sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Voltemos a FGA e o seu tempo.
Polemicas ficam para o blog http://www.zukumuna.blogspot.com/
E tem ainda muitas!
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Gomes de Amorim e a escola



É sabido, e divulgado, que Francisco Gomes de Amorim quando embarcou em Portugal, em 1837, com destino ao Brasil, era quase analfabeto. É ele quem nos conta isso na Introdução de “Cantos Matutinos”. Por mérito próprio, autodidata, tornou-se mais tarde um escritor admirado.
Entre os seus manuscritos que durante muitos anos guardei, há já alguns anos entregues à guarda da Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim, houve uns poucos de que resolvi ficar com uma cópia!
Num desses apontamentos escreve FGA:

“No bairro Sul da Povoa de Varzim há uma escola para rapazes que tem o meu nome, homenagem da Camara da Povoa. Nos meus livros e papeis, especialmente na minha edição dos Lusíadas, no tomo 2º Ultima Verba, vem explicada por miúdo a inscrição que se poz na casa onde eu nasci na província do Minho, concelho da Povoa de Varzim.”

No entanto, o que escreve no dito tomo do Lusíadas, quando transcreve a carta de agradecimento à Camara Municipal, pela colocação de uma lápide comemorativa, na casa onde nasceu – “Aos 13 de Agosto de 1827 nasceu n’esta casa Francisco Gomes de Amorim. É uma das glórias d’esta aldeia, d’este concelho e d’este triste e velho Portugal. Em homenagem à honradez, ao talento e ao renome conquistado pelo estudo e pelo saber, em sessão de 5 de Outubro de 1885, a camara municipal d’este concelho mandou collocar aqui esta lápide comemorativa.” – ele afirma: – “Oh! E quão grato me seria, se, embora cedendo ao nobre impulso das suas bellas almas, além da inscripção em mármore, onde o meu pobre nome ficará atestando menos o meu fraco mérito do que a munificência da camara da Povoa, em 1885, v.ex.as quizessem também consagrar a humilde casinha que me viu nascer a uma escola de instrucção primaria! Esta seria, francamente o confesso, a maior e mais ambicionada de todas as minhas recompensas.

E continua: - “A casa é pequena, e imprópria, bem sei; mas eu folgaria mil vezes de a ver transformada com este santo intuito. Longe de me considerar desacatado, a minha voz será a primeira que abençoe a camara municipal da Povoa de Varzim, se ella se dignar ao meu humilíssimo nome tão sublime e bemfajeza instituição.

Uma escola na casa em que nasci! Creiam , ex.mos srs., que se a fortuna me tivesse sido algum dia propícia, em vez de ceder a minha pequena parte que me coube n’esse berço de amor e saudade, eu a teria convertido desde muito n’este sonho ideal da minha phantasia. E ainda assim, só condescendi na alienação d’ella, por me terem assegurado que o comprador a destinava para residência perpetua do cura da capella de Nossa Senhora das Neves.

... por isso consenti na venda por baixo preço. Creio, porém, que fui illudido no meu piedoso sacrifício.”

Não sei porque razão FGA anotou, talvez em 1888 ou 89, que haveria uma escola com o seu nome!
Sonhos de quem não desejaria que acontecesse às novas gerações, o que ele passou.
Ainda no mesmo manuscrito:

“Em 30 de Novembro de 1887 foi elevado na marinha o meu vencimento a 600$000 reis por anno. Este miserável ordenado, com que cheguei à velhice, foi devido à cruel circunstancia de eu ter adoecido. Se assim não sucedesse, eu teria alcançado outras posições, como aconteceu a muitos dos meus am.os da mocidade, que foram quase todos ministros.

Eu estaria no Tribunal de Contas, ou em qualquer outro, com 1.600$000 reis, pelo menos, de vencimento. Não me chamava a minha vocação para a política, pelo meu gênio irascível, que me obrigava a pagar à boca do cofre a menor alusão desagradável ao meu caracter. Por três vezes me quizeram eleger deputado, uma pelo Porto, por proposta de José da Silva Passos; e duas pela minha terra (Povoa de Varzim), quando esta dava deputados (veja nos jornais de 1852 e os seguintes, q.do se dissolveram as côrtes). Todas as três vezes rejeitei, pedindo a J. Passos que interviesse para que se não propuzesse o meu nome.

Mais abaixo, termina, com letra bem mais trêmula:

“Fui aposentado com o ordenado de 600$000 reis, que percebia desde 30 de Novembro de 1887, em 26 de Abril de 1890. E n’esta data comecei a receber o meu ordenado do Ministério da Fazenda."

O sonho de Francisco Gomes de Amorim pode agora vir a concretizar-se, em Alenquer, Pará, pelo interessante trabalho de pesquisa realizado pelo alenquerense, Dr. Luiz Ismaelino Valente, que escreveu um belo livro - “O Lago Curumu na vida de Francisco Gomes de Amorim” -, e por sua proposta concreta ao Município de Alenquer.

Rio, 21/jan/2011

Um comentário:

  1. Luiz Ismaelino Valente22 de janeiro de 2011 às 20:34

    Estou realmente esperançoso em que o município de Alenquer, no Estado do Pará, Brasil, em breve concretizará o sonho de Gomes de Amorim em ter seu nome dado a uma escola pública. O texto deste post será devidamente encaminhado ao presidente da Câmara Municipal de Alenquer, em reforço ao nosso pedido anterior para homenagear, muito justamente, a grande escritor avelomarense a quem Alenquer deve ser tão conhecida pelos amantes da literatura.

    a) Luiz Ismaelino Valente
    Belém, Pará
    e-mail: ismaelino@terra.com.br

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