terça-feira, 25 de fevereiro de 2020



           
A cadeira do “Garrett”
História que começa no sec. xvi ou xvii

Começo por repetir o que escrevi há dez anos, e segue com novas descobertas.
Vou aproveitar e contar a “aventura” de uma cadeira, que envolve um bocado bom de história.
O rei D. Fernando II, marido da D. Maria, também II para não destoar, filha de D. Pedro I e IV (a razão de ser 1º no Brasil e 4º em Portugal tem por base a diferença dos fusos horários entre os dois países, nas épocas do ano em que, oficialmente, no Brasil, o sol nasce três horas depois de Portugal ou de Greenwich), quando o grande poeta Almeida Garrett morreu, terá adquirido a cadeira onde este se sentava para escrever, e querendo homenagear o meu bisavô, o poeta, dramaturgo e o grande biógrafo do Garrett, Francisco Gomes de Amorim (1827-1891) ofereceu-lhe essa cadeira de presente.
E em casa do meu avô tinha lugar de destaque, sempre referida como “a cadeira do Garrett”.
Um dia essa cadeira veio para as minhas mãos, conservado o nome de “batismo” e estimada como sendo verdadeiramente a cadeira do Garrett. Uma cadeira trabalhada, de espaldar, com assento, costas e encostos dos braços estofados, que nos acompanhou para Angola. O estofo, velhinho, entretanto foi-se acabando. Em finais de 1960 comprámos uma bonita seda chinesa, que deveria ter emprestado à dita um ar quase museológico, e mandámo-la para o estofador.
De repente a Cuca decidiu que eu ia para a Europa fazer diversos cursos e estágios, e a cadeira ficou no estofador e marceneiro, que não a aprontou antes de sairmos de Luanda.
Enquanto estávamos na Europa, em Março de 1961, começou o chamado terrorismo, que no primeiro embate afetou profundamente todas as estruturas, tranquilas, estabelecidas em Angola, e o estofador, comigo ausente, sem sequer saber se eu regressaria a Luanda, como aconteceu com muita gente, pendurou a cadeira no vigamento do telhado da marcenaria à espera de...
Logo após o meu regresso, em Julho, a cadeira que padeceu uns quantos meses ali pendurada, perto das telhas, com o calor e umidade do clima, um dia despencou lá do alto, as peças descoladas, pernas para um lado, braços para outro, encosto... etc., e assim foi deixada pelo confuso e desarrumado chão da tal marcenaria. Com a preocupação do salve-se quem puder que era a lei em Luanda naqueles tempos tresmalhados, meia dúzia de paus do que tinha sido uma cadeira, foram totalmente ignorados. Quando fui saber dela, o homem olhou para o telhado, ar de idiota e diz-me:
- Estava ali!
- E agora?
Tudo quanto conseguimos salvar foram estes pés.
Corremos a marcenaria toda, mas nada mais apareceu. Confesso que tive um desgosto grande com o desaparecimento dessa herança.
Mas como não há bem que sempre dure nem mal que não acabe, acabámos esquecendo a dita cadeira.
Há pouco tempo, entre os papéis do espólio do bisavô que só muitos anos depois do desastre cadeirífero me foram entregues, encontrei a descrição pormenorizada da dita cadeira, e como o D. Fernando lha tinha oferecido.
Analisei e rememorei com cuidado a defunta, e conclui que a descrição não coincidia, porque faltavam algumas características importantes, como os braços terminarem em cabeças de leão, quando a nossa tinha os braços simplesmente torneados.
Moral da história: a cadeira que morreu no estofador de Luanda não era a cadeira do Garrett!
Onde andaria? Não sei que sumiço terá levado, muitos, muitos anos antes, até porque nos apontamentos do meu avô, não o bisavô poeta (isto é um tanto confuso porque era tudo Francisco G. de A.), não consta qualquer móvel que tivesse pertencido a Garrett.
Depois de mais pesquisar acabei descobrindo nos mesmos apontamentos do avô, que ele tinha um cadeirão de braços, a que chamava cadeira Farrobo, por ele comprada em Abril de 1912 por 5.690 reis! Terá sido do Conde de Farrobo, o homem que criou o Jardim Zoológico, e que um dia, como acontece a todos... morreu? Os animais do zoológico ficaram entregues a ninguém, o palácio abandonado e as mobílias devem ter-se vendido. Seria esta cadeira dali?  Qui lo sai?
Que a tal cadeira tinha mais cara de Conde de Farrobo do que de Visconde de Almeida Garrett, lá isso tinha!
Foi minorado o desgosto histórico, tranquilizou-se-me o espírito que se sentia comprometido perante o bisavô, mas ficámos na mesma sem uma cadeira. Bonita e com razoável presença, que se estivesse hoje no meu escritório me emprestaria um ar mais austero, quem sabe se até romântico do século já repassado!
Desse romantismo o único detalhe que me resta é a barba que já tenho há mais de quarenta anos!
Nota.- Salvou-se a seda, linda, que ainda hoje jaz, impecável, numa gaveta... sem qualquer serventia! Mas que é bonita, lá isso é.

Rio, 25/09/00

Conforme a data atrás assinalada, e verdadeira, era isso o que eu sabia naquele tempo.
Mas continuando a rebuscar dali e daqui encontrei agora a
História (quase toda) da Cadeira do Garrett

Quando o FGA (bisavô) mandou encadernar o poema
A FLOR DE MARMORE ou AS MAVILHAS DA PENA EM CINTRA
 editado em 1878, encadernou junto uma CARTA FAMILIAR escrita pelo seu amigo ABÍLIO AUGUSTO DA FONSECA PINTO (1831-1893) dedicada ao amigo deste, Doutor José Epiphanio Marques (1831 - 1908) em 1879
Uma pequena passagem na Advertência que FGA à laia de prólogo do seu poema
O encadeamento dos montes, de que se compõe  a serra de Cintra, visto das maiores alturas. Tem o aspecto de um imenso ramalhete irregular. A maioria dos seus cabeçosou picos apresenta a forma de flores pyramidaes, mas nenhuma com tanta similhança como aquele em que foi edificado o palácio real de Cintra.
Assim explica o autor d’este modestíssimo poemeto a razão porque lhe deu o titulo de Flor de Marmore.  
... Seria monstruosa ingratidão calar aqui os motivos que inspiraram a dedicatória d’este humilde poemeto. Por pedido da ilustre e generosa dama, para quem ele foi expressamente escripto, dignou-se Sua Magestade El-Rei o Senhor Dom Fernando brindar o autor com um objeto histórico preciosíssimo...
Na página seguinte:
À  ILLUSTRISSIMA  E  EXCELLENTISSIMA  SENHORA
CONDESSA D’EDLA

A Carta de A.A. da Fonseca Pinto, depois de fazer rasgados elogios ao poeta e ao poema, onde reproduz boa parte dele, termina assim (guardada a ortografia da época!)

Meu amigo.
Tenho-lhe falado de Cintra e dos seus poetas; não digo bem, de alguns dos seus poetas. E citando-lhe A FLOR DE MÁRMORE, produção d’um prezado amigo meu, consinta que lhe explique, nos limites circunscritos d’uma carta, as origens deste poemeto.
Ora ouça a invocação, dirigida a senhora Condessa d’Edla:

Senhora: se os colossos da floresta
Aos céos enviam divinaes perfumes,
Também o agreste cheiro da giesta
Ousa humilde subir aos pés dos Numes. *

Se o sol, que é vida e alma do universo,
Não desdenha aquecer o ínfimo insecto,
A vós do rude bardo implora o verso
Calor e luz de generoso affecto.

Gota d'água levada pelo vento;
Modesto aroma d'uma flor cahida;
Nem tanto valerá meu pensamento;
Mas inspira-o uma alma agradecida.

Aqui temos a gratidão servindo de musa; o poema é um bilhete perfumado de agradecimento. As aguas de Hippocrene aquecem-se sob o influxo d'um nobre affecto. Seria monstruosa ingratidão, diz o auctor, calar os motivos que inspiraram a dedicatoria d'este humilde  poemeto. Por pedido da illustre e generosa dama, para quem elle foi expressamente escripto, dignou-se sua majestade el-rei o senhor D. Fernando brindar o auctor com um objecto historico, preciosissimo como obra d'arte e como recordação saudosa - a  cadeira  monumental  de seu mestre, o grande poeta Almeida Garrett.
Mas ha melhor ainda; ainda melhor do que o autor, explana numa carta que ha dias recebemos a historia do poemeto e a descripção da cadeira abbacial. É de pessoa  d'elle  muito  conhecida, e a nós ambos muito cara.  D'ella  extractamos  os  períodos seguintes:
“... Esta cadeira abbacial, como a denominava  Garrett,  dizia elle que pertencera a seu tio o bispo D. Frei Alexandre da Sagrada Familia, e ao ultimo ou penultimo abbade do mosteiro de S. Bento, de Lisboa. Adquirindo-a, o poeta restaurou-a e deu-lhe mais grandiosa fórma do que tinha  primitivamente. Gomes de Amorim, em vida de Garrett, teve  sempre especial predilecção pela belleza artística d'este movel e sua commodidade; e apossava-se d'elle de preferencia, quando entrava no escriptorio d'aquelle que foi o seu melhor amigo e mestre,  que  lhe  serviu até de pae.
Antes de cahir de cama, foi nessa cadeira que o immortal auctor do Camões e D. Branca, depois de ter regressado de Belém para a rua de Santa Isabel, casa que hoje mostra o numero 78, suportou as primeiras agonias do doloroso drama com que terminou a sua gloriosa existencia.
“Por morte de Almeida Garrett foi a cadeira comprada em leilão para el-rei D. Fernando. Durante vinte annos sonhou Gomes de Amorim com a posse d'este objecto, tão precioso para as suas recordações e saudades. Ouvimos-lhe dizer que, apezar de pobre, teria feito todos os sacrificios para adquiri-lo, se estivesse noutras mãos. Obte-lo, porém, do rei-artista, sincero admirador de  Garrett, e amador de todas as preciosidades dignas de estima, pareceu-lhe sempre impossível. A Condessa  d'Edla, sabendo  d'estes  desejos, e da enfermidade que o poeta ha longos annos padece, inspirou compadecida a seu marido generoso pensamento de lhe offerecer a cadeira monumental de seu mestre, tornando-se assim a boa fada que realisava uma aspiração, considerada como sonho ou devaneio de poeta. Era isto em janeiro de 1876. D. Fernando foi immediatamente com  a Condessa ao palacio real da Pena, onde estava a cadeira, remetteu a para Lisboa, e brindou com ella a Gomes de Amorim. E quando este foi agradecer-lhe tão valioso mimo, dirigiu-lhe palavras benevolas e delicadas, com o intuito generoso de diminuir a importancia da dadiva, asseverando-lhe que possuía outros objectos do immortal poeta, e que a cadeira a ninguem  devia pertencer com mais direito e justiça do que áquelle que fôra seu discípulo predilecto e amigo dedicado, em cujos  braços expirara o auctor de Fr. Luiz de Sousa.
Só os príncipes, verdadeiramente grandes pelo coração e pela intelligencia, sabem practicar d'estes actos.”
“Desejoso o poeta de mostrar-se reconhecido a este testemunho de consideração e benevolencia, e sabendo quanto D. Fernando ama a sua magnifica residencia da Pena, lembrou-se de celebrar num pequenino poemeto, consagrando-o á Condessa d'Edla, aquella encantadora vivenda”.
“Em quanto a cadeira é toda de páo sancto, estofada de  damasco de seda carmezim, e de alto espaldar, formado por duas grossas columnas, torneadas em espiral, unidas em cima por um bello ornato que representa um barrete de abbade. As costas têm 1 metro e 60 centimetros de altura. A frente é composta de dois formosos leões, de pé, que são de primorosa esculptura, tendo 71 centímetros de altura, com azas que formam uma especie de segundo braço, o que torna o movel commodo e confortavel. A moldura que compõe o assento mede, na frente, 68 centímetros de intervallo entre os peitos dos dois leões. O aspecto geral é elegante e majestoso, e ostenta a apparencia d'um throno. Este movel, verdadeiramente historico e monumental, pertenceu a Garrett por espaço de dezoito annos; vinte annos ao senhor D. Fernando, e há quasi tres que pertence a Gomes de Amorim »
Nunca fui a Cintra, meu amigo; e tenho-lhe escripto d'ella como se fosse de velho conhecimento! Conheço a serra apenas pela fama, o que não é pouco, porque a tradição e a poesia a enfeitam e descrevem de modo que o mesmo é vê-la que ouvir as duas. O Camões imagina-a com as suas naiades escondidas nas fontes, e ainda assim accendendo nas aguas fogo ardente sem lhes valer o asylo contra enredos do amor. O Garrett embrenha-nos por bosques onde o louro inda viceja com a gloria de D. João de Castro, ou sentado no musgo das encostas espairece olhos satisfeitos por larga extensão de plainos. E nós, que ainda juramos sobre taes evangelhos de tão queridos poetas, phantasiamos na mente fontes encantadas e Dodonas venerandos, um eden glorioso, como lhe chama e attesta o poeta inglez.
Não devo por isso adeantar-me mais. Se ainda um dia subir á afamada Cynthia... então... pode ser que lhe escreva nova carta.
O que desejei principalmente foi recommendar-lhe o poemeto de Gomes de Amorim, que é um poeta notavel pela espontaneidade, e prosador muito ameno. Temos d'elle versos, dramas, romances  e  viagens.  Antes  de  conhecer  o  homem,     conhecia o escriptor. Era eu criança, e nas minhas primeiras leituras quasi que aprendia o meu abecedario poetico com poesias d'elle, insertas no Jardim Litterario. Continuei a vê-lo depois noutros jornaes e livros, na Revista Universal, no Panorama, no Archivo Pittoresco, nas Artes e Lettras, e nas ultimas publicações com que tem adornado a nossa litteratura.
Ha annos fui  pela  primeira vez a Lisboa, e na primeira recita a que assisti no theatro de D. Maria II foi o Odio de Raça que me patenteou o merito artistico de Tasso, de Delphina, de Emilia Adelaide e Theodorico, interpretando os magníficos characteres, que estão dispostos com rara habilidade naquelle lindíssimo drama. E é effectivamente no drama que mais se distingue o nosso poeta; o Odio de Raça, o Cedro vermelho e Os herdeiros d'um millionario honram singularmente a litteratura, tanto portugueza como brasileira.
Mas leia o poemeto, meu amigo, e depois me dirá a sua opinião. Desculpe a extensão da minha carta, e creia-me  sempre  seu  devoto, grato e affectuoso,
A .  A.  da  Fonseca Pinto.

Notas finais:
Resumindo um pouco: se a cadeira pertenceu primeiro a um abade, e atendendo a que as Ordens Religiosas foram extintas em 1834, a cadeira seria no mínimo do século XVIII.
Se FGA, bisavô, recebeu a cadeira em 1876, seu filho, meu avô e também homónimo, deve tê-la conhecido e, certamente admirado, uma vez que só em 1877 emigrou para o Brasil.
Quando o poeta morreu, em 1891, meu avô, já com dinheiro, escreveu de imediato às irmãs que nada vendessem. Ele lhes pagaria o que fosse necessário.
Mas... naquele tempo não havia correio de avião, nem e-mails. Como a viúva e uma ainda filha solteira ficaram sem recursos, logo foi feito o leilão da biblioteca (valiosíssima) e de alguns móveis, E nessa voragem famosérrima cadeira do Garrett foi vendida a... quem? Perdeu-se lhe o rastro e nunca mais se soube dela.
Meu avô regressa definitivamente do Brasil a Portugal em 1899. Imagino, talvez sonhe, que ele terá procurado o paradeiro dessa relíquia, mas em vão.
Então em 1912, como está acima, comprou uma cadeira de espaldar que teria pertencido ao Conde de Farrobo, e por graça ou para manter a ideia viva, em sua casa ela passou a ser chamada a cadeira do Garrett.
Estamos a chegar ao fim da HISTÓRIA DE UMA CADEIRA, mas no fundo é a História De Duas Cadeiras.
Se o meu avô não conseguiu a cadeira do Grande Amigo de seu pai, Visconde... comprou a de um Conde!
E o 25 de Abril também com esta acabou!
21/01/2020

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020


Ensaio Teo... e Lógico

Pouco mais que adolescente, morava em Lisboa e estudava em Évora. Quase cento e cinquenta quilómetros separavam as duas cidades. Atravessávamos o rio para apanhar o combóio no Barreiro. Isto só depois das férias, porque fins de semana... nem para os mais abastados era.
Raro, mas às vezes tinha um dinheirinho no bolso, pouco, sobretudo para comprar, quando o combóio parava em Casa Branca e se dividia, indo metade para o Algarve e outra metade que passava perto de Évora, um sanduiche, de maravilhoso pão alentejano com uma febra de porco muito bem frita, que exalava um cheiro divino naquela estação. Era barato e sobrava um pouco do pouco de que dispunha.
Numa banca de jornais, revistas, etc., ainda no cais em Lisboa, comecei a comprar uns livrinhos de bolso para ler na viagem, uma coleção muito interessante. Lembro de ter comprado “Os Grandes Músicos”, “Grandes Pensadores” e alguns outros, mas foi sobretudo “Os Grandes Religiosos”, escrito por um pastor protestante americano, de que sempre guardei uma frase lapidar.
Já lá vão talvez mais de setenta anos por isso não lembro de todos os religiosos ali descritos, teria Abraão e outros do Antigo Testamento, talvez Avicena, Santo Agostinho, Francisco de Assis, etc., e sobretudo, Jesus. O livro dava uma breve história de cada um, mas terminava o capítulo de Jesus com esta frase:  
O cristianismo é o milagre da realidade!
Fui educado como católico, tive Grandes Amigos padres, mas toda a vida ficou pairando no ar uma sensação de que me faltava alguma coisa. E isso era, e sempre foi, a dúvida da Fé.
Hoje, a carregar uma carcaça envelhecida, tudo quanto me sobra para fazer é pensar, e escrever cada vez menos, porque o motor vai dando os seus ratés. Nos entretantos a cabeça está sempre a trabalhar, muitas vezes a sonhar, o que me leva quase todos os fins dos dias a estar cansado... da cabeça.
Mas como ela ainda não parou, vou penetrando nos problemas até que chega uma hora em que o pensamento está, mais ou menos maduro, para passar à escrita.
Desta vez é o Temer a Deus que me tem ocupado.
As três principais religiões monoteístas – houve outras de que falarei a seguir – judaísmo, cristianismo e islamismo, criaram, cada uma o seu Deus, apesar de estarem estranhamente de acordo de que há Um só!
Mais estranho é que eles meteram na cabeça das pessoas que todos deveriam ser tementes a Deus. Deus poderia nos castigar; primeiro havia céu, purgatório e inferno. Ultimamente o purgatório foi purgado! O islão promete não sei quantas virgens para os “bons” e uns quantos jovens homens para as mulheres! Um absurdo e uma deslavada mentira ou atrevimento.
E durante anos nós sonhamos que nos vamos encontrar com os entes queridos que já partiram e muitos que estarão lá, no Céu, velando por nós.
Isto a parte boa, porque havia calamidades que Deus nos poderia mandar, como dilúvios, o bombardeio de Sodoma e Gomorra, doenças, guerras, etc.
O maior contrassenso de qualquer destas religiões.
Como é possível conceber um Deus que nos complexa a viver temendo, sob a ameaça que ele nos dê umas pauladas na cabeça, e nos acena com um Eliseu ou nos ameaça com o fogo eterno?
Deus, onipotente, onisciente, seja quem for, sempre desconhecido, foi unicamente o Criador de tudo quanto existe, e isso deste os tempos mais remotos quando os homens, por ignorância e inteligência, concluíram que algo havia de superior à matéria. Mas é impossível conceber que Ele nos esteja a observar para nos encher de desgraças se não nos comportarmos bem.
Deus é a essência do Bem.
O que fica evidente destas invenções dos homens é que fizeram das religiões uma força poderosa.
Poderosíssima, mantendo o rebanho de crentes a procurarem fazer as sacanagens às escondidas para que Deus e os arvorados em detentores do poder Divino, não vissem.
Quer isto dizer que todos vivemos enganados e subjugados a essas poderosas organizações que atemorizam as nossas consciências e se arrogam o direito de nos obrigarem a viver como eles, simplesmente, e quantas vezes analfabetos, hierarcas determinarem.
Para que servem ou serviram essas tão poderosas forças?
Foi nelas, com suas imposições ditas divinas,  que os reis e governantes desde que o tempo é tempo se apoiaram para manter o poder.
E sob a alegação de que as forças divinas os comandavam foram destroçando outros povos que não pensavam como eles, matando destruindo tudo, sob a proteção daquele Deus que eles tinham criado para matar.

Há muito que cheguei a algumas conclusões, mesmo sabendo que vão continuar infindáveis dúvidas.
Deus terá sido Criador dos Céus e da Terra, porque alguém, alguma entidade superior, teve que dar início a tudo quanto existe. Mas como surgiu essa entidade se antes era o Nada? De algum lado veio!
Vamos admitir que o Universos não teve princípio nem terá fim, mesmo sabendo que há estrelas que se apagam e outras que nascem.
Quem criou tudo isso? Um Deus que agora nos vai esbofetear se pecarmos, e para pecado é tudo quanto fere a natureza?
Não pode.
O mais antigo fundador do monoteísmo, de acordo com o que, até agora, se tem conseguido apurar, terá sido Zaratustra. Pelo menos foi ele que difundiu a crença num ser também Poderoso, Ahura Mazda, através dos seus escritos, “Os Gathas”, “Os Cantos”, e que viveu cerca de 1700 a.C.
Ahura, as forças benevolentes da existência, o Senhor. Mazda, o conhecimento, a sabedoria.
Zaratustra canta seus louvores ao Ser Supremo, sempre carregado de perguntas e dúvidas, como acontece com todo o ser humano que... pensa, porque, jamais, até ao fim dos tempos, ninguém vai conhecer a face de Deus.
Em todos os Cantos não se vê que Zaratustra alguma vez tenha pedido a Ahura que o ajudasse a combater quaisquer inimigos! Pede-lhe pelo raciocínio da Sabedoria, a possibilidade de O conhecer, Tu que és o Criador de toda a existência”.
Pede-lhe que o faça saber se as palavras que digo e que ensino são verdadeiramente justas.
Nas suas meditações Zaratustra descobre uma das leis fundamentais da existência: a dicotomia das forças e dos fenómenos. Neste mundo cada força ou cada fenómeno é identificado pela força ou fenómeno que se lhe opõe. O bem é identificado como bem porque o mal existe, a luz pelas trevas, a verdade pela mentira, o mesmo que amor e raiva, serenidade e angústia, alegria e tristeza, justiça e injustiça, etc. Na lua ou noutros lugares inabitados o bem e o mal não têm qualquer senso. Donde se deduz que todos esses fenómenos são criados no pensamento.
Resumindo, esta dicotomia não é obra do Criador, mas do pensamento humano, daqueles homo sapiens, os que sabem e sabem que sabem, enquanto os nossos amigos, ditos, irracionais, não tendo como formular essas situações, não conhecem o bem e o mal, talvez o medo por ser um instinto de sobrevivência.
E Zaratustra ao dirigir-se aos sábios do seu tempo, e de todos os tempos, diz:
Cada um de vós, homem ou mulher, escolhe uma das vias, dos dois princípios fundamentais, que são como gémeos que nascem no pensamento, e que representam o bem e o mal. Os sábios, os justos, escolherão o bem, os ignorantes o mal. E assim eles, os seres humanos criaram a vida e a não vida.
O homem pode pois escolher tomar a decisão mais leviana mesmo sem disso terem consciência.
Zaratustra fala muita vez dos dois mundos diferentes: o mundo físico e material e o mundo, do pensamento, do mental, espiritual ou da alma, palavra bonita que vem de anima, animação.
Não sei de quem é a frase de que sempre lembro: Nada de grande jamais se fez sem entusiasmo, sem animação!
Então Zaratustra dirige-se a Ahura a pedir lhe o pensamento Justo, para que a luz da justiça revele a felicidade dos dois mundos, o material e o espiritual, para poder guiar os seus companheiros.
 O Canto I (yasna, hat 28) começa:
Com os braços levantados, ó Mazda
eu oro e Te peço humildemente
 De me concederes a bondade.
Que todas as minhas ações
estejam de acordo com
a Sabedoria e o Pensamento justo.
Assim eu poderei Te satisfazer
e satisfazer a alma da Terra.

Enfim Zaratustra o grande apóstolo, o grande mensageiro do Mazdeísmo, nunca refere a possibilidade do Ser Supremo, o Deus da sabedoria, poder vingar-se ou castigar os seres humanos. Podem merecer o Seu reconhecimento ou serem ignorados, mas jamais castigados.
Há muitos, muitos anos comprei, talvez por acaso, o livro de Nietzsche, “Assim falava Zaratustra”, na altura em que ainda era livro proibido pelo Index da Igreja de Roma, e apesar de ser um poema foi baseado em “Os Gathas”.
E lembro que, mesmo sabendo, pelas “hierarquias” que Nietzsche era um inimigo de Roma, a verdade é que me marcou. Perdi esse livro, no meio de tantas andanças, e há uns trinta anos comprei outro. Já li esse livro duas ou três vezes, e desta vez fui à fonte, ao “Os Gahtas”, e confirmei porque me impressionou o Nietzsche.
E, depois de muito pensar, procurando, como sempre na minha vida, o Pensamento Justo, olho à nossa volta e vejo que o Deus do mundo ocidental é um Deus vingativo, o que só pode ser uma violenta inverdade.
Chego à conclusão de que não necessitamos desses deuses. Zaratustra, Buda mostram-nos o caminho do Bem, da Justiça.
E Cristo? Chegou e virou a “caridade” do avesso. Em vez do “não faças aos outros o que não gostarias que fizessem contigo”, disse, voz firme: “Faz”.
Cristo resumiu todos os ensinamentos a uma frase: Amai os outros.
É evidente que incomodou os donos das outras religiões e dos poderes temporais. Crucificaram-no de forma ignóbil, e assassinaram quase todos dos seus apóstolos. Ninguém queria amar os outros se isso significava perder poder, liderança, dinheiro.
Hoje as pessoas continuam a discutir sobre o Cristo histórico. Cristo foi um Messias que, uma vez mais, veio dizer à humanidade como se deviam comportar.
Quando Jesus disse aos discípulos: comparai-me e dizei-me com quem pareço. Só Tomé pôde responder com evidência: Mestre, minha boca é incapaz de dizer a quem tu és semelhante.
Justiça, bondade, amor ao próximo parece serem palavras que estão a ser erradicadas de todas as línguas. Ficarão em alguns dicionários amarelecidos e esquecidos pelo tempo.
Mas ficaram exemplos do pensamento inicial, símbolos materiais, mais fáceis de manter do que o Pensamento Justo. Os templos Mazdeístas tinham basicamente um lugar (altar?) para o fogo sagrado, que os sacerdotes não podiam deixar apagar. Mais tarde Moisés criou a Menorá, o candelabro de sete braços, e chegou ao cristianismo com as velas devocionais, ou a lamparina de azeite, acesas para “demostrar” a fé e... aproveitar para fazer pedidos a Deus ou a algum santo. Resquícios mazdeístas.
Apareceram muitos doutores da igreja, sim, como muitos rabinos e imãs adaptaram os sentimentos básicos das religiões ao seu gosto e modo de dominar.
A igreja de Roma para se impor fez ainda milhares de santos e santas como Santa Helena por ser cristã e mãe de imperador, e tantos outros que nem se sabe se existiram ou quando, e até lembro do Bom Papa João XXIII ter des-santificado  dois ou três, um deles São Jorge, que não passariam de mitos. É claro que no Brasil São Jorge é um dos maiores santos, e não depende da opinião da tal hierarquia.
Pessoalmente admiro e venero profundamente Francisco de Assis, António de Lisboa/Pádua, o Bom Papa João XXIII, uma das maiores e mais santas figuras de igreja de todos os tempos, e até conheci um Santo, desconhecido da igreja, que foi o Padre José Maria, da Casa do Gaiato em Moçambique, e alguns mais.
Tenho imensa admiração por Buda e sua lição de vida, um homem que morreu sem descobrir a verdade, e acho Zaratustra um modelo de ética e honestidade.
Não deixo de ter o pensamento cristão porque a mensagem de Cristo sobrepassa tudo.
Mas há muito que não beijo anéis de bispos e outros considerados importantes, e nem me interesso pelo que eles me dizem. Segundo o Evangelho de S. Tomé (apócrifo, não entendo porquê) Jesus disse aos discípulos:
Talvez os homens pensem que vim trazer paz à terra, e não sabem que eu vim trazer discórdia, fogo, espada e guerra. Haverá cinco numa casa, três contra dois, pai contra filho, filho contra pai. E serão solitários.
O panorama do mundo! Onde um imenso fosso entre o Bem e o Mal continua a expandir-se.
O Pensamento Justo... fica para o final dos tempos. O tal arrependimento.

17/02/2020

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020




 

Afinal... de que tamanho é o Brasil ?

 

Desde que o lula perdeu a mamata de roubar o Brasil o mundo se virou contra o atual Presidente Bolsonaro, e até o Papa está a meter o nariz na Amazónia.

Já escrevi diversas vezes que há muitos países que QUEREM dividir e ficar com uma boa parte da Amazónia, onde qualquer parte é rica.

Assim xingam o governo do Brasil que está a destruir a Amazónia. Falsidade total.

Por isso achei que era bom divulgar novamente o que já fiz em 2008. Neste texto está a verdade, e vê-se como o lula – ladrão – vendeu uma parte do Brasil, e continua a ser herói das esquerdas.

É bom que as pessoas tomem mais conhecimento do aqui se passa e vejam a verdade.

E é bom que divulguem.

É muito importante que os jovens de hoje tomem conhecimento do perigo que corre o Brasil de perder parte do seu precioso território a troco de nada.

 PERIGO DE INVASÃO MILITAR EM RORAIMA - depoimento de uma testemunha ocular –

No momento em que tanto se fala da cobiça internacional sobre a Amazônia,  da ação de ONGs de todos os tipos agindo livremente na região Norte, de  estrangeiros vendendo pedaços da nossa floresta, da encrenca que está sendo a homologação da Raposa/Serra do Sol, de índios contra índios, de índios contra não-índios, das ações ou omissões da Funai, do descontentamento das Forças Armadas com referência os rumos políticos que estão sendo dados para esta quasedespovoada mas importantíssima parte das fronteiras da nação, é mais do que preciso falar quem sabe, quem conhece, quem vivencia ou quem tenha alguma informação de importância.
Assim sendo, para ficar registrado e muito bem entendido, vou contar um acontecimento de magna importância, especialmente para Roraima, e do qual sou testemunha ocular da História.
Corria o ano de 1993 – portanto, já faz 15 anos. Era governo de Itamar Franco e as pressões de alguns setores nacionais e vários internacionais, para a homologação da Raposa/Serra do Sol, eram fortes e estavam no auge. Tinha-se como certíssimo de que Itamar assinaria a homologação
Nessa época, eu era piloto da empresa BOLSA DE DIAMANTES, que quinzenalmente enviava compradores de pedras preciosas para Uiramutã, Água Fria, Mutum e vizinhanças.
No dia 8 de setembro de 1993, aí pelas 17:00, chegamos em Uiramutã, e encontramos a população numa agitação incomum, literalmente aterrorizada. Dizia-se por toda parte, que Uiramutã ia ser invadida, que havia muitos soldados "americanos", já vindo em direção à localidade.
A comoção das pessoas, a agitação, o sufoco eram tão grandes que me contaminou, e fui imediatamente falar com o sargento PM que comandava o pequeníssimo destacamento de apenas quatro militares, para saber se ele tinha conhecimento dos boatos que circulavam, e respondeu-me que sabia do falatório.
Contou-me então que o piloto DONÉ (apelido de Dionísio Coelho de Araújo), tinha passado por Uiramutã com seu avião Cessna PT-BMR, vindo da cachoeira de ORINDUIKE, no lado brasileiro, (que os brasileiros erradamente chamam de Orinduque), contando para várias pessoas, que havia um acampamento enorme, com muitos soldados na esplanada no lado da Guiana, na margem do rio Maú, nossa fronteira com aquele país.
Aventei a necessidade de que o sargento, autoridade policial local, fosse  ver o que havia de fato e falei com o dono da empresa, que aceitou, relutante e receoso, emprestar o avião para o sargento. Como, entretanto, o sol já declinava no horizonte, combinamos o vôo para a manhã seguinte.
Muito cedo, o piloto Doné e seus passageiros, que tinha ido pernoitar na maloca do SOCÓ, pousaram em Uiramutã. Eu o conheci nessa ocasião, e pude ouvir dele um relato. Resumindo bastante, contou que na Guiana havia um grande acampamento militar e que um avião de tropas estava trazendo mais soldados para ali.
Estávamos na porta da Delegacia, quando chegou uma Toyota do Exército, com um capitão, um sargento e praças.,vindos do BV 8. Ele ia escolher e demarcar um local para a construção do quartel de destacamento militar ali naquela quase deserta fronteira com a Guiana. BV 8 é antigo marco de fronteira do Brasil com a Venezuela, onde há um destacamento do Exército, na cidade de Pacaraima. Muito interessado e intrigado com o fato, resolveu ir conosco nesse vôo.
O capitão trazia uma boa máquina fotográfica e emprestei a minha para o sargento. O vôo foi curto, apenas seis minutos. Demos tanta sorte, que encontramos um avião para transporte de tropas, despejando uma nova leva de soldados, no lado guianense. Voando prá lá e prá cá, só no lado brasileiro, os militares fotografavam tudo, e o capitão calculou pelo número de barracas, uns 600 homens, até aquele momento.
Fiz diversas idas e vindas e, numa delas vi o transporte de tropas decolando e virando para a esquerda. Exclamei para o capitão: eles vem pra cima de nós! Como é que você sabe? Perguntou. Viraram para a esquerda, que é o lado do Brasil e, não da Guiana, respondi. Girei imediatamente a proa para Uiramutã e, ao nivelar o avião, o capitão me disse muito sério: estamos na linha de tiro deles! Foi então que olhando para a direita, vi à curta distância e, na porta lateral do transporte, um soldado branco, com um fuzil na mão.
Confesso que foi um grande susto! O coração parecia-me bater duas e falhar uma. Quem conhece a região, sabe que ali naquela parte, o Maú é um rio muito sinuoso. Enfiei o avião fazendo zig-zag nesses meandros, esperando conseguir chegar em Uiramutã. Se atiraram, não ficamos sabendo, mas após o pouso, havia muita gente na pista, que fica juntinho das casas. Agitadas, contaram que aquele avião tinha girado duas vezes sobre nós e a cidade, tomando rumo de Lethen, na Guiana, onde há uma pista asfaltada, defronte de Bomfim, cidade brasileira na fronteira. Com esse fato, angustiou-se mais ainda a população, na certeza de que a invasão era iminente. O capitão determinou ao sargento e a mim, que fizéssemos imediatamente um relatório minucioso, para ser envido ao comando da PM, em Boa Vista e partiu acelerado de volta ao pelotão de fronteira no BV8.
Na delegacia, o sargento retirou o filme da minha máquina fotográfica,para enviar ao seu comando e eu datilografei um completo relatório que ele colocou em código e transmitiu via rádio para Boa Vista. Naquela época, o chefe da S2 da PM (Seção de Inteligência), era o major Bornéo.
Uns quatro dias depois que cheguei desse giro das compras de diamantes, tocou a campainha da minha casa, um major do Exército. Apresentou-se e pediu-me para ler um papel, que não era outro, senão aquele mesmo que eu datilografara em Uiramutã , e do qual o comando da PM enviara cópia para o comando do Exército em Boa Vista. Após ler e confirmar que era aquilo mesmo, pediu-me para assinar, o que fiz. Compreendi que tinha sido testemunha de algo grande, maior do que eu poderia imaginar, e pedi então ao major, para dizer o que estava acontecendo, uma vez que parte daquilo eu já sabia. Concordou em contar, desde que eu entendesse bem que aquilo era absolutamente confidencial e informação de segurança nacional. Concordei. Disse o major, que a embaixada brasileira em Georgetown tinha informado ao Itamarati, que dois vasos de guerra, um inglês e outro, americano, haviam fundeado longe do porto, e que grandes helicópteros de transporte de tropas, estavam voando continuamente para o continente, sem que tivesse sido possível determinar o local para onde iam e o motivo. Caboclos guianenses (índios aculturados) tinham contado para caboclos brasileiros em Bomfim, cidade de Roraima na fronteira, terem os americanos montado uma base militar logo atrás da grande serra Cuano-Cuano, que por ser muito alta e próxima, vê-se perfeitamente da cidade. O Exército brasileiro agiu com presteza, e infiltrou dois majores através da fronteira, e do alto daquela serra, durante dois dias, filmaram e fotografaram tudo. Agora, com os fatos ocorridos em Orinduike, próximo de Uiramutã, nossa fronteira Norte, fechava-se o entendimento do que estava acontecendo.
E o que estava acontecendo? As pressões internacionais para a demarcação da Raposa / Serra do Sol apertavam, na certeza de que o Presidente Itamar Franco assinaria o decreto. Em seguida, a ONU, atendendo aos "insistentes pedidos dos povos indígenas de Roraima", determinaria a criação de um enclave indígena sob a sua tutela, e aí nasceria a primeira nação indígena do mundo. Aquelas tropas americanas e as inglesas, eram para garantir militarmente a tomada de posse da área e a "nova nação".
Até a capital já estava escolhida: seria a maloca da Raposa, estrategicamente localizada na margem da rodovia que corta toda a região de Este para Oeste, e divide geográfica e perfeitamente a região das serras daquela dos lavrados roraimenses – que são os campos naturais e cerrados.
Itamar Franco – suponho – deve ter sido alertado para o tamanho da encrenca militar que viria, e o fato é que, nunca assinou a demarcação.
Nessa mesma ocasião (para relembrar: era começo de setembro de 1993), estava em final de preparativos, o exercício periódico e conjunto das Forças Armadas nacionais, na cidade de Ourinhos, margem do rio Paranapanema, próxima de Sta. Cruz do Rio Pardo e Assis, em São Paulo, e Cambará e Jacarezinho, no Paraná.
Com as alarmantes notícias vindas de Roraima, o Alto Comando das Forças Armadas mudou o planejamento, que passou a chamar-se "OPERAÇÃO SURUMU" e, como já estava tudo engrenado, enviou as tropas para Roraima. Foi assim que a partir da madrugada de 27 de setembro de 1993, dois aviões da VARIG, durante vários dias, Búfalos, Hércules e Bandeirantes despejaram tropas em Roraima. Não cabendo todas as aeronaves militares dentro da Base Aérea, o pátio civil do aeroporto ficou coalhado de aviões militares. Chegaram também os caças e muitos Tucano. Veio artilharia anti-aérea, localizada nas cercanias de Surumu, e foi inclusive expedido um aviso para todos os piloto civis, sobre áreas nas quais estava proibido o sobrevôo, sob risco de abate.
Tendo como Chefe do Comando Militar da Amazônia (CMA), o general de Exército José Sampaio Maia – ex-comandante do CIGS em Manaus, e como árbitro da Operação Surumu, o general de Brigada Luiz Alberto Fragoso Peret Antunes (general Peret), os rios Maú, Uailã e Urariquera enxamearam de "voadeiras" cheias de soldados. Aviões de caça fizeram dezenas de vôos rasantes nas fronteiras do Norte. O Exército também participou com a sua aviação de helicópteros, que contou com 350 homens do 1º, 2º e 3º esquadrões, trazendo 15 Pantera (HM-1) e 4 Esquilos, que fizeram um total de 750 horas de vôo. Vieram também cerca de 150 pára-quedistas militares e gente treinada em guerra na selva. A Marinha e a Força Aérea contribuíram com um número não declarado de homens, navios e aeronaves.
Dessa maneira, não tendo Itamar Franco assinado o decreto de demarcação da Raposa / Serra do Sol e, vindo essas forças militares para demonstrar que a entrada de soldados americanos e ingleses em Roraima, não seria feita semgrandes baixas, "melou" e arrefeceu a intenção internacional de apossar-se desta parte da Amazônia, mas não desistiram.
Decepcionando muito, embora sendo outro o contexto político internacional, Lula fez a homologação dessa área indígena, contestada documentalmente no Supremo Tribunal e, ainda tentou à revelia de uma decisão judicial, retirar "na marra", os fazendeiros e rizicultores ("arrozeiros") dessa área, que como muita gente sabe – inclusive os contrários – tem dentro dela propriedades regularmente documentadas com mais de 100 anos de escritura pública e registro, no tempo em que Roraima nem existia, e as terras eram do Amazonas. Agora, entretanto, os interesses difusos e estranhos de muitas ONGs, dizem na Internet, que esses proprietários são "invasores", quando até o antigo órgão anterior ao INCRA, demarcou e titulou áreas nessa região, e que a FUNAI, chamada a manifestar-se, disse por escrito, que não tinha interesse nas terras e que nelas, até aquela ocasião, não havia índios. As ONGs continuam a fazer pressão, e convém não descuidar, porque nada indica que vão desistir de conseguir essas terras "para os índios", e de graça, levarem além de 1 milhão e 700 mil hectares – quase o tamanho de Sergipe – tudo o mais que elas tem: ouro, imensas jazidas de diamantes, coríndon, safira de azul intenso, turmalina preta, topázio, rutilo, nióbio, urânio, manganês, calcáreo, petróleo, afora a vastidão das terras planas, propícias à lavoura, área quase do mesmo tamanho onde Mato Grosso planta soja que fez a sua riqueza.
Isso, é o que já sabemos, porque uma parte disso foi divulgada numa pesquisa da CPRM – Cia. de Pesquisa de Recursos Minerais, em agosto de 1988 (iniciada em 1983), chamada de Projeto Maú, que qualifica essa parte da Raposa/Serra do Sol, como uma das mais ricas em diamantes no Brasil, sendo o mais extenso depósito aluvional de Roraima, muito superior ao Quinô, Suapi, Cotingo, Uailã e Cabo Sobral. Essa pesquisa foi inicialmente conduzida pelo geólogo João Orestes Schneider Santos e, posteriormente, pelo também geólogo, Raimundo de Jesus Gato D´Antona, que foi até o final do projeto, constatando a possibilidade da existência de até mais de 3 milhões de quilates de diamantes e 600 Kg de ouro. Basta conferir a cotação do ouro e diamantes, para saber o que valem aquelas barrancas do rio Mau, só num pequeno trecho.
A "desgraça" de Roraima é ser conhecida internacionalmente na geologia, como a maior Província Mineral já descoberta no planeta. Nada menos que isso!
E o que ainda não sabemos? Essa pesquisa, feita em pouco mais de 100 quilômetros de barranca do rio, cubou e atestou a imensa riqueza diamantífera da área. Entretanto, o Estado de Roraima ainda tem coríndon, manganês, calcáreo e urânio, afora mais de 2 milhões e 100 mil hectares de terras planas agricultáveis, melhores que aquelas onde plantam soja no Mato Grosso.

Izidro  Simões
66 anos, aposentado em 2005, 42 anos de aviação, sendo 31 por toda a Amazônia, dos quais, 20 em Roraima, onde reside.
izidropiloto@oi.com.br


Como é sempre bom confirmar veracidade do texto e autor – e são autênticos – achei que seria útil obter, mesmo veladamente, a opinião de alguém que muito prezo e admiro, e, caso raro, não metido nas corrupções, de qualquer ordem, mas que vive entre as altas esferas do poder, e que me respondeu assim:

Meu caro,
Espero que todos estejam bem.
Sem insultá-lo com desculpas relativas ao volume de trabalho, que é mesmo grande, mas o fato é que ando viajando com frequência mas sem ir ao Rio. As andanças envolvem seminários e palestras que exigem preparação, então...
Tenho acompanhado todas as tuas mensagens e o quanto posso as notícias. Por sorte tenho gente que está lidando muito de perto com este problema das reservas e te asseguro que ninguém está dormindo. O problema é complexo e tem muito fogo amigo na jogada atrás de faturar. A traição é fato comum na história dos homens.
Todos aqui vão bem e adaptando-se bem à cidade e à vida aqui. A ver o que virá.
Mando os melhores desejos de que tudo lhe sorria e prometo visita quando por aí for.
“x”

Como se vê o assunto é grave. Gravíssimo. Há MUITO em jogo nas chamadas terras indígenas, tais como ouro, petróleo, gás, e tudo o mais quanto a imaginação de cada um for capaz. E atrás dessas riquezas, os índios... olham, e esperam para ver qual o conjunto dos mais ricos que abocanhará o bolo!
Entretanto, hoje saiu no jornal mais um texto interessante. Do prof. Denis Rosenfeld, em que deixa no ar a pergunta: e os agricultores, que estão em áreas hoje chamadas reservas indígenas e cujos terrenos lhes foram concedidos legalmente, alguns há mais de 20 anos, dom títulos de posse, tudo perfeitamente “legalizado”?
O problema é extremamente complexo, mas com o super governa-se a perdoar os vergonhosos calotes dos vizinhos e muy amigos, Morales e Correia, não seria para admirar que “vendesse” também um substancial parte da Terra Brasilis à comunidade internacional.
O país corre perigo. De fato. Tomos temos que estar muito atentos

29-set-08