sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

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Neste ALMANACH, de 1882, aparece a seguinte nota sobre:


FRANClSCO GOMES DE AMORIM

Francisco Gomes de Amorim, o dulcíssimo discipulo e amigo dedicado de Garret, nasceu a 13 de Agosto de 1827, na aldeia de Avelomar, na província do Minho. A juventude do auctor dos Contos Matutinos, foi muito trabalhosa. Pobre, odiando a escola primaria que ao tempo era ainda uma espécie de er¬gástulo inquisitorial, embarcou aos dez annos em companhia de um irmão, a bordo de um navio que o levou ao Pará, com trabalhosa viagem de cincoenta e tantos dias.

Mas depressa reconheceu o juvenil emigrado que não nascera para a vida mercial. A sua Índole aventurosa levou-o em breve ao seio das florestas, as cachoeiras dos grandes rios, á convivência com as tribus selvagens do Xingú e Amazonas, cuj língua chegou a falar e a escrever.



Dos quatorze para os quinze annos a leitura casual do poema Camões, do imortal Garret, transformou-o repentinamente, revelando-lhe a sua vocação poética e literaria. O joven illuminado escreveu ao auctor de D. Branca uma sentida carta á qual este respon-deu convidando-o a vir estudar sob a sua direcção, em Lisboa.

Desembarcando em Portugal no periodo mais effervescente da revolução de 1846, associou-se á cau¬sa popular, expondo a sua vida por amor d'ella. Foi d'esta phase da sua vida política que brotaram com o enthusiasino dos 20 annos os seus versos Garibaldi, A queda da Hungria, A liberdade e tantos ou¬tros que lhe illustram o nome.

Dotado de rara isenção e altivez de caracter, vendo-se sem recursos de dinheiro durante as revoluções de 46 e 47, Gomes de Amorim aprendeu por louvável e corajoso orgulho, o officio de chapelleiro, para não dever o seu sustento ao favor de amigos. E ao par e passo que trabalhava de dia para ganhar com que comprar livros, perdia as noites a estudar. De então para cá a sua vida tem sido empregada n'um labutar continuo, já como escriptor, já como funccionario; e, triumphando até da doença que nos ullimos annos só a breves intervallos o tem abando¬nado, Gomes de Amorim não cessa de esforçar-se em adquirir novos titulos á nossa estima e á nossa admiração. A sua ultima obra em dois volumes acer¬ca do seu chorado amigo; e protector o visconde de Almeida Garret é prova sobeja do que avançamos.

Notas

1.- Consegue ler-se (com vontade e ampliando a imagem) na capa do Almanach, escrito pelo punho de FGA, o seguinte:

A Francisco Gomes de Amorim Junior, offerece, seu pae e am.o aff.mo,
F. Gomes de Amorim

2.- Neste ano de 1882 tinha FGA cinquenta e cinco anos e só o primeiro volume das “Memórias Biográficas de Garrett” tinha sido publicado. O segundo e o terceiro só apareceram em 1884. Estes deviam ser já do conhecimento”geral” visto que têm impresso “OBRA COROADA PELA REAL ACADEMIA DAS SCIÊNCIAS DE LISBOA”.

3.- O retrato aparecido neste ALMANACH deve ter sido retirado de uma foto datada de “Póvoa de Varzim, 31 de Agosto de 1869”, quando tinha ainda 47 anos.


4.- No primeiro volume, escreveu o autor no verso da página de introdução, a seguir a “máximas” de Alexandre Dumas e Lamartine:
“Se as paixões contemporâneas me acuzaram, sei de certo que a posteridade, quando a haja para o meu pobre nome, há-de fazer-me ampla justiça. Garrett, Obras, tomo XIII, pag.220, ediç. De 1871”

N.-Para ampliar as imagens clique em cima.

Um comentário:

  1. Luiz Ismaelino Valente8 de janeiro de 2011 às 18:53

    Francisco Gomes de Amorim está sendo (re)descoberto na Amazônia, onde passou pouco menos de uma década (de 1837 a 1846), mas a retratou em sua obra como se aqui tivesse vivido um século!

    Em junho de 2010 lancei em Alenquer do Pará (onde Amorim viveu de 1840 a 1843) o livro de minha autoria "O Curumu de Alenquer na Obra de Francisco Gomes de Amorim", em que se procura mostrar o grande carinho dedicado por Amorim à "encatnadora povoaçãozinha" que o acolheu na passagem da infância para a juventude.

    Graças à intermediação do seu bisneto, o engenheiro Francisco Gomes de Amorim, meu livro chegou a Póvoa de Varzim, em Portugal, justo quando ali se lançava a segunda edição de "As Duas Fiandeiras", romance de costumes populares de Gomes de Amorim, de 1881, oportunidade em que a professora Maria da Conceição Gonçalves Nogueira, autora da alentada introdução crítica à reedição, registrou a feliz conciciência do lançamento dessa obra com a iniciativa que, isoladamemte, eu tomei aqui na Amazônia, em que pese a enorme dificuldade de pesquisas em Belém, por excassez quase absoluta de materia sobre o tema e sem que os seus conterrâneos soubessem dessa iniciativa.

    Em seu discurso de apresentação de "As Duas Fiandeiras", ocorrida no dia 18 de dezembro de 2010, em Póvoa de Varzim, após destacar lançamento de "O Curumu de Alenquer..." e o nome de seu autor, disse ela:

    - "Como nos impressiona e honra verificarmos a divulgação do nome e da obra de um nosso conterrâneo! Lá longe, no Pará - em plena Amazônia -, também se lê e reedita Francisco Gomes de Amorim!..."

    Francisco Gomes de Amorim realmente merece ser (re)lembrado!

    Com meu fraterno abraço ao Francisco,

    - Luiz Ismaelino Valente
    Belém-Pará-Brasil
    ismaelino@terra.com.br

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