segunda-feira, 8 de outubro de 2012




Ressacas Lusitanas



Esta minha condição de luso-afro-brasileiro, o coração dividido de forma irregular, cabendo a velha família e amigos à área lusa, o sentimento de humildade a África (não entram políticos, presidentes, nem generais – exceto dois de quem sou muito amigo), e ao Brasil a alegria de viver, onde sem a alegria e generosidade deste povo, único, o garante do “Quinto Império, do reino do Menino Imperador, seria demasiado trágico conviver com a bandalha que por aqui reina - nas eleições, tribunais, política em geral, polícia, bandidos, etc. – faz de mim um saudoso deslocado onde quer me encontre!
A ida a Portugal está a ficar cada vez mais dolorosa – e muito dispendiosa - não exatamente pelo desastre em que se encontra a economia e a falta de esperança dos portugueses, mas por ver os meus maiores amigos e irmãos a deteriorarem-se com os anos que lhes (e nos) vão pesando, implacáveis, seguindo a mais certa lei da natureza, talvez a mais triste para quem ainda consegue resistir.
Graças ao Bom Deus ainda há muitos de boa disposição e saude, mas... por quanto tempo ainda? O encontro com estes torna-se um momento de Graça, de alegria e saudade. Mas são momentos fugazes que se procura aproveitar ao máximo.
Nesses poucos momentos a desgraça do país fica de fora. A alegria do encontro supera crises. Mas logo a seguir, os olhos tão abertos e atentos quanto possível, a realidade do país começa a ferir-nos a alma.
Este ano a venda de automóveis novos caíu cerca de quarenta por cento, e os usados, alguns são quase oferecidos para que os proprietários se livrem de pagar os impostos.
Nas inúteis estradas, belissimas, que cruzam o país de todas as pontas a qualquer outra ponta, lá passa, de quando em vez, um carro, a indicar-nos que a atividade naquelas bandas quase zerou, se alguma vez justificou aquele absurdo investimento! As estradas vazias e as cidades entupidas!
Este ano a seca assolou e violentou fortemente a produção agrícola, produções de alguns artigos não ultrapassando quinze a vinte por cento do que seria normal! E o desemprego na faixa de um quarto da população ativa. Quem pode, e quase sempre os jovens, os mais bem preparados, os que deveriam ser os construtores do futuro, emigram, à procura de um lugar ao sol.
Os governantes, aliás, como habitual, des-governantes, ineptos, vaidosos, sem capacidade moral para tomar as rigorosas atitudes que poderiam ajudar o país a sair da crise, a fazer discursos sobre discursos, pronunciamentos baratos e ocos!
E nada de fazer sentar no banco dos réus os responsáveis pela catástrofe. A camarilha continua a encobrir-se mutuamente. Os telhados são todos de vidro.
Não se tratam doenças graves com paliativos, aspirinas e sais de fruta! O país está gravemente enfermo, e os ignorantes burocratas decidem o que a história já demonstrou inúmeras vezes ser o caminho contrário: aumentar impostos e reduzir salários. E depois os crâneos da economia apregoam que com estas novas medidas a arrecadação vai aumentar. E não pára de cair. E muito.
Inflaram a máquina administrativa, deixaram enriquecer políticos e ladrões de bancos, acabaram com a marinha, não tem petroleiros para assegurar ao país o necessário abastecimento em caso de maior convulsão mundial, abandonaram os agricultores, a quem as chamadas grandes superfícies – supermercados – esmagam o preço de compra e pagam quando lhes apetece, mais enforcando ainda o produtor rural que está a desaparecer – e prometem que o próximo ano será de recuperação! Por este andar nem cinquenta anos!
Portugal sempre foi um país de maravilhoso peixe e mariscos. Hoje encontram-se à venda camarões da Tailândia, ostras do Vietnam e legumes importados! Os nossos pescadores não têm qualquer apoio.
Ao povo foi roubada uma violenta parte dos seus parcos proventos; e com os preços, impostos e tarifas a subir, há já uma multidão em situação de pobreza, como polícias, a quem depois de pagarem as despesas base – aluguer ou prestação da casa, água, luz, gás, transportes, etc. – não sobram mais de € 60 ou € 100 para dar de comer e vestir a um família de pai, mãe e dois filhos.
Raros são os casais que conseguem manter um deles empregados, e muitos estão ambos no desemprego. Quando o subsídio de desemprego termina, e é rápido... só resta a fome!
O panorama é triste.
E no desespero, sem saberem o que fazer, há uns cérebros à procura de se “vingarem” do famigerado acordo ortográfico (pelo pressuposto!) e criam fantasmagóricos nomes para repartições públicas que são um monumento à presunção: “Instituto da Mobilidade e Transportes” (como se transportes fossem imóveis), “Instituto da Seguridade Social” que pertence ao Ministério da Segurança Social, e um departamento chamado “Gestão de Empregabilidade e Empreendorismo”! Uma delícia de semântica!
Com isto perde-se tempo, gasta-se dinheiro em novos e reluzentes impressos, e os responsáveis por tamanha pequenez de espírito, seguem ufanos... e estúpidos.
Curioso como isto tudo se reflete direta e indiretamente na vida das pessoas.
Encontrámos muita gente de Angola, Cabinda, Guiné, Cabo Verde, etc., a maioria a trabalhar em pequenas lojas ou restaurantes. Estes nos recebiam sempre com aquele sorriso bonito, simples, para quem a vida dura não parece afetar o seu hunor. Em muitos portugueses também, mas alguns há que teimam em transferir para cima do cliente a sua preocupação das contas a pagar, a raiva do governo, etc., mas que acabam sorrindo se lhes retribuimos o seu mal estar com simpatia e uma ou outra palavra de alegria.
Portugal está cansado, são quase nove séculos de lutas, riqueza, pobreza, riqueza, pobreza, e desiludido com a promessa do éden da União Europeia. Cansado.
Mas o principal de tudo isto, o mais dificil de solucionar nesta crise, e a razão única de qualquer crise: encontrar gente capaz, humilde, trabalhadora, anarquista se quiserem, mas que acabem com a mamata destas ineptas governanças.
Podem até acabar com o presidente da república que não faz rigorosamente nada nem representa o povo face ao governo e parlamento. Parlamento que é também um aglomerado de conluios e desgraças!
Mesmo com tudo isto Portugal continua a ser o país, do MUNDO, onde melhor e mais barato se come, e bebe!
Que tem um sol maravilhoso, que se pode e deve tornar o paraíso turístico não só da Europa mas de muitos outros países.
Falaremos disto numa próxima vez.

08-10-2012

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