Macedónia
Filipe II
Filipe:
de φιλος (philos) "amigo" e ‘ιππος (hippos) "cavalo", Filipe
significa o “amigo dos cavalos”!
A
Macedónia, no começo do reinado de Filipe II (359-336 a.C.) era um país –
região – pequeno, praticamente todo dentro do que é hoje território da Grécia,
que tanto reclamou quando uns vizinhos ex-jugoslavos quiseram a independência e
chamar ao novo país Macedónia. A
Grécia considera o nome "Macedónia" como parte do seu passado
cultural. Além disso, a Grécia já possui uma região com o mesmo nome. Desta
forma, só concordou com a admissão da República da Macedônia (nome
constitucional) na ONU sob o nome
provisório de "Antiga República Jugoslava da Macedónia" (em inglês
"the Former Yugoslav Republic of Macedonia" – FYRM).
Quatro séculos antes do nascimento de Cristo o
futuro da civilização grega, com suas cidades condenadas à filosofia e não à
guerra, dilaceradas por rivalidades e raivas, dependia da Macedónia, que, como
uma porta trancada, ao Norte, continha a ameaça dos exércitos dos persas Darius
e Xerxes. Desta situação Filipe II acabará por tirar o melhor partido, com um
sentido de diplomacia que se confunde com perfídia!
Os gregos do cimo da sua cultura faziam questão
de “confundir” estes vizinhos do Norte, de cabelos louros e olhos azuis, com os
bárbaros da Ilíria, Trácia ou Mésia,
que hoje correspondem, aproximadamente, a Ilíria à antiga Iugoslávia, a Trácia
a metade da Bulgária, ao território europeu da Turquia e um canto no extremo
nordeste da Grécia e a Mésia no sul do Danúbio apanhando umas partes da Sérvia,
Bulgária e Romania.
Eles os descreviam como vagabundos bagunceiros,
vestidos de peles de animais sempre a guerrearem pos questões de pastagens,
caçadores e bebedores, que despejavam goela abaixo enormes quantidades de vinho
antes de cada refeição!
No entanto a côrte real da Macedónia se enchia
de cultura. As classes superiores falavam o grego clássico e procuravam levar a
mesma vida “rafinée” dos prestigiosos vizinhos. Apesar da sua vocação para a
perfeição, as famílias dos soberanos mecedónios viviam em questões motivadas
por paixões e ambições e os assassinatos eram tão frequentes como em qualquer
outro lugar no Mediterrâneo! A democracia na antiguidade helénica era tão
frágil como é no mundo moderno!
A mãe de Filipe, Euridice diz-se que assassinou
o marido, rei Amintas, e tomou por amante o esposo de sua filha, um tal
Ptolomeu. Este, por seu lado assassinou o príncipe herdeiro, Alexandre, filho
da sua amante, para se apropriar do trono. Pelos vistos a vida em Pella,
capital da Macedónia naquele tempo, não era lá muito tranquila.
Em 367 Tebas impusera a paz na Tessália e o general
tebano Pelópidas tomou como refém
o jovem príncipe Filipe então com oito anos, futuro rei, irmão caçula do rei
Pérdicas. Filipe, inteligente e muito vivo, estudou as táticas de Ifícrates e
Epaminondas, assim como as inovações e estratégias militares tebanas (a
falange). Regressou à Macedônia em 360, tendo estudado bem os métodos militares
gregos com as falanges hoplitas. (Hoplita na Grécia antiga,
era um soldado de infantaria pesada.
Seu nome provém do grande escudo que carregavam: o hóplon. Era o principal
soldado grego da antiguidade. Carregavam uma longa lança de 2,5m, e uma espada curta para combates de curta
distância. Os exércitos de hoplitas lutavam corpo-a-corpo em densas colunas,
com a ponta das lanças de várias fileiras se
projetando para fora da formação golpeando na altura do peito.)
Decidiu então que a resposta à tática hoplita teria
uma nova formação: a falange de
dez fileiras de infanteria armadas
com lanças, duas vezes mais longas do que as lanças comuns. Os homens que as
carregavam ficavam mais distantes do que os hoplitas, de modo que as lanças da
retaguarda se projetavam entre as das primeiras fileiras. O resultado era uma
disposição de pontas em forma de ouriço, uma arma formidável.
Falange
macedónica
Para apoiar a retaguarda havia uma cavalaria
com armaduras cercada por uma
fileira de armas pesadas, tipo catapultas.
Um ano depois Filipe assumiu o controle, não
como rei, mas como guardião de seu sobrinho, Amintas IV, um jovem menino. Seu país estava à beira do colapso,
tendo perdido quatro mil homens em batalha, enquanto as forças vitoriosas de
Bardílis ocupavam cidades na Pelagônia e
Linco (na Macenónia, Grécia) e ameaçavam invadir toda a própria Macedônia em 358
a.C. Depois duns quantos ajustes de contas, Filipe acabou por assumir o trono,
porque na sua adolescência esteve retido em Tebas, o que lhe deverá ter salvo a
vida.
Não tardou a crear as falanges macedónicas,
futuro instrumento da sua glória, e assim começou por ocupar as margens do Mar
Egeu. Fez “mão baixa” das minas de ouro do Monte Pangeu que produziam o
equivalente a muitos milhões de € euros, que lhe permitia corromper os cidadãos
mais influentes das cidades gregas! (Tal qual hoje!!!)
“Serve-te
do ouro como de uma espada, lhe havia dito o oráculo de Delfos, e ninguém te resistirá!” Ele mesmo
acrescentou: “Nenhuma fortaleza resiste a
uma mula carregada de ouro!”
Sabia, admiravelmente jogar com a força e a
persuação, a brutalidade e a perfídia. Atlético, corajoso, entusiasta, bêbedo,
bonito, não lhe faltava espírito. Depois de uma luta, amigável, desportiva,
contemplava a sua sombra projetada no chão e dizia: “Não cubro grande ária para alguém que quer conquistar o mundo!”
Segundo Demóstenes, que se fazia defensor da
democracia face ao “perigo do norte”, Filipe foi considerado velhaco e
mentiroso e que a sua palavra não valia um talento de ouro! Como em todos, ou
quase, os políticos e oradores, Demóstenes também tinha o seu lado fraco: era
pago pelos atenienses das colónias ocupadas por Filipe! E tinha sido humilhado
pelo rei da Macedónia quando das negociações com Atenas.
Mantendo no seu exército uma disciplina de
ferro, Filipe II, nos seus combates fez prova de imensa coragem para se
encontrar com menos de 20 anos, com um olho vasado, uma clavícula fraturada e
um braço e uma perna imobilisada!
Filipe
a cavalo
Isócrates culpava-o por se expôr como um
valentão em lugar de um rei! Depois das batalhas cantava e bebia com os
soldados, desafiava-os para combates amicais, e punha-os a rir fazendo
brincadeiras e palhaçadas! Mas, para se guardar contra a vaidade tinha um
escravo que todos os dias, quando ele se levantava, lhe dizia: “Filipe, lembra-te que és um mortal!”
Casou primeiro com uma
jovem, Olímpias, filha do rei de Épiro (hoje a Albânia) que tinha também uma
personalidade forte. Segundo o costume do seu país ela fazia parte das bacantes
que se entregavam a ritos orgíacos (seguiam o culto de Orfeu e Dionísio – o
bonitão daquelas bandas – e eram
conhecidas como selvagens e endoidecidas, de quem não se conseguia um
raciocínio claro. Durante o culto, dançavam de uma maneira livre e lasciva, em
total concordância com as forças mais primitivas da natureza. Os mistérios que envolviam
o deus, provocavam nelas um estado de êxtase absoluto, entregando-se a
desmedida violência, derramamento de sangue, sexo, embriaguez e autoflagelação)
e punham tal fervor nas cerimónias frenéticas durante as quais se enrolavam em
serpentes vivas.
Dizem que perto da cama dela dormia uma
grande serpente que terá sido a principal causa para arrefecer o “amor” das
carícias de Filipe! Mas não foi a presença da serpente que levou Filipe a
desconfiar da sua paternidade quando nasceu Alexandre. Acabou por repudiar
Olímpia – e parece, dizia que tinha sido possuída por Zeus – que voltou para o
Épiro com seu filho que tomou o partido da mãe, e Filipe voltou a casar com
Cleópatra filha de um dos seus generais.
Ao fim de 23 anos de reinado tinha
dobrado a superfície do seu reino. Por toda a Grécia o povo estava apático,
desencorajado, resignado.
As suas tropas estavam afinadas,
aguerridas e fiéis e as suas finanças em muito boa situação, já que ele era
também mestre em se apropriar das riquezas das cidades vencidas.
No ano 336 Alexandre não está convencido
que irá suceder a seu pai, que duvidava da paternidade, tanto mais que tinha
assistido, com a sua mãe, Olímpias, às sumptuosas bodas de Filipe com a jovem
Cleópatra já grávida. O general Atalo, pai de Cleópatra, imprudentemente, na
presença de Alexandre, disse: “Podemos
agora esperar um filho legítimo para um trono legítimo!”
Filipe preparava-se para partir para a
Ásia Menor em cruzada contra os persas. Organizou grandes festas. Cleópatra já
lhe dera um filho e vai casar uma das suas filhas com o rei de Épiro
pretendendo assim aliviar as tensões provocadas por ter repudiado Olímpias.
Um oráculo consultado em Delfos sobre a
futura campanha respondeu: “O touro está
enfeitado com coroas de flores. O seu fim está próximo. O sacrificador está
pronto.” Anuncia uma morte! Do rei persa ou de Filipe?
O povo também se admirou de ver, numa
procissão uma esfinge de Filipe, entre os deuses do Olimpo, como se ele
estivesse já “no além”!
Tudo pronto em Aegea (hoje Edessa) para
o casamento do rei de Épiro, onde estavam também Olímpias e Alexandre.
Príncipes, generais, políticos, atletas vindo participar nos jogos, atores
célebres, artistas, todos se confundem nas ruas da capital.
Poucos dias antes o mesmo general Atalo,
numa “brincadeira” de mau gosto embebedou um súbdito de Filipe, Pausanias, com
quem tinha contas a acertar. O jovem, em lágrimas foi queixar-se a Filipe que
não estava disposto a se indispor com o sogro e quase também genro e mandou-o
embora com um presente.
No dia da festa, a seguir à cerimónia do
casamento, todos os convivas foram para o anfiteatro onde os atletas se iam
exibir. Filipe, vestido de branco, precedido por Alexandre e pelo rei de Épiro
caminham por corredor estreito que levava para a arena. Um homem surge de
repente e enfia um punhal no coração de Filipe. Pausanias. Enquanto Filipe
desaba, o assassino monta no seu cavalo mas pouco adiante bate num ramo de uma árvore
e tomba. Logo é apanhado pelos guardas que o atravessam com lanças e o deixam
pendurado num patíbulo no centro da cidade.
De manhã descobrem que ele tinha na
cabeça uma coroa dourada!
A cruzada contra os persas não tinha
entusiasmado ninguém e os convidados não se preocuparam muito com o fim trágico
do rei da Macedónia; decidem que o trono deve ficar com Alexandre, e enquanto
este se ocupa a consolidar a sua posição, Olímpias vai a Pela, entra no quarto
de Cleópatra, ainda não recuperada do parto, e convence-a a pôr fim à vida, o
que a jovem, com medo, não hesita em fazer e se enforca. A antiga bacante do
Épiro pega no recém nascido e manda que o atirem ao fogo do altar, em oferenda
aos deuses.
Alexandre tem 20 anos. Um dos seus
primeiros atos foi repudiar Atalo, o general desbocado. Herda o maior e mais
disciplinado exército que havia. Dois anos depois sai em guerra contra os
persas e conquista o maior império da história.
Jan/2015
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