segunda-feira, 26 de novembro de 2018



Coisas que vamos encontrando aqui e além, muitas das quais podem a seguir ser vistas na Wikipédia. Mas como ninguém lê a tal Wikipédia toda, o que é pena, divulgar algumas destas curiosidades, simples, políticas ou... não faz mal a ninguém.
1.  Geografia e história
Muita gente sabe onde fica a ilha de Curaçau. Muitos já lá estiveram, entre os quais eu não me conto, com muita pena, porque é uma beleza, praias lindas, e outras belezuras. Ali, no Caribe, em frente à desgraçada Venezuela, faz parte do Reino da Holanda. Uma forma sofismada de lhe chamar colónia, mas...
Mas, o que muitos não sabem é porque chama assim, desde sempre, mesmo que escrito de formas diversas e até no papiamento local, que lhe chamam Kòrsou.
Reza a história, e com fortes foros de ser verdadeira, que no século XVI praticamente em todos os navios que se aventuravam mar fora, morriam marinheiros aos molhos com o miserável escorbuto, a falta de vitamina C. Hemorragias, gengivas apodrecendo, etc., o destino da maioria desses doentes era morrem a bordo e jogados ao mar. Às vezes ainda com um restinho de vida, mas podres, a exalar o último suspiro, atiravam-nos ao mar.
Numa dessas viagens a caminho da América do Sul, dezessete marinheiros portugueses, num navio espanhol, moribundos, pediram ao capitão para os abandonar numa ilha por onde passavam, porque preferiam morrer em terra do que serem comidos pelos peixes.
O capitão fez-lhes a vontade. Um mês depois quando retornava decidiu aproximar-se da ilha e ver se algum deles ainda vivia.
Estavam todos ótimos de saúde! Completamente recuperados, nem um único havia morrido, e cheios de força.
Foi um espanto que deu muito que falar em Espanha, onde, como em qualquer outro lugar nunca se tinha ouvido falar em vitaminas, mas que ajudou a melhorar, um pouco, um pouco só, a alimentação a bordo.
A essa ilha os marinheiros portugueses deram o nome de Ilha da Curaçam, porque lá todos se curaram.

2. História e Geopolítica mundial
1818 - Faz este ano um século que um dos grandes facínoras da história da humanidade, que se chamou Vladimir Ilyich Ulyanov, conhecido como Lenin, após se apoderar da revolução russa, proclamou que iria espalhar o bolchevismo por todo o mundo.
Só pela Rússia mandou matar largos milhares que se lhe opunham, e com as reformas agrárias, matou milhões à fome.
Mas conseguiu espalhar o maldito vírus urbe et orbi, que ainda hoje transtorna o pensamento de muitos que, aparentemente, pareciam ser pessoas normais.
Como é de supor, ao “querer” igualar todos por baixo, sexa sempre viveu em grandes palácios expropriados aos nobres russos. Começou logo aí a tal esquerda caviar tão bem seguida mundo fora. Até hoje.
1849 – Um discípulo do tal Ulyanov, talvez o maior ou um dos mais citados anarquistas de todos os tempos, Mikhail Aleksandrovitch Bakunin, russo, bolchevista, revolucionário, com frases que ficaram inscritas no imaginário de idiotas, como A paixão pela destruição é uma paixão criativa, também não viveu em pensões de terceira categoria.
Vai para a Alemanha, espalha a revolução, vive, como os outros “chefes” sempre em casas ricas, conhece o grande compositor Richard Wagner, de quem se torna amigo e lhe vira a cabeça, levando o músico para os levantes populares.
Wagner em 1842 é nomeado Kapellmeister em Dresden onde as suas óperas obtêm enorme sucesso, e em 1949 rege uma apresentação pública da Nona Sinfonia de Beethoven. No final da apresentação Bakunin, que o tinha seguido, levantou-se da plateia, apertou a mão de Wagner e disse bem alto para que todos ouvissem que, se toda música que já foi escrita, fosse perder-se na conflagração mundial, nas suas palavras a destruição do mundo que ele estava a preparar, esta sinfonia pelo menos teria que ser salva!
Ainda é assim que muitos democráticos vêem os seus países.  Destruir tudo, mas salvar o que lhes sabe bem.

3. Universitários
Vamos recuar alguns anos para que se possa sentir a diferença na cultura de muitos povos, e até dentro do mesmo povo; a diferença, do ontem e de hoje.
Em Portugal, quem tivesse o 7° ano dos liceus, só teria depois que fazer um exame para entrar na faculdade que quisesse frequentar. A base do conhecimento geral estava apta.
Muitos alunos, por razões várias não puderam prosseguir os estudos superiores, mas aquele 7º ano lhes deu asas, para muitos deles, voaram bem alto.
Um pequeno exemplo de dois jovens que, em 1975 tiveram que seguir a diáspora dos que estavam nas colónias, indo parar no Brasil.
Um deles, acabado o tal 7° ano em Angola, chega ao Rio de Janeiro pouco antes do famigerado vestibular, para que tanto os alunos aqui se preparam, muitas vezes levando um ano para isso. Prestou provas, escolheu arquitetura e entre centenas deles, ou milhares, ficou em 6º lugar!
Outro mais flagrante, chegou tendo só completado o 6° ano. Sempre muito bom aluno, ao chegar, em vez de ir estudar para o exame, foi professor dos colegas brasileiros. Escolheu medicina e, se não entrou em primeiro lugar, é hoje um dos mais conceituados neuroradiologistas intervencionistas, especialidade ainda relativamente recente. Professor, doutor, pós-doutorado, etc. Ah! É verdade: e um grande velejador!
Infelizmente por estas bandas o ensino, exceto em algumas escolas particulares e muito caras, e em muito mais raras públicas, é extremamente deficiente.
Entretanto há centenas de universidades, poucas se contando entre as que realmente ministram um conhecimento válido, mas a grande maioria é de tristeza total. Quando não corrupta, vendendo diplomas.
E como os cursos, nos dias de hoje, são divididos em inúmeras especialidades, a abrangência da cultura dos alunos fica muito limitada.
Chamada a civilização dos especialistas, ensinados por homens de rigorosa visão técnica mas de visão cultural deficiente e de miserável miopia política, quando não de intenções abertamente políticas.
Razão teve Ortega y Gasset quando se referiu a este tipo de ensino universitário como responsável pela “formação de novos bárbaros, homens cada vez mais sábios e cada vez mais incultos.”
Homens que sabem cada vez mais de cada vez menos, constituem produtos altamente perigosos para a vida da cultura.
E pior, quando assentes em cima de diplomas, e se permitem emitir opiniões que estão fora da sua esfera de especificidade!

4. Pele negra
Esta é uma controvérsia, complicada, ignorante, doentia e estúpida.
Penso que a maioria das pessoas não tem a menor ideia do porque as diferentes colorações da pele dos humanos, e da sua influência sobre a saúde corporal.
Desde há séculos que se estigmatizaram os africanos, desconhecendo que alguns deles, durante quase cem anos, entre 700 e 600 antes de Cristo, foram até faraós do Antigo Egito, e muitos deles membros da nobreza local, quando pelas Américas, só existiam “índios”, pela Europa mal começavam a despontar alguns grupos organizados em “estados”, e a China julgava que além das suas províncias não existia nada mais, porque a Terra era plana.
As pessoas ainda hoje se admiram ao ver que a maioria dos africanos têm uns dentes impecáveis, brancos, lindos, e atribuem isso ao contraste com a pele escurecida. Nada disso. Os dentes das populações nativas que, em África, sempre se alimentaram bem, têm muito melhores dentes do que as populações brancas, porque a sua pele lhe permite uma muito superior absorção dos raios solares que lhes “fabricam” boas doses de vitamina D e assim fixarem o cálcio. Em África, há muitos anos nós já sabíamos que se um indivíduo de pele negra e um branco se chocassem na cabeça, o branco quebrava o crâneo e o outro, quando muito teria alguma dorzita.
O problema tem a mesma origem: a pele que absorve muito mais sol, vitamina D, é muito superior na “produção” de cálcio e com isso a estrutura óssea é incomparavelmente superior à dos brancos.
Nessas regiões, por exemplo, ainda hoje entre os Masai, praticamente não existe osteoporose!
Um pele branca se ficar muito tempo na praia, ao sol, leva um escaldão e pode, com facilidade, ter câncer de pele, além de que, em qualquer circunstância a pele começa a envelhecer bem mais cedo que qualquer outra. Já a pele negra, com alto índice de melanina, oferece proteção UV natural, portanto, o fotoenvelhecimento é menos aparente. Chegam a dezenas de anos a diferença!
Tem muitas outras vantagens mas não se pretende dar um aula de dermatologia.
Mas não podemos deixar de confessar uma certa inveja!
E com respeito a beleza? Todos os tipos têm gente feíssima e gente lindíssima, e como gostos não se discutem, por aqui se acabam os considerandos.

5. Verdade? Mentira?
Nesta desgracenta política, assunto que não cala, sobretudo nos derrotados, assistimos a verdadeiras avalanches de mentiras e ofensas.
Donde se conclui que o sucesso do negócio da mentira é que o custo de produção de mentiras é zero. Isto difere em muito com o que custa produzir a verdade.
Desde sempre as pessoas tiveram imensa facilidade em acreditar em mentiras e boatos e enorme dificuldade em aceitar a verdade.
Porque? A mentira é escandalosa, e um escandalozinho faz as delícias dos estúpidos que, por comodidade e covardia, não vão procurar a origem e a verdade.
Buda tinha mais do que razão: meditou toda a sua santa vida, para no final confessar que “sempre havia procurado a verdade, e morria sem ter descoberto o que era”.

25 nov. 18



quarta-feira, 21 de novembro de 2018



Pensando !

Quando nada de mais urgente me chama, onde se inclui reparar coisas em casa como matar cupim, consertar e montar molduras, cadeiras e outros, reparar janelas, pintar algumas coisas, fazer de chef na cozinha e etc., a única hipótese de descanso para continuar vivo é somente pensar.
Ver o que se passa à volta, em casa, no país, no mundo, tentar analisar e procurar compreender, o que me leva a carregar a cabeça cheia quando me vou deitar e ficar grande parte da noite com sonhos estranhos, daqueles que nada têm a ver com nada, mas cansam.
E os pensamentos são como as personagens de romances: vão-nos levando por caminhos estranhos e complicados, difíceis, que por vezes nos ajudam a descobrir novas maneiras de sentir e ver o mundo.
Há dias, por exemplo, “descobri” que, em total desacordo com todas as religiões, não foi Deus que criou o homem “à sua imagem e semelhança”, mas sim o homem que criou um ou mais deuses à sua imagem! Não descobri a pólvora, mas fiquei com isso na cabeça.
E o argumento mais lógico e radical para confirmar esta suspeita, é que é quase impossível conceber um deus que, simultaneamente, seja do bem e do mal.
Deus sendo incognoscível, teve que ser criado pelos homens.
Além disso Deus jamais deixou algum escrito, ninguém o viu, mas inventou-se!
E os homens, imperfeitos como são, precisavam justificar as suas ações, sobretudo as más, como guerra, inveja, traição, etc. e, em vez de se confessarem culpados, jogam para o ar, para o poderoso deus por eles criado.
Assim os hindus, os que parece terem sido os primeiros a criar um tipo de religião, começaram desde logo por atribuir todas as regalias a um grupo de nobres, os brâmanes, baseando o seu pensamento sobre uma “alma universal”, mas resguardando para si a superioridade sobre todos os outros, dividindo o povo em castas de acordo com as suas próprias vontades, chegando ao absurdo de deixar os mais miseráveis abandonados à sua sorte e repudiados, os párias. Habilidade para conseguirem quem os servisse, por nada, escravos.
Os egípcios montaram também sistemas religiosos de tal forma complexos e poderosos que os próprios faraós acabaram presos das decisões desses eleitos e inescrupulosos. Criaram até o famoso Livro dos Mortos, para ajudar o defunto na sua viagem para o outro mundo, afastando eventuais perigos que este pudesse encontrar na sua viagem para o Além. Papo furado.
Mas o Livro dos Mortos estava reservado só aos “grandes”, sobretudo faraós e, talvez, aos vigaristas sacerdotes, que, quase de certeza, não acreditavam naquilo que haviam preparado, mas era mais uma forma de controle para dominar os maiores e, de certeza os menores. Aos pobres ou menos afortunados não era permitido ler esse livro, o que significava que o belo Além lhes estava vedado, e enquanto vivo serviam nobres e os tais sacerdotes.
Zoroastro, o primeiro que concebe um Deus único e universal, divide os seus princípios doutrinários em duas áreas: a que trata da criação do mundo, teologia e filosofia, e do inferno, dos demónios e dos castigos, tendo, deste modo, nas mãos, a quem atribuir as culpas dos seus erros. Do mesmo modo essa linha de pensamento, essas regras, foram seguidas, adaptadas pelos hebreus, depois pelo cristianismo e agora o islão.
A Bíblia está recheada de lutas, guerras, assassinatos, sodomia e prostituição, traições. Invocam “o Deus da Guerra e da Vingança”, quando querem submeter outros povos, matam-se aos milhões e para isso fazem oferendas quase sempre sanguinárias. Conta até que o próprio Noé foi mandado pelo Deus para dizimar milhões que se comportavam mal! Isso é coisa de um Deus?
A seguir aparece o cristianismo, e logo alguns homens que se diziam, e dizem, seguidores de Cristo, os chamados pensadores e teólogos, criam mais leis onde procuram, atabalhoadamente, equilibrar a recompensa eterna com os castigos do inferno e do purgatório para que o povo, temente, lhes obedecesse. Foram ao ponto de inventar o absurdo “limbo” onde criancinhas não batizadas teriam que aguardar a boa vontade do Deus para entrarem no Éden.
Surge por fim o Islão cuja principal virtude é acumular todos os erros das religiões mais anteriores e manter os fiéis sob total controle, sempre com um imenso pavor de represálias, prometendo-lhes o céu e as virgens desde que se mantenham em cega obediência. Seguem, sobretudo o Deus do mal e da vingança.
Levou milhares de anos para que os hebreus se livrassem do temor a Deus. Mantém-se unidos, não querem prosélitos, porque continuam perseguidos, mas, mesmo que os ortodoxos não queiram facilmente perder as suas vantagens e teórico poder, já não estão muito longe de aceitarem outras gentes como iguais.
O mesmo com o cristianismo que atravessou épocas de verdadeiro terror, que em nome de Cristo cometeu as maiores barbaridades, dividindo os fiéis e afastando crentes. Nem cabeças pensantes admitiam, e não descansavam enquanto as não liquidassem.
O cristianismo, para atingir a perfeição de Cristo, ou a humildade de Francisco de Assis, ainda tem um longo, longo caminho pela frente.
Ainda há “religiosos”, muitos, que não aceitam o Papa, que brigam por misérias teológicas, deixando a prioridade do amor ao próximo... e até os que da religião fazem uma rendosíssima profissão.
Tudo pelo poder, pela hierarquia, por aquilo que não tem qualquer valor moral.
Quando os jesuítas, missionários, chegaram à China, em começos do século XVI, com o objetivo de cristianizarem aquele povo, prepararam-se profundamente para aprenderem a língua e até a filosofia do Oriente.
Homens de excecional qualidade, teólogos e cientistas, em breve dialogavam com alguns dos grandes filósofos chineses, que viram nesses missionários uma nova religião, próxima do budismo, mas mais profunda nalguns aspetos. Na sua concepção do “Senhor dos Céus”, que ali dominava e teria criado o mundo, não havia lugar para o lado negativo, da maldade e da vingança.
Não foram capazes de compreender que Deus tivesse mandado um Filho à terra para ser assassinado, mesmo que os missionários tivessem querido explicar que a Ressurreição O qualificava como filho de Deus. Nem aceitavam a história do “Limbo” onde criancinhas e homens de bem, não batizados, tivessem que aguardar a “boa vontade de Deus” para gozarem a companhia do “Senhor dos Céus”.
Poucos foram os batizados, porque o exemplo de um dos missionários, sobretudo o Padre Matteo Ricci, que com os seus conhecimentos e imensa humildade cativaram.
Não demorou muito até à chegada de nossos missionários de outras ordens católicas, os dominicanos, que na “guerra” pela supremacia do catolicismo acabaram por “matar” o cristianismo daquelas terras. Já mais tarde, no século XVIII, o golpe infligido, igualmente por inveja, em Portugal, Brasil e resto da Europa, aos jesuítas, foi o golpe de misericórdia.
Deus estaria assistindo a tanta baixaria? Será que Deus queria mesmo que só alcançassem os Céus quem fosse seguidor de alguma religião, ou simplesmente cumpridores das máximas que se podem conceber tão claramente, como um dia um pastor protestante que classificou como “o milagre da normalidade” em:
   1.- Amai aos outros como a ti mesmo;
   2.- Respeitai a natureza.
Nietzsche, que, filosofando, quis reproduzir as “falas” de Zoroastro, Zaratustra, nos indica algumas situações curiosas:
   - Este deus que eu criei era obra humana e humano delírio;
   - Falo-vos do amigo que leva em si um mundo disponível, um invólucro do bem, do amigo que tem sempre um mundo disponível para dar;
   - Sobre o matrimónio: é o respeito recíproco, dos que coincidem com a vontade. Mas os que consideram isto supérfluo... é uma imundície de alma entre dois. Fique-se por lá bem longe de mim esse deus que vem coxeando abençoar aquilo que não uniu.
Tudo isto, e muito mais leva-me a considerar que serei um agnóstico teísta, e como tal incapaz de discutir a existência de Deus. Não de a negar, mas jamais de a discutir e aceitar o modo como as diferentes religiões se arrogam o direito de O interpretar, mesmo considerando o absurdo de que Deus terá deixado aos homens a liberdade de escolha.
Cristão, seguidor de Cristo, dos seus ensinamentos, da sua humildade, sinónimo inigualável de grandeza.
A seguir coloco em primeiro lugar entre os homens – deixando Cristo... onde? – o Poverello, aquele louco Francisco de Assis, louco de amor pelos pobres e pela simplicidade de vida, mas que não conseguiu evitar que até hoje, haja franciscanos de... segunda qualidade. É o homem em sua eterna fraqueza, na luta entre o bem e o mal, assistindo à esmagadora maioria dos humanos a deixar que o mal vença, esperando pela hora da morte para se arrepender.
Por tudo isto também sinto que o meu lado do mal se indigna e lute contra o que vejo, ou me parece, errado.
Gostaria de fechar os olhos lembrando as palavras de São Paulo (de quem Nietzsche não gostava!):
Combati o bom combate, - quase - completei o meu percurso, não perdi – totalmente – a fé.”

20 nov. 2018

sábado, 10 de novembro de 2018




Em todas as famílias há uns tios ou primos de quem mais gostamos, outros indiferentes e alguns até que ficaram na memória como pouco mais do que esquecidos. Uma mistura de bem e menos bem!
Dos três de hoje vou começar pelo único que me é consanguíneo, os outros, aderentes, mas imensamente estimáveis e saudosos, também.
Primo direito, nove anos mais velho do que eu, a partir de certa altura foi até o meu encarregado de educação “oficial”! Foi ele chamado ao Liceu, quando me puseram fora! Filho da irmã mais velha de meu pai, e minha madrinha. Engenheiro civil, sempre com uma graça que fazia com que todos à sua volta se fartassem de rir, e tinha na irmã, única, a sua principal claque!
Os almoços de domingo eram, até ao fim dos anos 40, em casa do nosso avô, uma longa mesa com 19 lugares, em que a conversa fluía de tal forma animada e confusa, que um dia eu até pedi para falarem só 18 de cada vez! Alguém tinha que ouvir. Eram opiniões sobre futebol, em que as tias que nada sabiam do assunto faziam infindáveis perguntas, 99% dos presentes eram salazaristas, mas, como quem não quer nada, este primo lançava umas “confusões políticas” que punha tudo a discutir as ações do governo. As senhoras aí não se calavam, elogiando o homem que tinha salvo o país da bancarrota, que tinha construído casas para pobres, que o país vivia em paz, tudo isto dito com o calor que alterava até a temperatura do inverno, mesmo havendo em vários lugares da casa aqueles belíssimos e eficientes aquecedores, esmaltados, de querosene.
Até hoje eu não consigo entender como o meu avô, já passados os oitenta, conseguia comer tranquilo no meio daquele barulho, e ele até comia bem sem dispensar o seu copo do bom Ramisco. Sabia bem de vinhos! A avó, uma jóia que o avô encontrou no Brasil enquanto por aqui esteve entre 1877 e 1899, uma senhora maravilhosa, sempre sorrindo, por fim já muito surda, assistia àquelas discussões com um lindo sorriso, que a todos encantava. Era um amor de pessoa.
Este primo seguiu bem a sua vida professional e, quando do famigerado vintecincobarraquatro era um dos principais administradores da CUF no Barreiro, a maior empresa, a maior zona industrial, de toda a península Ibérica, reduto tradicional e complicado do comunismo. Bom trabalhador, alegre, simpático com os que o rodeavam, quando a esquerda caviar tomou conta do país, prendeu os donos desse grupo, a família Mello, e foi atrás de praticamente todos os seus diretores.
A perseguição foi feroz. Queriam julgá-lo em praça pública, repetindo o que tinha acabado há quase duzentos anos: os infames, vergonhosos e de triste memória tribunais da Inquisição.
Teve, como muitos, de fugir a salto para Espanha, e daí depois vir para o Brasil, Rio de Janeiro, onde voltou a trabalhar com os mesmos patrões, que apesar de terem sido espoliados das empresas em Portugal, tinham alguma coisa no Brasil.
Triste, porque no meio de toda esta calamidade a mulher o abandonou, e veio só com um filho, deixando os outros seis em Portugal.
Curiosamente, quando estudava um projeto de engenharia, engenharia pesada, foi ao sindicato dos engenheiros conversar sobre o assunto. Era presidente do sindicato o engenheiro Jorge de La Rocque. Como eu sou o único da família que sempre se interessou por saber dos antepassados, telefona-me a contar o encontro, onde concluíram que eram parentes, mas “o como” é que não conseguiram deslindar.
Acabei desvendando o “mistério” e até hoje mantenho um belo contato com o filho do Jorge de La Rocque, Ivan.
O meu primo, como irmão mais velho, não resistiu a tanto problema que a revolução em Portugal lhe criou. Passou a viver triste, quem sempre fora duma contagiante alegria, e a maldita doença que surge quando a vida perde a força, levou-o muito depressa, com 55 anos.
Chamou-se José Francisco Gomes de Amorim Guimarães Serôdio (Sabrosa), que desde novo os amigos mais chegados o chamavam de Meco, e ainda hoje sinto muita a sua falta.


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Cunhado deste, casado com sua irmã, quase treze anos mais velho do que eu, um bom 1,90 de altura e largo arcabouço, durante os primeiros anos demo-nos pouco, até porque ele, de família com bastantes haveres, foi trabalhar para fora de Lisboa, eu fui estudar em Évora e não tardou que depois me fosse para Angola.
Uma das empresas da sua família, tinha alguns negócios com Angola, que não cheguei a saber o que seria, porque nem me interessava.
Aí por 1960 teve que se deslocar a Luanda, tinham lá uns dinheiros a receber, o que parece estava difícil. A sogra, minha tia e madrinha, disse-lhe que não deixasse de me ir visitar, saber como estávamos, etc.
E aparece lá em casa perto da hora do almoço, só a minha mulher em casa, ainda no andar de cima providenciando o arrumo dos quartos, nosso e já de quatro filhos. A porta da rua sempre aberta (bons tempos!), entrou, chamou por ela que quando o viu pensou ser uma “miragem”.
Durante o resto da vida sempre gostava de lembrar a cara de espanto que a minha mulher fez quando o viu entrar em casa! Muita alegria, telefona-me para a Cuca, e eu corro para casa. Almoçámos, muita conversa, o visitante, sempre apressado nos seus negócios, chegado na véspera, diz-me que voltava já nessa noite para Lisboa.
- Não deves ir. Ainda não viste nada.
Não deixei. Disse-lhe que ele só estando dois dias em Luanda não teria estado em África, o que era um contrassenso e um desperdício!
Para o dia seguinte, fim de semana, eu tinha-me inscrito para entrar num rali à Cela, hoje Waku Kungo, a uns 400 quilómetros de Luanda.
- Eu nunca entrei num rali, nem gosto de corridas.
- Não vamos correr nada, nem o meu carro, um humilde Simca Aronde 1300 cc, é para isso. O rali é mais de controles de regularidade, e além disso vais ver um pouco do interior de África, que é o que tem interesse.
Relutantemente acedeu, alterou a ida para Lisboa e no dia seguinte lá fomos África adentro! Foi gostando, estava encantado. No regresso a Luanda quebrou-se uma peça dentro da caixa de velocidades (caixa de marchas) o  que impedia de as trocar, o que nos deu uma canseira miserável. O caminho, estrada ainda de terra, não era todo plano, havia que atravessar uns riachos, mesmo secos, o que obrigava a abrir a tal caixa de marchas, engatar à mão a 1ª, atravessar aquela “vala”, voltar a parar, desengatar a 1ª e engatar a 3ª, prosseguir devagar sem esforçar o motor (o carro tinha quatro marchas), e assim o tempo foi passando e fez-se noite.
Perto da meia noite surge a placa duma empresa de construções que, perto da estrada, tinha montado um grande acampamento, com oficinas e tudo o necessário porque estavam a construir uma ponte. O curioso é que o diretor geral dessa empresa era irmão deste “aventureiro”!
Parámos o carro junto à entrada do complexo, todo vedado com tela alta e decidimos que passaríamos ali a noite e de manhã os mecânicos nos ajudariam a consertar o carro.
O visitante, grande, que não conseguia posição confortável para passar a noite dentro do carro, ainda me diz que não consegue dormir sem primeiro satisfazer as suas necessidades.
- Não há qualquer problema. Tens à tua vista uma imensidão para te desobrigares disso!
Encontrámos uns pedaços de papel dentro do carro e lá foi ele. Voltou, aliviado. Tentámos dormir, e assim que o dia começou a clarear já os trabalhadores da empresa apareceram para ver o que estava um carro a fazer ali encostado ao portão.
Foi fácil explicar, mais ainda quando souberam que um de nós era irmão do diretor geral. Chamaram-nos para tomar o mata bicho com eles, enquanto os mecânicos se ocuparam a resolver o problema do Simca, o que fizeram com magnífica rapidez e qualidade.
Durante aquele simpático convívio o visitante contou que de noite teve de “ir ao mato” resolver os problemas intestinais.
- No mato? À noite? Teve muita sorte!
- !?!?!?
- Há uns 15 dias um dos nossos funcionários, capataz dum grupo de trabalhadores angolanos, que durante a noite cavavam terra necessária para se continuar o trabalho de manhã. O sujeito deixava os cavadores sozinhos, disfarçava e ia para trás duma árvore dormir. Nessa manhã os homens estranharam que ele não os viesse chamar, porque o horário deles terminara, mas o capataz... nada. Chamaram, nada. Saíram à procura e acabaram por achar um corpo mutilado. Pouco mais sobrara do que a cabeça e uns farrapos. Um leão fizera a festa.
Quando isto ouviu, o nosso visitante português empalideceu. Podia ter sido comido por um leão!
Brincando com esta história, real, todos acabamos rindo, menos o atemorizado estreante de África!
Sempre que nos encontrámos, até ao fim da sua vida, lá vinha à baila a história do leão! Conheceu África dum modo bem especial, o que não o impediu de ter-se quase apaixonado pelo magnífico interior daquele continente.
Depois do tal 25/4, fez alguns investimentos no Brasil, onde morou poucos anos, andando sempre cá e lá. Quando o lula foi eleito presidente, escreveu-me temeroso a pedir a minha opinião. O que achas que se vai passar com um governo de esquerda?
Eu sempre tive uma pequena bolinha de cristal, daquelas mixurucas que se iluminam com uma pilha AAA, e resumidamente lhe mandei dizer:
O sujeito já disse que teve uma herança maldita, que vai aumentar a renda dos pobres, que vai fazer isto mais aquilo, etc., aquele grasnar de quem promete e ... mas que ele não podia deixar de obedecer aos capitais, mundiais, porque, primeiro eles são grandes credores do Brasil, e porque ninguém vive sem isso. Daí que não estou muito preocupado.
(Ainda tenho comigo cópia dessa carta que lhe mandei)
Creio que o sosseguei, mas quase na mesma ocasião escrevei ao dito presidente, par lhe dizer que não se esquecesse do principal: para distribuir renda, primeiro tem que gerar renda, o que significa apoiar a indústria, comércio e agricultura. (Parece que ele esqueceu!)
Quando ele casou eu tinha 14 anos, era um moleque atrevido. Depois da nossa aventura africana e de algum convívio mais no Brasil, a nossa amizade sempre foi crescendo.
Até porque a sua mulher, minha prima, era considerada também, não só por mim, mas também por todos os meus irmãos, como a nossa irmã mais velha. Quando vou a Lisboa e passo em frente da casa onde moravam, o meu coração se aperta.
O visitante chamou-se Rodrigo Cardoso d’Orey. Um dia tentei fazer o seu retrato.

*          *          *          *          *

Pai do primeiro e sogro do segundo, o meu tio, e padrinho, era uma pessoa, como hoje se diria, completamente zen. Tranquilo, animadíssimo quando bebia um copo a mais, nas festas de família, herdou bem do pai e parece que ainda mais da mãe, uma escocesa que, pelo que chegou aos nossos dias, era filha duma milionária... brava.
Tão brava que, teve duas filhas e quando morreu deixou no testamento tudo quanto tinha para uma e para a outra... uma corda para ela se enforcar!
Os herdeiros entraram na justiça para que o testamento fosse anulado. Não demorou para verem que os advogados iam comer tudo e decidiram, prova de inteligência, dividir o espólio irmãmente! Até porque as irmãs se davam bem e os concunhados também.
De qualquer modo o que sobrou deu até para os netos não terem preocupações na vida, aplicando o capital de onde lhe viesse bom rendimento, o que significa que este tio não precisava trabalhar.
Quando se encantou pela minha tia, irmã de meu pai, foi, educadamente, pedir a mão da gentil menina ao meu avô, que era um homem correto... e duro.
-A minha filha não casa com quem não trabalha.
Não fez qualquer diferença. O noivo pediu a um amigo que lhe desse um emprego qualquer, o que não foi difícil de obter e deste modo conseguiu a paternal autorização.
Casou e deixou o emprego!
Era um artista. Tinha em casa um autêntico museu onde se ocupava retocando cerâmicas, pintando aquarelas, e consertava o que fosse preciso.
Sempre calmo e bem disposto, não me lembro de o ver mal encarado. A não ser uma única vez: quando fui expulso do liceu estava a morar lá em casa dos tios, enquanto a minha mãe, com tremenda dificuldade, procurava onde se instalar, com o pouco dinheiro com que ficara quando enviuvou.
O meu primo foi chamado ao liceu para que o reitor explicasse porque me punha na rua, e levou-me a casa. Quem abriu a porta foi o meu tio, já a par da situação, e mal passei a porta enfiou-me uma boa chapada na cara! Malandro, eu, tive que fingir que chorava.
Quando, muitos anos depois eu contava esta história à minha prima ela não queria acreditar.
- Não é possível. O nosso pai nunca nos tocou.
Ao que eu retorquia:
-  Pois eu acho também que ele fez muito mal. Eu andava completamente fora dos carris. Em vez duma chapada ele devia ter-me dado duas!
Nunca deixei de o respeitar e ter por ele muita ternura e simpatia, até porque essa chapada me fez muito bem.
Lembro-o sempre. Tenho na minha sala uma fotografia dele. Era uma ótima pessoa.
Esse querido tio chamou-se Frederico Davidson de Guimarães Serôdio (Sabrosa). Foi embora muito cedo; tinha só 51 anos. Não tive tempo para lhe mostrar o quanto bem me fez.

9 nov. 18

segunda-feira, 5 de novembro de 2018




Apresentando um Fascista?
Será Nazista? Ou... ?

O que é um fascista? E um esquerdista? E extrema esquerda? E extrema direta? E ...
Pela luta que tenho travado contra os “ultras-super-intelectuais” portugueses, e até alguns brasileiros, pelo ódio e a cizânia que têm tentado espalhar entre os brasileiros, insurgindo-me contra a baixaria da linguagem reles usada por “mestres”, “doutores” e quejandos, estou a imaginar que já me devem ter rotulado, no mínimo de nazista!
Só para os tranquilizar, informo que ainda uso um nome alemão, Frick, e ainda por coincidência houve um colaborador de Hitler com esse mesmo sobrenome. Esta foi pendurado pelo pescoço, e se eventualmente era parente dos meus antepassados vindos no século XVIII, da Suíça Alemã, eu nada tenho com isso. Tenho é um passaporte prussiano, importantíssimo, que não vale nada, mas tem graça!
O meu curriculum demonstra bem esta minha faceta nazista.
Em 1938, fardado de menino da Mocidade Portuguesa, participei do início da reflorestação do Parque Florestal de Monsanto, em Lisboa, e tenho uma fotografia minha, tirada quando animadamente tentava cavar para plantar uma árvore, e que está assinada pelo Salazar. Olha o fascismo a revelar-se.
Até aos 13 anos de idade fui membro, importantíssimo, da tal MP, onde me deliciava praticando atletismo. Desfilei várias vezes, duas a tocar tambor e uma como estafeta, transmitindo as ordens do comandante para os esquadrões que vinham atrás, cantando e rindo. Como é de supor a família ia à janela para verem passar o grande militar!
Passei um ano no Colégio dos Jesuítas em Santo Tirso, sempre à bordoada com o “prefeito” que tomava conta dos mais novos, e que me deu mais chutos nas canelas, nesse ano, do que todos os outros que levei até hoje.
No ano seguinte voltei ao Liceu Pedro Nunes de onde, dado meu comportamento sossegado... acabei expulso! Briguei com o professor de matemática, que era pior do que um cretino, e com um colega filhinho de mamãe que fazia queixinhas.
Já em Évora para fui onde estudar em 1946, entre 1948 e 1951 participei em mais de uma dúzia de touradas e garraiadas, o que prova, uma vez mais o meu background das “direitas”.
Ah! É verdade, logo a seguir cumpri o serviço militar obrigatório em Cavalaria 7, e gostei do espírito de ordem e hierarquia, se bem que tenha provocado algumas pequenas confusões no quartel, querendo endireitar algo que considerava errado. Não consegui nada, mas tentei. Quase fui preso!
A partir daí fiquei livre para iniciar a minha vida profissional.
Não demorou a minha partida para Angola, na maravilhosa cidade de Benguela, como responsável pelo departamento de máquinas agrícolas de uma grande companhia com sede em Luanda.
Com o meu feito de não aceitar, JAMAIS, ordens erradas, a briga com o meu superior, e meu colega, bem mais velho, que estava na capital, depois de demonstrar que eu estava certo, achei que não podia ali continuar e despedi-me! Com pena, porque gostei dos meus ajudantes, somente dois. Um, o humilde angolano que já não sei se se chamava Joaquim ou António, era uma figura de legenda. Já escrevi sobre ele, mas, para que conste este meu feitio de extremista, vou repetir um pouco: o António foi “nomeado” meu auxiliar pessoal. Quando eu estava fora da cidade, em viagem, ele dormia em minha casa e tomava conta de tudo. E no regresso, normalmente ao fim do dia ou à noite, levava o António, no quadro da minha bicicleta até casa dele. Típico fascista.

1954 

O outro colaborador era um português aí dos seus 40 anos, magro, baixo, que vivia só e triste sonhando que na União Soviética é que era bom! Anti salazarista até ao tutano. Várias vezes lhe propus pagar-lhe a viagem para a Rússia, só de ida, com uma única condição: estabelecíamos previamente um código de escrita e ele mandava-me postais ilustrados da Praça Vermelha ou de outra maravilha, dizendo se estava satisfeito, se aquilo era o paraíso com que ele sonhava ou... pelo contrário se estava arrependido.
Se fosse o paraíso eu ia ter com ele. Eu não levava muita fé nesse paraíso, mas...
Várias vezes lhe disse que quando quisesse ir eu compraria logo a passagem. Ria, disfarçava, aquilo era muito bom, mas nunca saiu de Benguela. Éramos amigos. (Os comunistas e esquerdistas são assim: falam muito mas não vejo ninguém emigrar para a Venezuela, Cuba ou Coreia do Norte! Enfim, vamos em frente.)
Mais tarde fui trabalhar para as cervejas, a Cuca. Quando assumi a parte comercial reestruturei todo o esquema de salários do meu pessoal que foram substancialmente melhorados. Briguei com os patrões e ganhei. (Deviam ter medo dum nazista!) Uma outra briga, sem nada a ver com dinheiros fez com que eu pedisse demissão da Cuca.  Foi um escândalo. E nessa altura tinha seis filhos. Depois ainda chegaram mais dois. Numa grande empresa com um diretor geral e quatro chefes de serviço (eu, um deles) pedir demissão foi uma bofetada. Pois é, mas eu não levo desaforo para casa, nem do Papa (que jamais o faria!). Só de pobre que sempre precisa de xingar alguém ou alguma coisa para desabafar.
O mesmo fiz em Moçambique, na cervejeira 2M. Essa briga, dos salários, foi mais fácil com o administrador, porque era burro que nem uma tranca, e mais difícil com o pessoal, branco. Estranho, né? Os idiotas, depois de os vestir com fardas novas, impecáveis (nem farda tinham) e que passaram a ter uma confortável melhoria nos seus proventos. Um dia reclamaram. Deram-se mal porque eu não gosto de gente estúpida. Os serventes, moçambicanos, passaram a ter quase 50% a mais de salário, e consideravam-me como um pai... fascista?
Já no Brasil, depois de ter comido o que diabo amassou, e foi amargo, um dia consegui montar uma marcenaria, onde trabalhavam quatro marceneiros. Quando me fartei daquilo, sabem o que aqui o fascista/nazista fez? Ofereceu todas as máquinas aos trabalhadores, um dos quais até hoje é mestre e ainda tem algumas dessas máquinas em bom uso.
Tem mais umas historinhas.
Em outra empresa, quando lá entrei, era hábito o pessoal vender as suas férias. Alguns com 10 anos de casa nunca tinham descansado. Obriguei todo o mundo a sair de férias. Reclamaram de entrada mas quando regressavam ao trabalho vinham agradecer-me. Mas isso são coisas de extremista de... direita! Perigoso.
Eu era o depositário dum relativamente pequeno, mas muito interessante espólio do meu bisavô e homónimo. Valia um bom dinheiro. Mas fascista, extremista, ávido por dinheiro, decidi fazer uma proposta à Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, terra do meu antepassado: se eles assumissem a edição dum livro sobre a biografia do meu bisavô, magnificamente escrito pelo grande jornalista Dr. José Rodrigo Costa Carvalho, porque não sendo esquerdista não encontrava editora que o quisesse fazer, eu ofereceria o espólio para a Biblioteca Municipal. Assim se fez, e fui criticado por não ter vendido! Mas o livro saiu e é uma maravilha.
Mas enriquecer para que? Eu já recebo uma generosa aposentadoria da Segurança Social em Portugal no valor de €271. Por extenso: duzentos e setenta e um Euros. Para que mais? Isto depois de 24 anos de trabalho em Portugal e nas Colónias.
É evidente que, com este tsunami de dinheiro entrando na minha conta, só podia ser fascista.  
Teria MUITO mais para contar.
Só uma pequena explicação porque me pus do lado do Bolsonaro.
Primeiro porque, como os outros 55 milhões de brasileiros, estava mais do que enojado e espoliado com a canalha que durante anos andou a roubar, de forma para lá de absurda, o país, isto é o povo. Depois porque não gosto de mentira, coisa que o PT só soube fazer durante 14 anos. Depois porque continuo a considerar a família a base da sociedade, e jamais aceitaria a ideologia do género que o sr. Hadad quis impor, ele, um adulador das obnóxias e aviltantes ideias de extrema esquerda.
Como consequência só uma alternativa se apresentava, mesmo não sendo enviada pelo Arcanjo Gabriel, e que trazia uma proposta séria: Ordem. Ordem. Respeito pela família. E pela Nação.
Diz o Presidente eleito, Bolsonaro, que bandido, se aparecer com arma na mão, vai levar bala.
Há anos que temos mais de 60.000 assassinatos por anos. Mais mortos do que na guerra da Síria. Então não estamos em guerra? Vamos deixar a pilantrada à solta a fazer o quer? Não, não vamos. Talvez dentro de pouco tempo já possamos sair à rua sem medo de sermos assaltados ou assassinados.
Mas continuar a engolir a barbaridade de escritos de portugas esquerdistas, dói até no estômago. Sobretudo porque eu também sou português, e considero um atrevimento covarde e uma baixaria o linguajar dessa gente.
Pobres de espírito.
E foi assim que cheguei a ser um “extremista, nazista, fascista” e outras coisas mais!
Mas creio que o meu “rótulo”, se há um, seria mais ou menos o seguinte: só aceito a verdade, hombridade, ética, decência, respeito. Para isto a ordem é fundamental.
Se enfrentei touros, e em África animais ainda mais perigosos, não vou enfrentar agora essa corja de covardes? Vou, “até que voz me doa”, como cantava a Maria de Fé. É verdade: até a grande Amália chegou a ser acusada de fascista!
Para terminar vou falar-lhes duma pessoa que conheci muito bem, que muito estimava e admirava, republicano até à medula, do grupo de revolucionários que apoiaram Manuel de Arriaga, anti salazarista a cem por cento, médico e professor de Belas Artes, uma figura ímpar. Casado com a irmã da minha avó materna. Nasceu em 1866 e morreu uns dias depois de fazer 95 anos, tinha eu 30 e por isso tive ocasião de o conhecer bem e ter estado muita vez com ele.


Chamou-se João Barreira. Professor Dr. João Barreira.
Nunca da boca daquele SENHOR ouvi uma palavra reles, ordinária. Comentava o seu desacordo com a política de Salazar, mas com a classe dos homens com letra maiúscula. Correto, educado, inteligente, simpático, cultíssimo.
Não devia ter mais de 1,50 m de altura, mas era grande. Por fora é só embalagem.
Eu ouvia-o, procurava guardar cada uma das suas palavras, sábias, tranquilas, uma fonte de história. Um mestre.
Era um Homem da oposição. Mas se ainda estivesse entre nós se horrorizaria com a baixaria que sai da boca dos que se fingem do contra.
Coitados.

04/11/2018