segunda-feira, 17 de março de 2014




Índia - 2


Sem qualquer pretender “exibir erudição”, o que seria, literalmente, “cair do cavalo”, vamos ver um pouco mais dessa Índia antiga, da mais antiga que foi possível descortinar, sem intenções de escrever história, mas transmitir algumas “descobertas”, para mim há pouco desconhecidas, e que são de imenso interesse.
A Índia Monumental, com as maravilhas de templos como as Cavernas de Ajanta, Kajurhao, e um quase sem número de outros, conta com pouco mais de mil anos, o Taj-Mahal sendo até do século XVI. Nos primórdios, da Índia antiga, o que se encontra, ou é em alguns sítios arqueológicos de difícil conservação, dado os exuberantes avanços da vegetação, ou a preservação da cultura que milénios não conseguiram apagar. E esta, variada, é riquissima.
Como se sabe a raça bovina mais criada no Brasil é de origem indiana: zebuínos, os Nelore, assim como os Gir, animais que se adaptaram perfeitamente a este país. Há vários sinetes que deverão ter cerca de 5.000 anos com esses animais perfeitamente figurados, encontrados no vale do Hindus, da mesma forma que com elefantes, que nesse tempo já desempenhavam um papel importante na vida das populações. Se há 5.000 anos faziam isto... não começara na véspera!
Também foram encontrados sinetes, da mesma época, mostrando a postura de um homem sentado na mesma posição que mais de dois mil anos passados, Sidarta Gautama, se sentou até alcançar o Nirvana: pernas cruzadas, a que os iogues chamam padmasana, ou posição de lotus.
Muito para trás desse tempo, ainda existem uns pequenos conjuntos de pedras de arenito, deixadas propositadamente em lugares certos de que se ignora a intenção, e nas quais o tempo fez algumas fissuras. Tudo quanto os arqueólogos conseguiram apurar foi que, para os habitantes do lugar, essas pedras representavam Maha, ou Mai, a deusa-mãe, e que os membros das tribos Kol e Baiga, e até bem mais tarde muçulmanos, iam render-lhe culto e levar-lhes oferendas em sinal de gratidão. Segundo os arqueólogos estas pedras terão sido colocadas, onde ainda hoje se encontram, há uns 10.000 anos!

Pedra representando Mai

O muito curioso, e mais do que isso, extremamente interessante, é o grande cuidado que sempre todos os indianos tiveram pela natureza, e terem “visto” nestas pedras como que as entranhas de uma mulher! Outro aspeto que não deixa de ser relevante é o nome dado à deusa-mãe: Mai, e ainda veremos que outras palavras há que nos tocam muito diretamente.
Conta um dos arqueólogos que um dia um dos autóctones lhe perguntou porque tinham partido a pedra, e quando este respondeu que a encontrara assim, imediatamente ele se prostrou diante do conjunto onde a pedra ocupava o lugar central, até tocá-la com a testa.
No sudoeste da Índia as artes marciais são praticadas há bem mais de três mil anos, mais do que em qualquer outra parte do mundo. Conhecida como kalarippayat, esta disciplina mais tarde é citada em textos antigos, tanto nos consagrados à Guerra como à Medicina. Segundo a tradição um monge budista chinês que visitou a Índia no século V a.C., ao regressar ao seu país levou consigo o kalarippayat que terá dado origem ao kung fu.
O ensino das técnicas destas artes chegou aos nossos dias, e pode-se começar a praticá-la a partir dos sete anos de idade, com um treinamento rigoroso que visa incutir o auto domínio, a concentração e a humildade. Antes de passar à etapa ankhatari, combate armado, devem completar duas fases de exercícios ainda mais complexos e exigentes. Uma vez adquirida a mestria, estão prontos para estudar a ciência secreta dos marma, os pontos vitais. Dirigindo os seus golpes a esses pontos podem num instante matar o adversário ou deixá-lo inválido por algum tempo. Há mais de cem marmas no corpo humano, mas sete apresentam tal sensibilidade que o instrutor pode fazer o aluno perder o equilíbrio ou a consciência, simplesmente apontando com um dedo. Esses instrutores são hoje considerados verdadeiros médicos, com poderes curativos. Eles ainda preparam óleos e unguentos para tratamento de artrite e sabem anestesiar um braço ou uma perna quebrada simplesmente pondo a mão sobre o membro ferido.
Outra tradição cuja origem se perde no tempo esta ligada ao usa de água e pigmentos.
Pequenas figuras de terracota, com 4 a 5.000 anos foram encontradas, e onde se notam vestígios de pigmentos de várias cores. Poderiam ter sido pintadas todos os dias ou só em ocasiões festivas, como ainda se faz às imagens religiosas. Os pigmentos servem para as mulheres, e homens, criarem desenhos abstratos, que seriam “expressões de concentração do espírito e vontade”, ou ainda para untar o rosto como as imagens das divindades, e tudo leva a crer que essa prática já era usada há uns dez mil anos!
Por isso se vêm os inúmeros enfeites que as mulheres usam, e as pinturas muito requintadas que em ocasiões festivas, sobretudo no casamento, fazem por exemplo, nas mãos e braços, mahandi, e que se vêm também em festivais onde aparecem elefantes magnificamente decorados.
As mulheres mais modestas querendo concentrar-se nas suas orações, usa uma pintura simples, mas a moda (sempre as modas!) e a exibição dos mais ricos transformaram esse ritual simples em objetos maravilhosos e carissimos
Na foto abaixo pode ver-se a diferença, duma pintura “verdadeira” e da verdadeira exibição de poder e dinheiro.


A região entre as duas sobrancelhas é o lugar psíquico mais importante do corpo humano, e na Índia ele tem sua importância ressaltada com uma marca colorida. Esse local que fica colorido é conhecido como sexto chakra (Ajna), popularmente conhecido como terceiro olho ou olho da sabedoria, e os Vedas, 5.000 a.C., contêm os mais antigos registros sobre chakras de que se tem notícia. Quando foram escritos, o Yoga já sistematizava o conhecimento e o trabalho energético dos chakras.
Daí a origem daquele pequeno sinal que se vê na testa, tanto de homens quanto de mulheres.
Como é evidente, as pobres fazem a marca com pigmento e as ricas, quantas delas, com rubis!


Por hoje só mais uma tradição cuja origem também vem desde... A dança. As danças das mulheres, com o evoluir dos tempos acabou pretendendo, com o gestual, mostrar os seus sentimentos religiosos. Igualmente se encontram registros desses passos que remontam a milhares de anos.

- A continuar.

15/03/2014



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