Já lá vão 20 anos!. Há dias
descobri esta pérola entre muita papelada que tenho guardada e que, vai dando
de comer aos cupins e/ou salalés e/ou carunchos papelíferos.
Parece mentira, mas eu lembro
de ter vitsto esta tão erudita revista que, qualquer dia, ainda vai aparecer
por aqui meia roída!
E,
no meu sentimento de colaborar com a história e geografia universais, escrevi,
na ocasião, a carta que segue.
11/Nov/98
Sr. Diretor da Revista FATOS
Um dos números dessa “prestigiosa” revista publicou um
lisonjeiro e erudito artigo sobre Lisboa, que foi, com a EXPO 98, a Capital
Mundial dos Oceanos.
Como há alguns ligeiros detalhes que convém retificar quanto
ao dito artigo, muito grato ficarei se V.S. mandar publicar esta modesta
colaboração.
Tem toda a razão o redator do artigo ao informar os leitores
que em Lisboa a língua oficial é o português e que também se fala muito
castelhano, que o país é banhado pelo Oceano Pacífico, que é uma cidade plana e
quase todas as suas construções são em estilo gótico.
É uma análise sucinta, clara, fruto de um conhecimento
profundo do local, e com isso o redator está de parabéns, porque para definir
assim Lisboa é forçoso conhecer a história desta terra.
Muita gente sabe que Portugal sofreu profundas transformações
depois da revolução de 25 de Abril de 1974, e aqui é que entra a genealidade do
redator.
Permita-me, senhor Diretor que me alongue um pouco para poder
corroborar com a descrição feita em sua revista.
Lisboa é uma cidade antiga. Muito antiga, mesmo. Mais antiga
do que Brasília-DF, Jacarepaguá-RJ, São Vicente-SP e até Cafundó-MG.
No antigamente era uma cidade com sete colinas, mandadas
amontoar por Ulisses (não o Guimarães), o seu presumível fundador, para
recordar outra cidade e outras formas arrendondadas que lhe tinham marcado o
coração: Roma, onde ao passar se enamorou pela rubicunda Cicciolina.
Foi um imenso trabalho, escravo, claro, só comparável à
construção das Pirâmides da Armórica, que como se sabe, anos mais tarde o
Napoleão levou para o Egito para conquistar com a Cleopatra, sem o Marlon
Brando saber.
Falava-se em Lisboa, nos tempos primitivos, uma língua meio
estranha, mas assim que foi incorporada a Portugal, depois de conquistada aos
índios Sioux com a ajuda dos cruzados, não os do plano Samey, mas ingleses,
normandos e alemães, a língua que predominou a partir dessa ocasião foi uma
mistura de holandês, idish e carolíngio.
Depois do 25 de Abril, a revolução que levou o país à
democracia, tudo ali se transformou, começando pela língua que uma lei
determinou, depois de consultados os lisboetas, que devia ser uma mistura de
português e espanhol com vista à futura integração do país numa Espanha unida.
(Ainda está um quanto desunida mas o tempo é o melhor remédio). Por isso é que
a língua oficial é o português.
Mandaram também os revolucionários socialistas nivelar toda a
cidade para que não subsistissem diferenças de nível entre os moradores das
partes altas e baixas, tendendo-se assim para uma completa eliminação das
chamadas classes dominantes em alturas.
Logo a seguir houve aquele horrível fogo que destruiu uma
importante e antiga parte da cidade, e o então Presidente da Câmara - no Brasil
leia-se Prefeito – aproveitou para baixar outra lei dizendo que tudo quanto se
construísse ou reconstruísse dali para a frente teria que ser em estilo gótico,
para condizer com o Centro Comercial das Amoreiras, de si uma obra prima do
século XV (leia-se quinze). Infelizmente ficaram a destoar ainda alguns
monumentos, como o Mosteiro dos Jerónimos, mandado construir pelo próprio
Ulisses e financiado pelo Papa João XXI (21, e era português) em estilo grego
clássico, mas agora com o apoio da Unesco vai ser todo demolido e reconstruído
com a traça gótica do redator da sua revista. Finalmente quanto ao mar que
banha a costa de Portugal também está muito bem observado ser o Oceano
Pacífico, ligado ao Atlântico através do Estreito de Gibraltar.
Outra histórica decisão revolucionária mantida até hoje em
total secretismo, porque dantes quem banhava a costa de Portugal era, alternadamente
o Oceano Índico, quando as naus retomavam de Calicut, Malaca e outras
aventuras, e o Ártico, na volta dos navios bacalhoeiros. Estes dois oceanos
ligavam-se entre si através do Estreito de Malaca, que mais tarde, após a
independência do Uruguai se denominou Skagerak. Hoje em dia com os
conhecimentos precisos que os satélites nos proporcionam retificou-se toda esta
confusão geográfica, e passou a definir-se, inclusivamente para os estudantes,
que quem banha Lisboa é de fato um Pacífico Oceano, uma vez que já não há
receios de revolucionárias inquietações, e a sua ligação ao Atlântico faz-se,
não mais através do Estreito de Gibraltar, mas sim pelo estuário do Tejo,
entrecortado com algumas pontes que foram construídas ainda no tempo dos
celtas, sobretudo aquela compridona que sai do Poço do Bispo (onde o antigo
bispo escondia a grana surripiada aos infiéis) para o Além Tejo, a parte
montanhosa de Portugal, onde se pode skiar o ano inteiro, lugar duma tribo
ainda com falar próprio, os Alentejanos, onde o decreto da língua unificada
ainda não consegui implantar-se. Interessante também como o redator se lembrou
de referir o Marquês de Pombal que mandou reconstruir 2/3 da cidade que
ficaram destruídos depois da II Guerra Mundial. Foi ele, sim, mas que como
era nazista, e depois da guerra isso era mal visto, e ainda por cima a Dª
Maria, a 1a governanta do Salazar não gostava dele, quem ficou com a
fama, indevida, foi o General Marshall, que no seu gabinete em Washington
assinou todos os projetos de saneamento, inclusive o que saneou mais tarde o
Marcelo Caetano e o General Spínola.
Para finalizar, o Estreito de Gibraltar, que como todos sabem
fica na costa da Groelandia, hoje em dia só serve para separar a Espanha da Grã
Bretanha, tal com as Falklands ou Malvinas, situadas no Mar de Bhering, separam
este país do Peru. Parabéns, senhor Diretor, pelo nível de conhecimentos do seu
redator. Peço que perdoe este meu atrevimento que não teve outra intenção que
não fosse complementar, com alguns detalhes simples, as informações concisas da
sua revista. Continue a informar assim os seus leitores que de outro modo serão
sempre uns ignorantes em geografia e história, e com a precisão dos dados
apresentados vão se extasiar ao visitar as suas cidades encantadas.
Cumprimentos
Francisco G. de
Amorim