segunda-feira, 27 de junho de 2011


O “tal” Paraíso


Neste momento a grande ocupação, ou preocupação, do Brasil, são as marchas da maconha e dos homossexuais e o “casamento” entre estes. Não se fala noutra coisa, e a maioria dos governantes vive eufórica a apoiar para ver se leva mais uns quantos votos.
Está tudo liberado! Estou a pensar, por estes dias pedir ao STJ, o tal tribunal supremo, autorização para a “Marcha dos Pelados”, onde população vai toda nua para as ruas, o que além de ser totalmente natural, essa marcha vai abrir com grandes imagens da Afrodite, Apolo, Discobolo, e muitas outras, sobretudo retiradas de alguns templos hindus, para mostrar que o nu é uma arte, admirada em todo o mundo, através de muitos séculos.

Para esta marcha poderão aparecer todas as afrodites até com oitenta anos, bem como apolos até de cadeira de rodas.
E nesta marcha há um fator que não pode ser esquecido: tudo nu, nada a esconder. Tudo verdade.

A seguir vamos pedir para fazer a marcha, leia-se apologia, do crac (krak ?). Já autorizaram da maconha, o critério, a jurisprudência, deve ser mantida, porque a argumentação dos doutos juízes foi que a liberdade de manifestação não pode ser negada ao povo.
Preparem-se pois para duas grandes festas... populares, assim que o São Pedro estiver já a descansar.
Vejam os principais "desfilantes":


Só quem não descansam são os políticos. No pouco tempo que lhes sobra, depois das maquinações de corrupção e roubalheira, que havemos de concordar deve dar algum trabalho, muito bem pago aliás, o estar sempre a defraudar as contas públicas, meter a grana no bolso e ainda por cima apanhar outra canseira em tentar esconder o ilícito enriquecimento, ainda têm que legislar.

Coitados dos políticos, como sofrem!

E, imaginem crentes e tementes a Deus, que arranjam tempo para criarem todos os dias, repetindo, todos dias, dezoito – 18 – novas leis! Pessoal brabo mesmo.

Entre 2000 e 2009 o país criou 75.517 leis, uma média de 6.865 por ano.

Ora trabalhando assim, intensamente, pelo bem estar do povo, umas roubalheiras de permeio... são sempre desculpadas ou esquecidas nas gavetas dos tribunais!

Destas leis todas, 6.561 são federais! E de todas as que se criam, por exemplo no Rio de Janeiro, 80% são inconstitucionais! Mas a verdade é que são leis que projetam no futuro este país maravilhoso, leis de grande alcance social democrático, exemplo a seguir por todo o mundo, como a lei que cria o “Dia das Estrelas do Oriente”, ou o “Dia da Jóia Folheada”. Ora isto não é uma maravilha? Que sabedoria!
A preocupação é tanta com o bem estar geral, que até se tento legislar proibindo a utilização de telefones celulares dentro dos bancos, para evitar o contato com algum ladrão que estivesse fora a guardar o “pato”. Mas esta não passou; feria demais a liberdade de comunicação. Ah! Bom.

Há ainda leis que proíbem a exposição indiscriminada, em bancas de jornais e revistas, livrarias, e locadoras, de revistas, DVDs, etc. que contenham imagens impróprias, isto é ou nudismo ou até de sexo. Para se ver como o brasileiro é temente às leis e como a fiscalização é perfeita, basta ir a uma, qualquer, banca, e escolher a revista pelos seios ou pelo traseiro para bonito que as dezenas de revistas apresentarem. Traseiro de mulher ou de homem. Revistas para homens, para mulheres, e... para gays!

E tem uma particularidade curiosa: num país onde existe, na Constituição, e somente ali, a definição dos três Poderes, 85% das leis são propostas do Executivo a que os palhaços do Legislativo dizem sempre que sim, com medo de perder algum benefício “extra”!


Mas o povo não é bom, é ótimo, e então o carioca continua a ser o “rei da boa disposição”. Malgret tout.

Ora vejam estas delícias:

- há dias uma pessoa foi registrar uma ocorrência na 12ª DP em Copacabana, no Rio, e sentindo-se apertada precisou ir ao banheiro. Não tinha papel! Como resolveu? Não foi esclarecido, mas na ocasião um sabugo de milho teria sido a salvação;

- no domingo, dia 12, houve um apagão no Cinépolis Lagon, durante a sessão das 21h30m, com o filme “Se beber não case - 2”. Quando a escuridão tomou conta do cinema um garoto gritou: “Hé, gente, quem pagou meia já pode sair!”

- o famigerado ex ministro Palloci, que já foi posto fora dos governos, por indecente e má figura, duas vezes, tinha um apartamento alugado, no Rio, em condições escusas, em nome de um tal de Dayvini, mas que pertencia a seu tio, Gesmo! E, os escândalos do PT além de criminosos, são caricatos. Envolvem as seguintes “altíssimas” figuras: Erenice, Euriza, Eudacy, Delúbio, Francenildo, Barquete, Vedoin, Gedimar, Valdebran, Bargas, Lorenzeti e Freud. Viva a cultura dos nomes próprios!

- na penúltima sexta feira, numa agência do Banco do Brasil, um senhorzinho de cabelos brancos esperava na fila única, quando uma vovozinha mais velha passou direto e foi ao caixa. “Ei! Senhora! Tem fila”. Ralhou o senhorzinho.

A vovó reagiu zangada e foi apoiada por todos: “É o caixa dos idosos, ela tem direito”.

O senhorzinho se desculpou e ouviu da vovó: “O senhor não vai lá porque? Qual a sua idade?” Ele: “Não sabia. Tenho 68.”

E ele: “Nem parece. Ainda dava bom caldo...” A fila caiu na risada e puxou o coro: “Pega o velho! Pega o velho!”

É assim esta gente: afável, descontraída, alegre, acolhedora, mas, infelizmente ainda sem capacidade de exigir dos malditos governantes um mínimo de decência!

Olhem a "turma que vai defilar (depois de uma pequenas intervenções ortopédicas):












27/06/2011



sexta-feira, 24 de junho de 2011



Ἀριστοτέλης

 
 e a Educação no Brasil


Há quase 2.500 anos! O que Aristóteles nos ensinou sobre educação, afigura-se, a quem minimamente pensa, ao mesmo tempo brilhante e elementar.
Num dos seus volumes “A Política” diz-nos que “a cidade não é obra do acaso, mas do conhecimento e vontade.” É evidente, porque se os humanos até hoje estivessem a viver na selva, selvagens, pouco mais precisariam conhecer do que alguns instrumentos de caça, e... !
Adiante dá-nos a lição básica do que deve ser a educação: “começa pela educação doméstica, informal, que vai até aos cinco anos; dos cinco aos sete a criança deve assistir a lições preparatórias; dos sete à puberdade, uma fase mais adiantada, e daí até aos vinte e um anos.
Na primeira fase a criança baseia-se, sobretudo no exemplo que lhe é transmitido e no ambiente que a cerca, e afirma que a boa condição física deve ser incentivada desde tenra idade, não por meio de atividades agressivas, mas jogos que estimulem um desenvolvimento salutar.
Como até aos sete anos têm que ser criadas em casa, é lógico que, sendo tão pequenas, poderão aprender coisas indignas a partir do que vêem ou ouvem. Na verdade, se receberem do pai e da mãe um trato rigoroso e justo, hão-de tornar-se pessoas de bem; se não tiverem recebido esse contributo vão acusar a falta dele: se os pais não derem o bom exemplo da própria vida aos filhos, estes vão ter uma desculpa para os desprezarem.
A exposição à realidade deve ser controlada, cabendo ao legislador criar leis que proíbam, por exemplo, a assistência a comédias obscenas, até terem suficiente idade para poderem filtrar essa informação e não serem mal influenciados.
Frisa Aristóteles que cabe ao encarregado de educação proibir o uso de linguagem imprópria.
Mais adiante defende uma educação igualitária para todos os cidadãos, opondo-se por isso ao ensino privado, uma vez que isso implica uma educação direcionada para propósitos particulares e não de conjunto.

Por isso, nesta terra “de brasilis”, os primeiros a dar o exemplo da deficiente educação, são exatamente os professores do ensino oficial, os primeiros que mandam seus filhos para escolas particulares. Quando podem! (No Rio de Janeiro, uma professora ganha R$ 765,55 brutos, por 16 horas semanais ($ 10,88 por hora, igual a £ 4,20! Assim, para não morrer de fome, e com curso superior, ela dá aulas numa escola pela manhã, em outra à tarde, ambas municipais, e à noite num estadual! Infâmia)
Apresenta-nos o grande filosofo o esquema dos “estudos liberais”: gramática, no sentido do aprendizado da leitura e da escrita, ginástica, música e desenho.
Ginástica para um saudável desenvolvimento do corpo, com desportos nem competitivos nem profissionalizantes, que não dignificam o homem, desenho pelo que pode vir a ser útil no futuro de qualquer um, e música que podendo não ter qualquer utilidade, orienta o ócio de modo mais benéfico, indispensável para a felicidade de qualquer indivíduo, contribuindo de modo saudável para os momentos de lazer, e estimula ainda o exercício intelectual, desde que não seja uma música de revolta, de rancor, ódio.
Brilhante este senhor Aristóteles, cujos ensinamentos perduram ao fim de vinte e quatro séculos, mas... a que raros por aqui ligam! Aristóteles passou a ser um velho louco, caduco, utópico, demente?!
Não previu o grande filósofo, que hoje o bom é ser profissional de futebol, tênis, golfe, basquete, corridas de automóvel, cantor de músicas selváticas, ou cantoras pornográficas, que muitas vezes nada entendem de música, aprender/ensinar a falar e escrever errado, praticar desportos brutos como boxe, judô, jiu-jitsu, competir só para ganhar, porque se não ganhar fica complexado, e desenhar... só para os naturalmente dotados.
Como se na Grécia antiga todos nascessem dotados, tal a beleza das obras de arte que chegaram, felizmente, até nós!
Para que ter ministros de educação com curso de Direito, mestrado em Economia e doutorado em Filosofia (saberá quem foi Aristóteles, ou sabendo o desprezou?), que mandam ou autorizam a distribuição de cartilhas, emanadas do próprio Ministério da Educação, ENSINANDO às crianças que se pode falar errado, outras contendo erros (ou propósitos?) aritméticos, mostrando que dez menos sete é igual a quatro, e, pior ainda editando cartilhas explicando que o sexo, o tal “plus”, como sua insolência o ministro do supremo tribunal lhe chama, pode ser usado indistintamente com parceiros do mesmo ou outro sexo?
Não esqueçamos que tudo isto objetiva, além da desestabilização da família, grandes negociatas – vulgo roubalheiras – entre autores/as, normalmente pessoal do próprio ministério, e as gráficas que faturam, a preços exorbitantes, para o mesmo ministério!
Como permitir que “pares” homossexuais adotem “filhos” para estes, amanhã, logo, logo, se sentirem inferiorizados, abandonados por terem só, aparentemente, pais ou só mães? Que os pares vivam juntos, que façam o que bem lhes apeteça, mas não destruam o futuro de inocentes crianças.
Passando à música: o que se ensina no Brasil? Nas escolas, nada, e além dos clássicos samba e trevo, que se aprende em clubes de ferranhos amadores, ouve-se o que? O Rap? Os gritos de rancor face a uma sociedade tremendamente injusta? Onde estão os corais, a harmonia, a doçura das músicas que embalam e enternecem as pessoas.
E o controle da Tv, onde é raro, raríssimo, ver-se um filme com fundo historio e/ou moral, mas antes abusando-se da violência, do sexo mais ou menos explícito, das atrizes e até locutoras em trajes provocantes?
A tudo isto, imagina-se o que o (des)governo brasiliense, mais perdido que cego no meio dum tiroteio, irá responder: NADA!
Até porque a começar pela tal cultura de base, a ser ensinada às crianças, em casa, necessitaria que os pais estivessem já num razoável grau de cultura. Estão?
Mas enquanto continuarem a votar naqueles que são “como a nóis”... não há muito que possa ser feito. Pobres crianças e alunos.
Mais um século, talvez dois! Como dizia este homem há mais de 200 anos:

“Só um povo bem instruído pode conservar-se livre”; James Madison, 4º presidente dos EUA, 1809-1817


17/06/2011


segunda-feira, 20 de junho de 2011


No rescaldo da Tomada de Lisboa

O Conde Henrique

e os novos colonos



Mais algumas “lembranças” sobre a Velha Lisboa, São Vicente de Fora, e o cemitério que a seu lado foi construído para teutos e flamengos. E vamos a alguns outros lugares.
Para começar, este Conde Henrique de que falamos a seguir, nada tem a ver com o pai de Afonso Henriques. Já vimos que Dom Afonso Henriques mandou que se fizesse tal cemitério para sepultar os “mártires” que, vindos com a 11ª Cruzada, o ajudaram na conquista de Lisboa, estando ainda a conquista de Lisboa por terminar.
Entre estes, tombou em combate na cidade, um certo cavaleiro Henrique, nascido numa cidade chamada Bona, que fica a quatro léguas de distância de Colónia, homem indubitavelmente nobre de estirpe e de costumes. Tendo sido sepultado, tal como outros, neste cemitério de São Vicente, começou-se a falar em milagres, e em grande número, feitos por ação de Deus, junto do seu túmulo, que ele era um verdadeiro mártir de Cristo, e que a sua morte era preciosa aos olhos de Deus.
Aconteceu, pois, que certa vez, dois jovens, ambos surdos-mudos de nascença (e que tinham vindo na tripulação com os francos), faziam guarda, à vez, ao sepulcro de Henrique, cavaleiro de Cristo; conta-se que o mártir lhes apareceu na figura de um peregrino, que segurava no ombro uma palma e os convidava a fazerem a guarda. Logo que sossegaram um pouco, causa admiração que se diga, achavam-se a falar com tal desenvoltura e também a ouvir, como se sempre tivessem tido o uso tanto da fala como do ouvido. E o que era mais extraordinário era que, de acordo com a diversidade das terras e de povos a que pertenciam, assim lhes era concedida também a cada um fala diferente. Propalado pois pelo acampamento tão admirável acontecimento, todos os que os viam e ouviam glorificavam o Senhor, tendo o cavaleiro Henrique como mártir verdadeiramente dileto de Cristo.
Poucos dias depois, aconteceu que caiu em combate um seu escudeiro, que foi sepultado um pouco afastado do sepulcro do seu senhor. Em sonhos, o cavaleiro de Cristo, Henrique, aproxima-se de um dos soldados que estava de sentinela, no átrio da igreja de São Vicente e, chamando-o pelo seu nome, roga-lhe com grande insistência que de noite retire o seu escudeiro do lugar onde está e o ponha junto de si. Isto acontece uma primeira vez e repete-se. Não tendo o guarda atendido à interpelação, veio pela terceira vez, tomando um aspecto irritado e ameaçador, faz-lhe ameaças, caso adiasse por mais tempo a execução do que lhe solicitava. Por tal motivo o guarda acorda, levanta-se apavorado, pois estava sozinho no local, e dirigiu-se à cova onde estava enterrado o escudeiro. Pegando nele, sepultou-o ao lado do seu senhor, no mesmo túmulo. Contando de manhã o que se passara, dizia que não sentia nenhum cansaço, nem mal estar, quer ao pegar no corpo, quer ao sepultá-lo.
Era já São Vicente, feliz com a igreja que lhe fora dedicada, a mostrar o seu reconhecimento, mesmo antes de ter sido trasladado para a Lisboa, escolhendo o Graff Henrique para se “manifestar”.

Vimos também que os mouros, e até moçárabes cristãos, após a conquista de Lisboa e os infames tratos que receberam dos selváticos “cristãos” que se intitulavam cruzados, fugiram da cidade e arredores, deixando aldeias inteiras abandonadas, e incultos campos até então de abundante produção, devido à avançada técnica de agricultura dos árabes.
A muitos francos, e outros, que decidiram abandonar a Cruzada ou mesmo não regressar a seus países de origem, foram distribuídas terras onde se fixaram. Diz Alexandre Herculano que um Guilherme Lacorni ou Descornes povoou, com seus homens de armas, Atouguia da Baleia - outras fontes indicam que foi D. Childe Rolim, filho do conde de Chester, inglês, quem a povoou em 1147; Jordan, outro capitão, natural da Aquitânia, estabeleceu-se na Lourinhã onde uma pequena ribeira que ali passa, ainda hoje se chama Jordão, e Alardo, ou Adelardo, possivelmente teuto, em Vila Verde, talvez no Minho, aldeia primeiramente entregue ao Arcebispo de Braga, Dom Paio Mendes.
Aliás estes dados são controvertidos porque diversos autores indicam diferentes fundadores, mas...
Em pouco tempo muita desta gente, vulgacho indômito, como lhes chamou Herculano, foi-se habituando à vida sedentária e abandonando o trato das armas, ou porque os seus chefes desejassem, enfim, o repouso, ou porque o próprio rei os escusasse, temendo a ferocidade nativa deles, de que tinham dado suficientes provas.
Daí, possivelmente, também, o terem sido dispersados por todo o país.
Além de todas as Vilas Francas de Portugal continental: de Xira, perto de Lisboa, do Deão, na Guarda, da Cardosa, hoje Castelo Branco, de Sendas, em Bragança, da Serra, em Viana do Castelo, das Naves, em Trancoso, do Rosário, em Mafra, outra na freguesia de Aguiã em Arcos de Valdevez, mais outra em Castro Daire, ainda em Fafe, em Oliveira do Hospital, em Ponte de Lima, em Santo António dos Olivais, até aos Açores chegou o nome, com a Vila Franca do Campo.
Algumas destas não terão sido povoadas por cruzados, com certeza a dos Açores, mas... os naturais dessas terras que o pesquisem!
Que nomes de família terão hoje os descendentes dessa gente?

 
18/06/2011

quinta-feira, 16 de junho de 2011



Exulta Lusitania Felix

Santo António de... Pádua



Primavera de 1221. Frei António, doente, tem que regressar a Portugal, mas levado por um violento temporal, vai dar às costas da Sicilia, onde nas imediações da cidade de Messina, encontra abrigo num humilde conventinho de frades menores.
Está quase com 31 anos. Um erudito teólogo, profundo conhecedor das coisas da Igreja, da Bíblia, dos Santos Doutores, e de tudo quanto os muitos anos de estudo em Coimbra lhe proporcionaram. Até ali tinha sido um estudioso, mas o exemplo dos frades menores, franciscanos, com toda a sua humildade, pobreza e vocação missionária, o levam a ingressar nesta Ordem fundada por Francisco de Assis em 1209.
No final de Maio de 1221 realiza-se em Assis um Capítulo Geral, que ficou conhecido na história como o Capítulo das Esteiras, porque a multidão de frades era tal que a grande maioria teve que dormir no chão! Lá vai o nosso Frei António, desejoso de encontrar o Fundador da Ordem, Frei Francisco de Assis. Ali aprendeu ao vivo o que deve ser o verdadeiro frade menor.
Levado para o eremitério de Montepaolo, na Romagna, onde fica mais de um ano a celebrar missa, ajudar nos trabalhos domésticos, e a vida ativa com que sonhara em Coimbra converte-se em contemplativa.
Em finais de Setembro de 1222 há ordenações sacras na vizinha cidade de Forli, e o nosso Frei António ali vai. No momento próprio o superior da comunidade dos franciscanos pede aos dominicanos que tinham comparecido à cerimônia, para pronunciarem algumas palavras de circunstância. Perante a escusa destes, manda então a Frei António que anuncie a palavra de Deus. E acontece o inesperado: a revelação. Todos ficam rendidos à sua simplicidade e bom senso, à sua palavra leve e profunda. Frei António revela ser não só um frade santo, pronto a lavar panelas de cozinha, como um sacerdote de vastíssima cultura e brilhante arte da oratória.
Aos sacerdotes mais dotados nomeavam pregadores. Em pouco tempo o Provincial de São Miguel foi informado do que acontecera e “Frei António obrigado a deixar o seu silêncio e sair a público, encarregado do ofício de pregador, o que o fez percorrer cidades, aldeias, castelos e casais espalhando a semente da vida com tanta abundância como fervor”.
A sua doutrina e santidade começou a brilhar em muitos lugares do Norte da Itália. Em 1220 Frei João Strachia organizara uma casa de estudos em Bolonha, e Francisco de Assis ao se aperceber que ela se destinava a “poctius doctos quam piuos”, formar mais doutores do que frades piedosos, acaba com ela. Mas em Bolonha será por fim a primeira casa de formação intelectual da Ordem.
São Francisco viu em António que estudo e piedade podiam não só conviver perfeitamente, como influenciar-se positivamente, e expede o seguinte bilhete:
“A Frei António, meu Bispo, Frei Francisco envia saudações. Apraz-me que ensines Teologia aos frades, contanto que para tal estudo não extingas o espírito da oração e devoção, como está contido na regra.”

Santo António e São Francisco

Em 1224 é mandado a França onde a sua santidade de vida e a sua pregação foi de tal forma eficiente, que lhe chamaram “martelo dos hereges”; aproveita o tempo e ensina nas escolas conventuais de Toulouse e Montpellier.
Em 3 de Outubro de 1126 morre Frei Francisco de Assis. Para escolher o seu sucessor são os frades convocados a Capítulo, em começo de 1227, onde Frei António é nomeado Provincial da Itália do Norte, e já não regressa a França.
Em 1228 vai a Roma, e prega, na Igreja de São João de Latrão, diante do Papa Gregório IX, cardeais e muito povo. O Papa tão impressionado ficou que o chamou de “Arca do Testamento”.
Dois anos depois é-lhe dada a carta geral de pregador e libertado do cargo de Provincial.
Decide então retirar-se para a sua querida cidade de Pádua, para ali continuar a sua missão de pregador e escritor. Aí Santo António, como já era conhecido por todo o norte da Itália, escreve uma série de textos, tentando levar a paz onde reinava o ódio, sobretudo em Florença entre os guelfos e os gibelinos, a libertar os presos por dívidas, o que levou a um estatuto publicado pela edilidade de Pádua em 1231, luta contra as usuras e bens obtidos pela violência, procura afastar as prostitutas da sua degradante vida, e até se esforça para convencer os ladrões profissionais a não tocarem no alheio e a trabalharem honestamente.
Escreve entretanto muita coisa mais, e também os seus famosos “Sermões”.
Com quarenta anos, sente-se cansado e vai descansar uns dias em Camposampiero, perto de Pádua. Durante a refeição do meio dia, 13 de Junho de 1231 sente-se desfalecer. Vendo-o tão mal levam-no para a casa dos Frades de Arcella, onde recebe os últimos sacramentos. Já com o Senhor à vista, disse aos que o assistiam: “Video Dominum meo!” e entregou a alma a Deus.
E apesar do silêncio guardado pelos Frades, logo correu a notícia pelo povo: “Morreu o padre santo” Morreu o Santo António!”
Em 17 de Junho foi sepultado em Pádua.
Nem um ano era passado era canonizado pelo Papa Gregório IX.
Em 1934 foi declarado Padroeiro de Portugal.E finalmente em 16 de Janeiro de 1946 o Papa Pio XII, em sua Carta Apostólica, que começa

Exulta Lusitania Felix,

o Felix Padua gaude

declara Santo António Doutor da Igreja, Doutor Evangélico.
Lisboa tem imensos ciúmes de Padua, que guarda lá os ossos do Santo, e nem se atreve a, alguma vez, dizer que o Santo é de Lisboa.
Com estes breves textos se pode ver que enquanto em Portugal, Santo António foi um frade desconhecido, mas onde estudou e se “encheu” de toda a bagagem que o tornaria famoso em Itália. Foi aqui que pregou, ensinou aos frades, pode considerar-se o primeiro lente franciscano, e ainda em vida já era chamado de santo.
Preparou-se em Portugal e revelou-se na Itália.
Deve ser o único Santo da igreja que tem dois nomes!

16/06/2011










segunda-feira, 13 de junho de 2011


De volta a
 
Lisboa Antiga



Um dos assuntos que, desde sempre, se discutiu, foi a origem do nome Lisboa. A mais romântica explicação atribui a Odisseu, Ulisses em latim, a sua fundação, quando (como os “grandes navegadores do Mussulo”!) cruzou os mares na sua aventurosa Odisseia.
É uma hipótese pouco credível. Talvez mais ajustada seja o nome que os fenícios, que se supõe os seus fundadores, lhe terão dado: Allis Ubbo, baía amena. Os romanos chamaram-lhe primeiro Felicitas Julia e pouco depois Olissipo ou Olissipona. Os mouros Aschbona.
É tão antiga esta cidade que já Platão se referia a Olisipo ao falar sobre a Atlântida, e quando os fenícios ali chegaram já os primeiros habitantes, hoje desconhecidos, teriam um castrum, lá no alto, onde fica o Castelo da S. Jorge.
Conquistada pelos sarracenos, em 714, aos “primeiros” habitantes, cristãos, que tiveram no lugar de Campolide uma igreja dedicada aos santos Verissimo, Máximo e à virgem Julia, e no lugar da atual Sé, também outra igreja que os mouros transformaram em mesquita. A reconquista de Lisboa sempre foi um desejo forte dos cristãos: primeiro, Afonso II das Astúrias, o Casto, a retoma em 798; volta a recuperá-la em 811, e de volta aos “intrusos”, foi saqueada em 851 (por Ordonho I ?). Em 1093 é o rei Afonso VI de Leão que a conquista para voltar mais uma vez às mãos dos mouros. Por fim, em 1147, os sarracenos são definitivamente postos fora!
Nesta conquista final, com o auxílio dos cruzados, o ataque deu-se em três frentes: a ocidente, onde hoje fica a Baixa, no sopé do Monte Fragoso (Chiado) e que era inundável pelo rio nas altas marés, os ingleses, bretões e gente da Aquitânia; a ocidente os teutos, flamengos e colonienses, e pelo norte e também ocidente os portugueses.
Em todas estas áreas, fora das muralhas, os conquistadores começaram por despejar de suas casas, os antigos ocupantes, para aí se instalarem.
Em memória desta ilustre conquista para a cristandade e para a história de Portugal, chama o rei Afonso Henriques o Arcebispo de Braga, Dom João Peculiar, a quem mandou que se erguessem duas igrejas, e a seu lado os respectivos cemitérios para que fossem dignamente sepultados os “mártires-heróis” desta vitória sobre o Islam.
Logo todos os bispos se reúnem, aspergem de água benta os locais escolhidos para as edificações e levam ao rei duas pedras abençoadas, que seriam as pedras fundamentais, de acordo com a promessa real.
São Vicente, para os teutos, e Santa Maria dos Mártires para os ingleses e bretões, no morro fronteiro ao acampamento destes, e onde tombaram tantos “mártires”. A primeira foi entregue a um presbítero teuto, Rualdo ou Winando, e a um “leigo de vida santa, Henrique, que deveria tocar para as horas canónicas o sino que aí haviam erguido e, vigiando às portas da igreja, guardaria com o devido cuidado o átrio, por dentro e por fora”, a segunda a um bispo inglês, Gilberto, “homem bem instruído nas sagradas letras e merecedor de perpétua e piedosa memória”, que Afonso Henriques tinha feito também Bispo de Lisboa.
Lá continuam essas duas igrejas, muito modificadas na sua traça em oito séculos de vida, e ainda hoje se chama à Igreja dos Mártires, a igreja dos ingleses, “ali” na rua Garrett!
São Vicente, hoje São Vicente de Fora, porque construída fora das muralhas da antiga cidade, em honra do tão venerado santo, ferozmente martirizado pela perseguição ordenada pelo imperador Dioclesiano, que o tornou conhecido e um dos mais venerados santos dos cristãos peninsulares. O destino do seu corpo tornou-se uma lenda. Terá sido metido num saco, com algumas pedras para que afundasse no mar, uma vez que, após a sua morte, e largado o corpo no campo, nenhuma fera ou ave de rapina dele se aproximou.
Teria vindo, sempre protegido por um corvo, dar à praia, que a areia cobriu. Tempos depois foi encontrado e em sua homenagem construído um mosteiro e uma igreja, onde o sepultaram, e que esteve sempre guardada por alguns corvos, que, dizia o povo, eram descendentes do primeiro que o acompanhou. Segundo Edrisi, o cartógrafo árabe Abu Abd Allah Muhammad al-Idrisi, o santuário era conhecido entre os mouros como a Igreja dos Corvos.
Esta igreja ficava onde é hoje, também, o Cabo de São Vicente, no Algarve, em 1173 ainda em poder dos árabes. Para recuperar o corpo do santo, Afonso Henriques mandou fazer uma “entrada” em território almoada, de que era califa Abu Ya'qub Yusuf, para resgatar o corpo do santo, que foi levado para Lisboa numa embarcação, sempre acompanhado de dois corvos! Daí vêm as armas da cidade



São Vicente não foi para a “sua” igreja. Primeiro depositado na igreja de Santa Justa, (depois São Domingos) só em 15 de Novembro de 1173 foi trasladado para a Capela Mor da Sé.
Aí ficou até 1755, quando tudo ruiu e desapareceu com o terremoto, a que se seguiu imenso incêndio, acabando assim o cofre com os restos do Santo.
Depois disto terão aparecido somente algumas relíquias queimadas, mas, lá do Alto, o bom São Vicente ainda deve olhar com ternura para a terra que o acolheu. E para os corvos.

Apesar da carta de “R” para o senhor “Osb de Baldr” indicar a data de 28 de Outubro com o dia final da conquista, a tomada de Lisboa é festejada a 25 do mesmo mês, quando a igreja celebra a festa dos santos Crispino e Crispiniano, dois irmãos, sapateiros, romanos, martirizados e degolados em Soissons, na mesma altura em que mataram São Vicente.
À intervenção divina daqueles dois santos atribuiu Afonso Henriques a almejada vitória.

“O mosteiro de São Vicente foi construído no ano de 1148 da Encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é bendito pelos séculos. Amen.”

10-06-2011





sexta-feira, 10 de junho de 2011


Santo António
 
de... Lisboa



Lisboa, 13 de Junho. Feriado Municipal.
Festa de Santo António... de Lisboa. O Casamenteiro.

Filho de Martinho de Bulhões e Maria Teresa Taveira, nasceu à volta de 1190, (15 de Agosto?) em Lisboa, um menino que foi batizado com o nome de um tio, cônego, Fernando, Fernando Martins Bolhão, ou Bulhões.
“Seus pais moravam à beira da Sé, e eram gente limpa e remediada”! Talvez o pai fosse ourives, uma vez que o nome Bolhão significava “barra de prata, com liga de outros metais, boa para bular, amoedar”. Bular acabou significando “colocar o selo” em documentos de grande importância, a bula!
Na Sé havia, ao tempo, aula de gramática e de artes, e, ali, Fernando, a partir dos sete anos, muito jovem, excepcional memória e invulgar inteligência, aprendeu as primeiras letras e os rudimentos de humanidades. Desde sempre mostrou uma profunda devoção e o começo de uma mística, profundas, apesar de andar com “amigos estróinas”, que o obrigaram a muito meditar sobre a sua vida.
Até aos 15 anos vive na casa dos pais, entra num período de vida libertina com os tais “amigos” e, para fugir aos chamados mundanos, decide entrar no mosteiro de São Vicente de Fora, dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, com a idade de 18 anos. Logo tomou o hábito da mão do Prior, e feito os votos possivelmente um ano depois. Aí fica dois anos na meditação e estudo e pede depois para ser transferido para o mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, onde ficaria longe dos amigos que o assediavam para o mau caminho.
Santa Cruz, em Coimbra, junto à Corte, tinha uma rica biblioteca e alguns mestres já formados em diversas cidades da Europa, o que o tornava “uma pequena academia de sábios”.
Em ambiente de estudo e oração permaneceu entre nove a onze anos. No entanto aquela vida de estudo e oração não o satisfaziam. Fernando impressionava-se com a visita dos frades menores de Santo Antão dos Olivais, que de vez em quando iam ao mosteiro de Santa Cruz pedir esmola. Por este mosteiro devem ter passado os cinco frades menores que em Marrocos deram a vida pela fé cristã, em 16 de Julho de 1220, e cujos restos mortais foram recolhidos por D. Pedro, irmão do rei Afonso II, e entregues ao mosteiro de Santa Cruz para aí serem depositados.
“O exemplo destes humildes, pobres, alegres e ardorosos pela causa de Deus, como se mostram os franciscanos de Coimbra e, sobretudo, o magnífico exemplo dos mártires, levam-no a trocar o nome de batismo por Frei António, e a cândida estamenha Agostinha pela estamenha parda dos frades menores, o rico e afamado mosteiro de Santa Cruz, pelo pobre e obscuro de Santo Antão dos Olivais, a vida sedentária de cônego, pela vida errante de frade mendicante e missionário.”

 
Santo António – pintura do séc. XIII, da Pinacoteca de Perugia

Entregue à pobreza e à missionação, Frei António decide partir para Marrocos, onde os cinco mártires tinham sido degolados pelo Emir, Amir al-Mu'minin, o Miramolim. Desta vez porém os muçulmanos deixam Frei António em paz, mas ao mesmo tempo uma doença pertinaz o obriga a voltar a Portugal.
O barco que havia de o levar sofre uma violenta tempestade, é desarvorado, e vai ter às costas da Sicilia, onde, nas imediações da cidade de Messina encontra abrigo num pequeno convento de Frades Menores.
E assim acaba a vida de Frei António em Portugal! E começa o Santo Antonio de Padua!

Num próximo texto continuaremos a seguir a sua vida. Hoje, deixamos um só dos seus sermões, que mesmo parecendo estranho pode ajudar muito a meditar:

Parábola do anel de Ouro

(Jesus tomou o saco das nossas misérias)

Lê-se no Passionário de São Sebastião que um rei possuia um anel de ouro ornado de uma jóia preciosa, que lhe era muito querido. Um dia caiu-lhe do dedo dentro de uma cloaca, o que muito o penalizou. E, não encontrando alguém que lhe pudesse tirar dali o anel, depondo os vestidos da dignidade real, desceu à cloaca vestido de saco, procurou o anel durante muito tempo, até que finalmente encontrou o que procurava e, alegre, trouxe para o palácio o achado. O Reino é o Filho de Deus; o anel, o género humano; a jóia do anel, a preciosa alma do homem. Este caiu no gozo do Paraíso, como do dedo de Deus, na cloaca do inferno. O Filho de Deus muito se doeu desta perda. Para recuperar o anel, procurou entre os anjos e os homens, e não o encontrou, porque ninguém foi capaz. Então, depôs os vestidos, aniquilou-se a si mesmo, tomou o saco da nossa miséria, procurou por trinta e três anos o anel; finalmente desceu aos infernos e aí encontrou Adão e toda a sua posteridade. Muito alegre, levou o achado consigo para a eternidade.”


N.- Voltaremos a Santo António, mas... de Padua!

10/06/2011

quarta-feira, 8 de junho de 2011


Da Lisboa Antiga

e

da Nova Lisboa


Não sei se alguém se lembra, mas foi no verão de 1147, que se juntaram (a 28 de Junho) à volta de Lisboa, uns milhares de loucos, chegados em 190 navios – colonienses, bolonheses, flamengos, normandos, francos, bretões, ingleses – e ofereceram seus préstimos ao rei Dom Afonso Henriques, para ajudarem na conquista da cidade de Lisboa, que havia já 358 anos estava “ilegitimamente” na posse de mouros que a usurparam a anteriores cristãos, catequizados, “in illo tempore” por Donato, Torquato, Secundo, Indalécio, Eufrásio, Tesifonte, Victor, Pelágio e “muitos outros assinalados varões apostólicos.”
Lisboa contaria por essa época com 60.000 famílias que pagavam tributo, além de outros homens livres isentos desse pagamento. Na cidade “o cimo do monte era cingido por uma muralha em redondo, e tanto à esquerda como à direta, as muralhas desciam em declive até às margens do Tejo. Os seus territórios, no perímetro em redor, não ficam atrás de nenhum, pela fartura dos produtos do solo, quer das árvores quer das vinhas. Predomina a oliveira. Nada fica nela por cultivar, e é extremamente rica em figos. Próximo fica o castelo de Sintra, local onde há uma fonte puríssima, cujas águas servem para curar a tosse e a tísica, pelo que os moradores quando ouvem alguém tossir sabem que não é natural dali. Saudável de ares. Nos seus campos espinoteiam éguas de surpreendente fertilidade, pois, ao serem bafejadas pelos favónios, concebem do vento, e depois, atacadas pelo cio, copulam com os machos, assim se acasalando com o sopro das brisas. A Sul fica a região de Almada, rica em vinhas, figos e romãs, e tão fértil de cereais que de uma mesma sementeira se fazem duas colheitas”.
 
Aquarela de Alfredo Roque Gameiro (1864-1935)

(Maravilha de terra deveria ser aquela!)
Entretanto aquela turba de “cruzados”, seguia para a Terra Santa, não por razões de fé, mas desvairados com a possibilidade de saques que os poderiam enriquecer ou tirar da miséria. Eram, na opinião do cronista deste feito, uns bárbaros selvagens, com exceção dos ingleses, uma vez que o cronista, um senhor ”R”, em carta ao senhor “O”, a eles pertencia!
Era difícil o entendimento entre eles, desconfiava cada grupo do outro que lhe poderia “passar a perna”, chegando a afirmar que o rei de Portugal os queria enganar a todos.
Por fim, Afonso Henriques prometeu que o saque ficaria todo com os cruzados e só a cidade com ele. Uma exceção se abria: o alcaide mouro poderia sair da cidade com toda a sua família e seus pertences, ao que se opôs o flamengo conde de Aerschot, porque cobiçava para si uma égua árabe que aquele tinha, e se propunha tirar-lha de qualquer jeito!
Os assaltantes, atacando por grupos separados, construíram torres, algumas chegando a 34 pés de altura (mais de 10 metros), para tentar entrar por cima das muralhas. Na primeira vez que aproximaram a torre das muralhas, e de feroz luta com os defensores, à noite a maré alta deixou a torre isolada! Os mouros aproveitaram para a atacar com todo o ímpeto, mas os poucos defensores conseguiram não a deixar incendiar, nem destruir. No dia seguinte a cena repete-se, mas com sorte, e muita bravura, o resultado não se alterou.
Os flamengos trabalharam algumas semanas para abrir uma entrada na muralha pelo lado sul. Quando ao fim de imenso esforço o conseguem, dão de caras com um morro mais difícil de vencer do que as muralhas.
Durou quatro meses esta luta de assaltantes e defensores, que for fim, esgotados, mas ainda com razoável estoque de grãos e água, decidem parlamentar. A proposta dos assaltantes foi simples e clara: “Podem sair todos, mas não levam nada que temos que pagar aos cruzados!”
Proposta rejeitada. Os sitiados ainda haviam tentado buscar apoio escrevendo ao rei de Évora, Abu Moamede, que os informa que havia estabelecido tréguas com o rei Afonso Henriques e nada poderia fazer.
Dias depois a cidade acaba por se entregar.
O assalto foi bestial. Enquanto alguns, como ingleses e bretões procuravam cumprir com o combinado, saquear sim, mas sem maltratar os habitantes, outros grupos saqueavam, roubavam, incendiavam, matavam e estupravam as mulheres. Tão bestiais que até degolaram o bispo cristão moçarabe! Nada escapava à sua sanha.
Os lisbonenses fugiram, vaguearam, miseráveis, pelos campos, morrendo aos milhares, porque entretanto, Afonso Henriques havia já conquistado Santarém, Almada também sido, facilmente, tomada, e Sintra se entregara. As terras nos arredores não protegiam os “inimigos” da fé.Resistiram heroicamente os tais mouros por quatro meses. Certinhos. A 28 de Outubro de 1147, Lisboa passou a fazer parte de Portugal. Desde há 864 anos, menos de duas vezes e meia o tempo que lá estiveram os “inimigos”.

A outra “FICAVA EM ANGOLA E CHAMAVA-SE NOVA LISBOA”. Mais tempo levou esta Nova Lisboa a “cair”! Só se chamou assim entre 1928 (quando, por decreto foi nomeada capital de Angola) e 1975. Fundada por Norton de Matos em 1912, com o nome de Huambo, nome que voltou a ter depois de 1975. Nesta data deixou de estar “ilegitimamente” na posse dos invasores!
A propósito: quem viveu em Nova Lisboa, ou por lá passou, ou mesmo que jamais lá tenha ido, pode recordar ou conhecer o que era aquela linda cidade... nos antigamentes!
Eu por lá andei muitas vezes, sempre como visitante, e lembro, com aquela saudade que chega a doer, o Ruacaná, onde me hospedava, o seu ótimo restaurante, e a Cuca para quem trabalhei tanto tempo, e vi nascer a partir da primeiras paredes! Lembro bem da Chianga, onde tantas vezes fui “apostar” qualidade de rações! As da “Cuca-Protector” contra as que faziam lá no IAA. As primeiras ganharam sempre!
Leiam o belo, simples (por isso mesmo mais agradável) e muito bem documentado livro, que vos leva a uma bonita visita a essa cidade.
Acabou de sair pelas Edições Colibri – Lisboa.




domingo, 5 de junho de 2011

 
SUMMUM JUS
 
SUMMUM INJURIA 
 
 II

 
Com o título acima (sem o II !) foram escritos estes três primeiros parágrafos em Maio de 2007:
“Não é do tempo de Roma antiga que esta expressão veio mostrar o quanto de injusto é o excesso do direito: Quanto mais direito (justiça) mais injustiça! Já vinha de trás.
Os homens inventam leis que, se tiveram nos seus primórdios a intenção de regular e proteger as sociedades, as populações, logo se foram revelando uma prepotência e uma forma “legalizada” de, SEMPRE, prejudicar os mais fracos.
A história, por norma contada pelos vencedores, apodam os vencidos de bandidos e terroristas, e os vencedores de heróis, quase santos, e o direito, teoricamente estabelecido para reger igualitariamente o bem estar comum, quando entregue a um juiz, se mostra desde logo injusto.
O que pensa a cabeça de um, não é o mesmo do que pensa um outro, muito menos quando os juízes, como homens, ou mulheres, são vulneráveis às chaves de ouro, que abrem TODAS as portas.”
A tal “justiça” tem coisas que um semi-analfabeto, como eu, não consegue entender. Por exemplo, este primeiro caso, que vai a julgamento dentro de dias, o do famosérrimo Dominique Strauss Khan, que se terá atracado com uma camareira africana.
Não está causa saber quem atracou quem, nem se ele a forçou, nem sem ela consentiu, mas na forma com age a tal justiça.
Se o galã se declarar culpado, negocia uns diasitos de prisão – aberta, já se vê – dá um troco à camareira e não se fala mais nisso. Mas se o cara se declara inocente, aí os juízes viram feras. Vão malhar em cima do desgraçado (?) até o esfolarem todo.
Vamos ver se entendi: se ele se diz culpado... fica tudo numa boa. Se inocente (porque não?) vão-lhe para cima como hienas esfaimadas.
Será que os juízes agora se consideram iguais ao Deus Supremo, que perdoa a todos os homens do alto da sua magnanimidade, talvez por saber que algo deu errado com este seu “produto”?
O presumido réu, de qualquer das maneiras fica sempre entre a espada e a caldeirinha. Caldeirinha esta que mesmo cheia de água benta não o vai proteger da sanha jurídica!
O mesmo se está a passar com o famoso “terrorista, matador, genocida, etc.”, Ratko Mladic, considerado pelos seus compatriotas um super herói. Mas Haia acha que ele cometeu uma porção de crimes contra a humanidade (típico de uma besta apocalítica) e vá de sentar o tal Ratko no banco dos réus.
E volta a mesma conversa: se ele se declarar inocente, o que provocaria um grito mais atroz do que o de Edvard Munch, talvez fique hospedado em hotel de luxo... preso! Culpado, vai levar na cabeça!
Enquanto um terá tido um, possivelmente agradável, “acidente” com a camareira, este outro só não enfiou os muçulmanos todos numa câmara de gás, talvez por considerar esse método muito trabalhoso, caro e pouco original!
Pois fiquem sabendo: se me acontecer o azar (grande) que me obrigue a comparecer perante a justiça humana, mesmo sem saber do que estou sendo acusado, vou logo declarando que sou culpado. Não vou nem querer saber quais as eventuais acusações que poderiam pesar contra mim.
Há muitos anos (Luanda, aí por 1965), ainda eu não havia refletido sobre estes desequilíbrios próprios da covardia humana, fui multado por dois chefes de polícia (logo dois) que não me queriam deixar estacionar o carro onde eu acha que podia. E podia. Pediram-me os documentos, por desobediência à alta dignidade dos “chefias”, mas sem responder virei-lhes as costas e fui embora. Uns meses passados recebi uma “contra-fé” para me apresentar no tribunal! De entrada nem fazia idéia da razão disso, mas acabei sabendo que era por causa dessa multa declaradamente prepotente e injusta.
Lá fui, sem advogado. Para que advogado se eu tinha toda a razão?
O juiz, um baixinho que mal aparecia atrás da sua mesa. Ouviu a acusação, e depois o “réu”. Expliquei, com toda a clareza, o absurdo da multa. E sexa, o representante da lei e do Estado, declara: “Efectivamente parece que o senhor tem razão”. (Não só a tinha toda, como naquele tempo o efectivamente ainda tinha, também, o c!) E continua: “Mas como a multa foi aplicada por dois chefes de polícia vou ter que a confirmar!”
O juiz, baixinho, miserável. Acovardou-se perante dois analfabetos da polícia! Comecei a abrir a goela para o tal grito de Munch que o oficial de diligências, a meu lado, não deixou sair. E tive que pagar multa, custas, etc.
Confiar na justiça dos homens, vendo a pouca vergonha que se passa à nossa volta, eu, hein? Não!
Espero pela de Deus, até porque já não falta muito para ouvir o Veredito Final!
Amén.

04/06/2011

quinta-feira, 2 de junho de 2011


Entre a grana e a filosofia

 
Enquanto uns se preocupam com o chamado “vil metal”, ou como empobrecer o próximo, ainda há os grandes filósofos ou teólogos, que gastam as suas vidas a discutir o sexo dos anjos em vez de se preocuparem, verdadeira e eficazmente, com a felicidade dos outros.
No século XVI, um espanhol, jesuíta, teólogo e jurista, que lecionou em Coimbra e depois em Évora, criou uma tremenda confusão com a graça de Deus, sobre que arranjou duas “graças”: a “eficaz”, aquela que o homem aceita, e a “ineficaz”, quando o indivíduo não coopera com ela ou lhe resiste!
É verdade que foi há quinhentos anos, mas assim mesmo quer parecer que o tal Molina, que criou esta doutrina chamada de molinismo, depois de muito teologar, descobriu o óbvio! Mas ficou na história.
Meio século mais tarde aparece outro filosofo e teólogo, agora holandês, Cornelius Otto Jansen, que lecionou em Louvain, e era contra os jesuitas. Foi depois bispo de Yvrés, na região flamenga da Bélgica.
Diferindo poucos milímetros da doutrina molinista, o seu pensamento que ficou conhecido como o jansenismo, levou os fiéis para um maior rigor teológico do cristianismo. (O que será isto???)
Mai tarde, contava Voltaire: “uma mulher molinista recusava deitar-se com o seu marido jansenista; este chamou então os vizinhos: Senhores, disse ele, haverá entre vós algum molinista que se queira deitar com a minha mulher?”
É para isto que servem as complicadas filosofias!
Nada melhor do que DEScomplicar a vida. Por exemplo, neste país abençoado por Deus (como todos os outros), mas amaldiçoado pela corrupção (como muitos outros) os ilustres filósofos dos altos escalões propõem-se conduzir todos os seus cidadãos, “a modos que” um rebanho!
Vejamos:
- Criaram uma lei que marca um dia do calendário como “o dia nacional do orgasmo”! Ora se isto não é uma maravilha?
- Há dias, como apareceu já neste blog, um inspirado juiz, afirmou que os órgãos sexuais são um “plus. Um bónus”! Que ótimo. Alguém à nascença não foi beneficiado com esta “dádiva da natureza”?
- Agora vai sair outra lei, ou decreto, ou coisa semelhantemente similar, obrigando os fabricantes de calcinhas de muher, soutiens e cuecas de homem, a porem nestes artefatos de vestimenta, uma etiqueta, lembrando que as mulheres devem fazer regularmente o controle do cancer de útero, ou de mama, e os homens da próstata! Uma espécie de “livro de instruções”. Viram o que é ter cuidado com a saúde do povo? O unico inconveniente é ter que ler as etiquetas, todos os dias ao se vestirem. Uma espécie do jornal do dia com as notícias de todos os dias!
- Por estas bandas, como já devem ter ouvido, há uma verdadeira fobia ao glúten. De fato há gente alérgica ao tal gluten, mas... então, para facilitar a vida do pessoal, todos, todos, os produtos alimentares, esxeto os produzidos com trigo, centeio ou cevada, têm que trazer no rótulo “Não contém glúten”! Beleza, né? Até nas garrafas de vinho! Whisky, marmelada, conserva de atum, mel, açúcar, etc. Que tranquilidade.
- Sexa o ministro da educação, notem bem, da educação, pensa distribuir pelas escolas uma cartilha ensinando as crianças, crianças, que tanto faz ter relações sexuais com os meninos como com as meninas. Eles com eles, ou com elas, e vice versa! Não é pecado e escusam de contar aos papás.
É um tremendo avanço na educação sexual. Vamos sugerir ao ministro que mande professores de ambos os sexos fazerem ao vivo, e durante as aulas, a demonstração deste desinibido e variado comportamento social. Desde cêdo se fomenta o “à vontade” em optar por ser gay, lésbica ou... anormal, isto é, hetero.
Com todo este cuidado com a saúde e a educação sexual, o índice de nascimento deve começar a diminuir, ou mesmo chegar a zero, o que será ótimo para quem queira para aqui imigrar!
E até nisto se perde o sentido da língua portuguesa, ou até de qualquer outra: estão a querer chamar a dois indivíduos do mesmo sexo, “casal”! Dantes, lá muito no antigamente, quando se comprava um casal de patos, galinhas, porcos, etc., é porque se queria um de cada sexo para reproduzir. Hoje a tendência é outra: uns casais bestas, reproduzem e depois vendem as crianças a novos pares para adoção. Nem se pode, mais tarde, chamar a uma dessas crianças “sua filha de mãe”, quando ela tiver dois pais, nem outros mimos parecidos... Modernidade.
Tudo para verem quem abicha (sem trocadilho) mais grana!
Dou graças a Deus por estar quase velhinho, porque nem sequer pretendo imaginar como estará o mundo daqui a meio século!
Haja tsunamis, erupções vulcânicas, deslocamento de placas, inundações, subida do nível do mar, ciclones e outras catástrofes mais, para ver se, os que sobrevivem, começam a ser gente ... anormal!


02/jun/2011