sexta-feira, 1 de abril de 2022

 

RACISMO

Como se tornou uma monstruosidade


Tanto se tem falado de racismo e parece que se pode concluir que o termo e prática de racismo começam quando os europeus decidem que o mundo novo lhes poderia pertencer.

Já havia escravidão, desde tempos imemoriais, escravos de peles de todas as tonalidades, até que se constatou que ir buscar gente em África, para sul da Etiópia, pelo Índico, os árabes, o negócio floresceu e fez com que aumentassem as guerras entre povos diferentes, por o escravo ser bom negócio para exportar para a Arabia.

Por aqui começa a distinção quando os árabes começam a chamar aos povos a sul da Etiópia de KAFIR – cafres = infiéis – e traficam neles à vontade.

Depois chegam os europeus, e há que fazer distinção entre portugueses e os outros europeus, aqueles porque foram comerciar, os outros para colonizar, ocupar, desprezar os povos ainda em estado semi primitivo ou mesmo um pouco mais avançados, como Índia, Indonésia e até a China.

Os portugueses começaram por tratar de irmãos os reis de África e os rajás da Índia, tentaram cristianizar Cipango e Catay, mas até nisso o lado humano, da inveja, entre missionários, se sobrepôs à cristianização, e de lá foram corridos.

Espanhóis na América Central e andina, franceses, italianos, belgas, holandeses e sobretudo ingleses decidiram apropriar-se do Novo Mundo. Não se pode esquecer o tão elogiado “grande missionário” Livingstone que avisou a Inglaterra que havia mais de 40 milhões de nativos sem sapatos, o que pressuponha um altíssimo negócio a fazer! Um homem que parece ter lutado contra a escravatura mas abriu as portas para o mais profundo racismo.

Até a Suíça, Noruega e Suécia entraram no negócio da escravatura!

Mas os grandes campeões da submissão à bala e à fome foram os britânicos, os que mais escravizaram e dizimaram, na América do Norte (não esquecer o Canadá), África, Ásia e Oceania.

Auto denominaram-se “seres superiores” e jogaram no lixo aqueles a quem desprezaram chamando “inferiores”. Criaram raças diferenciadas. E o racismo atingiu desprezo e vergonha jamais sonhados.

Ainda hoje o racismo é tão latente, que até no preenchimento de um documento oficial do NHS – Serviço Nacional de Saúde britânico, sobre o Covid, se faz vergonhosa distinção, repito, oficial, de “RAÇAS”, destacando os “White British”! Palavra “raça” há muito banida quando se refere a humanos!


Li agora dois livros que são de uma eloquência feroz, que nos deixam o coração a bater forte, quase a nos fazer jurar vingança, sobre o que, sobretudo ingleses, belgas e franceses, fizeram aos povos que submeteram durante tantos anos e que levou enorme riqueza àqueles reinos.

O que roubaram, como roubaram, como mataram, como o fizeram com o maior sangue frio e quase desportivamente!

Conclui um dos autores, que tanto eles foram mestres na limpeza racial que ensinaram até os alemães, isentos de colonialismo até aos finais do século XIX, a ocupar terras de gente simples, a dizimar os seus povos, Hereros e Namaquas, e que serviu de argumento até para o Holocasto. Aqui, eram os arianos e os outros. Todos.

Embutiram nas suas cabeças que sendo superiores poderiam e deviam liquidar os inferiores. Era já hábito com outros povos!

Um dos livros abre com duas pequenas notas:

 

  - “All the Jews and Negroes ought really to be exterminated. We shall be victorious. The other races will disappear and die out.”


WHITE ARYAN RESISTANCE, SWEDEN, 1991


(WAR – movimento super racista, criado pela Ku Klux Klan, que se espalhou por muitos países e ainda vigorava na Suécia – na Suécia! – em 1991, e mentalizou os neo-nazistas)

 

-  You may wipe us out, but the children of the stars, can never be dogs.


SOMABULANO, RHODESIA, 1896


(Somabulano – Líder africano na Rodésia, hoje Zâmbia ou Malawi, em resposta à ocupação e domínio britânico)

 

O conceito é simples: o direito das “raças superiores” a aniquilar às “raças inferiores”. O direito divino de matar. A Europa “iluminada” que exterminou povos inteiros em todas as latitudes dos quatro continentes, em nome da civilização. O afã de riqueza, ganância, orgulho idiota, arrogantemente estimulado pela grande rainha Victoria, transformada em imperatriz das Índias, com invenção de justificativas políticas, filosóficas e científicas para endossar o extermínio massivo de todos os “selvagens”. Sobretudo justificativas comerciais, financeiras.

Um dos livros, lançado em Fevereiro de 1899, de Josef Conrad, HEART OF DARKNESS (existe em língua portuguesa) conta a história de um marinheiro que é enviado ao Congo, durante o mais que criminoso tempo do rei dos belgas, para ir buscar um grande negociante de marfim, chamado Kurtz. Um assassino impiedoso e ladrão de marfim! Um homem que dominava vasta região de África e que pouco antes de morrer teve este desabafo: “Exterminai a todos os selvagens”.

Mais tarde, Sven Lindquist, em 1992, publica o livro “EXTERMINATE ALL THE BRUTES”. Ele, obcecado pela frase de Kurtz, percorre a África Central e vai recolhendo Histórias das passagens dos exterminadores por aquele continente e não só.

Os livros são difíceis de ler. Não há quem não se emocione e se enraiveça com a História que contam e repõem, nua e crua.

Ambos são dolorosos documentos da bestialidade humana.

E os exterminadores que andaram pelo mundo a dizimar povos ao regressarem aos seus países eram recebidos como heróis, condecorados, nobilitados. Até Churchill por lá andou em matanças desproporcionadas.

Acabaram os extermínios? Nem pensar.

Procurem saber o que se passa hoje em dia com os Uigures. Até na Ucrânia. O que fizeram os muçulmanos em Bangladesh. Recordem o Kosovo, Ruanda, um pouco para trás a Arménia, Circássia, Chechênia, Angola e Moçambique, Camboja, Holodomor na Ucrânia e, infelizmente, etc.  

Diz a Bíblia que Deus fez o mundo, todo bonito e depois fez o homem. Estava cansado e descansou.

Esqueceu-se de lhe dizer que se comportasse como os animais ditos irracionais, que não matam por orgulho ou ganância.

Parece impossível! Como Deus, Onipotente e Onisciente e Onipresente se esqueceu disso!

Será que Deus, Onipresente, estará a assistir a tudo isto e não consegue ou não quer fazer nada?

Deixou de ser Onipotente?

Não vale mais a pena, quando estivermos aflitos, dizer “Valha-nos Deus”.

Deixemos a teologia para outros escritos. Basta-nos ficarmos horrorizados ao aprofundarmos o nosso conhecimento sobre o que pouco se fala.

Fiquemos com uma frase da canção “O Progresso” de Roberto Carlos: “Eu queria ser civilizado como os animais!”

 

26/03/22

 

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