Quem manda lá em
casa?
Você, que está a ler este texto, se é homem, deve pensar
que são os homens, com a sua força bruta que dominam o mundo.
Vou só lembrar alguns nomes da história para o levar a
pensar quem é que, no final, manda.
É evidente que não esqueço o paranóico do Henrique
VIII, nem outros semelhantes, mas bem procurado encontrará algumas mulheres que
fizeram o mesmo a uns quantos maridos.
Comece por recordar aquela que, segundo a Bíblia, foi
a primeira mulher, a famosa, famosíssima Eva.
Estavam, ela e o parceiro (namorado, porque ainda não
eram casados) numa boa, num Paraíso que, diz a dita Bíblia, não tem semelhante
em beleza e quietude neste planeta, quando a sujeita meteu na cabeça do macho,
homem fortão, feito de barro, mas com a melhor argila da região, que essa coisa
de serem inferiores a Deus era uma afronta.
O cabra macho ainda lhe deu uns “chega pra lá, não vem
com essas conversas, tamo aqui numa nice, etc”, mas a dita cuja não largava do
pé dele. Inventou uma história complicada que metia uma cobra que andava a
persegui-la, mas esqueceu-se de dizer que, quando apanhou a cobra distraída,
tirou-lhe o veneno dos dentes e o colocou dentro duma maçã, lindona, que as havia
muitas lá no Jardim de Éden.
Mesmo sem fome, vozinha meiga, dengosa, decote
exagerado para a época, decote que ia até aos pés, porque só depois disso é que
Deus os vestiu com uma pele de carneiro, prometendo isto e aquilo, convenceu o
“chefe” Adão a comer a maçã!
Deu a maçã, mesmo
toda decotada
Aí o cara danou-se. Ficou meio doente, alucinado,
insultou Deus que, ofendido na sua Omnipotência, lhes deu logo, ipso facto,
ordem de despejo daquele idílico lugar.
Depois a Eva deve ter levado uns tapas naquela cara e,
de raiva, criou tão mal os dois primeiros filhos que um matou o outro.
Passam anos, muitos anos, que nesse aspecto a Bíblia
perdeu a conta e botou lá uns números absurdos, e lá volta o “Livro dos Livros”
a contar que havia uma boa quantidade de mulheres formosas (ainda hoje há) que
nada tinham para fazer. Não havia emprego. Então os homens começaram a fazer
“comércio” com elas. E a pouca vergonha num instante – instante bíblico –
cresceu de tal forma que Deus viu que estava tudo corrompido, achou que tinha
feito o homem com barro podre e decidiu extingui-los. Depois faria outro
melhor. Infelizmente, não fez.
Mas havia lá um sujeito tranquilo, um cara legal, e
Deus na sua infinita compaixão pensou em tentar reabilitar a humanidade e disse
ao amigo Noé: Olha Noé, isso aí na terra está uma zona e vou acabar com essa
parafernália. Faz aí uma embarcação, boa, bem feita, madeira resinosa (Deus
sabia muito bem o que era necessário) porque vou inundar tudo. Leva contigo
a tua família e alguns animais (todos os da terra não caberiam nem em
vários milhões de barcos, aliás arcas) e vamos começar tudo de novo.
Não começou nada novo.
Alguns descendentes de Noé não eram recomendáveis! E a
prova não tardou a aparecer, e assim que chegamos a Abraão já vemos Sara,
que era infértil dizer ao marido: : Bem vês que o Senhor me fez estéril, e não
posso ter filhos. Toma pois a minha escrava Agar, a ver se ao menos por ela
posso ter filhos. E assim nasceu Ismael. Apesar de nascer de Agar, de acordo
com a lei mesopotâmica, Ismael era creditado como filho de
Sara tornando-se herdeiro legal. Mas um dia Deus lá fez uma habilidade e
mandou Abraão se juntar novamente com Sara, já velha, e nas andanças com
o velho, pariu Isaac.
Não tardou que Sara brigasse com Agar, e tentou obrigar o marido a
correr com Ismael e sua mãe, porque queria deixar tudo para Isaac! Abraão era
inteligente. Afastou os dois, deu a ambos fortuna, e calou a boca de Sara.
Felizmente os irmãos continuaram a dar-se bem.
Abraão era considerado um homem rico. Tinha grandes rebanhos de ovelhas
e cabras que ocupavam extensas áreas de terra, assim como seu sobrinho Loth
(não era antepassado, que se saiba, do grande Marechal Loth grande figura do
Brasil) igualmente rico, para que não se criassem questões por falta de espaço
para os animais, decidiram ir cada um para seu lado, para novas terras.
Combinaram que um iria para a esquerda e outro para a direita. (Nada de política
nisso)
No caminho, Loth, que seguia com a sua família, parou em Sodoma para descansar
um pouco e juntar os animais, mas Deus avisou-o que aquela terra, Gomorra e
tudo à volta, numa grande extensão, ia ser destruída por chuva de fogo e
enxofre.
Deus sabia tudo. Sabia até que um meteoro iria escaqueirar toda a
região.
O pessoal daquelas bandas vivia numa pouca vergonha, completamente
vergonhosa.
E mais disse Deus: nem se atrevam a olhar para trás. Loth saiu com a
mulher que armada em esperta quis ver o que acontecia e ficou transformada numa
estátua de sal (devia ter ficado meio amarela por causa do enxofre) e seguiu só
com as duas filhas, jovens, virgens e...
Andaram muito, mas mesmo muito e foram abrigar-se numa montanha. As
gatinhas, todas boazudas, em conversa moderna entre elas disseram: Aqui não
há homens, como vamos deixar descendência? - Fácil, embebedamos o nosso pai,
com vinho (já havia vinho a vender por ali, ou quem o produzisse, se não
havia homens? Devem ter levado de recordação de Sodoma) e deitamo-nos, uma
de cada vez com ele. Assim fizerem, primeiro a Moab e depois a Amon.
O velho Loth, mesmo de porre, tacou em cima das duas, que deram origem às
tribos dos moabitas e dos amonitas.
Começaram bem. Incesto à traição.
Abraão mandou entretanto à procura de mulher para
casar com Isaac. Ao delegado da
procura apareceu uma jovem, que segundo consta era lindíssima (boa com’ó milho),
Rebeca. Casaram e nasceram dois filhos gémeos. Esaú nasceu primeiro,
assim sendo o primogénito, mas a dita Rebeca gostava mais de Iaco. Bem tentou
convencer o marido que Iaco era melhor que Esaú, mas o bom velho Isaac não foi
na conversa dela. O que ela fez? Fantasiou Iaco para se parecer com o irmão e
levou-o a receber a benção do pai.
A história a partir daí começou de novo, mas para o comportamento
dos homens e mulheres... tudo igual.
Que tal vermos o que se
passava na Índia?
Aí por 1.000 a 2.000 a.C uma garota
lindona, segundo o texto épico Majabharata, a personagem mais importante
deste texto, é filha do rei Drupada de Panchala, Draupadi que casa
com Arjuna. Quando
Draupadi chega a casa com seu marido Arjuna e seus quatro irmãos para conhecer
a sogra Kunti, os cinco irmãos vão dizer que Arjuna havia conquistado algo e,
então Kunti, sem saber do que se tratava, diz: divida em igual entre vocês.
Comando materno, não poderia ser
desobedecido, o que levou os cinco irmãos a tornarem-se maridos de Draupadi.
Grande farra, hein, Draupadi?
Como isto se terá passado há uns
4.000 anos, vamos dar uma olhada em tempos mais recentes, talvez com outra famosa
mulher, quase daquelas bandas, que além de também ser linda, era inteligente, a
inimitável Sherazade. De acordo com a lenda, porque ninguém se lembra de a ter
visto, terá vivido há uns 2.500 anos.
Enganou tão bem o marido, um facínora, rei Shariar da Pérsia que em vez de a mandar matar se
apaixonou por ela... e viveram felizes para sempre!
Mulher determinada a
Sherazade. Muito boa... a pena do pavão!
E que tal a Cleopatra VII Thea Philopator, que
parece não seria uma beleza, a não ser quando Elizabeth Taylor a representou?
De qualquer modo era uma faraó, e para generais ou imperadores romanos dormir
com a rainha dos egípcios era uma boa... Devia ser. Mulher determinada,
recuperou inúmeros territórios que haviam pertencido à dinastia ptolomaica, mas
a submissão a Roma acabou com ela, ainda em muito bom uso porque parece ter-se apagado
com 39 anos. Assumiu o trono com 17, e não terá perdido tempo em ter aconchego
na cama. Vestia-se faustosamente – como uma rainha! – usava montes de jóias, teve
três maridos, um que era irmão, outro primo e até Marco Aurélio, e pelo menos
um “namorado”, o glorioso Júlio César a quem se foi oferecer. Foi-os
enganando a todos, enquanto pôde, até que a guerra contra Roma lhe acabou com a
farra.
Chateada, derrotada, lembrou-se da vovó Eva, a da
cobra, mas em vez de lhe tirar o veneno e dá-lo a um romano deixou-se picar
e...
Aproxima-se a nossa época, e vamos passar um pouco por
Portugal
Mencia Lopez
de Haro, biscainha,
nasceu em1215. Casou com um Castro que lhe vendeu uma boa porção das suas
muitas propriedades (!). Enviuvou, volta a casar com Sancho II de Portugal em
1242. Sancho era O Piedoso, monarca mole, e o irmão, depois Afonso III,
primeiro raptou-lhe a mulher, certamente com a colaboração desta, e depois
tirou-lhe o trono. A Doña Mencia... foi para a Galiza e não se falou mais nela!
Leonor Teles
de Menezes, A Aleivosa, nasceu em 1350. Devia ser muito
mais gata do que mostra o seu presumido retrato. Casada com João Lourenço da
Cunha.
Quando o rei
Fernando a viu ficou loucamente apaixonado
por ela – que Fernão Lopes descreveu como sendo "louçana e aposta e de
bom corpo, com suas fremosas feiçõoes e graça" – (hoje se diria boa
comó milho), quis tomá-la por amante.
Leonor, muito vivaça, não foi nesse papo, resistiu, e mandou dizer que
só a teria por casamento. Alegando-se uma remota consanguinidade, obteve a
anulação do primeiro casamento e preparado o casamento com o rei. Isto motivou
uma enorme reprovação popular e perturbação social e política, que gerou um
clima de insegurança em todo o reino. Morreu o rei, arranjou logo um amante,
João Fernandes Andeiro, galego, e como regente, quis entregar o trono a sua
filha casada com João I de Castela, o que seria entregar Portugal.
Dom João, o Mestre de Aviz, meio cunhado e o grande doutor João das
Regras... acabaram-lhe com a ganância.
Philippa of Lancaster, nasceu em 1360, filha do Duque de Lancaster, casou com
o D. João I de Portugal. Os seus filhos foram considerados A Ínclita
Geração. Muito culta, assim que casou foi logo avisando a família e a
nobreza que essa coisa de andar a “traçar” mulher, ou homem, fora do
casamento... seriam postos fora da Corte. Moralizou a sacanagem. Tão
respeitada, ainda hoje, que é a única mulher representada no monumento Padrão
dos Descobrimentos.
Casamentaço. D. João I com Filipa de
Lencastre
Maria Francisca Isabel de Saboia foi Rainha Consorte de Portugal
em dois períodos, primeiro de 1666 até 1668 como esposa de D. Afonso VI, este
física e mentalmente débil, e depois até dezembro de 1683 como “esposa” de D.
Pedro II, irmão do precedente. Parece que em vida do primeiro ela já andava de
sacanagem com o cunhado. Diz-se que foi no bosque de Salvaterra, onde el-rei gostava muito de ir
à caça, que esses amores mais se acentuaram. Morreu, ainda em bom uso,
37 anos, três meses depois do primeiro marido em 1683. Mas já andava com o
segundo há quinze anos. Que era uma farra, era mesmo.
Maria Ana Josefa de Áustria. Arquiduesa da Áustria. Muito
culta, conhecia e falava alemão, francês, italiano, espanhol, latim e
português, e um pouco de inglês. Casou com D. João V, sendo mais velha
do que ele seis anos. O rei João vivia na farra, traçava as madamas nobres que
lhe apetecia o que, como é de supor, deixava a rainha chateada. Embebedado com
tanto ouro que chegava do Brasil, e mandava quase todo para Londres e Flandres
para pagar dívidas, só se preocupava em deixar um herdeiro no trono. De acordo
com o Memorial do Convento, o rei prometeu ao confessor da rainha que
construiria um grande convento se a rainha lhe desse um herdeiro. Deu, e ele
mandou construir o Convento de Mafra. Dizem que o padre confessor teve muito
trabalho para conseguir esse filho! Verdade? Mentira?
Carlota Joaquina de Bourbon. Tanto se
tem já falado, escrito e filmado sobre esta dama, que pouco sobra para dizer. A
Megera de Queluz, como os portugueses a tratavam, ou A Rainha
adúltera, parece que era feia, que o marido, João VI a tratava mal, mas
dizem que ela tinha, com alguma frequência, encontros fortuitos! Daí os nove
filhos terem paternidades diferentes, o que ninguém conseguiu provar. Era só ir
às ossadas deles e ver os DNA. Mas é melhor que descansem em paz.
Maria Pia de Saboia, chegou da Itália para casar com o
rei D. Luis, mas, muito metida a “importante”, desde logo decidiu mostrar-se
arrogante e tratar mal o sogro, um dos homens de maior valia que Portugal teve
em toda a sua história, Dom Fernando de Saxe Coburg.
Ficou conhecida como O
Anjo da Caridade e A Mãe dos Pobres por sua compaixão
e causas sociais (tinha que se mostrar!) mas não se calou e proferiu uma famosa
frase em resposta à crítica de um dos seus ministros devido ao preço das suas
extravagâncias: "Quem quer rainhas, paga-as!".
Saindo de Portugal, e para encerrar o texto, quem não
se lembra de uma mulher, gostosona, que parece ter sido também bastante “generosa”,
e daí ficar junto com estas rainhas. Chamou-se Norma Jeane
Mortenson, mas só nos lembramos dela quando falamos na Marilyn Monroe! Primeiro
casou com um policial, depois com um jogador de beisebol, a seguir com um
dramaturgo, dizem que “dava” para o The Voice, que a levou de presente para o JFK, que
a traçava mesmo na Casa Branca, nas barbas da Jacqueline. Parece que esta
também dava a sua curva naquela Branca Casinha!
De qualquer modo, Marilyn, esta sim, foi a
grande rainha do sec. XX, que faria a felicidade de qualquer rei ou plebeu! Se
não a felicidade... o sonho.
03.11.19
Francisco,
ResponderExcluirMuito bom.
Poderia acrescentar à sua galeria as raínhas meio-irmãs Urraca e Teresa.
Urraca, depois do seu primeiro casamento com Raimundo, o Borgonhês (por ser conde de Bourgogne), o qual teve a gentileza de morrer cêdo, deu umas "voltas" com o seu cunhado Henrique (também o Borgonhês, mas que, por ser filho-segundo do Duque de Bourgogne, nenhuma consanguinidade o unia a Raimundo; apenas o primogénito do Duque de Borgonha estava casado com uma irmã de Raimundo, sendo esta, então, sua cunhada), casou-se em segundas núpcias com Afonso de Navarra, o Batalhador (ao que dizem mais dado à arte da guerra do que à peleja amorosa), com este travou repetidas batalhas por causa do vale do Néjar e da Rioja (disputariam o vinho?) e morreu aos 40 anos de parto, fruto de amores com o seu amante Diego Lopez de Haro, senhor de Biscáia, de quem já tinha outros pimpolhos.
Teresa não ficava atrás da sua meia-irmã. Casou-se em primeiras núpcias com o sobredito Henrique, morto este envolveu-se com Vermudo, filho primogénio do Grande Conde de Trava, D. Pero, e, sonhando tornar-se raínha da Galiza, deu em casamento a sua filha Maria Henriques ao seu amante. Foi este acto a causa próxima da justa de S. Mamede, quando os ricos-homens de Entre-Douro-e-Minho, não querendo envolver-se na guerra que o bispo de Compostela, Diego Xelmirez, e os Grandes Condes galegos (entre os quais, Vermudo) travavam contra o rei de Leão, Afonso VII, sobrinho de Teresa, esgrimiram o argumento ideológico do incesto (um homem dormir com mãe e filha era, ao tempo, considerado muito, mas mesmo muito incestuoso) para apearem a Teresa do trono do condado e lá sentarem seu filho Afonso Henriques. Solucionado o assunto como se sabe, Teresa, a quem a ideia de noites frias arrepiava, casou-se com o irmão de Vermudo, Fernão Peres, o qual, como qualquer outro filho-segundo, não teria onde cair morto se não arranjasse um bom casamento, ou se as armas não lhe proporcionassem melhor sorte. Desde então, e contrariamente à historigrafia oficial, Teresa, Fernão e Afonso Henriques viveram em saudá vel convivência, tendo até Fernão aparecido a outorgar documentos importantes do nóvel reino de Portugal.
Há, de facto, mulheres das Arábias!
Abraço
APM
SE TODOS OS HISTORIADORES CONTASSEM A HISTÓRIA COM ESTA GRAÇA, O MUNDO SERIA MAIS CULTO, PELA FACILIDADE DE RETENÇÃO PROPORCIONADA PELO MÉTODO DE EXPOSIÇÃO USADO!
ResponderExcluirACHEI TANTA GRAÇA, QUE IMPRIMI O TEXTO TODO PARA DAR À NIA!
ABRAÇOS DO ANTÓNIO