Da Política
Nem com Aristo nem com Teles
Não
é qualquer novidade sabermos que toda a gente, TODA, ataca os políticos, xinga
os políticos, chamam-lhes nomes “simpáticos”, que são uns isto... e mais aquilo...
filhos de... etc. Inclusive os próprios, em público dizem o mesmo dos
adversários.
Mas
é curioso observar que no fundo são eles que têm razão. TODA.
Primeiro
porque foi o povo que os escolheu e os elegeu. Segundo porque são eles que
sabem com é a índole humana e jogam SEMPRE em seu próprio favor. São xingados,
e a seguir, a maioria, reeleita, o que significa que estão certos.
O
país para eles, o povo, é como dizia o rei D. Carlos, piolheira, ou como os
judeus ortodoxos chamam aos prosélitos, sarna.
Aquilo
a que se assiste nas sessões dos parlamentos é uma farsa, um teatro, porque
tudo vem preparado dos bastidores. Previamente, de orelha a orelha, os ataques
e defesas são preparados, para que o show pareça real. E tem mais: muitas vezes
é no campo adverso que essa gente tem mais radicadas amizades. E o que se
evidencia, claramente, e percebe até o mais intelectualmente diminuido é que
todos obedecem a um só Senhor: grana. E como a grana está na mão de uns poucos,
que a distribuem a seu belo contento, quando alguma coisa corre mal, a culpa é
desses.
Mas
alguma coisa, profunda, eles tiveram que aprender com Sun Tzu em “A Arte da Guerra” que diz deve estar-se preparado e evitar o confronto direto com um adversário
destemido. Mestre Sun recomenda que, em vez de dominar o inimigo diretamente,
deve-se cansá-lo pela fuga, fomentar a intriga entre seus escalões, manipular seus
sentimentos e usar sua ira e seu
orgulho contra si próprio.
Assim, em síntese, a proposição inicial de “A Arte da Guerra” introduz os três aspectos principais da arte
do guerreiro: o social, o psicológico e
o físico.
E assim aquilo que deveria chamar-se oposição,
não passa de espantalhos comprados, desarticulados, implodidos.
Procurar, no Brasil, um líder na oposição é mais
difícil do que procurar a tal agulha num palheiro. O dinheiro tudo pode:
corrompe, desarticula, e quem o tem uma vez na mão só larga dele depois de
morto.
Hoje
um partido ataca outro, no dia seguinte unem-se os dois para atacar um
terceiro, depois chega uma graninha, representada por cargos chorudos na
des-administração da “piolheira”, e dificilmente se discutem assuntos de
interesse nacional, porque “a política é
a arte de mascarar de interesse geral o que afinal não passa de interesse
particular” (Thiaudière, 1837-1930).
Disputa-se,
suspira-se, conspira-se, simulam-se agonias e sobretudo controlam-se
cuidadosamente as entradas de ativos nas contas pessoais, e sempre que “cai o
pano” o país ficou mais pobre.
Alain
Fournier um escritor francês que morreu muito jovem (1886-1914) tem uma frase
que sintetiza tudo isto: “O que os
partidos dizem uns dos outros é o que penso de todos eles.” Voltaire com a
sua verve aguda também dizia “Será a
política coisa diversa da arte de mentir a propósito?”
O
político só usa a palavra “sim” quando lhe perguntam se quer ganhar mais. A
técnica é sempre o “talvez”, “vou ver o que posso fazer”, “deixa comigo”, mas
nunca dizem “sim” nem “não” para manter a piolheira suspensa nas suas complexas
atividades.
“Nunca é prudente ajuizar da
mentalidade dos homens pela impressão que eles nos dão na política. Enganamo-nos
sempre.”(Julio
Dantas).
E
depois, os ingénuos, babacas, honestos, éticos, como eu e milhões de outros,
reclamam muito, mas precisam de humildade para reconhecer que estão errados e
sobretudo acomodados, mesmo quando os salários são de miséria, que o ensino
seja de péssima qualidade, que o sistema de saúde funcione mal, que se assista a
ininterruptas roubalheiras, etc., mas como escrevi num texto em Agosto
de 2006:
“Maledetti voi que nos achincalham, nos roubam o bem
estar de hoje e o futuro dos jovens, que nos esmagam e maledetti
noi porque continuamos a permitir que nos
ponham os pés em cima.”
E,
repicando aqui e além passagens do mestre grego de há 2.400 anos:
-
O pior tipo de oligarquia é aquele no qual os cargos são hereditários (entre
alguns países de África, Coreia do Norte, Maranhão e os aloprados do PT não há
grande diferença);
-
Os maiores crimes são causados pelo excesso e não pela necessidade;
-
A avareza humana é insaciável; no princípio dois óbolos são o suficiente, mas quando
essa quantia se torna costumeira, os homens passam a querer cada vez mais, sem
limites;
-
Aqueles que compram cargos certamente aprenderão com o tempo a tirar proveito
para si mesmo;
-
A fim de evitar que o tesouro público seja delapidado, a transferência de fundos
deve ser feita na presença de todos os cidadãos (i. é, contas abertas);
-
Meios considerados populares causam a ruína das democracias;
Por
fim democracia só poderá sobreviver quando todos forem iguais, e só o serão,
independente dos meios de fortuna, quando a educação de qualidade puder chegar
a todos; ninguém pode pôr em dúvida que a atenção do legislador deve estar
centrada, acima de tudo, na educação da juventude. Negligenciar a educação é
provocar grandes danos à constituição.
E
aqui voltamos ao pensamento que diz que se
os teus planos forem a cem anos, educa o povo.
Quantos
anos o Brasil vai ainda esperar para chegar ao seu futuro em plena democracia? Não é certamente numa geração, nem
duas. Os ingleses diziam que para se fazer um gentleman eram precisas quatro
gerações.
Infelizmente
já não vou assistir a esse futuro, que pode ser maravilhoso.
O
que vale é que a esperança é a última que morre com o homem, mesmo sabendo que
é verdade o que o mesmo senhor Thiaudière nos deixou: « Parece que a civilização se entende melhor a refinar o vício do
que a aperfeiçoar a virtude”.
19.02.2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário