domingo, 13 de maio de 2012




Ainda o Vinho,

São Martinho

e os dias da semana




Dizem os sábios que a videira terá aparecido no período Terciário, cerca de 40 milhões anos atrás. Ninguém estava lá para contar a a história, mas vamos todos partir do princípio que foi assim mesmo.
Aliás esse detalhe é de somenos importância.
A mais antiga produção de vinho parece ter começado por volta de 6.500 a.C., na Geórgia, Irão e China, mas a arqueologia já encontrou vestígios desta mesma época também na Grécia.
Há documentos que mostram que o faraó Pepi II (2287 a.c. - 2187 a.C.) que reinou em Memphis durante 94 anos (!!!) tinha sempre na sua mesa uma verdadeira carta de vinhos: branco, tinto e três “appellations controlées”: do Delta, de Pelusium (onde será hoje Port Said) e de Létopolis (Sekhem) um pouco a norte de Memphis. A Bíblia especifica vinhos de Agaddi e de Baal-Hammon (Cartago?), na Grécia eram célebres os de Samos, Creta e Tassos, no Império Romano bebia-se Falerne, Chianti, vinho do Vesúvio, e até o comandante Cousteau encontrou no fundo dos mares ânforas com a marca de um vinhateiro de Pompeia.
Há até duas inscrições egípcias muito curiosas:
- “Enche-me dezoito copos de vinho. Vê, eu tendo habitualmente a ficar bêbedo, mas a minha garganta está seca.”
Outra inscrição no túmulo do Faraó Peti I – pai do acima:
- O vinho tem a virtude de fazer as pessoas falarem livre e francamente e de fazer dizer as verdades.”
E por aí vai. Também é sabido que os romanos quando ocuparam a península Ibérica, se encantaram com os vinhos do Alentejo que mandavam para Roma.
Isto confirma que, sem dúvida, após tantos anos e tanta sabedoria aplicada, o vinho seja a melhor bebida que existe.
Napoleão também sabia disso quando dizia “Pas de vin, pas de soldats!”
Como vimos no texto anterior, Saint Martin terá melhorado a cultura da vinha, os burros ensinaram a podar, e até hoje, não só em França, como em Portugal se celebra a festa do vinho, a festa de São Martinho a 11 de Novembro.
Época em que já aparecem as castanhas assadas no fogo, donde vem o nome da festa do “magusto”e, além de se provar algum vinho novo, sobretudo se bebe a “água pé”, uma bebida maravilhosa, feita com a água da lavagem do bagaço ou pé da uva, ou jeropiga, um vinho “abafado” com aguardente!
A água pé, de teor bem baixo, pode beber-se à vontade (quase!), e é um ótimo refresco. A jeropiga... é mais valente, e assim derruba mais depressa.
Em meados do século VI teve Portugal também o seu bispo Martinho, que curiosamente terá nascido igualmente na Panónia, e vindo para Portugal criou a primeira diocese de Dúmio, próximo de Braga, e foi depois Metropolita de Braga então capital do reino suevo. Canonizado também, São Martinho de Dume, tem a data da sua celebração litúrgica a 20 de Abril, mas o povo prefere festejá-lo no mesmo dia 11 de Novembro, como o “xará” de Tours.
Mas este São Martinho tem um curiosa particularidade: na sua luta contra o paganismo, acabou com as designações pagãs dos dias da semana - Lunae dies, Martis dies, Mercurii dies, Jovis dies, Veneris dies, Saturni dies e Solis dies - sendo o primeiro a usar a terminologia eclesiástica para os designar (Feria secunda, Feria tertia, Feria quarta, Feria quinta, Feria sexta, Sabbatum, Dominica Dies), donde os modernos dias em língua portuguesa (segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, quinta-feira, sexta-feira, sábado e domingo), caso único entre as línguas novilatinas, e a única a substituir inteiramente a terminologia pagã pela terminologia cristã.

Túmulo de São Martinho de Dume 

Mas em todo Portugal são belas as festa de São Martinho! No entanto parece que a Portugal não chegou a idéia de chamar os burros para a festa de São Martinho, nem no Brasil! Lembro bem do São Martinho, na Golegã, que em vez de burros faz a bela festa do cavalo português, de grande animação e... muita bebedeira! E saber que Golegã deve o seu nome a ter começado por ali se estabelecer uma mulher vinda da Galiza! Foi até chamada a Vila da Galega!
Bons tempos em que eu ia a essas festas!
Mas sempre:

- Em São Martinho provas o vinho!

Em 1537, Wikram, escrivão do magistrado de Colmar, com toda a sua jurisprudência, declarou:

Há cinco motivos para beber:
1º À chegada de um hóspede;
2° À sede presente;
3° À sede futura;
4° À bondade do vinho;
5° Por qualquer outra razão...

E, como escreveu Jean Jacques Rousseau:

- Nunca um povo desapareceu por excesso de vinho; todos acabam pela desordem das mulheres. A razão desta diferença é clara: o primeiro dos dois vícios afasta os outros, o segundo gera todos.

Nisto não estou muito de acordo com Rousseau. Acho preferível juntar os dois vícios, sem esquecer o que rezam os “10 Mandamentos do Abade de Travanca”, seguramente do Mosteiro em Amarante, região onde o vinho... huummm:

O primeiro bebe-se inteiro
O segundo até ao fundo
O terceiro como o primeiro
O quarto como o segundo
O quinto é para provar
O sexto para apreciar
O sétimo para começar
O oitavo para continuar
O nono para não parar
O décimo... já esqueci!


Tchin! Tchin! Saúde!



14/05/2012

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