A
2ª Regata em Luanda
e
outra 105 anos mais tarde!
Luanda,
no século XIX, não tinha muitos entretenimentos! Pouco mais do que algumas
récitas nos três teatros da velha Loanda, quase sempre com os mesmos atores,
personagens importantes da vida da cidade e, sempre atentos aproveitavam
quaisquer acontecimentos, sobretudo na metrópole, e até no Brasil, para festejar.
Do mesmo modo a chegada e partida do governador, o seu aniversário, tudo era
pretexto para quebrar a monotonia, morna, daquela terra.
E
assim, em prosseguimento dos festivais já levados a efeito, para
comemorar o nascimento do Príncipe D. Carlos, a “Associação Naval de Loanda”, de que era presidente o Governador
Geral e vice-presidente o Chefe da Estação Naval, como tinha feito em Janeiro
desse ano por ocasião do casamento de El-Rei D. Luiz, realizou no dia 29 de
Outubro de 1863 mais um festival náutico.
O
gosto pelos desportos náuticos parecia ter-se inveterado nas predileções da
sociedade luandanse desde o estabelecimento da “Associação Naval de Loanda”.
Organizavam-se regatas, com aparato de música e festa a que concorriam aos
convidativos prémios embarcações pertencentes a cavalheiros abastados da
cidade. E as senhoras aproveitavam a oportunidade para exibirem elegâncias,
desejosas de se tornarem notadas num espetáculo a que a presença do Chefe da
Província dava um prestígio cerimonioso.
Na
manhã desse dia logo pela manhãzinha saía do Caes da Alfandega em direção à
Ilha um escaler conduzindo o Governador e algumas damas convidadas. No rasto da
embarcação de S.Exa. singravam, em alegre revoada, 14 barcos de remos
servindo-lhe de escolta, onde se viam também muitas senhoras.
No
cais da Ilha aguardavam respeitosamente os cavalheiros que constituiam a
direção do Clube.
A
banda de música do Batalhão de Infanteria n° 1 executou várias peças e a seguir
o Chefe da Estação Naval deu instruções ao Capitão do Porto para posicionar as
balisas para começarem as regatas.
A
um sinal de tiro de peça, 6 escaleres a 4 remos, soltaram a carreira sobre a
balisa.
Na
melhor ordem voltaram, encalhando na praia, com o escaler “D. Izabel” que saiu
vitorioso.
Meia
hora depois e colocadas as embarcações de 5 remos, a outro tiro de peça
partiram 4 escaleres sobre a balisa, voltando à praia da Ilha com a vitória da
baleeira “Augusta” que mais uma vez venceu o escaler “Airam” e o “Sem Nome”,
que protestou, com espírito, contra os que lhe haviam tomado a dianteira, o que
deu mais diversão ao ambiente.
Seguiu-se
o almoço, aliás um lunche, que estava servido com 70 talheres na residência do senhor
Pamplona; no termo do copioso festim levantaram-se os inevitáveis brindes ao
êxito e aos vencedores das provas desportivas e a Suas Magestades El-Rei o
Senhor D. Fernando 2° assim como a El-Rei D. Luiz.
E
concorreram de novo aquelas damas e cavalheiros aos seus postos de observação –
sem dúvida já um pouco pesados e enlanguescidos na digestão dos acepipes – pois
iria completar-se o programa com a competição entre dois escalares à vela e uma
baleeira, que ao sinal convencionado singraram sobre a balisa, da qual voltaram
na melhor ordem, tendo avançado com vantagem o escaler “Joli” do sr. J. J. de
C. Leite, e do qual era patrão o sr. António de Souza, que recebeu o prémio que
lhe tocava.
Às
cinco horas e meia da tarde acabava o espetáculo quando o Governador e Vice-presidente
da “Associação Naval”, após os cumprimentos de despedida embarcaram de novo no
escaler que os conduziria a Loanda.
Dias
mais tarde, na imprensa local, diria o ilustre e inspirado Arsénio Pompílio
Pompeu do Carpo, no final de várias considerações de proselitismo liberal,
habilidosamente inseridas, “...a regata é
uma prova do desenvolvimento do progresso, é uma diversão sim; mas com ella as
artes muito lucrão”.
(Note-se
que o que está escrito é “...em
prosseguimento dos festivais já levados a efeito...” o que pressupõe que
vários foram entretanto realizados. No entanto não se conhecem outros
“festivais náuticos”, o que leva a supor que esta teria sido a 2ª regata,
conhecida, na baía de Luanda. Mas diz ainda José de Almeida Santos “...organizavam-se regatas...”. Também
deve notar-se que a “Associação Naval” também é referida como Clube!
Tudo
isto para que o Clube Naval de Luanda se certique que a sua idade não é de 130
anos, mas de mais de cento e cinquenta!)
* * *
Há
pouco mais de 45 anos!
Deve
ter sido a minha última regata, no barco com mais caracter que passou por
Luanda e pelo Clube Naval, o “ARGUS”,
CNL 29. Dia 15 de Agosto de 1968, naquele tempo feriado, dia da cidade de
Luanda, comemorando a reconquista aos holandeses, 320 anos depois!
Agosto
tempo de ventos fracos a fraquíssimos, o “ARGUS”
um barco magnífico, mas invencível só com ventos fortes; vento fraco, para ele
era calmaria.
O "ARGUS" na baía de Luanda
A
tripulação toda altamente especializada: comandante, o proprietário, imediato o
Luis com 12 anos, a seguir o Chico que nem 11 tinha e o “mestre” João com 7!
O
percurso seria – já não recordo bem – entre a ponta da Ilha e a entrada do
Mussulo e volta (?), e o vento, contrariando as previsões do cacimbo,
portava-se de modo a favorecer o “ARGUS”,
que corria, lindo, naqueles mares.
Concorrentes:
nove veleiros no total.
Boa
bolina para sul, e no regresso, com vento bom de SO, o velho “ARGUS” destacava-se e se a memória e
saudade não me enganam, vinha orgulhosamente na frente, com a tripulação
entusiasmada.
De
repente... cacimbo típico: o vento acaba. Ficou fraquinho, fraquinho, os
concorrentes, barcos muito mais leves aproximam-se, passam-nos e de fraquinho o
tal bom vento ficou em zero.
A
linha de chegada foi alterada duas vezes para ver se todos a alcançavam, e o
bom “ARGUS” pairava, balouçava, mas
não ganhava uma braça.
O
João ao leme, boné de marinheiro, ar grave, quase não conseguia segurar a cana
de leme com o ondular: leme reto, todo atravessado, reto, atravessado, retrancas
batendo, cabeças baixas para não serem espancadas e esperar!
O “homem” do leme, atento e concentrado!
Por
fim, a uns escassos metros da linha de chegada o juri passou-nos um reboque é
lá voltámos ao Clube.
Mas
brilhantemente, entre nove concorrentes ganhámos, sim, ganhámos, merecidamente,
o 9º lugar!
Dias
depois em “solenidade” a tripulação do “ARGUS”
foi receber o seu prémio! Foi uma felicidade para todos.
Frente e verso do “grande” prémio
entregue a todos os tripulantes.
Já
não lembro quem ganhou, mas os manos Medina, antigos donos do “ARGUS”
costumavam ganhar tudo!
03/09/2013
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