quarta-feira, 29 de novembro de 2023

 

A GRANDE METÁFORA

 

Metáfora, virá do latim, que a foi buscar ao grego metaphéro, significava “eu transporto”, quando se trocava uma palavra de sentido próprio por outra de sentido figurado cuja finalidade seria enriquecer o discurso.

Por exemplo quando se diz “aquele sujeito é um burro”, querendo dizer que é idiota, mas esta é o tipo de metáfora de que eu não gosto por sou grande admirador de burros, aqueles estupendos, resistentes, calmos animais de quatro patas, que se mostram SEMPRE inteligentes.

Daí chamar “burro” a um indivíduo... pode até parecer um elogio! Abrenuncio.

Antes do grande Big-Band, se é que existiu, ou se é um fenómeno cíclico, o que me parece mais lógico e, sobretudo muito antes do “papo” do Adão (palavra adaptada do hebraico que significa simplesmente “homem”), a Bíblia, escrita por grandes pensadores, definiu que no Princípio era o Verbo… nunca esclareceram de que verbo se tratava, tudo bem, mas acrescenta que o Verbo estava voltado para Deus.

Começa a Bíblia a mentir. Se não havia Nada, como havia algo que eles decidiram chamar Deus, ou IHVH, a que os gregos introduziram as vogais, dando Iehovah?

No Princípio o que existia era NADA. E foi do NADA, substantivo, que tudo terá começado, o que para quem quer pensar com alguma base física, fica logo perdido porque nada é a inexistência de algo.

Temos que dar uma chance a Darwin porque ele, e outros, pensaram e repensaram e concluíram, com base também em Lavoisier que, se “na natureza nada se cria, nem nada se transforma”, era fundamental que tudo evoluísse. Aqui o Lavoisier baralhou-se um pouco, porque se há evolução há alguma transformação, como por exemplo terem-se transformado os dinossauros em galinhas! Mas nós perdoamos-lhe esse ligeiro lapso, até porque no século XVIII pouco ou nada se sabia desses antepassados dos bichinhos que hoje nos dão uma rica canja (quando são galinhas e não frangos, e criadas na roça!).

Voltemos do Verbo, e depois vamos a IHVH, com todo o respeito.

De uma bactéria, em quatro milhões de anos surgiu este mundo, que poderia ser lindo, onde até os humanos vivem em constante confusão, certamente só por raiva, por reconhecerem – os que reconhecem – que somos descentes de uma bactéria, e com isto pensam em destruir tudo e começar de novo.

Como? Novo Verbo? Novo INVH? Nova bactéria?

Os homens ainda hoje não sabem como apareceram na Terra, mesmo aceitando de má vontade que descendem de uma bactéria, que foram irmãos de um série de primatas, pesquisam, soltam pronunciamentos graves e inúteis, e começam, faz tempo, a procurar algo, superior, que eles sentem que teria comandado o princípio de tudo.

Afogavam-se com enchentes, dilúvios, morriam de fome com secas, nuvens de gafanhotos, eram atropelados por povos invasores e nada mais faziam do que olhar para o alto à procura de uma resposta.

Os pensadores concluíram que deveria haver “algo” superior que tudo comandava, mas não dava explicações tal como hoje quando o povo reza para pedir paz, a cura de uma doença, a miséria em que vive, e solta um estribilho vazio como “valha-me Deus”. Outros colocam dísticos nos seus carros dizendo “Deus é fiel”, como se Deus fosse um cachorro, um fiel de armazém ou um funcionário da contabilidade!

Começaram então a criar Deuses, à imagem e semelhante de alguém que eles consideravam inteligente, bondoso e forte.

Uns deuses teriam a função de estabelecer a paz entre os humanos, outros para os ajudarem nas guerras (infames) que faziam a vizinhos para lhes roubarem as terras, gado e mulheres.

E assim foram criando. Talvez o conhecido há mais tempo seja Enquidu, deus criado pelos sumérios para frear as loucuras de Gilgamesh, depois criaram Anu seu Deus supremo, tudo isto por volta de 3.000 anos a.C., mais tarde Ahura-Mazda também dos persas que seria um pacificador, cerca de 800 anos a.C., Moisés um líder religioso entre 1.400 e 1.500 a.C. que se intitulava mandado por Dus, que mais tarde na Bíblia, escrita em alguma língua semita, por volta de 600 a.C., o Dus servia para tudo: guerra, amores lícitos para os nobres, ilícitos para os pobres,

Na Índia cerca de 1.100 a.C., Gamexa assim como Varuna foram os grandes criadores de tudo que existe, levados pelos arianos, povos do Norte que se apropriaram desses deuses para se apropriarem também das novas terras e seu povo, em estado muito primitivo.

Chega Jesus, o Cristo, quer acabar com todo esse paganismo, enfrentando os poderosos sacerdotes e reis, e não tardaram em o liquidar.

Por fim os árabes, baseando um pouco a sua doutrina com princípios bíblicos e cristãos, criam uma religião de ódio a todos os que nos os não seguem, dizendo que querem dominar o mundo pelo medo!

Por esse mundo fora, todos os povos, desde os mais primitivos, criaram um Deus “à sua imagem” sempre com a finalidade básica de poderem dominar pelo medo que esses Deus inspiravam aos que não seguiam os preceitos dos chefes!

Chegamos ao século XIX, judeus e cristãos batizam-se e casam-se com aparato por vezes superior à sua situação económica, e a grande, esmagadora maioria, não tem ideia do que é ser cristão. Mas as festas não podem faltar.

Os judeus unem-se e não gostem que entre um novo ser não nascido de mãe judia. Tratam-no como se fosse psoríase, uma forma simpática de os manter afastados.

Nos cristãos acabou o discurso antigo de que o juro era pecado, e Calvino, um assassino, estimulou o acumulo de riqueza.

Os muçulmanos, rezam três ou quatro vezes por dia, em público para não serem castigados, destroem o que podem de cristãos e judeus e, de castigo Deus deu-lhes um deserto cheio de petróleo para que possam mais rapidamente destruir o mundo com poluição.

Mas todos têm um Deus, até os ateus, “graças a Deus” já que ao reconhecerem que Deus não existe devem ter encontrado uma outra fórmula semelhante, só com outro nome.

Os agnósticos são mais prudentes. Sentem que um Deus existe, nada sabem d’Ele, mas não aceitam nenhuma religião. Até porque os códigos de TODAS as religiões têm aspetos duvidosos, poéticos e até absurdos.

Conclui-se com facilidade que todos são metafóricos quando falam de Deus.

O Todo Poderoso, o Incognoscível, o Deus do castigo ou da bondade, Aquele que tudo pode resolver com um milagre, como remover montanhas continuará, eternamente incognoscível.

Mas os humanos não deixarão de continuar a criar deuses metafóricos a seu belo prazer e conveniência, Metáfora essa muitas vezes para justificarem atos, sobretudo condenáveis, mas sempre com o objetivo primário do domínio dos povos.

Cada vez mais o deus atual é o dinheiro, o poder as armas de destruição, as drogas e outras barbaridades.

Não fica difícil terminar afirmando que

Deus é a Grande Metáfora

 

29/11/23

 

2 comentários:

  1. Francisco,
    Belo texto.
    Aqui vão umas achegas.
    1) "No princípio era o Verbo..."
    Estou a ponto de considerar esta a afirmação mais verdadeira de toda a Bíblia.
    O Verbo aqui é a Palavra, ou seja, é a codificação da realidade circundante (a Natureza e os restantes elementos da comunidade a que se pertence).
    Ao ter a realidade circundante codificada através de imagens mentais (codificação que associa a cada componente dessa realidade uma imagem mental, que designarei por étimo, palavra que pode ser expressa por uma sequência de sons) de uma forma bi-unívoca (a cada étimo corresponde uma e uma só componente dessa realidade e a cada uma dessas componentes um e um só étimo, sempre o mesmo, comum a todos os elementos dessa comunidade e invariante ao longo do tempo próximo; perdoe-me a matemática) passou a ser possível comunicar (isto é, induzir, ou evocar, no Outro uma imagem mental que é objecto de partilha), planear - e insultar. O Verbo é a imagem mental da realidade circundante, a projecção desta última, tanto na mente, como na mente colectiva (Platão e a sua "Alegoria da Caverna" acertaram na mouche).
    Na ausência do Verbo, a mente individual, nem se forma, nem se estrutura, nem se reconhece - logo, a imagem mental de cada componente da realidade circundante não tem como se fixar. E ao não se fixar, só por acaso, permitirá estabelecer relações (entre étimos) e encadear sequências (de étimos) - sequências que se crê formarem o elemento distintivo da espécie humana relativamente aos seus parentes próximos, os chimpanzés. Aquilo que se designa correntemente por "pensamento" ou, melhor, "pensamento lógico". O oposto do Caos (da entropia total, onde nada é relacionável, onde não existe informação para lá do próprio Caos).
    2) Tal como a escrita grega do antigamente não tem vogais, também as escritas em aramaico não as tinham. Porquê? Porque, nesses recuados tempos, a literatura (as extensas colecções de pensamentos cristalizadas no tempo), aí, era puramente oral, guardada na memória (isto é, como sequência de imagens mentais) e recitada por poetas (aedes). E, em tais circunstâncias, a escrita servia apenas como "cábula" de quem estivesse a recitar literatura. Por isso, as vogais (as cambiantes dos sons consoantes) eram dispensáveis e dispensadas.
    3) Nos textos bíblicos mais antigos, a expressão YHWH é, frequentemente, cambiado por ELOHIM, um plural. Na realidade, parece que o monoteísmo judaico começou na Bablónia, durante o cativeiro.
    4) É interessante notar que onde prevalece o politeísmo há certamente muitos mais rituais de enorme crueldade, mas não parece haver guerras religiosas.
    Em Roma, os episódios de repressão dos Cristãos tiveram origem, quase sempre, na recusa destes últimos em sacrificar ao deus-imperador - e isso, mais do que levantar suspeitas, era visto como traição maior. Agora, se eles sacrificassem, depois, poderiam adorar o deus que melhor lhes parecesse.
    As lutas religiosas são, invariavelmente, o resultado fatal de monoteísmos que se confrontam.
    5) Sim, concordo plenamente consigo: a ideia de um Deus Único é a Grande Metáfora. Uma conclusão assustadora, terrível.
    Abraço
    APM

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  2. Querido teu Chico
    Obrigada
    Gosto da sua escrita, curiosidade, uma certa ironia e ouso dizer, irreverência
    Desejo que estejam muito bem
    Um carinhoso abraço, ga
    Graça Amaral

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