domingo, 15 de junho de 2014



Incursões, Capitalismo, Revoluções

Muitos comentários têm aparecido sobre o livro – grande livro, em todos os sentidos – do Mestre Thomas Piketty. Porque não meter eu também a minha foice em seara alheia? Uma incursãosinha!
Há muito tempo, ignorante em “economia”, venho desgastando as meninges e complacência atirando-me quixotescamente sobre a absurda concentração de riqueza que continua a crescer de forma quase exponencial.
Como não parece haver a curto prazo solução para as desigualidades e equilíbrio entre as gentes, pelo contrário, a minha bola de cristal só consegue ver para isso uma revolução.
Nada de revoluçõesinhas tipo a dos capitãesinhos de Abril, pinochices, e outras que tais, porque se a primeira trouxe liberdade de expressão, essa tão almejada liberdade levou o país à bancarrota, enquanto a pinochice fez exatamente o oposto, tapou as goelas aos chamados democratas libertários mas fez o país crescer, e em ambas as situações a concentração de riqueza não fez se não aumentar.
Já disse, escrevi e repito que o comunismo é uma fábula. O único admirável é o de Cristo, mas vê-se bem que Jesus era filho de Deus e parecia não conhecer a ganância dos homens que, agora mais do que nunca, caminham numa velocidade sideral rumo à destruição do planeta e, óbvio, da humanidade.
É o homem, hoje, a espécie mais ameaçada de extinção.
No entanto a história mostra que houve duas revoluções que mudaram, por algum tempo, o curso dessa ferocidade financeira: a francesa e a bolchevista.
O problema é que passados alguns anos tudo voltava à mesma. A primeira começa com o Terror, e a ruína ainda maior dos mais pobres e surge depois com o chamado estado social, de tendência galopante para a falência. A bolchevique foi uma outra piada desgracenta, tipo “A Revolução dos Bichos”, que trocou um czar e inúmeros duques e por tiranos e gangsteres, que só se preocuparam com eles e com material de guerra. Não foi isso que Marx desejou.
Mas as duas se aconteceram devido à estagnação e empobrecimento das gentes trabalhadoras e ao progresso da renda financeira.
Assistir nos dias de hoje ao surgimento constante de milhares de bilionários – só em 2013 alcançaram essa posição mais dois milhões e meio de indivíduos, quase sete mil por dia! – a sugarem nas carcaças largadas pelos sovietes ou pelo PC chinês, a esmagarem os trabalhadores, ao enriquecimento astronómico dos Warrens Buffets, Zukerbergs e quejandos, aos salários mais do que absurdos dos jogadores de futebol, basquete, golf, dos artistas de cinema e dos cantores de funk, ao acúmulo de capital dos Quatars e comparsas, aos milhares de políticos com enriquecimentos mais do que ilícitos, é uma afronta ao sentido de humanidade. A maioria deles a viver de renda e especulação financeira ou imobiliária.
A Europa finge que está a sair da crise e o que se assiste, sobretudo na França, que tem a vantagem de ser mais transparente, é a um declínio permanente da sua economia. Num dia fecha uma fábrica, no outro tem greves a exigirem mais do governo, e no topo da cadeia das empresas, tanto estatais como privadas, os salários chegam a ser centenas de vezes superiores ao da média dos trabalhadores.
O preço dos imóveis e de alugueis já está proibitivo para quem começa a vida fora das saias dos papás. Ainda lembro que quando casei me avisaram que não devia pagar pelo aluguer mais do que 1/6 do meu salário para manter as finanças equilibradas, e consegui até, uma casa boa, que não foi além de 1/5. Há sessenta anos. Onde se vê isso hoje? Não vê.
Os jovens agarram-se a esperanças ilusórias. Uma delas é deixar de andar de carro porque o combustível está carissimo e passar a andar de bicicleta. Outra é o interior, o seu sossego, ar puro e algumas outras quimeras. O trabalho agrícola. Mas raros são os que conseguem sobreviver. Para a agricultura o início está em pesados investimentos e o rendimento dificilmente dá para pagar os juros, fora o principal. Com a perspectiva do aumento de consumo de alimentos no mundo o preço das terras começou a subir, alcançando valores absurdos que os agricultores sabem que não podem acompanhar. Os compradores vêm do médio oriente, da Rússia, da China, invadem África, Europa e perturbam até o Canadá. A Ucrânia e Bulgária venderam imensas áreas agrícolas e o preço do imobiliário não pára de subir.
Esta espiral inflacionária não pára nunca. Não pára porque seria necessária toda uma nova reorganização das contribuições sociais, a eliminação dos paraísos fiscais, o equilíbrio dos impostos.
Comecem por perguntar à City de Londres porque não quer entrar num esquema desses. É lá que corre o dinheiro, de onde saem os políticos que fazem as leis. Idem nos Estados Unidos, com o Fed e o Reserve Bank, instituições privadas, e com os bilionários parlamentares republicanos que dominam o país.
Podem perguntar a qualquer país do mundo, ao Brasil, Angola, Nigéria, Rússia, aos árabes e aos chineses, a quem quiserem, porque quem está por cima jamais aceita ficar ao lado.
Todos sabemos que para distribuir é preciso ganhar. Mas jamais acumular para comprar iates de um bilhão de dólares para passear prostitutas e corruptos.
Como diz Piketty, os proprietários das terras e do petróleo podem acumular créditos importantes junto à população, que acaba por perder tudo, inclusivé as bicicletas!
Solução a prazo curto não existe. Mas tanto a humanidade vai ser esmagada que um dia se revolta. Será uma nova Revolução Francesa, com o Terror a destruir esses sugadores e seus incalculáveis patrimónios, e o mundo a ficar durante uns quantos anos na maior miséria para tentar renascer novo.
Renascer de novo com a mesma espécie? Nem os porcos de Orwell conseguiram.
Só há um caminho, teórico, com duas recomendações:
- reconhecer igualdade no Outro, seja ele quem for;
- e seguir, com rigor, a recomendação de Marx: “Trabalhadores de todo o mundo uni-vos.”
Duas situações que a humanidade ainda não está preparada para assumir, primeiro porque milionário pretende continuar a explorar os outros, depois quer seja pelo racismo, ou desprezo pelas mulheres nos países muçulmanos e até na Índia, e ainda porque, mesmo sabendo que só a união faz a força, unir os trabalhadores de TODO o mundo, nem sonho chega a ser.
A crise de 2008 que alguns ingénuos, como eu, chegaram a pensar que ia abrir as portas para caminhar para a igualdade, abriu as comportas para o acúmulo da riqueza privada e para se alcançar um número aterrorizante: 40 milhões de desempregados!
Para ajudar a destruir o planeta mais rapidamente, temos agora a exploração de petróleo nas areias betuminosas que vai esterilizar milhões de hectares de terras, e o gaz de xisto que deverá ter efeito semelhante ou explosivo para as populações circundantes.
A corrupção grassa paralelamente, em todo o mundo, para níveis jamais sequer pensados.
Com todo este quadro haverá alguém que acredite na sobrevivência, digna, da espécia humana?


13/06/2014 – Dia de Santo António cuja “especialidade” não é salvar o mundo, mas encontrar objetos perdidos e noivos para se casarem!

Nenhum comentário:

Postar um comentário