Meio século
Vida nova!
Acabados os estudos de engenharia,
emprego garantido, a força da juventude a garantir a saúde e a boa disposição,
e um trabalho de responsabilidade para enfrentar os clientes e propor-lhes as soluções
técnicas mais indicadas para cada caso.
Com vinte cinco anos, Pedro, estava a
pensar casar com a garota que conhecia, e se amavam, há já cerca de sete anos.
A empresa, com cerca de cinquenta
funcionários, reservara-lhe uma pequena sala, com uma segunda mesa ao lado, para
uma secretária, quando necessária, ali datilografar propostas, relatórios, o
que fosse.
Manuela tinha um corpo lindo! O
esqueleto recoberto com carnes suficientes, uma cintura fina, um peito
maravilhoso, e uma cara arredondada, sempre com as faces rosadas, e uns olhos
claros, meio de gata. Uma beleza. Simpática, descontraída, alegre, eficiente,
os seus vinte e um anos não pareciam habilitá-la a que fosse tão responsável.
Quando circulava entre os colegas,
todos os olhos a seguiam, ávidos. Ela percebia, olhava para eles e sorria.
Pedro disfarçava os seus olhares, comprometido
com o seu casamento, e mais, sabendo que onde se ganha o pão... tinha que
respeitar a colega, e não se arriscar a pôr tudo a perder: o trabalho e a
noiva.
Nunca alguém viu Manuela dar “troco” a qualquer
colega. A todos tratava muito bem, sempre sorrindo, sempre agradável, deixando
os homens babando e as colegas roendo-se de inveja!
Quando saía, no fim do expediente, o
povo nas ruas abria alas para ela passar. E lá seguia Manuela, sorridente, sem
se querer exibir, mas sem poder esconder a sua beleza.
Pedro um dia perguntou-lhe:
- Onde estão arquivados os projetos do
ano passado?
- Estão no arquivo. Eu vou buscar. Não
se incomode.
O arquivo era num pequeno quarto, um
cubículo interior, estreito, escuro, com prateleiras nos dois lados da parede,
até ao teto. Para acessar a todos os “andares” tinha uma escada que encostava
nas prateleiras.
- Onde estão que eu pego? – diz Pedro
- Não. Eu é que os arquivei e sei onde
estão. Vou pegar.
Na última prateleira. Manuela subiu os
degraus necessários e a sua saia passou um pouco acima dos olhos de Pedro. O
espetáculo fê-lo estremecer! Prendeu a respiração. As pernas, lindas, da
Manuela, torneadas como nenhum artista seria capaz de copiar, ali, sobre o seu
nariz, deixando ver até... Vidrado, sem se mexer, e sem saber o que fazer, aguardou
o fim da procura.
- Pronto aqui está o que pediu. – e
passou-lhe o arquivo.
Para descer, Pedro fez questão de a
ajudar, e ela deixou-se deslizar encostada ao peito dele, que arfava. Quando
pousou os pés no chão as caras deles ficaram bem de frente, olhos nos olhos,
ela aguardando a evolução do inesperado (?) encontro, ele, com ela nos braços,
sem saber como sair da situação.
Não resistiu. Aquilo era demais.
Aproximou mais a cara e beijou-a; com toda a força e vontade.
Manuela devia estar à espera de algo
como isso e em vez de se desenvencilhar correspondeu com ardor.
Logo depois saíu do cubículo, as faces
sempre rosadas, como se nada tivesse acontecido, e Pedro, aflito, teve que se
esgueirar para o banheiro para poder recompor a respiração e pensar nos passos
que deveria dar a seguir.
Voltou para a sua mesa, e Manuela
aguardava instruções de trabalho. Ele não queria levantar os olhos e ter que a
encarar. Mas o seu coração batia forte. Tinha sido um momento demasiado arrasador.
- Se o senhor engenheiro agora não tem nada
para eu fazer, volto lá para o escritório.
- Muito bem, mas por favor, um pouco
antes de sair passe por aqui que eu vou deixar preparado o trabalho para
começar logo de manhã.
Não conseguia preparar nada. A sua
cabeça rodava em alta frequência, e nem sabia com que cara iria encarar a
noiva.
Passou pouco tempo...
- Senhor engenheiro, está quase na hora
de eu sair. Quer fazer o favor de me passar o serviço.
Pedro, abstrato, quase deu um salto na
cadeira.
- Por favor, Manuela, sente aí um
pouco. Quero pedir-lhe desculpa pelo que se passou. Você sabe que é muito
bonita e eu não tinha o direito de fazer o que fiz.
Manuela segura da situação:
- Creio que aqui não é lugar para
discutirmos isso. Conhece a pastelaria que tem na segunda rua à direita, quando
se sai daqui? Eu vou andando e espero lá por si.
Piorou a situação. Indeciso, mas
atraído para o abismo, sabia que era impossível resistir a uma mulher como aquela.
O que fazer? Também não podia fugir. Tinha que enfrentar, e, antes disso
escolher bem o que pretendia da vida. Mas quem é capaz de decidir algo com o
coração a bater daquele jeito? Como um autómato caminhou para a pastelaria.
No canto mais resguardado e escuro
Manuela o aguardava.
- Sabe, senhor engenheiro, que eu há
muito esperava ser agarrada por si e poder beijá-lo? Não são só os homens que
têm atração pelas mulheres. O recíproco é verdadeiro.
- Manuela! Sabe que eu vou casar, e
sabe que você é maravilhosa e ninguém lhe resiste. Sinto-me perdido. Gosto
muito de si, acho-a uma colega linda, eficiente, e mais do que atraente. Mas...
- Não tem mas! Porque não nos amarmos
um tempo? O seu casamento, pelo que disse ainda vai demorar. E eu também sinto
muita atração por si.
- Meu Deus! O que vamos então fazer?
- Na rua de cima tem um pequeno hotel.
Eu sei porque é no meu caminho de casa. Vamos até lá, porque aqui não podemos
conversar à vontade. Tem sempre gente passando. Saia primeiro. Daqui a uns
quinze minutos vou lá ter. Diga qualquer coisa na entrada, para que me deixem
subir. Dê o nome de, por exemplo, Fernanda.
O hotel simples, mas limpo e arrumado.
Pedro pediu um quarto, para descansar umas horas, porque tinha que voltar para
o Porto no combóio da noite.
- Ah! É verdade. A minha mulher deve vir
aqui ter daqui a pouco. Por favor indique-lhe o quarto e diga-lhe que suba.
Chama-se Fernanda.
No quarto Pedro não sabia se continha a
respiração, se respirava fundo, nem sabia já se estava com febre! Todo ele era
uma pilha de nervos.
Não tardou que Manuela chegasse.
Parecia cada vez mais bonita e descontraída.
Pedro não lhe deu tempo a que dissesse
alguma coisa, agarrou-a, beijou-a até ficarem os dois sem fôlego. A conversa
interessava pouco. O tempo era um quase nada para estarem juntos. Num instante
se despiram, ela mostrando um corpo ainda mais bonito do que vestida poderia
parecer, ele, com os seus vinte e poucos anos, pronto para os “finalmentes”.
Agarraram-se, beijaram-se, rolaram. Ambos
sentiam-se para além do éter!
Manuela não o largava também. Não era
primeira vez que estava com um homem, mas a primeira trazia-lhe péssimas,
horríveis, lembranças. Com treze anos tinha sido violentada por um tio. Sem
darem queixa, porque isso traria consequências para toda a família e sobretudo
para a garota, obrigaram o tio e ir embora para longe. Mandaram-no para
Moçambique e, em boa hora, nunca mais tiveram notícias dele.
Manuela sabia que as relações com um
homem que ela amasse não podiam deixar-lhe nenhum trauma. Ela via os pais se
amarem na cama, e sabia que era bom, porque no fim sempre se beijavam. E agora,
com vinte anos, e muita conversa com amigas, o seu passado estava esquecido.
Quase.
Não se percebia quem estava com mais
prazer neste encontro. Os dois pareciam loucos de amor e desejo.
Para ela, Pedro era um jovem, bonito,
forte, educado e, quando trabalhava a seu lado, sempre a respeitara. Não era
como os outros colegas que não desgrudavam os olhos dela, olhos ávidos de
fêmea, que a incomodavam. Olhos que lhe lembravam o tio. Um horror. Ela sorria
para todos. Era a arma que usava para os acalmar. Pedro comportava-se como uma
pessoa respeitável. Mas, como ela, era jovem.
Do mesmo modo Pedro, se bem que o seu
coração sempre aumentasse um pouco o ritmo quando a via, procurava disfarçar e
tratá-la com o maior respeito, o que a atraía ainda mais.
Aquele encontro no cubículo do arquivo,
tirou a máscara aos dois! E agora ali estavam a amar-se, sempre com medo que o
encontro chegasse ao fim, porque, como estava, devia durar eternamente.
- Manuela: não sei o que lhe dizer, mas
eu estou no céu e no inferno ao mesmo tempo!
- Por enquanto guarde só o céu. Ainda
temos mais uma hora. Depois falaremos sobre o infer...
O dia começava a escurecer. Eram mais
do que horas para que ambos voltassem a suas casas.
- E agora? O que fazemos?
- Não sei. Amanhã falaremos nisso.
Entretanto vamos pensar em alguma coisa.
Sairam juntos, na esquina do
quarteirão, sem ninguém a passar, um último e apaixonado beijo. Depois cada um
seguiu para seu lado.
Pedro, autômato, repetia para si:
“Entretanto vamos pensar em alguma coisa.” Estava incapaz de pensar no que quer
que fosse, e num terrível pânico, pânico, de ter que enfrentar a noiva. Ele
sabia que a amava, que era a mulher da vida dele, mas Manuela obcecara-lhe
todos os pensamentos. Parecia hipnotizado. Dominado por aquela flor linda, mais
que apetecível, que não o deixava pensar em outra coisa.
Dormiu mal. No dia seguinte, no
trabalho mal levantava a cara para falar com qualquer colega, com medo que lhe
adivinhassem o pensamento. Nervoso, não conseguia concentrar-se, nem terminar o
projeto que deveria passar a Manuela para datilografar.
Quando ela entrou, nem levantou os
olhos.
- Daqui a pouco eu já a chamo para lhe
entregar o trabalho.
E demorou para chamar. Sabia que o
projeto não estava bem preparado, mas não podia disfarçar mais. Depois, quando
estivese mais tranquilo o refaria.
No fim do dia, Manuela foi despedir-se
dele.
- Boa noite, senhor engenheiro. E
baixinho: - vou esperar no hotel.
Pedro sofria, não podia libertar-se,
estava com um encantamento de que queria e não queria fugir. Era uma maldição
maravilhosa, mas antevia um final dramático, difícil e que poderia destruir a
sua vida, os seus planos.
Mas o apelo era mais forte. Procurou
ver se não era seguido, passou na portaria e o recepcionista, sabido do
encontro, malandro, ainda se atreveu a perguntar:
- É até à hora de ir para o Porto? – E
fez um sorriso de gozo, que Pedro disfarçou.
Assim que entrou no quarto já se
agarraram os dois. Dois amantes loucos, imparáveis, insaciáveis, com uma paixão
que normalmente leva a um fim trágico.
Não falavam. Amavam-se, amavam-se com
uma fúria imensa, cada um temendo ou adivinhando que um dia perderia o outro.
- Pedro eu acho que também estou louca,
com medo de te perder. E sei que isso vai acontecer. O teu casamento é a tua
vida, e tens que a seguir. Mas até lá quero estar contigo todos os momentos que
puder.
- Manuela, de fato o que se passa conosco
é uma paixão violenta, e não acredito que qualquer de nós tenha força para a
interromper. Eu, pelo menos, não sei como largar-te. Até no escritório o meu
rendimento caíu quase a zero. Não consigo concentrar-me. Só penso em ti, e como
é bom estarmos juntos. Uma loucura.
- Vou-te contar o meu segredo. Há um
vizinho meu, um jovem que está bem de vida, simpático, educado, e que não larga
a minha porta. Já falou com os meus pais, e quer, porque quer, casar comigo. Eu
disse-lhe que não tenho pressa nenhuma em casar, mas que iria pensar nisso. Mas
eu pensava que haveria de aparecer uma oportunidade para estar contigo antes
que lhe desse o meu sim. E agora, não posso dá-lo tão depressa.
- Mas depois de casada eu não quero
estar mais contigo. Seria infâmia da minha parte.
- Nem eu. Por isso tenho vindo a adiar.
Vamos deixar passar mais uns dias e ver se consumimos um pouco do fogo que
temos dentro.
- No que eu não acredito!
E voltaram a amar-se. Muito. Os beijos
mal os deixavam respirar, sempre profundamente abraçados.
Uma semana passada todos os dias no
hotel “à espera do combóio da noite!”
Perto do fim de semana o chefe da
empresa chama Pedro e diz-lhe que ele tem que ir à Escócia, possivelmente ficar
lá uns oito dias, porque a fábrica de uns equipamentos que representavam estava
a desenvolver uma máquina nova e queriam saber se ela se adaptaria às condições
de outro país. Ainda estariam a tempo de fazerem alguma alteração. “Prepara
tudo que seguirás no voo de domingo.”
Pedro neste tempo só via a noiva a
correr. O hotel absorvia-lhe quase todas as horas vagas. Disse-lhe que tem
andado a estudar um projeto, e agora, por milagre, parecia que tudo se
encaixava, uma vez que tinha que ir ajudar a desenvolver um equipamento novo.
Na Escócia.
Nessa tarde, sexta-feira, no hotel,
entre beijos e tudo o mais, Pedro diz a Manuela que vai ficar, pelo menos oito
dias fora. Na Escócia. Ordens do patrão.
- Manuela, este vai ser o nosso último
encontro. Diz ao teu vizinho que aceitas a proposta de casamento. É uma
oportunidade para nos separarmos, se bem que aqui dentro do meu coração e
pensamento, tu jamais vais sair, porque no fundo eu te amo enormemente.
- Pedro! Que horror! Porque o último
encontro? Eu espero o teu regresso, meu amor.
- Não Manuela. Eu só quero o teu bem, e
não poderíamos continuar esta vida eternamente. Casa, procura ser muito feliz,
eu sei que não consigo esquecer-te, mas Deus me livre de ser causa da tua
infelicidade.
Voltaram a amar-se e viam-se nos rostos
de ambos umas lágrimas que apareciam.
Quando voltou da Escócia, Pedro soube
que a Manuela tinha pedido dispensa e saira da empresa. Ia casar dentro de
poucos dias. Deixara um bilhete, igual ao que dera aos colegas com quem mais
simpatizava: “Não falte ao meu casamento!”
Pedro não sabia se respirar aliviado ou
correr a casa dela para um “outro” último encontro. Mas também vinha da Escócia
com uma proposta irrecusável: tinham-lhe oferecido um cargo importante na
representação da fábrica no Canadá.
Posto o problema ao patrão, já ao
corrente, porque o presidente da fábrica em Kilmarnock, antes de lhe fazer a
proposta lhe, e é evidente que ele concordara. Era o futuro do jovem que estava
em jogo.
Dentro de um mês casaria e seguiria
para o Canadá, onde começou também a sua nova lua de mel. Maravilhosa, a mulher
era uma jovem também muito bonita e que o amava, mas havia um gosto de mistura
entre ela e a inesquecível Manuela, que ele não vira mais, mas que nunca lhe
saíu da cabeça.
Tinha sido uma paixão de tal violência
que deixou cicatrizes profundas. E gratas.
Cinquenta e alguns anos passaram.
Pedro, devagar, desce a avenida onde
ficava, e onde ainda estava, a empresa onde trabalhou. Há tanto tempo! Distraidamente
olha para a entrada do prédio, já renovada, novas vitrines com máquinas
modernas lá dentro, quando de repente choca com uma senhora que vinha em
sentido contrário e que também não reparara nele. A senhora, já de idade, quase
cai, Pedro consegue segurá-la, pede-lhe mil desculpas.
- A senhora está bem? Machucou-se? Quer
sentar-se em algum lugar?
- Não se preocupe, estou bem, sim, nada
me aconteceu, além do susto.
E olharam na cara um do outro. Alguma coisa
havia atrás daqueles rostos envelhecidos, mas.... o que?
- Olhe minha senhora, eu vinha
distraído e não reparei. Peço-lhe imensa desculpa.
- Ora, não foi nada.
- E sabe porque? Eu trabalhei aqui
dentro há mais de cinquenta anos. E uma saudade forte bateu.
- Ah! Sabe que eu também aí trabalhei?
- Como é possível? Não diga que trabalhámos
juntos. Era o que faltava. Como é o seu nome?
- Manuela.
Pedro sentiu-se mal. Uma tontura e uma
forte batida no coração. Teve que entrar na loja e pedir para se sentar. A
senhora, assustada segui-o.
- Por favor alguém pode dar um copo de
água a este senhor? O senhor sente-se bem?
Pedro mal conseguia falar, mas pouco
mais do que balbuciou:
- Manuela! Eu sou o Pedro!
Desta vez a senhora pediu outro copo de
água e mais uma cadeira. Sentou-se a seu lado, pegou nas mãos de Pedro e
começou a chorar. Choraram os dois. E o pessoal da loja não sabia como acudir
àqueles dois simpáticos velhotes, que assim ficaram um bom tempo.
Quando se levantaram:
- Ainda existe aquela pastelaria?
- Creio que sim.
- Vamos lá?
Seguiram, rua fora, de mão dada,
limpando um resto de lágrimas, e sorrindo um para o outro. E de mãos dadas
ficaram a conversar na pastelaria.
- Porque não vamos para o hotel?
- Pedro?!
- Eu estou num hotel muito mais
confortável do que este daqui!
- E onde moras?
- No Canadá, em Toronto. Desde que para
lá fui só tenho vindo aqui de tempos a tempos, por alguns dias de férias. E
sempre passo em frente à loja a pensar em ti!
- E tu? Eu moro num lugar, fora da
cidade, perto da praia. Uma casa pequena, mas que é o meu ninho. Não tive
filhos e agora que também já não trabalho, distraio-me passeando. E venho muita
vez aqui em frente do nosso antigo trabalho e fico a pensar...
- Deve ser uma beleza onde moras.
- É sim. Mas vivo sózinha.
- Enviuvaste?
- O meu primeiro casamento não deu
certo; ele era demasiado ciumento, como se fosse culpa minha ser bonita! Nunca
o atraiçoei, mas o ciúme era doentio e resolvemos nos separar. Dois anos depois
casei outra vez e aconteceu o mesmo. Durou só mais dois anos. Depois, desisti.
E queres crer? Só pensava em ti!
- Pois eu, mudei três vezes de cidade,
no Canadá, até ser presidente da empresa e mudar-me para Toronto, onde me
aposentei e tenho casa. A minha mulher, com quem sempre me dei muito bem,
morreu há cinco anos, mas... nunca, nunca, da minha memória e do meu coração saíu
a doce Manuela. Tenho três filhos e cinco netos, todos espalhados pelo Canadá.
É raro reunir a família, e o que faço é também passear, tenho vindo algumas
vezes por estes lados, sempre com a idéia maluca de te poder voltar a encontrar!
E eis que a maluquice... aconteceu.
Acarinham-se as mãos e sorriem, mas nos
olhos notava-se um pouco da tristeza de tantos anos passados.
- Não podemos perder mais tempo.
Vamo-nos casar! Já.
- Pedro, ficaste maluco?
- Não. Estou perfeitamente consciente,
e não vejo razão para não aceitares este pedido, formal..., que acabo de te
fazer. E já tenho até planos para a nossa vida: no verão ficamos em Toronto, e
o inverno passamos para a tua casa, porque lá no Canadá o frio é horrível!
Magnífico plano.
Manuela olhava-o sem dizer uma palavra.
Sorria.
- Onde tem uma Conservatória de Registo
Civil mais próxima?
- Pedro! Tanta pressa! Não temos que
dar satisfações a ninguém.
- Meu amor, não temos nem mais um
segundo a perder.
Enquanto a documentação dos noivos não
ficava pronta, e ninguém sabe se alguma vez foi utilizada, Pedro mudou-se para
casa da Manuela.
E estavam felizes. Como os jovens que
se encontravam “à espera do combóio para o Porto”!
06/03/2014
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