas (ainda), flores inigualáveis (é bom que conheçam Margareth Mee, vejam a beleza das aquarelas), fauna espetacular, pássaros de uma beleza estonteante, solos ricos, muita água, subsolo com ouro, diamante, esmeraldas, enfim tudo. Não quero ser racista, mas quase me esquecia da exuberância das mulheres, sobretudo as lindas morenas. Onde tem mulheres mais bonitas, hein?
Quem dera que o Brasil fosse assim florido, tranquilo, admirado!


Mas o Brasil tem tudo? NÃO. Não tem.
Falta uma coisa, por incrível que pareça falta só uma coisa. Vá lá, duas.
A primeira é a educação/cultura, história verdadeira.
A outra... ética. Mas como ética, dificilmente vem sem cultura, estamos mal.
É um pseudo estado social com leis de fazer caírem os dentes até aos desdentados.
O governo atual, doe a quem doer tinha que ter sido eleito. Não havia escolha. Eram só dois concorrentes. Um o sub-chefe da gang da esquerda caviar depravada, comandado pelo chefe já condenado a 21 anos de gaiola (onde ainda não entrou! E tem mais uns quantos processos) leia-se gatunagem descarada, para continuarem a desmontar o país, e um sujeito que levanta a bandeira contra a roubalheira, corrupção, etc.
Ganhou este. Com o apoio do excepcional trabalho feito por um “jovem” juiz de Curitiba (agora com 47 anos), homem de total integridade.
Mas o vencedor tinha, e infelizmente continua a ter, um brutal calcanhar de Aquiles. Vários calcanhares de Aquiles, representados pela gang dos Bolsonaros Juniors, (os Três Irmãos Metralha) filhos inconsequentes de péssimo passado que ele tenta proteger, quando deveria ter sido, desde o primeiro momento, ele mesmo a denunciá-los.
Elegeram-se os três: senado, câmara federal e um vereador, e tudo quanto até hoje têm feito é perturbar o já tão perturbado governo do pai.
Como a esquerda bolchevique só foi, até hoje, derrotada em Espanha, pelo Franco e agora pelo Bolsonaro, não é difícil concluir que tem o mundo TODO, em completo desvario, para se vingar, e começa pelo mais fraco, o brasileiro, que em seu desfavor ainda tem, além de evidente incapacidade política, apesar de se ter rodeado de gente capaz, aquele trio dos “metralhas” a semearem a cizânia a toda a hora.
E o capitão presidente quer meter o nariz em tudo, em vez de deixar os seus colaboradores trabalharem, em consenso, o que só resulta em confusão, desgaste, aproveitando seriamente aos tais esquerdistas e manipuladores mancomunados em esquemas escusos, cheios de processos a correr (não correm, não, estão parados) nos tribunais, entre deputados, governadores de estados, senadores e até no mais alto escalão da magistratura.
Se já assim seria dificílimo governar, tendo ainda uma 5ª coluna da família dentro, o caso torna-se impossível.
Quando o admirado, e estimado juiz Sérgio Moro, o expoente máximo da luta contra os colarinhos brancos e corrupção, foi convidado para integrar o governo, no Ministério da Justiça, aceitou, pondo determinadas condições que o eleito aceitou sem discutir. E assim um juiz, técnico, abandonou 22 anos de carreira e entrou de alegre na vida política, sem conhecer quem acabaria por também o querer controlar.
Exigiu ter na sua pasta a Polícia Federal, mais o controle das transações financeiras para melhor poder entender os esquemas de lavagem de dinheiro, mas... não tardou muito porque depois de assumir, começaram logo por lhe retirarem esse controle das finanças. Primeiro golpe. Mal recebido, como é de se esperar.
Seis meses depois já o presidente começava a querer trocar delegados federais para lá colocar homens da sua confiança, perturbando a independência, fundamental, que essa polícia tem que ter.
Em continuação, a permanente interferência do presidente na sua área, muitas vezes sem conhecimento dele, para tentar ir sabendo como as “coisas navegavam” contra ele, ou os filhos, no supremo tribunal e não só.
E vá de trocar delegados da Polícia Federal, a seu belo prazer, para ter os ouvidos melhor informados.
O juiz, senhor ministro, não gostou. Saturou.
Na minha opinião, (tipo torcedor numa partida de futebol) pareceu-me que o dr. juiz, por quem continuo a ter o máximo respeito, explodiu um pouco rapidamente.
Penso, o que nada vale, que deveria ter ido ao presidente, antes da conferência de imprensa, anunciar a sua irrevogável demissão. E talvez, talvez, não devesse ter lavado tanta roupa suja nessa ocasião.
Ele deve ter mais que suficientes razões para se desentender com o presidente e, quem sabe, guardadas nas mangas algumas atitudes graves.
Neste momento o impeachment está à vista. Vai dar luta, mas não tarda vermos os militares a abandonarem o barco para não irem para o fundo com o presidente, o que deixaria o exército em total descrédito, que estava a recuperar depois do massacre sofrido durante os governos anteriores sempre lembrando o tempo da ditadura militar, torturas e outras barbaridades.
É evidente que na época do PT, o exército, cautelosa e silenciosamente, sempre se pôs de lado, deixou a esquerda se alambazar na res publica, até chegar o momento em que parte da população já pedia intervenção militar.
Isto quer dizer que as Forças Armadas vão fazer como os ratos em navio a naufragar: serão os primeiros a dar um tchauzinho ao senhor Bolsonaro.
O país mal saía de quase falência deixada pela banditagem do PT, apanha a pandemia do COVID-19 e agora este pandemónio político.
O juiz Sergio Moro, aos olhos do estrangeiro era o garante do combate à corrupção, e o país principiava a atrair alguns investidores. No dia seguinte ao da sua saída muitos já se desinteressaram do Brasil e o Real desvalorizou bem mais ainda.
Brasil que continua a ter tudo, como acima descrito, mas que lhe falta... o resto.
Não foi do de Gaulle a frase de que o Brasil não é um país sério, mas essa frase continua a matraquear os ouvidos dos brasileiros que estão sufocados de desmandos, ladrões, mentiras e até miséria.
As perspectivas para o resto do corrente ano e para os próximos, no mínimo, são talvez tenebrosas.
Muito desemprego, muita falência, aumento do custo de vida, sem verbas para investir, vai ter que entrar na inflação, pesada, pesadelo de que ainda todos nos lembramos bem.
Pois é o Brasil é um espetáculo em belezas naturais.
Mas e as outras? As belezas que os humanos já tiveram mais do que tempo para aqui implantarem?
Maldição de Stefan Zweig que achou que o Brasil era o país do futuro?
Como eternidade não tem tempo será que o nosso futuro está nessa eternidade?
Dos nossos dez netos, seis já foram daqui embora. Um só espera que acabe a pandemia, e os outros um pouco mais de estudos e também devem ir.
Velhice, quase isolada, num meio exuberante e triste!
Com perspectivas cada vez piores, sabendo-se agora que a Rede Globo já se vendeu à China! A Globo e a Band, e já começaram a elogiar o PCC.
As emissoras de televisão Globo e Bandeirantes cederam domínio de produção de conteúdo à estatal comunista China Media Group – braço midiático do Partido Comunista Chinês.
Não tarda vem aí o COVID 20 ou 21 para acabar com tudo.

26/04/2020


terça-feira, 21 de abril de 2020



OS AMERICANOS

Os brasileiros, regra geral, sonham com os Estados Unidos. Para a esmagadora maioria deles “lá é tudo uma maravilha”, quase o éden! É natural quando se faz alguma comparação com os países da América Latina. Ali tudo é mais barato, universidades das melhores do mundo, magnífica engenharia, pesquisa, estradas sem buracos, etc.
Mas... e os americanos?
Um amigo meu, há alguns anos, belo currículo, tentou ir viver por lá. Durou um ano. Toda a gente gabava os seus conhecimentos, mas ignoravam a pessoa! Pior ainda porque era brasileiro. Creio que não conseguiu mais do um ou dois com quem pudesse conversar.
Pelo meu lado, desde que me lembro, sempre disse que preferia um russo a um americano. Não o regime comunista de que fui e sou total opositor, mas do povo russo.
Os americanos construíram uma grande nação, sem dúvida, mas são todos iguais àquele boneco do Walt Disney, para quem a única coisa que conta é o dinheiro, aparecendo até, por vezes, com $$ nos olhos em vez da pupila.


Há muita desumanidade naquela gente que continua a mais racista de todo o mundo, venerando, porque dá muito dinheiro, os grandes atletas negros do futebol americano, do basquete, beisebol, hóquei no gelo, atletismo,  e outros, como alguns músicos do rock e do soul.
Os dois textos abaixo podem ajudar a ter uma mais nítida ideia da sua personalidade.
O primeiro, do ex presidente Jimmy Carter, o outro, sobre uma viagem que o grande pensador Antero de Quental fez aos EUA em 1869.

A imprensa americana acabou de contar o que o ex-presidente Jimmy Carter disse a Donald Trump durante sua recente entrevista sobre a China. Isto é particularmente interessante.
"Você está com medo que a China vai passar à frente de nós, e eu concordo com você. Mas sabe por que a China está à nossa frente? Eu normalizei as relações diplomáticas com Pequim em 1979. Desde então, sabe quantas vezes a China entrou em guerra com alguém? Nem uma vez, enquanto nós estamos constantemente em guerra. A América é a nação mais guerreira da história do mundo porque quer impor a estados que respondam ao nosso governo e aos valores americanos, em todo o Ocidente, para controlar empresas que têm recursos energéticos em outros países. A China, por sua vez, está investindo seus recursos em projetos como ferrovias, infraestrutura, trens-bala intercontinentais e transoceânicos, tecnologia 6G, inteligência robótica, universidades, hospitais, portos, edifícios e trens de alta velocidade, em vez de usá-los em despesas militares.
Quantos quilômetros de trens de alta velocidade temos neste país?
Desperdiçamos US$ 300 bilhões em gastos militares em países que procuram sair da nossa hegemonia. A China não desperdiçou um centavo com guerras, e é por isso que nos supera em quase todas as áreas. E se tivéssemos usado os 300 bilhões de dólares para criar infra-estruturas, robôs, saúde pública, nos EUA, teríamos trens-bala e transoceânicos de alta velocidade. Teríamos pontes que não colapsam, sistema de saúde gratuito para os americanos, não infectando milhares de americanos mais do que qualquer outro país do mundo pelo COVID-19. Teríamos maneiras de ficar bem. Nosso sistema educacional seria tão bom quanto a Coreia do Sul ou Xangai."
Jimmy Carter. (Publicado na revista Newsweek)
Herbert Spencer (1820-1903), inglês, filósofo, biólogo e antropólogo, um dos representantes do liberalismo clássico, visitou os EUA e deixou a sua impressão nos livros Diálogo e no Discurso sobre os Americanos,
António Arroyo no seu livro A viagem de Antero de Quental à América do Norte (1916) conta-nos a opinião do filósofo inglês:
“Começa por louvar o enorme desenvolvimento da sua civilização material: a grandeza e magnificência das suas cidades, o esplendor de Nova York, a atividade das gentes, o seu poder de trabalho, de invenção e de decisão; as suas riquezas mineiras, a enormidade dos seus campos virgens e fertilíssimos. Nota depois que eles puderam lançar mão, e de facto lançaram, dos progressos realizados nas nações da Europa, corrigindo-lhe os defeitos e aproveitando a longa experiencia desses velhos países.
Reconhece por fim que podem legitimamente aspirar a produzir, passado tempo, uma civilização mais grandiosa do que todas as conhecidas até hoje. Mas cita-lhes também a sua vida violenta, feita a alta pressão, a qual acarreta consigo os grandes desastres financeiros e produz o Surmenage, a incapacidade permanente e as correspondentes heranças para as gerações que se sucedem. Diz que o seu único interesse está nos negócios, que esses são o fim superior da sua vida, e que a eles se contrapõem naturalmente o enfado e a existência sem encantos. E condena o desprezo ilegítimo a que votam os seus competidores na luta desses negócios. Relativamente à política, afirma e prova a intensa corrupção que lavra naquele país, a real negação da liberdade, a falta do respeito mútuo que faz a essência da vida inglesa, a luta tremenda, sem nobreza, dos interesses materiais. Numa síntese lapidar, o filosofo acaba por lhes aconselhar que substituam o poder intelectual pela beleza moral, e o desejo de serem admirados e de serem amados.
Antero, homem moral por excelência, assim também devia pensar; e a sua alma profunda mente estética que, segundo Eça de Queiroz que lhe chamava o Santo Antero, pela sua profunda preocupação com a moral, a ética e sobretudo o social, até na destruição exigia ritmo, achou nos Estados Unidos por força completa, e antipaticamente alterados ali os ritmos da Vida como ele os concebera. Admirou por certo muitíssimo , mas não desejou lá ficar, nesse país violento, cujo modo de sentir e proceder o ofendia no mais íntimo da sua e santidade e moral, nem doçura, nem beleza serena; nem tão pouco liberdade. E desistiu do seu velho projeto; não quiz lá ficar... ”

Esquecem fácil esses americanos, mas têm criado em muita gente, bilhões, uma aversão danada.
Venceram os ingleses na Guerra pela Independência, o que os encheu de orgulho, natural, por muita sorte a União venceu os Confederados, guerrearam todas as tribos de indígenas das quais muitas foram dizimadas, ajudaram a ganhar a I Guerra Mundial, quase por milagre vencem os japoneses na II, foram corridos da Coreia do Norte, da Nicarágua, do Viet-Nam, no início do século XIX estiveram em guerra com os berberes da Tripolitânia e com o Marrocos, com o México, com diversas ilhas do Pacífico, com a Espanha, com as Filipinas, Nicarágua, Dominicana, Turquia, Rússia, Cuba, Camboja, Granada, Panamá, Iraque, Somália, Bósnia, Yougoslávia, Paquistão, Afeganistão, Kosovo, Estado Islâmico e... apoiaram uma série de revoltados em África.
Só não roubaram os Açores a Portugal porque, desculpe-me a esquerda-caviar, o Salazar não deixou.
Belo currículo, aliás guerrículo. Impresso a vermelho, de sangue.
Quantos mortos e inutilizados nesta paranóia financeira?
Isto tem sido uma maravilha, um bodo dourado, para os fabricantes de armas.
Mas, e quanto, por exemplo, a saúde pública?
Vou gostar dos americães? Não vou. Nem dos chineses!

18/04/2020


quarta-feira, 15 de abril de 2020




Pregões!
Eu sou daquele Tempo... em Lisboa

Como é de imaginar, “aquele tempo” já vinha desde há muito tempo! Mas a verdade, a triste verdade é que esse tempo acabou.
Íamos a pé para o colégio, chovesse ou fizesse sol, mais tarde liceu, etc., e nesse mais tarde incluía-se às vezes o carro elétrico e raros automóveis para alguns financeiramente favorecidos. Até à faculdade nem raros eram. Não eram.
Acordávamos cedo, muitas vezes a ouvir aquele grito cantarolado que tanta falta nos faz:
Olha a sardinha, é vivinha da costa.
E passava a varina vendendo sardinhas maravilhosas, que ela, muitas vezes ainda o sol não tinha nascido, já esperava no cais da Ribeira a chegada dos pescadores e o pregão da lota.
Quando não havia sardinha boa, elas não compravam, mas saíam na mesma correndo pelas ruas da cidade para ver quem chegava primeiro às boas freguesas com
Olha a pescada do alto. Fresquinha!
ou na mais fraca das hipóteses
Há carapau fresquinho, olha o carapau para o gato!
Poucas levavam muita variedade de peixe, mas só elas mesmo sabiam dos gostos das freguesas, e os seus pregões ecoavam por toda a cidade até que esgotassem as canastras.
Ó freguesa desça a baixo.
Tenho Chicharro lindo, carapau, pescada fina.
Ó freguesa leve um quarteirão, é fresquinha a minha sardinha.
Varina, o nome tem sua origem em Ovarina, porque as primeiras a vender peixe pelas ruas das cidades terão saído de Ovar no século XIX, terra de pescadores, em busca de melhores proventos.


Mulheres fortes, mesmo já idosas mantinham um andar altivo, costas direitas, e quase sempre descalças. Lenço colorido na cabeça, por cima um chapéu de abas largas e reviradas para cima para apararem alguns pingos que pudessem cair da canastra, e por cima deste uma roda de pano, muito bem confeccionada, até bonita, onde a canastra era apoiada. Quando grávidas uma espécie de cinto, que lhes permitia correrem pela cidade sem afetar o bebé. Na foto abaixo vê-se tudo muito bem
Muitas levavam, quase tropeçando nos seus pés, gatos vadios dos bairros, à espera de alguma sobra, um petisco, raramente doado.
Interrompo aqui os Pregões para contar um causo passado em Lisboa aí por 1952/3, sobre uma “conversa” cheia de vernáculo, entre uma peixeira e um polícia, que acabou no Tribunal de Polícia, onde, na ocasião o juiz era, pouco depois, o meu sogro.
A lota do peixe (lota é o espaço num porto onde a primeira venda do peixe acabado de pescar é efetuada, quase sempre em leilão com os valores a começarem altos e descendo até que alguém desse o lance), em Lisboa, era no antigo cais da Ribeira, e começava sempre bem cedo, no verão às 6 horas da manhã.
Portões fechados, de madrugada começavam a chegar as varinas, formando filas, para que as primeiras a entrar fossem também as primeiras a escolher o melhor.
Chegavam normalmente as mais velhas primeiro.
Um belo dia a fila (bicha) já longa, quase na hora de se abrirem as portas, chega uma das lindonas, que o polícia, sempre ali para evitar confusões, manda passar na frente de todas! O que foste fazer!!!

Uma varina que parece uma rainha

As mais velhas que ali aguardavam há horas, como é óbvio não gostaram, e os “cumprimentos”  ao polícia, onde se incluía a mãe do dito gerou uma confusão que o“autoridade”, deu voz de prisão a umas delas por ofensa e linguajar indecente.
Nessa troca de “gentilezas verbais”,  a jovem lindona também foi suficientemente adjetivada!
Levadas para julgamento na tarde desse dia, quando o juiz entra na sala de audiências, segundo ele contou, a sala estava cheia do que lembrava uma imensa quantidade de grandes borboletas agitando as asas, porque, as mulheres nervosas não paravam de ajeitar os lenços. Quase todas as varinas de Lisboa tinham ido assistir ao julgamento apoiando as colegas.
O guarda apresentou a queixa, onde estavam escritas todas as insultuosas/galanteadoras frases que as mulheres, em fúria, lhe chamaram, assim como à colega bonitona, onde não foi esquecida a profissão “extra” que ocupava em horas mais vagas com o chefe da esquadra!
Sexa juiz, ouviu toda a queixa e a seguir a defesa das vendedoras de peixe.
Estavam ali desde as 4 ou 5 da manhã e depois chega esta... que é amante do chefe da esquadra, que dá ordens ao polícia para a fazer entrar na nossa frente.
Sentença: o chefe despromovido, o polícia posto fora da Corporação e as rés... pensa suspensa, sem poderem dizer palavrões durante um ano! E a bonitona avisada que não se atrevesse mais a “furar fila”.
A alegria foi tão grande que todas, e eram muitas, saíram do tribunal e foram direto à redação do Diário Popular, quase em frente ao antigo Tribunal de Polícia, porque se queriam manifestar sobre o doutor juiz que dera uma grande lição de moralidade, e que o jornal, ainda nesse mesmo dia publicou em grande estilo, ocupando quase metade de uma das páginas centrais, com a foto de todas aquelas mulheres, na rua, acenando os lenços!
Muitas delas jovens, bonitonas, ouviam constantes galanteios ao passar pelos trabalhadores que àquelas horas matinais caminhavam para os seus trabalhos. Mas línguas muito afiadas, um vernáculo bem completo, o troco saía mais depressa do que o galã esperava. E na maioria das vezes este era vítima da risada dos colegas!
Outras mulheres com um grande panelão à cabeça, enrolado entre papéis de jornais e serapilheira vinha apregoar
Fava riiiica, quem quer almoçar.
ou as de cesta de verga a anunciar
Quem quer figos quem quer merendar…. olha o figo madurinho.
Olha o figo da capa-rôta.
Outras com cestos bem acondicionados em trapos e jornais
O...lha o bom mar...me...lo assa...dinho no for...no!
Pêra parda cozida, é da rocha.
E do mar ainda aparecia o vendedor de mexilhão
Ó gente! ERRE-ERRE , mexilhão!
Porque só nos meses com “R” é que os mexilhões eram bons! De Setembro a Março/Abril.
Quem lembra da vendedora de ameijoas?
Quem quer ameiii...joas prá arroz!
E o homem, o saloio, com seu barrete enfiado na cabeça, pelo meio da manhã a vender para as casas mais finas (naquele tempo era um luxo para alguns) carregando, pendurados numa vara, um monte de pequenos cabazes. E como eram bons aqueles morangos!
Olha o cabaz com morangos… é de Sintra.
Outras vezes trazia amoras
Ó ri...c’a...mo...ra  da ... hor...ta
O homem da fruta passava com a carroça puxada por um burro, a apregoar
Olha a laranja é da baía.
e outras frutas mais “pobres” eram também vendidas consoante a época e a boa safra.
A vendedeira de hortaliça com um macho que puxava a carroça toda enfeitada, por vezes brejeira
Olha o feijão carrapato, há alface, há repolho.
O sorveteiro com um triciclo transformado, ora tocando a campainha, ora apregoando
Olha o gelado, fruta oh chocolate, há baunilha .
Olha o rajá fresquinho.
E, quase todos os dias o “amola tesouras”, na sua monocicleta onde girava um esmeril
Amola tesouras, navalhas e guarda-chuvas. Cá está o amolador.
O funileiro com o ferro de soldar sempre acesso e caixa de madeira ás costas avisava
Olha o funileiii...ro á porta. Tachos panelas e alguidares.
Pela manhã ou pela tarde passava o ferro velho, por vezes já com uma cama de ferro ás costas
Ferro velho. Quem tem traaapos, ou garraaafas pra vender.
E quem lembra do queijo saloio e dos requeijões, que era uma das coisas que o meu pai mais gostava. Delícias.
Quei...jo   sa...lo...io!
Pela manhã ou no final da tarde, o ardina, na sua correria e pontaria, dobrava o jornal e atirava para as janelas mais altas dos seus fiéis clientes, ou de um ou outro que o solicitasse e não falhava a pontaria. Lembro bem de ver um que toda a manhã, bem cedo, passava na rua onde eu morava. Do outro lado, mesmo em frente, janela aberta onde um papagaio, preso por uma das pernas se agitava todo ao ver o ardina a surgir no fim da rua. E lá vinha ele
Olha o Século, olha o Notícias .
Pelo caminho ia dobrando os jornais e ensinando palavrões ao papagaio que os repetia todos, e tão animado ficava que caía da janela, voltando para cima pela correntinha que o segurava por uma perna.
Entretanto o jornal era atirado para aquela janela, num 4º andar, o papagaio agachava-se e o jornal entrava, sempre, direitinho janela dentro. Um espetáculo a que que assisti inúmeras vezes e que guardo como um filme na memória.
À tarde eram os ardinas dos vespertinos
Traz a bola ó Diéééro, olha o Popular, Diéro de Lisboa.
Quando havia algum desastre ou incêndio maior
Diário de Lisboa, olha o Popular, traz o desastre.
Lembro de um garoto, entrava nos carros elétricos a apregoar os jornais da tarde, e se não vendia nada, antes de sair virava-se para trás olhava para os passageiros e dizia-lhes:
Bando de analfabetos!
E o cauteleiro, já cansado com o seu boné de chapa identificadora reluzente
É o mil quatrocentos e vinte oito! Quem se habilita?
Olha a sorte grande, amanhã é que anda à roda.
Um dia, ao sair de casa dos meus avós, nos Restauradores, lá estava o cauteleiro, com um cachorrinho ensinado, bilhete na boca ia parando em frente das pessoas que o vinham olhar. No meu bolso um resto de dinheiro para voltar para casa de carro elétrico, e algo mais que daria para comprar um “vigésimo”! Se comprasse tinha que ir para casa a pé e ainda era longe. Não comprei, mas anotei num pedaço de papel o número do bilhete que o simpático cãozinho me mostrava. E fui embora.
Dois dias depois fui ver o resultado da loteria. O “meu” número tinha ganho o segundo prémio. Não dava para ficar rico, mas para mim teria sido uma fortuna. Nunca mais quis fixar números de bilhetes!
Os limpa chaminés, que ainda algumas vezes, quando nós morávamos na rua das Trinas, foram lá limpar a chaminé da fuligem que fazia o fogão, grande, a lenha. Passavam na rua gritando a sua profissão, vassouras de comprimento imenso, normalmente todos enfarruscados da fuligem que saía das chaminés. (Desenho do grande jornalista, escritor e desenhista Calderon Dinis)

Passava também a vendedora de galinhas, cesta rasa na cabeça, com uma armação em cone e uma rede:
- Galiiii...nhas! Quem nas quer e com ovo!
Aquilo sim, era galinhas e as canjas vinham com os ovinhos a boiar! Ah! Que saudades. Hoje comem-se frangos eletrônicos e congelados. A diferença como o meio dia de sol e a meia noite nublada.
Em muito canto se encontravam os “graxas”
O’ c’roa, ó graxa!
C’roa eram cinquenta centavos!
Já o frio chegado, Novembro, ouvia-se por todo o lado o homem das castanhas assadas
Quentes e boas! Dez um escudo!
Mais para trás as famosas lavadeiras de Caneças, que deram origem a um filme e foram cantadas pela Amália, mas antes ainda pela Beatriz Costa:
Ai rio não te queixes. Ai o sabão não mata. Ai até lava os peixes. Ai põe-nos cor de prata
Contrabandistas, “disfarçadamente aos olhos de todos”, vendiam produtos de Espanha.
«Guilreteiros», «sapateiros», «alfaiates». Desde os mais remotos tempos se distinguiram os ajuntadores de trapos, que no estilo dos negócios, passam gritando pelas ruas:
“Há por aí farrapos, cera, peles de coelho, lenticão ou «tarro» (eram as borras das Pipas)?
Havia outros vendedores ambulantes, mas estes sem pregões:
Os chineses que vendiam gravatas! Lindas e baratas. Porque chineses? Vai saber.
Qui qué glavatas?
Vendiam também bugigangas, como colares de vidro, pó-de-arroz especial, e mais tarde, as canetas esferográficas e as meias de nylon para as senhores, tudo aquilo de contrabando! Quando apareceram as canetas, levavam-ns escondidas nos bolsos e forro dos casados, mas como eram novidade, cara, todos almejavam tal modernice. Cromadas, de um lado com tinta azul e do outro vermelha. Uma beleza, que só consegui comprar quanto juntei algum dinheirinho!
Mais sucesso fizeram os tecidos e sobretudo as meias de nylon para senhoras. Chiquérrimas e caras.
Os pregões saloios que Lisboa foi ouvindo ao longo dos tempos, em especial nos anos que vão desde meados do século XIX até cerca de 1960. Contudo os pregões de Lisboa são muito antigos e que já no século XVI eram apregoados produtos vindos até nas naus da Índia.
Em 1980 ainda se ouvia, por uma ou outra ruela dos bairros alfacinhas, a voz de uma ou outra velha varina, tentando perpetuar os seus encantadores mas já moribundos pregões… era o seu canto de cisne!
Mesmo hoje,  ainda se ouve mas muito raramente, os pregões de um amolador de facas e tesouras ou dum vendedor ambulante de mantilhas e capachos. São raridades etnográficas em rápida extinção…
Pesquisado e já não sei de onde, os tradicionais pregões saloios:
Água: Áá-Áá! – Áúúú! (1903); Á–ú! – Áááuga! (1903).
Alecrim: Mér-c´Àlecriim! (1903); Mérc-c´ò mólho d´alecriim! (1903).
Alhos: Mé-c´á réstia d´ààlhos nóóvos! (1903).
Amêijoas da Ribeira de Frielas: Quem quér a-mêêi-joas, pr´à àrrõz?! (1903); Amêêijôas p´r àrrôôz! (1940).
Amoras: Riic´àmóra da hóórta – Amóóra-friia! (1903).
Azeite, petróleo e vinagre: Azêêêti dôôci! (1903); Aa-zêite dôôce! (1903); Aazêite duuce! – Aazêêite dôôôce! Óh-pritróliine! – Azêite dôô-c´i bom vináágre! (1903); Óh petroliiii-ne… Azêite dôôce i vináágre! (1903).
Azeitonas: A trinta réis ô salamiin! Quem quer azêitõonas nóóóvas? (1903); Déz tostões – salamiim! Quem quer azêitõonas nóóóvas?! (1940).
Broas: Nem p´lô Natal… há brõa igual! Ó meniinas, vinde comprár as brõas do Manél, que curam a tosse – e sábem a mél! (1903).
Vassouras, abanos, chapéus de palha: O abano fáz ô bento – bis, Par´ácender ô fõgão…, Báárre, báárre, bassourinha – bis, Bassourinha bárr´ô chão…, Ólh´ò lindo cestiinho!!! (1940).
Favas: Fáva tôrradiinha! (1903); Fáva riiica! – Fááá-va rii-ca! (1903 e 1940).
Figos: Quem quér fiigos, quem quér álmôcáár? Quem quér fiigos de capa rôôta?! (1903); Óh figui-nhu de capa rôôta!… Quem quér fiigos –, quem quér álmôçáár…! (1940).
Galinhas: Éh! Galiiinhas! (1903); Mérca frâangos! (1903); Galiiiiiiiii-nhas! Quem nas quér i com ôvo?! (103).
Hortaliças: Ólh´à cou-ve lombar-da! (1903); Mérc´à mão de náá-bos! (1903); Méérc´ò mólho de náábos! (1903); Ólh´ò timááti, quem quér timááti? O móó-di cinou-las… (1940); Ólh´àbóbra, quem quér abóóbra? Côrteirão de pimentos… Ólh´àlfácia, quem quér àlfáácia…? (1940); Cá estão nábos, cenouras, tomátes ou pepinosi tud´ô mais que a hórta dá! (1940).
Laranjas: Mééc´à la-rããnja da Chii-na! (1864); Quem quér do rããmo?! Quem quér larããnjas nóóvas?! (1940); É do rããmo!… Quem quér laranja bõõa?! (1940).
Leite: Éééé, chêga lá vaquiii-nha, chêêga! – Anda lá, Rosita… Então estás a fazer-te esquerda?! (estas palavras, pregão de 1903, eram dirigidas à vaca que o saloio trazia até à porta da freguesa. Leite mais fresco não havia… Este uso de vender leite levando as vacas ou as cabras às portas dos compradores, terminou em 1920, com proibição imposta por lei).
Marmelos: Óólha ô marméé-lo – assadiinho nô fôrno! (1940); Quem quér – ôs ricos marmelos – assadiinhos no fôrno?!!! (1940).
Melancia e melão: Mérc-c´ ò par de melancii-as! (1903); Mérc-c´ ò par de melõões! (1903); É da Váárzia… Melanci´à – fááca! (1903).
Mexilhão da Ribeira de Frielas: I-érre, I-éérre, me-xi-lhão! Ih! Êrre-érre, mexilhão! P´r´à patroa i p´r´ò patrão!… (1903); Éérri éérre, mexilhão! Cá está ô mexilhãão, óh mexilhãão! (1940).
Morangos: Mérc-c´ò cabáz de môran-gos! (1903); Ólh´òs môrãangos! São de Siintra! (1940).
Ovos: Mérc´à dúzia de óóvos! (1903).
Pão: Pãizinhos quentiinhos – com linguiiça! (antes de 1903).
Pêras: A vintém o quarteirão! – Quem acáb´às pê-ras?! (1903).
Perús: Méér-c´ò casál de perús!… – Perú salôôiô! É sa-lôôiô!!! (1903).
Queijo saloio: Méérca ô quêi-jo sa-lôôio! (1864); Quem n´ô quér salôôio – ?! (1903); Queijô sa-lôô-io! – Ái! Ô quêi-jô salôôio…!!! (1903); Óh quêêijô salôôi-ô! Óh quêêijô frêês-co! (1940).
Rebuçados caseiros: A tôstãão, cada matacãão! (1940).
Tremoços: Óh tremôô-ço saalôôio! – Tremôôç´salôôi-ô! – Tremôô-çôs salôôi-ôs! (1940).
Uvas: A quin-ze réis – Quem acá-b´àzúú-vas?! (1903); Quem quér úvas de vi-nha! Quem quér bôô-as úúvas! (1903).
Os saloios, depois de venderem as hortaliças e terem almoçado, encetavam o regresso a casa percorrendo as ruas da cidade apregoando: Léév’às fôôlhas – Léév’às cááscas… E as donas de casas davam as sobras do que haviam comprado, pois “não ficavam com lixo em casa”, e que se ia para os animais da horta.
Tempos poéticos que a tecnologia matou.

02/04/2020