São Tomé
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de Dezembro, o dia que a Igreja dedica a São Tomé. “O que quis ver para crer”!
No Evangelho
de S. João, 11.16, quandoLázaro morre, os discípulos resistem à decisão
de Jesus para que retornem àJudeia, onde os judeus tentaram apedrejar Jesus. O Mestre
está determinado, mas é Tomé que toma a palavra final: "Vamos
todos, pois poderemos morrer com Ele".
Sabe-se
muito pouco sobre as vidas dos apóstolos, grande parte delas são lendas não
comprovadas historicamente. Mesmo os nomes por que são conhecidos provocam
muita controvérsia.
Sabe-se
que Tomé, chamado Didimo, pelos
gregos, é uma palavra de origem aramaica, Tau'ma (תום),
que significa gémeo.
Chamar-se-ia
Judas, há quem o confunda ou misture com Judas Tadeu, irmão de Tiago, Tiago
Menor, o que terá ido catequizar para a Peninsula Ibérica. Tiago, Iacob, vem do
hebraico Ia`qôb, “aquele que segura o
calcanhar de seu irmão gémeo”. Tiago
e Tomé eram gémeos?
Depois
da morte de Cristo, quando os apóstolos tiraram à sorte quanto às suas respectivas
missões, Tomé terá afirmado “qualquer que
seja a Tua vontade, Senhor, assim o farei”, mas teria acrescentado que só para
a Índia não iria! De pouco lhe valeram as orações! A tradição diz que São Tomé
envangelizou os Partos, Medas e Persas e, talvez nem tempo, Tomé, que seria um construtor
experimentado, encontrou-se contratado por um comerciante indiano, Aban, que o levou
para trabalhar no novo palácio de Gondophares, um Parto, mais tarde
identificado como Gudnaphar, um rei indiano mencionado num primeiro texto
cristão. Este texto está nos Atos de São Tomé, de que chegaram até nossos dias versões completas em siríaco e grego.
Existem ainda muitos fragmentos preservados do texto em que diz que o
apóstolo tenha mesmo assistido de fato à corte do rei, na cidade de Taxila, às
margens do rio Hindus, Punjab, quase no limite norte da península, onde hoje
fica Islamabad, no Paquistão.
Lenda do palácio de
São Tomé para o rei Gudnaphar
Jesus tinha dito aos discípulos que deviam levar sua mensagem
para as pessoas de todo o mundo. Agora, aqui, estava Tomé na Índia muitos longe
de casa e onde nunca tinha qerido estar! Tomé andava pelas ruas da cidade de
Takshasila, no Punjab, de onde o rei Gudnaphar governava o Império. Tomé precisava
de trabalho e perguntou se havia trabalho para um construtor, para que pudesse
trabalhar com madeira e pedra.
Foi ouvido por um dos homens reis: você é um construtor de Jerusalém? Que sorte! Meu mestre, o rei
Gudnaphar quer um palácio construído bem como o Palácio do rei Solomon em
Jerusalém. Você é o homem que precisamos; então Tomé foi levado perante o
rei. Me diga o que você pode fazer,
disse Gudnaphar.
Em madeira, Vossa
Majestade, posso fazer arados, jugos, saldos e polias, remos e mastros e navios.
Em pedra posso fazer pilares, templos e palácios.
Você é realmente o
homem para o trabalho, disse o Rei encantado.
Gudnaphar levou seu novo construtor para o lugar a algumas
milhas da cidade onde seu novo palácio devia ser construído. A terra estava
coberta de árvores e algumas em área pantanosa.
Quero que inicie
imediatamente e me construia um palácio tão bonito como o famoso Palácio do rei
Solomon.
Posso construir um
palácio, Vossa Majestade, mas não poderei começar até Novembro. Vou ter que
terminar em abril, no entanto.
Isso seria um
trabalho rápido com efeito, disse o rei, mas não
pode trabalhar durante o inverno. Você deve começar agora... enquanto o tempo
está bom.
Não tenho medo de
nada,
disse Tomé.
O Rei concordou e quando finalmente viu os planos do palácio que
Tomé desenhou, ele sabia que seria um palácio que valia a pena esperar. Como
Novembro se aproximava o rei Gudnaphar enviou uma grande soma de dinheiro a Tomé
para que ele pudesse empregar trabalhadores para começar limpando as árvores e
para que comprar as melhores madeiras e pedras para construir seu maravilhoso palácio.
Mas assim que Tomé recebeu o dinheiro começou a andar pelas
aldeias pobres nas proximidades, dando o dinheiro para alimentar os que tinham
fome, ou a doentes para medicamentos; Tomé pagava casas para os desabrigados e
certificou-se que órfãos, viúvas e idosos fossem devidamente cuidados.
Os meses foram passando o dinheiro começou a esgotar-se, mas não
havia sinal de qualquer palácio.
Moeda com o “retrato” do rei
Gundaphar - I séc. d.C.
Gudnaphar enviou mais dinheiro para Tomé comprar ouro para as
paredes, mármore para o chão, prata para as lâmpadas; e Tomé foi dando todas as
coisas para as pessoas pobres das aldeias. Como abril chegou o rei partiu para
ver seu novo palácio, construído para ele em tempo recorde por Tomé de
Jerusalém. Gudnaphar não poderia pensar em mais nada. Você pode imaginar o
choque quando ele chegou no lugar onde deveria estar o seu palácio: viu as
árvores ainda todas de pé e o solo pantanoso, mas não via nenhum sinal de um
palácio.
Perguntou um transeunte se ele tinha visto Tomé. O rei gostaria
de falar com ele. Quer dizer, Tomé, que
tem dado dinheiro para os pobres e famintos, que cuida dos doentes e encontra
casas para os desabrigados? Ele não come nada mesmo, só pão e água e viaja de
aldeia em aldeia para falar às pessoas sobre Jesus.
Isso é tudo muito bem
mas eu não vejo nem sinal do meu palácio.
Mas você não viu a
felicidade nos rostos das pessoas por aqui, respondeu o homem.
Tomé foi logo encontrado pelos soldados do rei e levado perante ele.
E quando o rei exigiu ver seu novo palácio, Tomé respondeu calmamente, você certamente verá o palácio que construí.
Mas não é um palácio terreno. É um palácio nos corações dos povos, um palácio
celestial que você não vai ver nesta vida.
Rei Gudnaphar ficou decepcionado e irritado. Ordenou que Tomé, o
construtor, fosse levado para a prisão.
Você tem-me feito de
bobo e desperdicei meu dinheiro, disse Gudnaphar. Você vai
morrer de uma morte horrível. Sua pele ficará pedaço por pedaço, e então você
vai ser queimado vivo.
Tomé foi levado embora dizendo, nada temerei, só acredito em Deus.
Naquela mesma noite Príncipe Gad, o irmão do rei, de repente
adoeceu seriamente e nas primeiras horas da manhã, morreu. Sua alma foi levada
para o céu onde os anjos lhe disseram que ele poderia escolher um palácio
celestial para viver. Gad Príncipe olhou para todos os belos edifícios e logo
percebeu que um era mais magnífico do que todo o resto.
Gostaria de passar
para sempre em um palácio assim, disse Gad.
O palácio foi
construído para seu irmão Gudnaphar, por Tomé o pedreiro, que se importou com
os pobres com o dinheiro de reis disseram os anjos.
Enquanto rei Gudnaphar ainda deitado, sonhando com seu irmão,
Príncipe Gad, este apareceu diante dele e disse-lhe que o maravilhoso Palácio
que Tomé tinham construído para ele estava no céu. O rei compreendeu e saltou
da cama para acordar seus guardas com ordens para deixarem Tomé livre
imediatamente. A partir daquele dia Gudnaphar deu generosamente dinheiro aos
pobres e continuou a construir o seu palácio no céu.
Uns
historiadores dizem que ele foi recompensado pelo rei, outros que terá sido
açoutado. Pela lenda, as duas situações podem ter acontecido!
Dali
Tomé enceta sua segunda jornada pela Índia, tendo chegado a um dos portos na
região de Cranganore, como Cochim, hoje distrito de Kerala, bem no sul da
Índia, onde fez muitas conversões, e ainda hoje uma comunidade se diz
descendente dos cristãos da Síria, e são também chamados de Nasranis, que em
malaio significa “seguidore de Nazaré”, de Jesus e Nazaré.
Daqui
Tomé atravessou todo o Sul e foi estabelecer-se na Costa Leste, Costa do
Coromandel, em Miliapor, na altura longe da cidade de Madras, hoje Chennai,
vivendo na mesma humildade, numa caverna. Converteu muita gente à Boa Nova, e
até hoje a caverna e o morro onde viveu e foi martirizado, se chama o Monte de
S.Tomé, e é venerado por multidões.
Monumento em frente da igreja de
São Tomé, em Chennai
Foi
morto por lançadas, que um rei, invejoso do sucesso da sua pregação mandou
matar.
Sepultado
na mesma caverna, teria sido transladado para Edessa, hoje Orfa – ou Urfa – na
Turquia perto da fronteira com a Síria. São João Crisóstomo (347-407)
assinalava o seu túmulo como uma das quatro sepulturas conhecidas dos
apóstolos. Na primeira metade do século VI um viajante chamado Cosme, num livro
que escreveu sobre as suas peregrinações diz que encontrou uma igreja de
cristãos com clérigos e um bispo ido da Pérsia. Certamente aqueles de que reza
a primeira viagem de Vaco da Gama que diz ter encontrado os “cristãos de São
Tomé”.
Quando
os portugueses lá chegaram, ainda existia um pequeno templo, e os brâmanes
asseguravam que lá se encontravam os ossos do Santo. Em 1522 D. Duarte de
Menezes, governador da Índia mandou reconstruir o templo que havia sido feito
séculos antes. Ao abrirem os alicerces encontraram uma tumba de pedra com ossos
que foram tomados como relíquias de São Tomé e,
inclusive, um pedaço de uma das lanças com as quais fora morto com o sangue
ainda coagulado.
Hoje
tem um imponente igreja.
Basílica de São Tomé, em Chennai,
construida pelos portugueses em 1896
Um fato recente e muito curioso foi quando do
tsunami de dezembro de 2004 que devastou toda aquela região: o
templo que guarda suas supostas relíquias ficou
imune às ondas gigantescas que destruíram todas as construções adjacentes,
tendo permanecido intacto. Uma antiga tradição afirmava que um poste fixado pelo apóstolo limitaria até o fim dos tempos as
águas, que jamais o ultrapassariam. Este poste existe até os dias atuais e se
localiza exatamente na porta principal da igreja que guarda suas supostas
relíquias. Isto deixou os sacerdotes hindus desconcertados
e os mesmos prometeram não mais perseguir e discriminar os cristãos daquelas regiões.
São Tomé ainda é
honrado em Taxila em um festival anual no começo de julho, celebrado por
milhares, celebrando a passagem dos seus ossos através de Taxila no seu caminho
para Edessa (atualSaniurfa na
Turquia).
Além disso é o Padroeiro dos arquitetos da
Índia e de outros.
21-dez-2014, 1942 anos após o martírio de São
Tomé.