terça-feira, 10 de fevereiro de 2015



Ateu, teólogo e filósofo


Tem gente para tudo. Os que acreditam em Aúra-Masda, ou em Sang Ti, ou em Amon Ra, em Adonai, em Alá, em Cristo, no Pai ou no Espírito Santo, e em muitas outras formas, indefinidas, espirituais. Até em Maomé! Maomé, o indefinido, o que não se pode ver, nem reproduzir a imagem. Como Deus.

Aúra-Masda

O homem tem que acreditar em qualquer coisa. Menos o ateu!
O ateu acredita na ciência. É o que ele diz. Esquece que Algo, alguma coisa, terá criado o Universo, seja a partir de uma molécula, dum átomo de carbono ou hidrogénio ou de uma ameba! E como para isso não encontra explicação, como ninguém, prefere ficar do lado mais cómodo e falar mal de tudo e todos, chamando-os de ingênuos.
É como aqueles que não votam. Para quê? Eles já sabem quem vai ganhar! São sempre os mesmos, os políticos, os corruptos. Então fica em casa, sentadão a ver na TV se ganha algum amigalhaço para depois lhe facilitar a vida. Não ganha. Bom, nem todos são assim!
Não votam e fica o poder na mão dos que lutam. Os tais que o ateu acha que são uns idiotas, e que acabam por se revelarem os únicos espertos.
E porque se discute, universalmente, a “ciência” das religiões, ele encontra defeitos e enigmas em todas e prefere abster-se de, igualmente, ser alvo de qualquer crítica. Creio que se pode chamar a isto covardia.
Lembro dois grandes atores teatrais de Portugal: Chaby Pinheiro (1873-1933) que fazia rir todo o teatro e brincava com um belíssimo poema de Guerra Junqueiro, O Melro, – O Melro, eu conheci-o, era negro, vibrante luzidio – mas que ele começava assim:
O melro? Eu conheci-o. Era um pobre cão vadio...”
Ou a famosa Teresa Gomes (1882-1962), com uma graça imensa: “Se aquilo que a gente sente/ Cá dentro tivesse voz / E falasse às multidões / Seria muito indecente / Estar alguém ao pé de nós / Em certas ocasiões.”
Qualquer destas situações me lembra o ateu. Estranho!
O primeiro porque disfarça, brinca com o romântico poema, sem ofender, só para fazer rir. Teresa Gomes é mais objetiva, quando quer dizer: saiam de perto que eu vou malhar!
Ninguém se atreve a conhecer Deus. Só os falsos, os pretenciosos, os que usam a religião, não como dogma mas como ideologia de poder, e à sombra d’Ele cometem todas as atrocidades possíveis.
Isso tem-se visto desde a mais remota antiguidade, em todas as religiões, porque à sombra delas se fixava e fixa, o poder.
O mais espantoso é verificar que em pleno século XXI continuem a existir extremistas, assassinos, que alegam estarem a matar em nome de Alá!
Agora os “doutores” islâmicos também declararam – ou determinaram? – que é blasfêmia tirar os retratos que passaram a chamar-se “selfies”! Insanidade total.
Os ateus evitam falar sobre teologia, uma vez que para eles Deus é inexistente. Então filosofam. Talvez não conheçam conclusões como esta de Pascal: “A impossibilidade em que me vejo de provar que Deus não existe, revela-me a sua existência.”
E o que fazem os “grandes teólogos”? Procuram interpretar as palavras nos escritos sagrados. E cada um interpreta como lhe apetece ou entende, e como NINGUÉM entende coisa alguma de Deus, acabam por dar razão aos ateus que somente filosofam.
Camilo Castelo Branco, sempre mordaz, disse: “Deus não se deixa entender justamente para não sofrer confronto com estes miseráveis que nós somos”.
Ou Camões: “O que é Deus ninguém o entende / Que a tanto o engenho humano não se estende.”
Stephen Hawking, o grande matemático: “Agora a ciência oferece uma explicação mais convincente. O que eu quis dizer quando disse que conheceríamos ‘a mente de Deus’ [no seu livro “Breve História do Tempo”] era que compreenderíamos tudo o que Deus seria capaz de compreender se por acaso existisse. Mas não há nenhum Deus. Sou ateu. A religião acredita em milagres, mas estes são incompatíveis com a ciência”.
É evidente que os milagres são incompatíveis com a ciência! Se fossem compatíveis não seriam milagres! Mas e os tantos milagres que, todos os dias acontecem?
Os milagres saem de dentro de cada um na proporção do tamanho da sua Fé. Quem não tem fé faz como o ateu: ficar sentado à espera para ver o que acontece! Muito mais cómodo.
Um indivíduo não precisa de ser religioso para alcançar a felicidade. Mesmo nesta terra. Basta combater o próprio Ego e deixar o seu Eu espiritual dirigir a sua vida.
Que reconheça que a Natureza é a representação perfeita de Deus e a respeite, sem esquecer que a natureza não é somente um pôr do sol nos trópicos, as paisagens bonitas, os passarinhos coloridos, mas tudo, realmente tudo que a compõe, incluindo aquilo que se convencionou chamar de ser superior, o homem. Não superior à natureza, jamais. Superior só porque lhe foi insuflado um Sofhos, o espírito.
E o espírito, mesmo que ninguém acredite, não morre. Não pode morrer. Não veio da terra, para onde voltará “a embalagem para viagem”, como lhe chamou Nei Lopes. “Ao pó voltarás”, mas o espírito não é pó. Libertando-se do corpo ele se reunirá ao Espírito Universal, infinito, ou voltará, como pensam alguns povos, para reencarnar outro corpo e tentar conduzi-lo pelo bom caminho.
Se Deus é a própria natureza, há que respeitá-la, respeitar o meio ambiente. Claro. Quando não este morre ou prepara a morte das gerações futuras. Mas tem que começar por respeitar o seu próximo, o seu igual, alto, baixo, gordo ou magro, azul, verde, preto, branco ou amarelo.
Há quem insista em manter o racismo no seu DNA. Talvez nunca tenham visto um africano, de pele bem escura, que tenha sofrido uma queimadura grave. A epiderme vai embora e ele fica mais branco do que um finlandês.
E os idiotas são racistas por um problema de epiderme! Não sabem que eles têm a pele escura porque a natureza os presenteou com essa defesa contra o calor e sol.
A natureza sabe o que faz e o que é preciso. Mas quem criou uma natureza assim? A ciência? Algum ateu? Na natureza nada há supérfluo! (Averrois)
Aristóteles: “A nossa inteligência está tão apta para compreender as coisas altíssimas e claríssimas da natureza, como os olhos da coruja para ver o sol.”
Morre-se pela família e pela pátria, mas só um Deus morre pela humanidade.
Mahatma Gandhi constatava: “Cristo é a maior fonte de força espiritual que a humanidade conheceu.”
Não sei já quem escreveu: “O cristianismo é o milagre da normalidade.”
Imaginem só por um momento a vida de Francisco de Assis, o Poverello. Completamente desligado da vida mundana, do ego, pobre, generoso, pregando o bem e o entendimento entre os tais “seres superiores”, e vejam como se comportam na Índia os jainistas, que insistem até em andar nus para que ao confeccionar roupas não matem um só inseto que a natureza ali tenha deixado.
Algum ateu se atreverá a criticar?
Pobre Poverello se hoje fosse apanhado pelos extremistas.
E pelos ateus. Sobretudo aqueles que dizem: “Sou ateu, graças a Deus!”

31/01/2015


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