quinta-feira, 16 de junho de 2011



Exulta Lusitania Felix

Santo António de... Pádua



Primavera de 1221. Frei António, doente, tem que regressar a Portugal, mas levado por um violento temporal, vai dar às costas da Sicilia, onde nas imediações da cidade de Messina, encontra abrigo num humilde conventinho de frades menores.
Está quase com 31 anos. Um erudito teólogo, profundo conhecedor das coisas da Igreja, da Bíblia, dos Santos Doutores, e de tudo quanto os muitos anos de estudo em Coimbra lhe proporcionaram. Até ali tinha sido um estudioso, mas o exemplo dos frades menores, franciscanos, com toda a sua humildade, pobreza e vocação missionária, o levam a ingressar nesta Ordem fundada por Francisco de Assis em 1209.
No final de Maio de 1221 realiza-se em Assis um Capítulo Geral, que ficou conhecido na história como o Capítulo das Esteiras, porque a multidão de frades era tal que a grande maioria teve que dormir no chão! Lá vai o nosso Frei António, desejoso de encontrar o Fundador da Ordem, Frei Francisco de Assis. Ali aprendeu ao vivo o que deve ser o verdadeiro frade menor.
Levado para o eremitério de Montepaolo, na Romagna, onde fica mais de um ano a celebrar missa, ajudar nos trabalhos domésticos, e a vida ativa com que sonhara em Coimbra converte-se em contemplativa.
Em finais de Setembro de 1222 há ordenações sacras na vizinha cidade de Forli, e o nosso Frei António ali vai. No momento próprio o superior da comunidade dos franciscanos pede aos dominicanos que tinham comparecido à cerimônia, para pronunciarem algumas palavras de circunstância. Perante a escusa destes, manda então a Frei António que anuncie a palavra de Deus. E acontece o inesperado: a revelação. Todos ficam rendidos à sua simplicidade e bom senso, à sua palavra leve e profunda. Frei António revela ser não só um frade santo, pronto a lavar panelas de cozinha, como um sacerdote de vastíssima cultura e brilhante arte da oratória.
Aos sacerdotes mais dotados nomeavam pregadores. Em pouco tempo o Provincial de São Miguel foi informado do que acontecera e “Frei António obrigado a deixar o seu silêncio e sair a público, encarregado do ofício de pregador, o que o fez percorrer cidades, aldeias, castelos e casais espalhando a semente da vida com tanta abundância como fervor”.
A sua doutrina e santidade começou a brilhar em muitos lugares do Norte da Itália. Em 1220 Frei João Strachia organizara uma casa de estudos em Bolonha, e Francisco de Assis ao se aperceber que ela se destinava a “poctius doctos quam piuos”, formar mais doutores do que frades piedosos, acaba com ela. Mas em Bolonha será por fim a primeira casa de formação intelectual da Ordem.
São Francisco viu em António que estudo e piedade podiam não só conviver perfeitamente, como influenciar-se positivamente, e expede o seguinte bilhete:
“A Frei António, meu Bispo, Frei Francisco envia saudações. Apraz-me que ensines Teologia aos frades, contanto que para tal estudo não extingas o espírito da oração e devoção, como está contido na regra.”

Santo António e São Francisco

Em 1224 é mandado a França onde a sua santidade de vida e a sua pregação foi de tal forma eficiente, que lhe chamaram “martelo dos hereges”; aproveita o tempo e ensina nas escolas conventuais de Toulouse e Montpellier.
Em 3 de Outubro de 1126 morre Frei Francisco de Assis. Para escolher o seu sucessor são os frades convocados a Capítulo, em começo de 1227, onde Frei António é nomeado Provincial da Itália do Norte, e já não regressa a França.
Em 1228 vai a Roma, e prega, na Igreja de São João de Latrão, diante do Papa Gregório IX, cardeais e muito povo. O Papa tão impressionado ficou que o chamou de “Arca do Testamento”.
Dois anos depois é-lhe dada a carta geral de pregador e libertado do cargo de Provincial.
Decide então retirar-se para a sua querida cidade de Pádua, para ali continuar a sua missão de pregador e escritor. Aí Santo António, como já era conhecido por todo o norte da Itália, escreve uma série de textos, tentando levar a paz onde reinava o ódio, sobretudo em Florença entre os guelfos e os gibelinos, a libertar os presos por dívidas, o que levou a um estatuto publicado pela edilidade de Pádua em 1231, luta contra as usuras e bens obtidos pela violência, procura afastar as prostitutas da sua degradante vida, e até se esforça para convencer os ladrões profissionais a não tocarem no alheio e a trabalharem honestamente.
Escreve entretanto muita coisa mais, e também os seus famosos “Sermões”.
Com quarenta anos, sente-se cansado e vai descansar uns dias em Camposampiero, perto de Pádua. Durante a refeição do meio dia, 13 de Junho de 1231 sente-se desfalecer. Vendo-o tão mal levam-no para a casa dos Frades de Arcella, onde recebe os últimos sacramentos. Já com o Senhor à vista, disse aos que o assistiam: “Video Dominum meo!” e entregou a alma a Deus.
E apesar do silêncio guardado pelos Frades, logo correu a notícia pelo povo: “Morreu o padre santo” Morreu o Santo António!”
Em 17 de Junho foi sepultado em Pádua.
Nem um ano era passado era canonizado pelo Papa Gregório IX.
Em 1934 foi declarado Padroeiro de Portugal.E finalmente em 16 de Janeiro de 1946 o Papa Pio XII, em sua Carta Apostólica, que começa

Exulta Lusitania Felix,

o Felix Padua gaude

declara Santo António Doutor da Igreja, Doutor Evangélico.
Lisboa tem imensos ciúmes de Padua, que guarda lá os ossos do Santo, e nem se atreve a, alguma vez, dizer que o Santo é de Lisboa.
Com estes breves textos se pode ver que enquanto em Portugal, Santo António foi um frade desconhecido, mas onde estudou e se “encheu” de toda a bagagem que o tornaria famoso em Itália. Foi aqui que pregou, ensinou aos frades, pode considerar-se o primeiro lente franciscano, e ainda em vida já era chamado de santo.
Preparou-se em Portugal e revelou-se na Itália.
Deve ser o único Santo da igreja que tem dois nomes!

16/06/2011










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