quarta-feira, 4 de setembro de 2013



A 2ª Regata em Luanda

e outra 105 anos mais tarde!


Luanda, no século XIX, não tinha muitos entretenimentos! Pouco mais do que algumas récitas nos três teatros da velha Loanda, quase sempre com os mesmos atores, personagens importantes da vida da cidade e, sempre atentos aproveitavam quaisquer acontecimentos, sobretudo na metrópole, e até no Brasil, para festejar. Do mesmo modo a chegada e partida do governador, o seu aniversário, tudo era pretexto para quebrar a monotonia, morna, daquela terra.
E assim, em prosseguimento dos festivais já levados a efeito, para comemorar o nascimento do Príncipe D. Carlos, a “Associação Naval de Loanda”, de que era presidente o Governador Geral e vice-presidente o Chefe da Estação Naval, como tinha feito em Janeiro desse ano por ocasião do casamento de El-Rei D. Luiz, realizou no dia 29 de Outubro de 1863 mais um festival náutico.
O gosto pelos desportos náuticos parecia ter-se inveterado nas predileções da sociedade luandanse desde o estabelecimento da “Associação Naval de Loanda”. Organizavam-se regatas, com aparato de música e festa a que concorriam aos convidativos prémios embarcações pertencentes a cavalheiros abastados da cidade. E as senhoras aproveitavam a oportunidade para exibirem elegâncias, desejosas de se tornarem notadas num espetáculo a que a presença do Chefe da Província dava um prestígio cerimonioso.
Na manhã desse dia logo pela manhãzinha saía do Caes da Alfandega em direção à Ilha um escaler conduzindo o Governador e algumas damas convidadas. No rasto da embarcação de S.Exa. singravam, em alegre revoada, 14 barcos de remos servindo-lhe de escolta, onde se viam também muitas senhoras.
No cais da Ilha aguardavam respeitosamente os cavalheiros que constituiam a direção do Clube.
A banda de música do Batalhão de Infanteria n° 1 executou várias peças e a seguir o Chefe da Estação Naval deu instruções ao Capitão do Porto para posicionar as balisas para começarem as regatas.
A um sinal de tiro de peça, 6 escaleres a 4 remos, soltaram a carreira sobre a balisa.
Na melhor ordem voltaram, encalhando na praia, com o escaler “D. Izabel” que saiu vitorioso.
Meia hora depois e colocadas as embarcações de 5 remos, a outro tiro de peça partiram 4 escaleres sobre a balisa, voltando à praia da Ilha com a vitória da baleeira “Augusta” que mais uma vez venceu o escaler “Airam” e o “Sem Nome”, que protestou, com espírito, contra os que lhe haviam tomado a dianteira, o que deu mais diversão ao ambiente.
Seguiu-se o almoço, aliás um lunche, que estava servido com 70 talheres na residência do senhor Pamplona; no termo do copioso festim levantaram-se os inevitáveis brindes ao êxito e aos vencedores das provas desportivas e a Suas Magestades El-Rei o Senhor D. Fernando 2° assim como a El-Rei D. Luiz.
E concorreram de novo aquelas damas e cavalheiros aos seus postos de observação – sem dúvida já um pouco pesados e enlanguescidos na digestão dos acepipes – pois iria completar-se o programa com a competição entre dois escalares à vela e uma baleeira, que ao sinal convencionado singraram sobre a balisa, da qual voltaram na melhor ordem, tendo avançado com vantagem o escaler “Joli” do sr. J. J. de C. Leite, e do qual era patrão o sr. António de Souza, que recebeu o prémio que lhe tocava.
Às cinco horas e meia da tarde acabava o espetáculo quando o Governador e Vice-presidente da “Associação Naval”, após os cumprimentos de despedida embarcaram de novo no escaler que os conduziria a Loanda.
Dias mais tarde, na imprensa local, diria o ilustre e inspirado Arsénio Pompílio Pompeu do Carpo, no final de várias considerações de proselitismo liberal, habilidosamente inseridas, “...a regata é uma prova do desenvolvimento do progresso, é uma diversão sim; mas com ella as artes muito lucrão”.

(Note-se que o que está escrito é “...em prosseguimento dos festivais já levados a efeito...” o que pressupõe que vários foram entretanto realizados. No entanto não se conhecem outros “festivais náuticos”, o que leva a supor que esta teria sido a 2ª regata, conhecida, na baía de Luanda. Mas diz ainda José de Almeida Santos “...organizavam-se regatas...”. Também deve notar-se que a “Associação Naval” também é referida como Clube!
Tudo isto para que o Clube Naval de Luanda se certique que a sua idade não é de 130 anos, mas de mais de cento e cinquenta!)
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Há pouco mais de 45 anos!
Deve ter sido a minha última regata, no barco com mais caracter que passou por Luanda e pelo Clube Naval, o “ARGUS”, CNL 29. Dia 15 de Agosto de 1968, naquele tempo feriado, dia da cidade de Luanda, comemorando a reconquista aos holandeses, 320 anos depois!
Agosto tempo de ventos fracos a fraquíssimos, o “ARGUS” um barco magnífico, mas invencível só com ventos fortes; vento fraco, para ele era calmaria.

O "ARGUS" na baía de Luanda


A tripulação toda altamente especializada: comandante, o proprietário, imediato o Luis com 12 anos, a seguir o Chico que nem 11 tinha e o “mestre” João com 7!
O percurso seria – já não recordo bem – entre a ponta da Ilha e a entrada do Mussulo e volta (?), e o vento, contrariando as previsões do cacimbo, portava-se de modo a favorecer o “ARGUS”, que corria, lindo, naqueles mares.
Concorrentes: nove veleiros no total.
Boa bolina para sul, e no regresso, com vento bom de SO, o velho “ARGUS” destacava-se e se a memória e saudade não me enganam, vinha orgulhosamente na frente, com a tripulação entusiasmada.
De repente... cacimbo típico: o vento acaba. Ficou fraquinho, fraquinho, os concorrentes, barcos muito mais leves aproximam-se, passam-nos e de fraquinho o tal bom vento ficou em zero.
A linha de chegada foi alterada duas vezes para ver se todos a alcançavam, e o bom “ARGUS” pairava, balouçava, mas não ganhava uma braça.
O João ao leme, boné de marinheiro, ar grave, quase não conseguia segurar a cana de leme com o ondular: leme reto, todo atravessado, reto, atravessado, retrancas batendo, cabeças baixas para não serem espancadas e esperar!

O “homem” do leme, atento e concentrado!

Por fim, a uns escassos metros da linha de chegada o juri passou-nos um reboque é lá voltámos ao Clube.
Mas brilhantemente, entre nove concorrentes ganhámos, sim, ganhámos, merecidamente, o 9º lugar!
Dias depois em “solenidade” a tripulação do “ARGUS” foi receber o seu prémio! Foi uma felicidade para todos.

Frente e verso do “grande” prémio entregue a todos os tripulantes.

Já não lembro quem ganhou, mas os manos Medina, antigos donos do “ARGUS” costumavam ganhar tudo!


03/09/2013

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