Incursões, Capitalismo, Revoluções
Muitos
comentários têm aparecido sobre o livro – grande livro, em todos os sentidos –
do Mestre Thomas Piketty. Porque não meter eu também a minha foice em seara
alheia? Uma incursãosinha!
Há
muito tempo, ignorante em “economia”, venho desgastando as meninges e
complacência atirando-me quixotescamente sobre a absurda concentração de
riqueza que continua a crescer de forma quase exponencial.
Como
não parece haver a curto prazo solução para as desigualidades e equilíbrio
entre as gentes, pelo contrário, a minha bola de cristal só consegue ver para
isso uma revolução.
Nada
de revoluçõesinhas tipo a dos capitãesinhos de Abril, pinochices, e outras que
tais, porque se a primeira trouxe liberdade de expressão, essa tão almejada
liberdade levou o país à bancarrota, enquanto a pinochice fez exatamente o
oposto, tapou as goelas aos chamados democratas libertários mas fez o país
crescer, e em ambas as situações a concentração de riqueza não fez se não
aumentar.
Já
disse, escrevi e repito que o comunismo é uma fábula. O único admirável é o de
Cristo, mas vê-se bem que Jesus era filho de Deus e parecia não conhecer a
ganância dos homens que, agora mais do que nunca, caminham numa velocidade sideral
rumo à destruição do planeta e, óbvio, da humanidade.
É
o homem, hoje, a espécie mais ameaçada de extinção.
No
entanto a história mostra que houve duas revoluções que mudaram, por algum
tempo, o curso dessa ferocidade financeira: a francesa e a bolchevista.
O
problema é que passados alguns anos tudo voltava à mesma. A primeira começa com
o Terror, e a ruína ainda maior dos mais pobres e surge depois com o chamado
estado social, de tendência galopante para a falência. A bolchevique foi uma
outra piada desgracenta, tipo “A Revolução dos Bichos”, que trocou um czar e
inúmeros duques e por tiranos e gangsteres, que só se preocuparam com eles e
com material de guerra. Não foi isso que Marx desejou.
Mas
as duas se aconteceram devido à estagnação e empobrecimento das gentes
trabalhadoras e ao progresso da renda financeira.
Assistir
nos dias de hoje ao surgimento constante de milhares de bilionários – só em
2013 alcançaram essa posição mais dois milhões e meio de indivíduos, quase sete
mil por dia! – a sugarem nas carcaças largadas pelos sovietes ou pelo PC
chinês, a esmagarem os trabalhadores, ao enriquecimento astronómico dos Warrens
Buffets, Zukerbergs e quejandos, aos salários mais do que absurdos dos
jogadores de futebol, basquete, golf, dos artistas de cinema e dos cantores de
funk, ao acúmulo de capital dos Quatars e comparsas, aos milhares de políticos
com enriquecimentos mais do que ilícitos, é uma afronta ao sentido de
humanidade. A maioria deles a viver de renda e especulação financeira ou
imobiliária.
A
Europa finge que está a sair da crise e o que se assiste, sobretudo na França,
que tem a vantagem de ser mais transparente, é a um declínio permanente da sua
economia. Num dia fecha uma fábrica, no outro tem greves a exigirem mais do
governo, e no topo da cadeia das empresas, tanto estatais como privadas, os
salários chegam a ser centenas de vezes superiores ao da média dos
trabalhadores.
O
preço dos imóveis e de alugueis já está proibitivo para quem começa a vida fora
das saias dos papás. Ainda lembro que quando casei me avisaram que não devia
pagar pelo aluguer mais do que 1/6 do meu salário para manter as finanças
equilibradas, e consegui até, uma casa boa, que não foi além de 1/5. Há
sessenta anos. Onde se vê isso hoje? Não vê.
Os
jovens agarram-se a esperanças ilusórias. Uma delas é deixar de andar de carro
porque o combustível está carissimo e passar a andar de bicicleta. Outra é o
interior, o seu sossego, ar puro e algumas outras quimeras. O trabalho agrícola.
Mas raros são os que conseguem sobreviver. Para a agricultura o início está em
pesados investimentos e o rendimento dificilmente dá para pagar os juros, fora
o principal. Com a perspectiva do aumento de consumo de alimentos no mundo o
preço das terras começou a subir, alcançando valores absurdos que os
agricultores sabem que não podem acompanhar. Os compradores vêm do médio oriente,
da Rússia, da China, invadem África, Europa e perturbam até o Canadá. A Ucrânia
e Bulgária venderam imensas áreas agrícolas e o preço do imobiliário não pára
de subir.
Esta
espiral inflacionária não pára nunca. Não pára porque seria necessária toda uma
nova reorganização das contribuições sociais, a eliminação dos paraísos
fiscais, o equilíbrio dos impostos.
Comecem
por perguntar à City de Londres porque não quer entrar num esquema desses. É lá
que corre o dinheiro, de onde saem os políticos que fazem as leis. Idem nos
Estados Unidos, com o Fed e o Reserve Bank, instituições privadas, e com os bilionários
parlamentares republicanos que dominam o país.
Podem
perguntar a qualquer país do mundo, ao Brasil, Angola, Nigéria, Rússia, aos
árabes e aos chineses, a quem quiserem, porque quem está por cima jamais aceita
ficar ao lado.
Todos
sabemos que para distribuir é preciso ganhar. Mas jamais acumular para comprar
iates de um bilhão de dólares para passear prostitutas e corruptos.
Como
diz Piketty, os proprietários das terras e do petróleo podem acumular créditos
importantes junto à população, que acaba por perder tudo, inclusivé as
bicicletas!
Solução
a prazo curto não existe. Mas tanto a humanidade vai ser esmagada que um dia se
revolta. Será uma nova Revolução Francesa, com o Terror a destruir esses
sugadores e seus incalculáveis patrimónios, e o mundo a ficar durante uns
quantos anos na maior miséria para tentar renascer novo.
Renascer
de novo com a mesma espécie? Nem os porcos de Orwell conseguiram.
Só
há um caminho, teórico, com duas recomendações:
- reconhecer
igualdade no Outro, seja ele quem for;
- e seguir, com
rigor, a recomendação de Marx: “Trabalhadores de todo o mundo uni-vos.”
Duas situações que
a humanidade ainda não está preparada para assumir, primeiro porque milionário
pretende continuar a explorar os outros, depois quer seja pelo racismo, ou
desprezo pelas mulheres nos países muçulmanos e até na Índia, e ainda porque,
mesmo sabendo que só a união faz a força, unir os trabalhadores de TODO o mundo, nem sonho chega a
ser.
A
crise de 2008 que alguns ingénuos, como eu, chegaram a pensar que ia abrir as
portas para caminhar para a igualdade, abriu as comportas para o acúmulo da
riqueza privada e para se alcançar um número aterrorizante: 40 milhões de desempregados!
Para
ajudar a destruir o planeta mais rapidamente, temos agora a exploração de
petróleo nas areias betuminosas que vai esterilizar milhões de hectares de
terras, e o gaz de xisto que deverá ter efeito semelhante ou explosivo para as
populações circundantes.
A
corrupção grassa paralelamente, em todo o mundo, para níveis jamais sequer
pensados.
Com
todo este quadro haverá alguém que acredite na sobrevivência, digna, da espécia
humana?
13/06/2014
– Dia de Santo António cuja
“especialidade” não é salvar o mundo, mas encontrar objetos perdidos e noivos
para se casarem!
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