Portugal
no século XX
Volta e meia aparecem uns livros que despertam a minha curiosidade.
Desta vez foi “O Século XX Português”,
do professor José Miguel Sardica. Uma análise interessante, sem manifestar qualquer
tendência político-partidária, acaba por nos levar a comparar a I República,
1910 a 1926, com a gloriosa revolução dos cravos: períodos de anarquia total,
perseguições, vinganças, governantes a vomitar o seu ódio represado, levando, a
primeira à Ditadura de Gomes da Costa, seguida pelo período de Salazar, que
deixou o país rico de finanças e pobre de liberdade, e a segunda, depois de
acalmar um pouco, ao des-governo cavaquista que se embandeirou em arco com os
dinheiros que recebia da UE e que acabou deixando o país com liberdade mas
arruinado.
Os primeiros, anarquistas, carbonários, ferozmente anti católicos,
fecharam-se num grupo “revolucionário, jacobino e ditatorial”, fazendo com que
a esmagadora maioria da população aplaudisse a chegada da paz interna com
Carmona e Salazar. A “dos cravos” quase leva o país aos sovietes com o
famigerado MFA – Movimento das Forças Armadas – perdido, vingativo, sem saber
que direção tomar.
Tal a Revolução Francesa, que se quiz impor pelo Terror, a que Napoleão,
quer gostem dele ou não, acabou por dar rumo.
Até nos poucos meses que esteve exilado na ilha de Elba, revolucionou
aquela pequenina parcela do território, ordenando-o, abrindo estradas,
valorizando-o. Portugal não teve um Napoleão! Teve Salazar que afastou tudo e
todos que lhe poderiam fazer sombra ou atrapalhar os seus projetos.
Em 1932 ele afimou; “Os que não
concordam podem ser sinceros e dignos confessando a sua discordância... mas no
que respeita a uma atuação política efetiva, levá-la-emos pelo melhor modo
possível, a que não nos incomodem demasiadamente...” . Brilhante! Mas todos
os que incomodaram foram postos ou fora ou a ferros, desde a extrema esquerda à
extrema direita.
Também dele a frase: “O poder
tende a corromper e o poder absoluto corrompe absolutamente.” Ele parece não ter metido um cêntimo no
bolso, mas julgou-se imortal e insubstituível.
Nomeou Marcelo Caetano, um dos primeiros a apoiar a Mocidade Portuguesa
e a ocupar sempre cargos da mais alta confiança desde que fizesse exatamente o
que o chefe queria.
E Salazar tinha dele uma opinião curiosa! Em 1973, em (ainda) Lourenço
Marques, um padre, cujo nome felizmente esqueci, diretor do jornal “O Diário”,
quase orgão do bispado, tinha sido em tempos capelão da Mocidade Portuguesa,
profundo admirador de Salazar, mas, pagar os emprestimos que devia ao banco,
onde eu estava... nada. E lá vou eu, poucos dias depois da desastrosa
comunicação de Marcelo Caetano ao país, a propósito do livro “Portugal e o
Futuro” do general Spínola, uma vez mais ver se conseguiamos receber algum! O
padre como já se esperava disse que a diocese estava sem dinheiro, chorou um
pouco, etc., e veo à baila o discurso de Marcelo. Diz-me ele: “Eu conheci bem o Presidente Salazar. Várias
vezes o fui visitar, e numa delas perguntei-lhe porque não nomeava o professor
Marcelo Caetano como primeiro ministro e ia descansar, que bem merecia. Salazar
respondeu-me: o professor Marcelo Caetano é um homem inteligente, íntegro, mas
quando cria problemas não sabe como os resolver. Foi, por exemplo o que se
passou quando me pediu para ser reitor da Universidade de Lisboa. Começou por
afirmar que a Universidade mais antiga era a de Lisboa e não de Coimbra,
arranjando logo confusão com os coimbrões. Depois, contra a minha opinião, que
previa viesse a dar problemas, criou a Casa dos Estdantes do Império, que não
tardou a ser um centro de desenvolvimento de movimentos de esquerda e pró
independência das colónias. Quando já não sabia o que fazer veio apresentar a
demissão. Um homem de valor mas não para conduzir um país!”
Curiosa esta opinião de Salazar. Dias antes todos tinhamos ouvido pelo
rádio o pronunciamento de Marcelo Caetano, que foi um balde de água fria na
abertura para o diálogo com os movimentos de libertação. Tal e qual a
personalidade que Salazar definira!
O livro do professor Sardica dá-nos outra confirmação desta visão: a
guerra de África consumia todos os recursos do país, não só económicos mas
sobretudo em gente. 2% da população estava nas frentes de batalha. “Não querendo, não podendo ou não sabendo
libertar-se deste fardo, o governo marcelista entrou em paralesia a partir de
1970-71. Foi o momento em que Caetano desistiu de liberalizar mantendo a
guerra, passando a manter a guerra sem liberalização. E o sinal mais claro do
recuo foi a recandidatura de Américo Tomás à Presidência, aceita por Caetano no
verão de 1972.”
Do blog Portugal Vitorioso
Por Vitor Santos
Para muitos, o 25 de Abril que se comemora, é
o expoente máximo da liberdade e da independência nacional. Intocável
na sua génese, 40 anos depois, é imprudente discordar
dos militares que lhe deram corpo. Passados 40 anos, temos uma
associação liderada por uma figura que mais parece ter sido tirada de uma banda
desenhada que mais não faz do que manter a todo o custo a insegurança,
dividindo o povo e semeando o medo entre aqueles que discordam das suas
palavras e dos seus actos.
Tinha razão Marcelo Caetano quando
um dia se pronunciou sobre o 25 de Abril.
Disse ele: “Em poucas décadas estaremos
reduzidos à indigência, ou seja, à caridade de outras nações, pelo
que é ridículo continuar a falar de independência nacional. Para uma Nação que
estava a caminho de se transformar numa Suiça, o golpe de Estado foi o
princípio do fim. Resta o Sol, o Turismo e o servilismo de bandeja, a pobreza crónica e a emigração
em massa”.
E acrescenta: “Veremos alçados ao Poder
analfabetos, meninos mimados, escroques de toda a espécie que conhecemos de
longa data. A maioria não servia para criados de quarto e chegam a presidentes
de câmara, deputados, administradores, ministros e até presidentes de
República”.
Comemorar, hoje, o 25 de Abril é deixar a
esmagadora maioria dos portugueses com “amargo de boca”. Livramo-nos de uma
ditadura para acolher e votar em ladrões e vigaristas oriundos de todas as
classes sociais.
Deixemos Caetano em paz. Foi um professor de direito muito estimado e
admirado por seus alunos, pelo seu saber e sua postura.
Só mais um aspeto de Portugal no século XX: a Mocidade Portuguesa. Criada
por Decreto-Lei em 19 de maio de 1936, pretendia abranger toda a juventude -
escolar ou não - e atribuía-se, como fins, estimular o desenvolvimento integral
da sua capacidade física, a formação do carácter e a devoção à Pátria, no
sentimento da ordem, no gosto da disciplina, no culto dos deveres morais,
cívicos e militares.
Há que se divirta a comparar a Mocidade Portuguesa – MP – com a
juventude hitlerista, ou as juventudes fascistas italiana ou espanhola.
É evidente que foi uma obra de Salazar, o que era bem visível nos cintos
da farda, com um grande S na fivela!
Jovens
da MP dando início à plantação da floresta de Monsanto em 28-Maio-1938
(Eu
sou o que esta atrás, à esquerda, assinalado com a cruz azul)
Quem, como eu passou uns anos na MP, deve lembrar-se como
era uma organização bem estruturada, e onde os jovens, primeiro só rapazes e
mais tarde também as moças, tiveram oportunidade de preticar uma imensa
variedade de desportos como vela, equitação, campismo, atletismo, jogos
divesros, etc.
Fomos nós que plantámos as primeiras árvores do que é
hoje o Parque Florestal de Monsanto. E fizémo-lo com o maior prazer. Ainda hoje
consigo econhecer a árvore que lá plantei há 76 anos!!!
Primeira
página do número especial do Século Ilustrado” de 28-Maio-1938
Em 74 a famigerada “dos cravos” acabou com tudo. Todos
éramos ou tínhamos sido fascistas! E em seu lugar simplesmente, covardemente e
incopetentemente deixou... NADA.
Tenho muito orgulho, e saudade de ter sido esse fascista!
Fiz muito desporto, sobretudo atletismo, sem nunca me ter preocupado em ser uma
capeão – atletas profissionais nem me lembro se havia – e tão fascista fui que
quando das eleições de 1958, quando me indignei ao ouvir pelo rádio um
surpreendetemento idota discurso do major Botelho Moniz, mais salazarista do
que o próprio dizer “não saimos daqui nem a votos nem a tiros”! Lembro bem de
ter dado um pulo da cadeira e dizer que essa gente está a fazer de nós todos
uns carneiros.
As listas de eleitores em Angola, onde não havia nada
organizado, foram pedidas às empresas, e só votavam os que os diretores lá
inscreviam. Depois daquele “soco no estômago” que me deu o tal major, coloquei
em letras bem grandes no vidro traseiro do meu carro
“VOTE NO HUMBERTO
DELGADO”.
Foi o suficiente para que o diretor geral da Cuca, em
Luanda, ter feito a seguinte observação: “Você não está maduro para votar!”, e
riscou o meu nome da lista!
Não serviu de nada porque o “general sem medo”, em Angola
deve ter ganho com mais de 90%, mas “oficialmente” creio que foi só com uns
58%!
Graças a Deus! Nunca votei, nem jamais votarei.
03/11/2014
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